Ao se virar com cuidado, encontrou seus olhos já abertos, escuros e intensos como a noite anterior, observando-a com uma concentração que fez seu estômago embrulhar de um jeito que não era totalmente desconfortável.
— Você sequer dormiu? sussurrou, surpresa ao ouvir sua própria voz ainda rouca dos gemidos abafados contra o travesseiro horas antes.
Charlie não respondeu imediatamente. Em vez disso, seu braço se apertou ao redor dela num movimento quase involuntário, puxando-a mais perto até que seu quadril se encaixasse perfeitamente de conchinha contra a curva de seu corpo. Só então ela sentiu - a rigidez inconfundível do pau pressionando sua coxa, quente e insistente mesmo após tudo o que haviam feito na noite anterior.
— Não consegui, ele finalmente admitiu, a voz grave da manhã fazendo arrepios percorrerem sua espinha.
— Toda vez que fechava os olhos, via você saindo daquele maldito motel de novo.
Olivia sentiu um nó de angústia se formar em sua garganta enquanto imagens de suas traições com Ricardo invadiam sua mente como facadas. Cada beijo roubado, cada carícia escondida, cada mentira contada ao homem que agora estava deitado ao seu lado - tudo lhe queimava as entranhas com um remorso corrosivo. O gosto amargo da culpa se misturava ao sabor salgado de Charlie ainda em seus lábios, uma contradição que a enlouquecia.
Mas quando sua mão, movida por um impulso que não conseguia controlar, deslizou pelas coxas e encontrou o calor familiar do marido - tão firme, tão vivo, pulsando de desejo mesmo depois de tudo, algo primitivo despertou nela.
Seu corpo reagiu antes de sua consciência, umedecendo sua bucetinha instantaneamente ao contraste entre a vergonha dilacerante e a excitação proibida. Cada veia saliente que seus dedos exploravam no pau de seu marido era um lembrete do que quase perdera, do homem que humilhara, mas que ainda a desejava com uma intensidade que Ricardo nunca demonstrara.
Era a punição mais doce, saber que mesmo depois de suas traições, era o desejo por Charlie que fazia suas pernas tremerem, era a marca das mãos dele que sua pele ansiava, não as do amante. O arrependimento e o êxtase se entrelaçavam como os corpos deles naquela manhã, seu corpo traía sua mente, mas seu coração, ah, seu coração batia apenas para aquele homem que, contra todas as expectativas, ainda a queria apesar de tudo.
— Você gostou, não foi? provocou rindo baixinho, sentindo o corpo dele endurecer sob seu toque lento e carinhoso na cabeça do pau de Charlie.
— De me ver toda marcada ontem à noite, toda sua, enquanto me fazia admitir cada detalhe...
Seu pulso foi agarrado com força repentina, os dedos dele queimando contra sua pele quando ele guiou sua mão para baixo, até a evidência inegável de seu desejo.
— Pare, ordenou, mas o corpo dele traiu a ordem, arqueando em direção ao seu toque como uma planta para o sol.
Ela sentiu seu poder naquele momento, o poder de tê-lo assim, completamente à mercê dela mesmo quando tentava manter o controle. Era intoxicante.
— Não, recusou, subindo por cima dele num movimento fluido que fez ambos suspirarem quando seus corpos se alinharam perfeitamente, com o pau entrando de uma só vez dentro de sua carne.
— Você quer que eu repita tudo? Quer ouvir de novo como ele me tocou?
Seus quadris foram agarrados com força quase dolorosa, os dedos dele cravando na carne macia exatamente onde as marcas roxas da noite anterior ainda doíam levemente ao toque.
— Eu deveria, ele rosnou, virando-a de costas com uma força que a fez prender a respiração. Seus pulsos foram presos contra o colchão, seu corpo arqueado sob o dele de um jeito que a fez sentir-se completamente exposta.
— Você merece ser interrogada de novo. Merece ter que dizer cada palavra.
Quando ele entrou nela num movimento fluido, preenchendo-a completamente, Olivia arqueou as costas como uma gata no cio com um gemido abafado. Cada centímetro dela estava hiperconsciente, cada toque amplificado pela tensão emocional que ainda pairava entre eles.
— Ele te fez sentir assim? sussurrou em seu ouvido, os dentes roçando aquele ponto sensível em seu pescoço que sempre a fazia derreter.
— N-Não... nunca assim como você faz... ela gemeu, os dedos se agarrando aos lençóis quando ele começou a se mover com uma cadência que a levava à loucura.
— Mentira, ele acusou, aumentando o ritmo de forma brutal. Sua mão desceu entre seus corpos, os dedos encontrando os pelinhos negros ensopados que ele conhecia tão bem.
