A MALDIÇÃO DAS FERAS - A Disputa do Alpha

O sol estava prestes a se pôr à beira do lago Eibsee. Ao longe, se via o vilarejo iluminado, onde o povo se reunia para celebrar o momento mais aguardado do festival: a disputa do alpha. Um ritual de virilidade, aberto a todos os homens da localidade em idade fértil, realizado sob a última lua cheia do inverno. Quando mais novo, me preparava para o desafio e agora, como rei, não poderia me negar a participar. Ao vencedor, era garantido não apenas o respeito e liderança no conselho, como também o direito de cortejar qualquer dama e possuí-la naquela mesma noite. No entanto, eu pouco me recordava do clima rigoroso ao qual meu corpo estaria exposto.

Era Lady Mezler quem preparava os competidores. Com uma adaga em mãos, fazia um corte transversal no peito de cada um e em seguida lhes oferecia o tonel, com a misteriosa lama escura, para que espalhassem sobre o ferimento. O mesmo fez a mim, cortando rapidamente minha pele com a lâmina afiada e demonstrando certo prazer com o sangue que escorria. Fez questão, ela mesma, de esfregar o material sobre meu peito, que parecia rasgar ainda mais a carne, ao mesmo tempo que me contava sobre seus efeitos no corpo humano.

— Essa é a lama que brota das montanhas. Quando penetra em qualquer parte do corpo e alcança os vasos sanguíneos, ativa os instintos mais primitivos, aumentando a força, a resistência física e a virilidade - dizia Lady Mezler enquanto deslizava suas mãos por mim, descendo pelo abdome e parando pouco antes de invadir o traje que me cobria.

Logo o ardor que iniciara sobre o peito se espalhou por todo o corpo. Meu coração pulsava rápido e a respiração acelerava. Meu membro já começava a se comprimir dentro do traje e o frio já não era percebido. Importava a todos apenas a disputa e a recompensa que dela viria. Ao sinal de Lady Mezler, pulamos no lago, cruzando-o a nado, por vezes abaixo da camada de gelo e precisando rompe-la para respirar. Para aqueles que chegavam ao outro lado, uma longa trilha sobre a neve aguardava, delimitada por tochas. Os homens corriam como feras no cio, atacando uns aos outros para tomar a liderança. Os verdadeiros lobos observavam de longe, esperando o momento de atacar e devorar aqueles que eventualmente caíssem ou se afastassem demais do pelotão principal. É Tourian quem logo toma a frente, parecendo se firmar mais uma vez como campeão, seguido por Isaac. Sigo em terceiro, perdendo Drigory de vista, possivelmente vencido em algum lugar muito atrás, o que me deixava de certa forma satisfeito. Da última curva antes de chegar a praça, ouço o badalar do sino da vitória, seguido por gritos da multidão, os quais, estranhamente, não se assemelham a sons de comemoração.

É então que vemos a fera. Um grande lobo que invadira a praça e agora ameaçava Tourian e Isaac. Os dois tentam afugentá-lo para a mata. Porém, quando o animal me vê, dispara em minha direção. Eu sou a preza que busca. Tenho pouco tempo para alcançar uma das tochas da estrada antes de seus dentes já estarem sobre mim. Desvio e acerto a fera com a tocha, o que faz seu pelo imediatamente se incendiar. O lobo então corre em desespero, desaparecendo na floresta e deixando para trás um rastro de lama negra que escorrera de seu pelo.

— De onde vem essa lama? — pergunto a Tourian e Isaac assim que se aproximam de mim.

— É um fosso sagrado. Apenas Lady Mezler conhece o lugar — me responde Isaac.

Corro até a praça, pego o primeiro casaco que encontro e subo em um cavalo, partindo em direção a mansão Mezler.