-É sério, tia Lúcia, pretendo vazer isso o quanto antes. -Candice dizia secando os pratos.
-Querida, não pode fugir de casa sem ter para onde ir! -Lúcia estava preocupada.
-O que eu não posso é ficar aqui e ser abusada por aquele demônio todos os dias da minha vida! -ela terminou o que fazia e foi para a sala -Eu já vou fazer 18 anos e serei responsável por mim mesma, então...
-O mundo é perigoso, Candice. -Sentou-se no sofá.
-Tenho mais medo da minha casa do que desse mundo.
-Você ainda é ingênua e... -pensou -Não quero que nada de mal lhe aconteça.
-Mas do que está acontecendo? Tia, os meninos do colégio ficam passando a mal em mim e tentando me abusar porque sabem o que eu sofro em casa, e eu não posso fazer nada! -Seus olhos imploravam para que as lágrimas caíssem -Nada, porque se eu fizer eles vão fazer pior! Eu sinto nojo de mim, nojo!
-Não, não chore! -Abraçou Candice -Vai ficar tudo bem, prometo.
-Eu não aguento mais! -se desabou em choro -Estou no meu limíte, eu não consigo!
-Quer dormir aqui em casa hoje?
-NÃO! -gritou -Se eu dormir aqui, amanhã ele me mata! Vai abusar de mim e me bater como da ultima vez, é melhor não!
-Me sinto um nada sem poder te ajudar...
-Tia, a senhora já ajuda demais! Mesmo não sendo da família, é a única coisa que eu tenho na minha vida de bom.
-Limpe este rosto, querida. Vá em casa, tome banho e se vista bem bonita!
-Por que? -Candice perguntou, franzindo a testa.
-James deixou você jantar aqui hoje.
-Você falou com ele?!
-Sim, ele tem medo que eu conte a verdade para a polícia. Por isso faz tudo que eu digo.
-Será que ele está em casa? -Ela se levantou indo em direção a porta.
-Não, provavelmente ele deve estar se embebedando nesses bares por aí.
-Tem razão... -Suspirou -Vou me arrumar e volto logo para ajudar a senhora a por a mesa.
-Ryan, está chegando... Ele pode ajudar, não tenha pressa.
-Não entendo por que quer tanto minha presença neste jantar, tia. Nem ser da família eu sou!
-Candice, não diga uma bobagem dessas! Todos os meus parentes estão vindo me visitar, é como você disse, você não é da família mas é a única coisa boa na minha vida! -Sorriu.-Você e o Ryan, é claro!
-Ele é seu filho né!-Gargalhou. -Já estou indo. -Disse abrindo a porta, no mesmo momento em que ela saia, Ryan entrou junto ao tão cobiçado ator, Justin, que Candice não conhecia. Como poderia conhecer? James não a deixa ter acesso com a TV e derivados de notícia, nem mesmo sabia muito sobre sexo e coisas do ramo! Justin e Candice se encontraram no olhar, ela com seus olhos entristecidos e ele com seu mel sedutor. Um olhar inocente e um malicioso. Opostos.
-Olá, Ryan. -ela disse ao sair. -Não tinham muita intimidade. Ryan quase sempre não parava em casa, estava sempre gravando cenas e indo a festas e pós festas.
-Candice! -ele acenou com a cabeça e ela saiu.
-Meu filho! -Dona Lúcia correu engraçado para abraça-lo.
-Calma mãe, vai me esmagar!-Riu.
-Justin, venha cá! -Ela puxou ele para um abraço.
-Tia Lúcia!!-ele se empolgou entrando no 'clima'.
-A família já está chegando, estou animada para o jantar.
-É só um jantar mãe. -Ryan disse sem humor, era só mais uma oportunidade das pessoas falarem mal do seu trabalho.
-Diga isto para Justin... -Olhou ele de cima à baixo -Está vestido para uma festa!
-Sou um homem vaidoso!-Se defendeu, passando a mão direita de leve em seu topete. Estava fabuloso.
-Tudo bem, tudo bem. -Fez gestos com as mãos. -Vocês dois, arrumem a mesa na varanda dos fundos!
-Por que a gente? -Reclamou Ryan, fazendo careta.
-Por que eu e Candice já fizemos muito por hoje!
-O que por exemplo?
-Coloquem a mesa na varanda e verá!
Justin e Ryan pegaram as coisas na cozinha e levaram para os fundos da casa. As palavras de Lúcia fizeram sentido agora, estava tudo iluminado com luzes coloridas em meio aos arbustos, que continham flores tão bem cuidadas. O gramado estava em seu melhor tom de verde, a caixa de som estava ao canto, tocaria músicas de efeitos sonoros e relaxantes, bem baixa para que a conversa se proliferasse no local. Um ar agradável.
Ryan só conseguia pensar em uma coisa: Ter paciência para aguentar sua família. Já Justin, não tirava aqueles olhos tristes da sua cabeça.