— Ele nunca te fez tremer assim, nunca te fez gritar o meu nome como você está prestes a fazer.
Olivia sentiu as palavras dele como um choque elétrico em sua espinha. Charlie sabia exatamente como tocá-la, como fazer seu corpo responder de maneiras que nem ela mesma entendia completamente. Quando seus dedos encontraram seu clitóris, esfregando com a pressão perfeita, ela sabia que estava perdida.
— Mas eu vou fazer você esquecer ele prometeu, sua voz rouca de desejo. Vou fazer você só lembrar de mim. Do meu toque. Do meu gosto. Do meu pau dentro de você.
E com essas palavras, ele a levou ao limite, cada movimento calculado para apagar qualquer memória de outro homem, para reivindicar o que sempre foi dele. Olivia gritou seu nome, seu corpo tremendo violentamente enquanto a onda de prazer a consumia, sabendo que nenhum outro homem poderia fazê-la sentir assim, completo, intenso, e profundamente, irrevogavelmente seu.
Três meses depois.
O escritório de Charlie cheirava a café forte e papel novo quando Olivia entrou carregando duas xícaras fumegantes. Ele estava curvado sobre o manuscrito, os dedos manchados de tinta de tanto escrever à mão, os olhos vermelhos de noites mal dormidas. Ela colocou a xícara ao lado dele e passou os dedos por seus cabelos desalinhados, sorrindo quando ele inclinou a cabeça para trás contra seu estômago com um suspiro cansado.
— Quase pronto? ela perguntou beijando sua testa, olhando para as pilhas de páginas espalhadas pela mesa.
Ele pegou sua mão e a beijou nos nós dos dedos, os lábios secos contra sua pele.
— Preciso reescrever o último capítulo — Charlie murmurou, esfregando os olhos cansados. — De novo.
Seus olhos percorreram as linhas manuscritas, e imediatamente reconheceu a cena: aquela primeira noite após a tempestade, quando os corpos deles haviam refeito as promessas que suas bocas ainda não conseguiam pronunciar. A descrição era vívida demais, o suor que escorrera entre seus seios, o gosto salgado de lágrimas e perdão em seus lábios unidos, o som abafado dos lençóis sendo arrancados quando ele a virou de bruços com uma urgência quase desesperada.
— Você não precisa mudar nada — sussurrou, seus lábios encontrando a têmpora dele, onde uma veia pulsava suavemente. Sentiu o cheiro familiar de seu marido, caneta esferográfica, colônia barata e algo inconfundivelmente Charlie.
— Está... está dolorosamente perfeito.
Ele girou a cadeira para encará-la, os olhos sérios.
— Tem certeza? É sua história tanto quanto minha.
Ela fechou os olhos por um instante, deixando as memórias dos últimos meses inundarem sua mente como as ondas da maré cheia. Lembrou com clareza cristalina daquele dia decisivo - como entrara no restaurante de Ricardo antes do horário de abertura, seu salto alto ecoando no piso de mármore vazio. Seu crachá de gerente pousara sobre a mesa dele com um clique surpreendentemente alto no silêncio do ambiente.
Nem precisara dizer uma palavra; o olhar gelado que lhe dirigira fora mais eloquente que qualquer discurso. Ricardo tentara argumentar, é claro, suas mãos suadas agarrando seus pulsos com aquele toque que outrora a fazia tremer de excitação e que agora só lhe causava repulsa.
Nos dias seguintes, seu telefone vibrara incessantemente com mensagens cada vez mais desesperadas. "Você não pode simplesmente sumir" na terça-feira. "Eu mereço uma explicação" na quarta. "Sua putinha ingrata" na sexta-feira, quando finalmente bloqueou o número depois da décima tentativa não respondida. Aquele simples gesto no celular a fizera sentir um alívio tão intenso que quase a derrubara, como se tivesse finalmente fechado uma porta que permanecera aberta por tempo demais.
E Charlie... Oh, Charlie. Todas as noites, pontual como um ritual religioso, ele aparecia na porta do pequeno bistro francês onde conseguira um novo emprego. Sempre às 23h07, quando seu turno terminava, apenas esperava do lado de fora, seu casaco de couro envelhecido pelo tempo, uma silhueta familiar contra a névoa noturna. Algumas noites trazia um guarda-chuva, outras uma garrafa térmica com chá de camomila para suas mãos sempre geladas.
