O tempo não é gentil com as pessoas, ele é severo, mas um excelente professor.
Ele destrói vaidades, as aparências, tudo que não é verdadeiro e tudo que ficava escondido.
Como já disse Gilberto Gil, o tempo é rei.
O tempo trouxe de volta uma Bela adormecida que acordou fora do seu tempo, mas com os desejos e anseios do tempo em que dormiu.
Uma beleza antiga que o tempo marcou com o cinza nos cabelos e com o arredondamento da cintura.
Quando despertou, a Bela Adormecida se constrangeu com a imagem que o espelho mostrava, tão diferente da que tinha quando dormiu.
Mas sentia dentro de si os calores e desejos exacerbados pela espera, querendo eclodir por todos os seus poros
Sentiu seus desejos de mulher formigarem suas entranhas, enrigecerem os bicos dos seus seios, seu sumo escorrer de sua gruta, seu pensamento divagar sonhando com braços a lhe apertar, com beijos molhados, com sussurros ao pé do ouvido.
Passou a viver seus dias numa espécie de nuvem de sensualidade por onde se movia e se espalhava, absorvendo novos sons, novos cheiros e descobriu possibilidades.
Descobriu que ainda era capaz de encantar, de sentir prazer e dar também.
Descobriu que viver não cabia em rótulos.
Voltou a se sentir sensual, capaz de despertar desejos e até de aquecer a alma de alguém.
Agora, ao caminhar na rua, ao encontrar as pessoas, seu olhar não é mais distraído
É um olhar que observa e que sente o que essa mulher, com os efeitos do tempo, pode despertar em alguém.