Enzo1

O outono mal havia chegado e as manhãs já estavam frias e cheias de neblina .Mas na verdade não era o frio que fazia Susan tremer tanto e sim o pânico que tomava conta dela sempre que se preparava para ir ao trabalho .Sabendo não ter escolha abriu o guarda roupa. Optou por uma saia escura e sem atrativos e uma blusa de gola alta. Prendeu os cabelos louros e fartos em um coque severo, e além da pouca maquiagem colocou os óculos . Tentava dessa forma não atrair atenção sobre si.
        Trabalhava naquela empresa há apenas três meses e o fato de ter sido aprovada como secretária da Presidência, logo na primeira entrevista, pareceu-lhe um bom sinal . Procurava nunca se atrasar e muitas vezes levava trabalho para casa. Diana, a garota da sala ao lado, já a apelidara de “Santa Susan”. O que provocava risos nos outros funcionários. Diana era a única pessoa com quem Susan se abria um pouco, e mesmo assim nunca havia dito nada sobre os problemas pelos quais estava passando.
        Chegando ao escritório, a impressão de que todos por quem passava sabiam o que havia feito parecia colocar em cada rosto uma acusação. Tentando manter a calma sentou-se e começou a trabalhar.
            __ Bom dia Susan, pode vir à minha sala? Disse o presidente quando passou por ela.
            __ Bom dia Sr. Moretti ! Irei em um instante.
            O olhar que ele lhe dirigiu não contribuiu em nada para acalmá-la. Mesmo com as pernas trêmulas ela conseguiu entrar e fechar a porta. Aproximando-se sem encará-lo, tratou de abrir o bloco de anotações.
           __ Cancele meus compromissos, irei à reunião com o Sr. Bressali e usarei o restante da tarde para resolver alguns problemas na casa de campo.
            __ Pois não Sr. Moretti , é só ?
            __ Não. Resolveu aceitar meu convite para jantar ?
            Inconscientemente Susan olhou em seus olhos e o que viu fez com que seu coração falhasse uma batida.
            Enzo Moretti era sem dúvida um homem atraente. Moreno , tinha os cabelos negros e lisos, o rosto era anguloso e forte. Era mais alto do que a média e tinha músculos bem definidos. Seria o sonho de qualquer mulher em seu juízo perfeito. Mas havia algo em seu olhar que a apavorava. Eram olhos de um azul quase violeta , duros e frios. Sempre que ele a olhava, Susan se perguntava se apenas ela via o que escondiam.
            __ Sinto muito Sr. Moretti, mas acho que não estaria agindo corretamente se aceitasse.
    Seus olhos se estreitaram e quando ele falou sua voz soou baixa e ameaçadora.
            __ Acho que você não percebeu que deve aceitar enquanto ainda é um convite. - Susan recuou alguns passos, como se assim as palavras não pudessem atingi-la. Mas antes que achasse algo para responder ele a dispensou.
            Ainda com a respiração entrecortada ela voltou à sua mesa e praticamente desabou na cadeira. Sua cabeça doía e por mais que pensasse não conseguia imaginar uma saída para a enrrascada em que se metera.
            Quando finalmente chegou ao apartamento em que, agora morava sozinha, sua mente parecia vazia e sua vontade era atirar-se na cama e esquecer que estava viva. Seus olhos começaram a arder e ela nem se deu ao trabalho de tentar conter as lágrimas. Lembrou-se do dia em que aqueles homens horríveis invadiram seu apartamento à procura de seu meio irmão. No momento em que aqueles brutamontes forçaram a porta , soube que Brian estava encrencado novamente. A única diferença era que desta vez a quantia que ele devia era terrivelmente maior . Não entendia a compulsão de Brian pelo jogo . Susan já perdera a conta das vezes em que vendera férias ou saíra de empresas apenas para usar o que receberia para pagar dívidas do meio irmão. Mal se lembrava do pai, pois ele morrera quando ela ainda era um bebê, naturalmente sua mãe casara-se novamente e da nova união nascera Brian. A diferença de idade era de apenas três anos, mas depois que os pais morreram em um acidente ela passara a fazer o papel de mãe e ele percebendo que ela sempre o tirava dos apuros tornou-se ainda mais irresponsável.