As noites eram o verdadeiro teste. Muitas vezes acordava sobressaltada, o corpo coberto de suor frio, pesadelos de suas traições a atormentando. Nessas horas, Charlie estava sempre lá, seus lábios murmurando "eu sei, eu sei" enquanto beijava suas pálpebras inchadas de lágrimas, suas mãos grandes acariciando suas costas em círculos lentos como se estivesse domando um animal assustado. "Desculpe", ele sussurrava contra sua pele, embora quem devesse pedir perdão fosse ela, e ela também pediu perdão pelo que fizera.
E os dias ela os encontrava mergulhado em seu manuscrito, transformando a dor em arte. Pilhas de páginas amareladas se acumulavam em sua escrivaninha, cada palavra uma tentativa de entender, de perdoar, de refazer o que estava quebrado. Às vezes ela ficava parada no corredor, observando-o escrever com uma intensidade quase violenta, a caneta furando o papel em momentos de emoção muito forte. Seus olhos ardiam quando percebia que ele estava reescrevendo suas memórias compartilhadas, limpando-as da mácula de suas ações, dando-lhes um novo significado, um novo final.
Foi nesses momentos, vendo seu marido transformar sua dor em algo belo, que Olivia finalmente compreendeu a profundidade do que eles compartilhavam, muito maior do que apenas sexo, e o milagre que era seu perdão. Não era perfeito, não era fácil, mas era deles, escrito a quatro mãos no livro da vida que agora folheavam juntos.
— Estou certíssima, respondeu, pegando a caneta da mesa e escrevendo algo na última página antes que ele pudesse impedi-la. "Assinado, Olivia Baker - personagem principal e esposa muito feliz."
O livro chegou às livrarias em embalagem discreta, capa sóbria e um pseudônimo que não significava nada para o mundo - mas que representava tudo para eles. "J.T. Blackwell" - uma brincadeira privada, as iniciais de "Just Them", só eles. Nenhum leitor desconfiaria que aquela história de traição e redenção era mais real do que a maioria dos casamentos, mais crua do que qualquer confissão.
Na noite do lançamento, Charlie a levou de surpresa ao pequeno restaurante italiano da Rua Aurora, aquele mesmo onde, dez anos antes, um estudante de letras tímido convidara uma jovem chef promissora para dividir uma garrafa de vinho barato. O lugar estava quase vazio numa terça-feira chuvosa, exatamente como na primeira vez. Apenas o dono, velho conhecido, permanecia, discretamente sumindo na cozinha depois de servi-los.
"Para a minha crítica mais severa", Charlie brindou, os olhos cintilando sob a luz das velas enquanto erguia seu copo de Chianti, o mesmo daquela noite distante.
Foi então que ele deslizou sobre a toalha xadrez vermelha um envelope marrom gasto nas bordas. Dentro, o manuscrito original amarelado pelo tempo e pelas incontáveis revisões. Olivia reconheceu imediatamente a primeira página, as marcas de café, a mancha circular de uma lágrima seca (dele? dela?), a caligrafia frenética daquela noite fatídica.
Mas era a nova página final, colada com cuidado sobre a original, que fez suas mãos tremerem. O papel era diferente, mais novo, mais liso, mas a letra era inconfundivelmente a dele:
"Para Olivia
A protagonista que fugiu do roteiro.
A anti-heroína que roubou meu coração de novo.
A única personagem que insistiu em se tornar real.
O resto? É só ficção.
P.S. Mantive minha promessa: nenhuma de suas personagens morreu nesta história. Mas cuidado com o próximo livro, a menos que você queira um final trágico. (Brincadeira. Ou não.)"
As lágrimas caíram sobre o papel antes que ela pudesse detê-las, borrando levemente a tinta azul que ele sempre usava. Charlie não tentou consolá-la - apenas envolveu sua mão na dela, seus dedos entrelaçando-se naturalmente, como se as cicatrizes e rugas agora os unissem mais do que a pele lisa da juventude jamais conseguira.
Foi quando o rádio antigo atrás do balcão começou a tocar "Per te" de Josh Groban, a mesma música que tocara naquela primeira noite. Sem uma palavra, Charlie levantou-se e estendeu a mão.
No centro do salão vazio, sob a luz dourada do lustre de cristais barato, eles dançaram como se o mundo tivesse acabado e recomeçado só para aquele momento. O toque dele já não era uma pergunta, nem uma afirmação, era a vírgula perfeita em uma frase que decidiam escrever juntos a cada amanhecer.
E quando Olivia enterrou o rosto no pescoço de Charlie, respirando fundo o cheiro de caneta e papel, café e casa, compreendeu a verdade mais simples: algumas histórias merecem ser reescritas. E a deles, cheia de erros, rasuras e parágrafos riscados, era mais bela justamente por nunca estar realmente terminada.
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