FAMÍLIA KEMAL – HENRIQUETA VAI A DELEGACIA - PARTE 53

Omero quase respondeu SIM aos sobrinhos, mas achou melhor conversar com Omar antes de comprometê-lo com os filhos, ponderou. E como também não queria mentir pros sobrinhos, desconversou:

- MEU DEUS! Falta pouquiíssimo tempo pro meu cliente chegar. O tio adoraria responder essa e todas as outras perguntas de vocês, mas infelizmente o dever me chama. Em menos de dez minutos meu cliente baterá na porta e não posso atendê-lo antes da Jerusa trocar esses lençóis e dar uma arrumada em minha suíte. Infelizmente precisam ir agora mesmo, mas quero que aceitem esse presentinho do tio. Aqui estão os recibos dos depósitos bancários mensais, que fiz e que continuarei fazendo para pagar as despesas das faculdades que tanto eu quanto Omar queremos muito que ambos façam. Abraços! Até mais, rapazes!

HÃÃÃ? Que dinheirão é esse tio? Agradecemos de coração, mas não podemos aceitar seu presente de forma alguma. Por favor, receba seus recibos de volta.

- Não tem mas, nem meio mas. Estão entregues! Se não quiserem, saquem, rasguem ou queimem o dinheiro, pois eu não aceito devolução de forma nenhuma. AGORA SE MANDEM, DELÍCIAS! ATÉ MAAAAAAIIIS! BEIJÃO!

Sem saber que o coveiro tinha sido obrigado a se bandear para o lado do vigário devido a chantagem que estava sofrendo por ele, no dia seguinte bem cedo Henriqueta mais cafona do que nunca, foi atrás dele exigir que ele desse um jeito de afanar o envelope de fotos pra ela.

Enfiada dentro de um vestido de veludo rosa choque mega curto, todo bordado de lantejoulas douradas, calçada num chinelo de borracha recoberto com várias e enormes flores de plástico muilticoloridas e com seus cabelos presos numa toca de lã amarela, zig-zagueada por fios de marabu roxos, debaixo de um sol escaldante, Henriqueta bruscamente acordava o coveiro:

- Boliiiche?? Acorda, Boliche! Vai fazer um servicinho pra sua Deusa! ACOOORDA, homem de Deus!

- “Maaa-maaaiissss-maaaiiiiissss-mais o-ooo-o quê-quêêê-quêêê-quê que tá-táááá-tá-á-á-tá aaaa- aaa-acooon-acoooon-aconnntecenô aaaa-aaaa-aaaqui, je-jeeee-jeeeesui-jesuis? Maaa-maaaiissss-maaaiiiiissss-mais é ôôô-ôôôcêêê-ocêêê saan-saaan-saaa-saaantiii-saaantiiinha-santinha?”

- Não! É a “Giselia Vintiens”. Claro que sou eu, seu lesado! Em carne, osso, simpatia e gostosura! Levante logo. Quero que roube uma coisa pra mim, ainda hoje.

- “Maaa-maaaiissss-maaaiiiiissss-mais saan-saaan-saaa-saaantiii-saaantiiinha-santinha. Iiiiii-iiii-iiiii-iiiêêê-iiiêêêuuu iêêêuuu nuu-nuuuu-nuuum-nuuuuum-num sô laaa-laaaa-laaa-laaadrãããooo- ladrão não, muuuu-muuuu-muuuu-muuuiêê-muiê.”

- Num é ladrão mas tem dois “bagão” bem grande no meio das pernas! Está me devendo e muito. Lenbra que não conseguiu nem sequer chegar perto daqueles gêmeos macho-fêmea lá no puteiro daquela imoral daquela Leiloca dos Prazeres, como eu mandei? Desta vez não vou admitir falhas. Ouviu bem? Se não quiser perder pra sempre essa maravilhosa, vitaminada, suculenta, refinada, culta e santa mulher aqui, trate de encontrar, pegar e trazer pra mim, um certo envelope de fotos que está na casa daquele padreco bichoso, entendeu?

- “Maaa-maaaiissss-maaaiiiiissss-mais cuuu-cuuuu-cuuuu-cuuumê queee-queeee-queeee-que Iiiiii-iiii-iiiii-iiiêêê-iiiêêêuuu iêêêuuu vô peee-peee-peeegá-pegá- esse taaa-taaa-taaar-tar iiin-iiin-iiiiinnnveeee-iiiinvelope praaa-praaa-praaaa-pra minha saan-saaan-saaa-saaantiii-saaantiiinha-santinha?”

- Isso é problema seu. O máximo que posso fazer pra te ajudar, é dizer que é um envelope cheio de fotos e que com certeza está guardado na casa paroquial.