            O problema era que agora ela era nova demais na empresa para que lhe dessem um adiantamento. Desesperada com as ameaças que o irmão estava recebendo resolveu tirar o dinheiro do caixa da presidência, ao qual tinha livre acesso. Embora a idéia de ser presa a aterrorizasse, isso ainda lhe parecera melhor do que assistir a morte de Brian.
            Como sempre ele desaparecera logo que ela lhe dera o dinheiro, deixando-a sozinha no apartamento. Esperava que ele houvesse pago a dívida, e saísse de circulação por uns tempos.
            O telefone tocou , e só então ela percebeu que anoitecera e as luzes não haviam sido acesas. Ficou tateando em busca do interruptor do abajur enquanto tirava o fone do gancho.
            __ Olá Susan ! - o som daquela voz na escuridão parecia ainda mais assustador.
            __ Sr. Moretti, boa noite, algum problema no escritório ? - perguntou , torcendo para que o medo não transparecesse em sua voz.
            __ Sim, há um problema. Chegue uma hora mais cedo amanhã, não se atrase. - seu coração batia tão forte que ela mal pôde ouvir o aparelho sendo desligado.
Em pânico ela começou imediatamente a juntar roupas e objetos , tentando calcular qual seria o lugar mais longe à que poderia ir com o dinheiro que tinha. Quando a maleta de viagem já estava abarrotada ela caiu em si. Caso se acovardasse e fugisse, seu patrão colocaria a polícia em seu encalço e mesmo que não a encontrassem, achariam seu irmão.
Conformada, Susan sentou-se na cama e começou a acompanhar o lento movimento dos ponteiros do relógio.
            Assim que percebeu o primeiro sinal de claridade nas janelas levantou-se e depois de um banho rápido, foi para o escritório.
Encaminhou-se direto à sala da presidência. A atmosfera parecia carregada, e sem que ele tivesse dito nada, Susan entendeu que ele sabia.
            __ Porque não fugiu antes que eu descobrisse? – perguntou assim que ela fechou a porta.
            __ Imaginei que o senhor me encontraria . – ele caminhava em torno dela enquanto falava, parecendo um felino momentos antes de saltar sobre a presa. E mesmo que ela só pensasse em fugir, seus pés pareciam presos ao carpete macio.
            __Quem é o homem à quem entregou meu dinheiro? Seu amante? – a pergunta foi feita com voz dura e inflexível.
            __ S-Sim, é. – era melhor mentir do que envolver o irmão, pensou.
           __ Você não passa de uma vagabunda !
            Susan não esperava a força da bofetada que a atingiu, e antes que percebesse já se encontrava caída no chão.
            __Então seu comportamento de boa moça era apenas um meio de desviar minha atenção, enquanto roubava meu dinheiro para dar à algum canalha! Levante-se ! – ordenou.
               Mal ela se pôs de pé e foi empurrada de encontro à parede. Seus braços foram presos atrás do corpo . E ele colou seu corpo ao dela, não permitindo nenhum movimento.
            __Eu pretendia devolver o dinheiro. Precisava apenas de um pouco mais de tempo.
– disse tentando se explicar, aterrorizada pela atitude brutal.
            __ Pois seu tempo acabou, Susan! Agora vou ensinar-lhe as regras do nosso “novo relacionamento”. - dizendo isso o Sr. Moretti abaixou uma das mãos que a seguravam, percorrendo seu corpo de forma propositalmente rude, o que fez com que ela se sentisse mesmo como uma vagabunda. Mas Susan sabia que mesmo que lhe contasse a verdade ele não acreditaria.
