A gente fodia todo dia..
Na cama, na sala, no jardim, na cozinha.
Era rotina.
Não tinha local e nem hora..
A gente sumia no suor dos nossos corpos,
Transávamos até quando não podíamos..
Era um vai e vem pertinente.
O mais rápido possível antes, durante e depois do expediente.
Era uma coisa de louco..
Um sufoco, um do outro, quando não nos víamos.
Lembro da vez na cabine de roupas..
Enquanto você se trocava,
Eu me tocava discretamente te desejando.
Era uma química exata.
Você com cara de safada,
Olhou para os lados e me mostrou a calcinha na ponta dos dedos.
Meu corpo até arrepia,
Sinto até saudades...
De quando você me puxou pela calça e segurou o membro.
Eu parado na porta do provador,
Você de dentro me chupando com amor e medo.
As pessoas passavam no corredor,
E eu atuava como um bom ator.
Digno de Oscar...
Quando mais vazio, penetrei não só o recinto.
Segurei seu corpo contra o meu,
E me afundei em você.
Cada estocada era um gemido abafado pelas roupas já provadas.
E quando veio o gozo,
Tratamos de limpar o rosto e sair dali de imediato.
Ninguém desconfiou de nada.
Teve aquela vez na biblioteca..
Eu vagava pelas prateleiras tentando encontrar um livro do meu agrado.
Folheava uns e outros,
Mas foi na fileira K que eu me deparei com suas curvas.
Tão bem escritas e encadernadas.
Nas mãos, nada menos que o Kama Sutra.
Fiquei imerso no teu contexto.
Fui chegando perto..
Cada vez mais..
Até que pude sentir sua respiração ofegante,
Dada pelo toque dos meus dedos nas suas páginas rosadas.
Era uma poesia.
Uma crônica.
Tão bem recitada,
Que até decorei.
Fomos invadidos novamente pelo desejo.
Ali no meio dos livros antigos e empoeirados,
Abrimos espaço e repetimos os passos descritos por Vatsiaiana.
Tinha posição que eu nem conhecia.
Umas com uns nomes engraçados,
Outras fáceis de fazer.
Ao mesmo tempo que nos satisfazíamos,
Ríamos.
E gozávamos.
Muito..
Muito mesmo, por sinal.
Era tudo tão sigiloso e quieto,
Que qualquer passada por perto,
Nos vestíamos mais rápido que a luz.
Num surto qualquer,
Para não sermos pegos e acabarmos com o coito.
Teve no teatro, no cinema, no escritório, na padaria..
Teve no elevador, no restaurante, na praia e no carro..
Todo lugar era lugar.
Toda hora era hora.
Ninguém nos domava.
Éramos feras,
Hipoteticamente e literalmente.
Tínhamos sinética, lírica e dialética.
Afrodite, teu nome.
Como a deusa, sim.
O meu era Apolo,
Mas você me conhecia como Eros.
Duas gigantescas figuras do Olimpo,
Nada menos do que eu era digno.
O tempo passou..
As coisas mudaram..
Separaram a gente.
Nunca mais fui feliz outra vez..
Você, nem sei por onde anda.
Acho que te vi na noite passada,
Num desses motéis de estrada.
Quicando no colo de um bastardo inglório,
Por alguns trocados.
Fiquei observando do carro,
Esperando que teus cachos saíssem do quarto e num último suspiro, molhado.
No final, não era você.
E dali toquei o rumo,
Direto pro destino incerto,
Que não por entre tuas coxas,
Parava em qualquer uma, por tédio.
O sexo não era mais vício.
Não era mais vontade.
Nunca foi desejo.
Era outra coisa..
E com você eu sabia, hoje não faço idéia.
Tenho preguiça de querer descobrir..
Nenhuma outra me interessa.
A gente fodia..
Todo dia.
A gente fodia, todo dia.
Fodia..
Todo dia, a gente fodia."
- Romancista Sólitario
SE GOSTOU, DEIXA O VOTO E COMENTA