A claridade vinda da janela fez com que abrisse os olhos. As lembranças da noite anterior voltaram imediatamente, e mesmo desejando que tudo não houvesse passado de um sonho louco, seu corpo era prova de que tudo fora bem real. Todo ele parecia entorpecido e não havia um só ponto que não estivesse dolorido. E, como Enzo prometera, havia as marcas para lembrá-la. Levantou-se, tentando lembrar em que momento ele fora embora, mas o pensamento sumiu no momento em que olhou para o relógio. Deveria estar no escritório há mais de uma hora. Vestiu-se o mais rápido que pôde, foi obrigada o opta por uma blusa com mangas bem compridas, para esconder as marcas nos pulsos. Havia vários objetos espalhados pelo apartamento, e tudo a fazia lembrar do que acontecera . Optou por arrumar tudo quando voltasse .Ao olhar o gancho na parede, seu corpo estremeceu, o medo de encontrá-lo novamente fez com que sua mente tentasse encontrar uma rota de fuga, mas sabia que era inútil, acabaria indo ao escritório. Chegando lá, passou rapidamente pelas outras mesas à caminho da ante-sala da presidência. __ Ora, ora, então “Santa Susan”, foi você o motivo da mudança do tempo ? – disse Diana, brincalhona, ao vê-la passar apressada, já que sua pontualidade era sempre motivo de comentários. __ Bom dia pra você também, Diana ! – respondeu ignorando a brincadeira. __ A “senhorita pontual” quase duas horas atrasada ? Pessoal, preparem os guarda chuvas, vem aí um temporal! – todos riram, enquanto ela se dirigia, sem jeito à sua sala. Mal colocou sua bolsa sobre a mesa e foi chamada pelo interfone. Ao encaminhar-se para a sala de Enzo, Susan perguntava-se porque não fugira, afinal, agora que ele achava que dera o dinheiro ao amante, ele não pensaria em ir atrás de um irmão que nem sabia existir. __ Tranque a porta e venha cá. – ordenou encarando-a , calmo e relaxado. Ela obedeceu, mas não se aproximou muito. __ Tire a roupa, quero vê-la. – falou como se fosse um pedido banal, desafiando-a à recusar. Sabendo tratar-se de uma demonstração de poder e consciente de que , mesmo à força, faria o que ele queria, Susan obedeceu. Mas entendendo que não lhe restava alternativa, enquanto se despia, começou a planejar a fuga. Calculou quanto tempo teria até que ele percebesse e qual o melhor local para se esconder. Ao vê-la nua , Enzo aproximou-se , puxando-a de encontro à seu corpo e apertando-lhe as nádegas machucadas, fazendo com que mordesse os lábios para conter um gemido de dor. __ Beije-me. – ordenou, passando a acariciar seu corpo de modo sensual. Não pode conter o gemido quando ele , com os dedos a penetrou. Mas a carícia serviu apenas para humilhá-la, pois ele sabia que ela estaria úmida e pronta para recebê-lo. __ Qual o nome do homem à quem deu o meu dinheiro ? – perguntou afastando-a bruscamente e voltando à sua mesa. A cor fugiu-lhe do rosto, pois o tom casual não disfarçou a ameaça contida na pergunta. O pânico a impedindo de dizer qualquer coisa. __ Vista-se e só volte à minha sala quando tiver uma resposta. – dispensou-a, percebendo que ela nada diria. Aproveitando a oportunidade ela vestiu-se e saiu o mais rápido possível. Voltando à sua mesa ela pensou em inventar qualquer nome, pois enquanto ele tentasse encontrá-lo, ela teria o tempo necessário para desaparecer. Assim, mergulhou no trabalho, protelando o momento de enfrentá-lo. __ Susan, venha a minha sala. – foi a ordem seca ao interfone. __ Seu tempo acabou. Diga-me o nome do cretino – falou assim que ela entrou. __ Eu... eu ... – ela temia que ele percebesse seu plano. __ Não me irrite, Susan. – ameaçou __ Ele se chama John ..., John Fisher. – deu o primeiro nome que lhe surgiu na cabeça __ E onde o encontro ? __ Eu não sei. Sempre nos encontramos em lugares públicos e eu nunca fui à sua casa. __ Então me dê o número de telefone. __ Não tenho o número, é sempre ele quem me liga. – mentiu, torcendo para que ele acreditasse. __ É mesmo? Tem um amante mas não sabe seu telefone nem endereço ? – perguntou incrédulo. __ Ele preza sua liberdade e eu nunca me importei, sempre deu certo assim. __ Parece ter uma inclinação por relações incomuns, não é ? Está bem, pode ir. – dispensou-a, parecendo conformado. Acreditando ter algum tempo e como já era fim de expediente, ela guardou suas coisas o mais rápido que podia e despediu-se dos colegas tentando parecer natural. Na estação de metrô aproveitou para comprar um guia contendo roteiros e horários de ônibus e sacou todo o dinheiro disponível em sua conta. Subiu correndo os dois lances de escada que levavam ao seu