            __ Você sabe que se eu quiser mando você e seu amiguinho direto para a cadeia. Cabe a você decidir como serão as coisas.
            __ O senhor não pode estar dizendo que se eu ceder às suas investidas não levará o caso à polícia? - disse incrédula.
           __ Ceder às minhas investidas ?- riu, ainda tocando-a de maneira íntima.
            __ Não, as coisas definitivamente não serão dessa forma ! - enquanto falava levou a mão até seu pescoço, apertando-o apenas um pouco menos que o necessário para sufocá-la.
            O pensamento de que ele poderia matá-la , se quisesse, deixou-a estranhamente calma.
            __ E como serão ? O senhor não espera que eu me sujeite as suas vontades ? – desafiou-o
            Em resposta, sentiu a mão dele descer por seu estômago, tocando-a como se seu corpo já lhe pertencesse. Ele pareceu ler seus pensamentos, pois a expressão que ela tanto temia voltou à seus olhos. E subitamente ela compreendeu o que tanto a havia amedrontado. Aquele olhar era o que um dono lança a algo que possui. E desde o princípio ele já sabia que a teria.
            __ Sei que você entendeu Susan. Sabe que vou exigir de você tudo o que me proporcione algum tipo de prazer. E sabe também que fará o que eu quiser, mesmo que tenha que forçá-la a isso .
            Como demonstração do que dizia, ele baixou sua calcinha e forçou os dedos para dentro dela, causando uma dor rápida ,mas forte o bastante para que ela tentasse se afastar.
            No mesmo instante ouviram passos pelo corredor. Susan sentiu que os dedos dele foram ainda mais fundo, numa afirmação de domínio. Em pânico ela se lembrou de que não havia trancado a porta e, olhando o relógio sobre a mesa, percebeu que deveria ser o funcionário da limpeza, que imaginando não haver ninguém na sala, entraria sem bater.
            __ Por favor...- as palavras saíram fracas, numa súplica.
            __ Por favor, o que Susan ?- disse zombando .
            __ Não deixe que nos vejam assim ! Eu farei tudo o que quiser.- prometeu.
            __ Mesmo ? Tudo ? – os passos agora se aproximavam da porta de comunicação.
            __ Sim, tudo.
            Alguns segundos antes que a porta se abrisse ele se afastou, ficando à uma distância aceitável de onde ela estava. Ela mal teve tempo de se recompor. Ao entrar, o funcionário pediu desculpas percebendo que a sala não estava vazia, sugerindo voltar mais tarde.
            __ Não rapaz, faça seu serviço.
            __Susan , não se esqueça do que me disse... Pode voltar a sua mesa.
            __Sim senhor, com licença. – disse sem acreditar no que havia acontecido.
            Atordoada, voltou à sua mesa. Ainda podia sentir no corpo a força com que ele a havia tocado e percebeu que em alguns lugares a pele estava ficando arroxeada.
            O resto do dia passou como se tudo não houvesse acontecido. Quando o Sr. Moretti passou por ela dizendo que não voltaria mais, ela chegou a pensar que ele fizera tudo aquilo apenas para amedrontá-la e assim forçá-la a devolver o dinheiro.
            Sem decidir qual seria a melhor atitude a tomar, Susan começou a guardar as coisas.
            __ Algum problema querida ? – perguntou Diana.
            __ Não. Está tudo bem, porque ?
            __ Achei- a muito calada nos últimos dias, e hoje mal levantou-se para tomar um café !
            __ É apenas muito trabalho, não se preocupe.- respondeu sem jeito.
            __ Se é assim, então até amanhã !
            __ Até amanhã, Diana !
            

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Ficha do conto

Foto Perfil Conto Erotico coruja

Nome do conto:
Enzo1

Codigo do conto:
1177

Categoria:
Sadomasoquismo

Data da Publicação:
27/04/2003

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