-Quem é aquela garota que saiu pela porta quando entramos? -Perguntou para Ryan, estavam voltando para a cozinha pra pegar mais coisas.
-Candice, Candice McGray.
-É aquela que sua mãe ajuda e que é abusada pelo pai? -Era visível que as 'fofocas' se espalhavam rápido.
-Padrasto -Corrigiu -Sim, é ela.
-Mas ela parece tão jovem e... indefesa? -Colocou as coisas na mesa, arrumando.
-E ela é... Minha mãe me contou que ela quer fugir de casa para se livrar dele.
-Ela parecia triste. -Justin parou.
-A mãe dela morreu, o padrasto estupra ela todo dia estando bebado ou não e ela não tem família, queria que ela estivesse feliz?
-É, tem sentido. -Disse e Ryan riu.
(...)
Candice colocara o seu melhor vestido, preto e tomara-que-caia com um laço branco em baixo dos seios. Não colocou maquiagem, não gostava. Mesmo assim seu rosto era lindo!
Colocou seu salto e, na hora em que iria sair, James entrou pela porta da frente, sem deixar que ele a visse,ela saiu pela porta dos fundos. Ele estava bebado e provavelmente não a deixaria sair e abusaria dela, de novo.
De longe, poderia ver as luzes coloridas no fundo da casa de Dona Lúcia. Estava lindo, cafona, mas lindo. Entrou pelos fundos, já que a frente da casa estava fechada.
Os parentes já haviam chego, boa parte deles pelo menos. Dona Lúcia veio ao encontro de Candice com uma taça de vinho.
-Está linda, querida!
-Obrigada. -Sorriu.
-Acho que você conhece todos os que estão aqui, não é?
-Quase todos...
-Vem, vou te apresentar.
-Não!! -Quase gritou -Tia, sabe que eu odeio conhecer novas pessoas.-Olhou para o lado, onde havia a mesa com bebidas, Justin olhava descaradamente.
-Então, vou pedir a Ryan que lhe sirva uma taça de vinho. -Procurou por ele com os olhos.
-Ele está ali -apontou para o rapaz bem vestido ao lado de Justin -Eu pego. Caminhou devagar até lá.
Seus passos imploravam para serem mais lentos, o quanto mais tempo levara para se aproximar do tatuado com músculos e um topete sexy, melhor.
-Boa noite. -Disse, acenando com a cabeça. -Onde está o vinho?
-Pensei que não bebia. -Ryan levantou o vinho em suas mãos.
-É só vinho. -Deu de ombros.
-Deixe a menina, idiota! -Repreendeu Justin. -Aqui. -Ele pegou o vinho e colocou um pouco na taça que ela segurava.
-Obrigada. -Sorriu sem mostrar os dentes e foi para a cozinha.
Acendeu a luz e olhou a taça de vinho, um dos melhores e mais antigos. Jogou tudo na pia, não beberia aquilo... Respirou fundo e se encostou na bancada da pia, jogando o cabelo pro lado.
-'É só vinho', né? -Justin estava encostado na porta com os braços cruzados, Candice se assustou um pouco com sua presença.
-Por favor, não conte pra ninguém!
-Tudo bem, este vai ser nosso segredinho. -Sorriu andando até ela e ficando de frente para a mesma -Candice né? -ela fez que sim com a cabeça -Justin, prazer.
Ela estava começando a sentir falta de ar, por que ele tinha que atuar nos piores pesadelos dela? Era como ser queimado pela água. Não tinha lógica.
-Acho que vou lá fora. -Disse andando, mas ele segurou seu braço.
-Mas aqui está mais agradável. -Olhou em seus olhos.
-Me solte. -Pediu, tremendo.
-Calma, não vou te estuprar! Não sou seu...-Ele se interrompeu ao notar o que falaria. Ela arregalou os olhos, como poderia saber disso? Ryan, é claro, pensou. -Tem um pouco de vinho na sua boca...
-Mas eu não bebi.
-Eu tiro isso pra você. -ele a jogou contra a bancada e a beijou, a mesma ficou sem reação, Justin buscava a língua dela a todo custo. Suas mãos foram para a cintura de Candice e sentiu ela mole, abriu os olhos e ela não fazia nenhum gesto.
-Ela desmaiou?! -Perguntou a si mesmo assustado -Oh, céus! -Pegou ela no colo e levou para um dos quartos.
Garota medrosa, nem mesmo capaz de aguentar um mísero beijo. Ela nem mesmo sabia quem ele era, como poderia sentir medo ou até mesmo nojo? Ele a lembrava seu padrasto pelas tatuagens espalhadas pelo corpo, seu jeito de adolescente a fazia achar que ele era como os meninos do seu colégio. O que Justin iria fazer agora? Se fosse um garoto esperto, aproveitaria a situação para abusar de seu corpo esplendido. Burro ele não era, mas seria capaz de tal ato?