-“Maaa-maaaiissss-maaaiiiiissss-mais cuuu-cuuuu-cuuuu-cuuumê queee-queeee-queeee-que Iiiiii-iiii-iiiii-iiiêêê-iiiêêêuuu iêêêuuu vô-vôôô-vôôôô-Vôô fazê prooo-proooo-proooo-proo padê deeee-deee-deee-deeeexá-dexá iiiii-iiii-iiiii-iiiêêê-iiiêêêuuu iêêêuuu iiiin-iiiin-iiintr-aa-intrá lá?

- Isso é o de menos para um macho tão tesudo como você. Do jeito que aquele vigário bichudo gosta de dar a bunda, basta você dar uma boa cantada nele que com certeza ele vai convidá-lo para entrar doido pra dar a bunda pra você. E estando lá dentro você terá a ou as oportunidades necessárias para fazer o serviço sem deixá-lo perceber nadica de nada, certo?

-“Maaa-maaaiissss-maaaiiiiissss-mais, saan-saaan-saaa-saaantiii-saaantiiinha-santinha...”

- SE VIIIIREEEE, RAIMUNDÃO FINADO! SE VIIIIREEEE... !!! Agora tenho uma coisa muito importante pra fazer. Falar com o Delegado Rui e começar a preparar a cama pro padre “ENFEMINADO” se deitar. “ Aaaaiiii, como eu SOU bandida... !” "Ah!Ah!Ah! Ah!Ah!Ah! Ah!Ah!Ah! FUUUUIII !!!

O coveiro apressou-se para começar a fazer suas tarefas a fim de procurar pelo padre Bento tão logo as terminasse. Pouco tempo depois a pilantra sem noção chegava a delegacia.

- Bom dia, guardinha! Amadíssimo! Quero ser recebida pelo seu chefa, agora mesmo. Diga que quem “VAI” falar com ele é a futura prefeita da cidade, DONA Henriqueta Kemal. EEEIII... !!!! Fiilhiiinhoooo... ? Não me ouviu? Vá logo! Além de surdo é cego? Não está vendo que quem está lhe mandando ir chamar o delegado é a mulher mais elegante, respeitada e famosa do município?

- Bom dia, DOOONA HENRIQUETA KEMAL! A candidata a prefeitura sabia que desacatar funcionário publico no exercício de suas funções é crime? Se não quiser passar uma noite, hospedada num dos quartos desse hotel, acho bom a beata baixar bem a bola e começar a fazer seu dever de casa direitinho. Comece a rezar em silêncio ou ajoelhada lá fora ou sentadinha naquela cadeira ali, pra conseguir ser atendida hoje pelo Delegado Rui. Ele anda ocupadíssimo à frente das investigações do crime que abalou toda a cidade.

A bruaca mais do que irada, engoliu seco e pensou antes de responder.

“ Como é que esse miliquinho de merda ousa falar assim com a chefe das beatas da cidade, uma senhora cristã, Católica ”Aprostótica Romântica”, séria, honrada, elegante, fina de alto bom gosto, inocente e sua futura chefe dessa maneira? Assim que eu vencer de lavada a eleição e assumir o cargo de prefeita, a primeira coisa que farei, vai ser despedi-lo e cuidar para que ele não arrume emprego nunca mais na minha cidade. Ele não perde por esperar.

- BRINCADEEEIIIRINHA,         POLIIICIIIAAAL MIRO...!!! Que falta de senso de humor, queridinho! Prometo recompensá-lo muito bem pelo seu impecável profissionalismo, assim que eu me tornar sua chefe e como infelizmente não posso esperar, não poderei coloca-lo a par da importante informação que lhe trago sobre o crime ao qual o senhor se referiu. É de fato uma pena ser impedida pelo senhor de dar ao delegado a informação que com certeza o ajudaria não só a encerrar o caso, como também a prender o autor do delito. Sendo assim, só me resta ouvir sua sugestão, AJOELAR EM SILÊNCIO E REZAR. Vou agora mesmo contratar um ônibus e viajar em seguida com minhas beatas para um convento bem distante, que infelizmente não posso citar o nome, onde ficaremos em vigília por mais ou menos três meses. Muito Obrigada e fique com Deus, SOOLDADDDDO MIRO!

Como todos na cidade conheciam bem as sandices de Henriqueta e como o soldado não podia arriscar e deixar o delegado sem a tal informação sobre o assassinato do detetive Ari que segundo ela muito importante, ele respirou fundo três vezes e respondeu:

- ESPERE DOOONA HENRIQUETA KEMAL! Quem sabe o delegado não abre uma exceção e dá um jeitinho de lhe receber agora mesmo?

- Será que espero? Se o senhor não se importar de ir IMEDIATAMENTE me anunciar e se ele conseguir “abrir essa exceção” e me receber em menos de dois minutos, posso até lhes fazer esse favor.

Poucos segundos depois que a tirana entrou na sala do delegado, Padre Bento que tinha acabado de chegar na delegacia, pois estava “ajudando” o delegado nas investigações, também entrou na sala...

CONTINUA ...