apartamento, mas ao abrir a porta, parou ainda com a mão na maçaneta ao deparar-se com Enzo sentado confortavelmente no sofá. __ Olá , Susan ! Parece apressada, porque não entra e fecha a porta ? Nem tentou imaginar como ele havia conseguido a chave , seu único pensamento foi correr e pedir ajuda , mas ambos sabiam que ela não o faria. Lentamente ela entrou e fechou a porta. __ Me dê sua bolsa! Sem pensar ela estendeu a bolsa e ficou parada diante dele, sem reação. Ao abri-la ele retirou o guia e o dinheiro e segurando-os , balançando a cabeça decepcionado. Por favor, não.. não me machuque! – implorou, apavorada, lembrando como ele a punira na noite anterior. Alcançando-a em dois passos, ele arrancou-lhe as roupas, sem se preocupar se as estava rasgando. __ Ia encontrá-lo ? – perguntou fora de si. __ Quem ? – estava tão apavorada que não entendeu a quem ele se referia. __ Não se faça de tola . Diga quem ele é, e onde o encontro.- enfurecido ele segurou-a pelos cabelos enquanto a empurrava até a mesa de jantar. Sentindo o mármore frio de encontro aos seios e o abdômen, ela ouviu-o abrir o zíper e só então entendeu o que ele pretendia. __ Não! – gritou em pânico, tentando soltar-se, mas ele tapou-lhe a boca com a mão livre. __ Nunca mais tente fugir de mim, entendeu ? – sussurrou ao seu ouvido. No mesmo momento o membro ereto forçou passagem e a dor que sentiu quase a fez desmaiar. Então ele começou a movimentar-se, e a cada investida, a dor parecia tornar-se maior. Enzo não parou até gozar dentro dela. Quando retirou a mão de sobre sua boca, ela soluçava baixinho. Afastou-se, deixando que seu corpo escorregasse até o chão. Ela ficou assim, inerte perto da mesa, meio caída e pôde ouvir quando ele serviu-se de uma bebida. __ O nome verdadeiro, Susan ? – perguntou calmamente, nada abalado com o que acabara de acontecer. Ela balançou a cabeça negativamente, mas ele pareceu ler seus pensamentos. __ Acha que não poderei ir além disso ? Prefere passar por qualquer coisa à entregar seu amante ? – seus olhos mostrando o quanto ele poderia ser cruel. Mas, subitamente, ele olhou-a como se o esforço não valesse a pena e encaminhou-se para a porta. __ Até amanhã Susan, e não volte a chegar atrasada. – disse indiferente, sem olhar para trás. Enquanto as lágrimas escorriam ela tentava entender como deixara as coisas chegarem aquele ponto. Poderia ir a polícia entregar-se e denunciá-lo. Fariam um exame em seu corpo e isso seria o suficiente para que ele passasse muito mais tempo que ela atrás das grades. Ou poderia fugir agora mesmo, deixando que o que acontecera não passasse de um sonho ruim. Mas continuava ali, caída onde ele a deixara, incapaz de qualquer reação. Nesse momento o telefone tocou, arrastou-se para alcançá-lo e quando atendeu sua voz soou trêmula e insegura. __ Alô Susan, é você ? Aqui é o Brian, está me ouvindo ? __ Brian, onde você está ? – perguntou aflita. __ Sinto irmãzinha, mas é melhor que não saiba. Estou encrencado. __ Mas Brian, eu pensei que estivesse tudo resolvido! __ Parece que meus amigos acham que não. Dizem que como demorei a pagar, o que lhes dei foram apenas os juros, agora querem mais dez mil. __ Brian, sabe que é muito ! Não tenho como ajudá-lo. Já não podia ter lhe dado aquele dinheiro! __ Susan, só tenho você, sabe disso ! E esses caras podem ser muito maus quando querem. – havia desespero em sua voz. __ Vou ver o que posso fazer... – prometeu sabendo que nunca poderia abandoná-lo. __ Sabia que podia contar com você maninha ! Agora tenho que desligar. Te amo ! __ Também te amo Brian ! – mas pôde ouvir o clic de telefone sendo desligado antes que terminasse a frase. Apoiando a cabeça nos joelhos, chorou. Da mesma forma que sabia não poder abandonar Brian, sabia que Enzo Moretti nunca a deixaria ir. Havia ligado-se à ele incondicionalmente. Não por ter furtado o dinheiro , mas pela forma como ele a subjugara. Ela tivera muitas oportunidades de mudar as coisas, mas não o fizera. Aceitara a posse, sujeitara-se mesmo quando ele a forçara de maneira brutal. O momento de rebelar-se havia passado. Não havia escapatória. Amanhã iria até a empresa e imploraria que ele lhe desse o dinheiro, aceitando qualquer condição que ele impusesse. Dirigiu-se lentamente ao banheiro e enquanto tomava um banho demorado descobriu novas marcas em seu corpo. A lembrança da posse brutal a fez estremecer. O que mais ele poderia fazer-lhe ? Dormiu assim que colocou a cabeça no travesseiro , teve um sono tranqüilo e sem sonhos.
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