gringobrasileiro - Minha primeira vez - Final



Nesta quente quinta-feira de Setembro de 2015, procuro forças para finalizar minha história. Adoraria, do fundo do meu coração poder dizer que inventei esta história apenas para prender sua preciosa atenção, caro leitor. Adoraria poder dizer que exagerei os fatos ou adicionei acontecimentos. Adoraria poder dizer que ele ainda está aqui. Adoraria poder mudar os fatos, porém asseguro-lhes tê-los dito a realidade.
Estou sentado em uma confortável poltrona em uma sala onde os estudantes do meu curso se reúnem para comer. Estou cercado de estranhos, pessoas que nunca vi, algumas que conheço, mas sequer falo oi e algumas com quem estudo. Uma mesa com asiáticos de qualquer nacionalidade que infelizmente não posso identificar, uma linda menina de boné vermelho com estampa esquisita comendo uma salada cujo cheiro está me embrulhando o estômago. Um casal papeia sobre qualquer trivialidade e um lindo menino de cabelos pretos recém chegado da academia procura um lugar para se sentar, está indeciso próximo à cafeteria. Algumas outras pessoas simplesmente viajam em suas próprias mentes, perdidas em qualquer lugar dentro de seus fones de ouvido.

Não consigo deixar de pensar no tanto de histórias magníficas que se encontram armazenadas em todos estes corações. Tantos acontecimentos incríveis e que talvez nunca sejam compartilhados. Com toda a sinceridade, tenho o desejo de sair perguntando aleatoriamente a história destes estranhos. Por um “bom” tempo, carreguei o peso de ao contar a ninguém sobre o que me tinha acontecido.

Busquei não sentir sua falta, ao mesmo passo que tentei esquecer tudo o que acontecera, mas todo o esforço foi em vão. Pessoas podem gastar uma vida inteira a procura de algo que eu consegui em um curto período de tempo. Tempo. O tempo é tão relativo, tão longo e tão curto. Tão confuso e tão claro. Tão... tão. Eu não sei!
Nas doces histórias do Nicolas Sparks, o mesmo tipo de clichê: um jovem casal que se apaixona durante o verão, enquanto ainda estão na faculdade. Um rico e um pobre que precisam se separar quando o verão finalmente termina. Cada um segue sua vida e mil anos depois se reencontram, reacendendo assim, a chama daquele amor de verão. A perfeita definição do amor americano.

Minha história corre ao desencontro deste mesmo clichê:

Dois homens que se apaixonaram e nada, ninguém poderia dizer que isto era errado. Um brasileiro se descobrindo na vida e um estadunidense tentando consertar rachaduras do passado e vivendo intensamente cada minuto. Dois músicos. Um mais jovem e o outro mais velho. Um erudito e um popular. Um religioso e um revolucionário. Não éramos um amor de verão, mas uma paixão de inverno. Não éramos tradicionais, mas íamos na direção do tabu e regras. Não vivemos um amor na praia, mas caminhamos sobre as ruas congelas de Nova Iorque. No final da história um é retirado repentinamente e sem nenhuma explicação e o outro é obrigado a ficar e conviver com as memórias. Nesta história, cabe ao que ficou decidir o que virá em seguida: felicidade ou tristeza. Bem, eu sou o que ficou.

As vezes ainda acordo no meio da madrugada e questiono a mim mesmo como teria sido diferente se ele simplesmente não tivesse dirigido ao trabalho aquele dia ou se acordasse indisposto e precisasse ficar na cama. Talvez teria sido diferente se eu ficasse com aquele naquela última noite. Ele até pediu, mas eu realmente tinha compromissos no dia seguinte. Pergunto-me como teria sido melhor se ele tivesse tido tempo suficiente para ligar para seu pai ou simplesmente pegar o primeiro avião à Geórgia e dizer ao seu pai que o perdoava, também a seu irmão mais velho. Talvez eu tivesse tempo de dizer que sim, o amava.

Ah, o tempo...

Narrar esta experiência causa-me dor e desconforto. Sinto-me doente e existe um nó em minha garganta:

Quando enfim cheguei em casa depois da seqüência de acontecimentos, meu coração ainda estava em pedaços. Meus cabelos estavam bagunçados e eu tremia de frio. Não conseguia mais chorar ao mesmo tempo em que não era forte o suficiente para verbalizar a dor que se apossara em meu peito. Sábado seria o dia mais importante de toda a minha carreira, mas aquela madrugada tinha sido a mais triste de toda a minha vida.
Sobre a cadeira de couro preta em meu quarto, repousava o terno que usaria na próxima noite, assim como sua gravata. Lentamente trouxe-a ao nariz na esperança de sentir seu cheiro. Na esperança de tê-lo por perto de alguma forma. Sentei sobre a cama e me segurei ao travesseiro agarrando-o com toda a minha força e explodi em um grito de desespero.
Coloquei meus joelhos no chão e orei. E enquanto orava, chorava e enquanto chorava, implorava para que aquilo tivesse sido apenas um sonho. Orava para que a dor passasse. Orava para que toda aquela situação fizesse sentido. Buscava respostas em minha fé. E o silêncio perturbador me acompanhava uma vez mais.

Em meio a minha dor, finalmente adormeci.

Quatro horas da manhã de um sábado extremamente frio e triste. Minha cabeça doía e minhas lágrimas secaram. Apenas cinco passos me afastavam do banheiro, mas minhas forças simplesmente não eram suficientes. Meu estômago doía e a dor agravara-se com o fato de não ter comido nada. Em minha mesinha-escritório, uma pequena bandejinha coberta com um guardanapo de papel com uma barra de cereal de chocolate, guaraná e uma salada ceazer. Um bilhete:

“You are not alone”.

John e David. Mais do que uma host family, neste momento, as pessoas mais importantes para mim. John não fez uma pergunta sequer e eu sabia que procurava me dar espaço suficiente para que, no momento em que me sentisse preparado, eles estariam ali para me ajudar. Queria falar tudo naquele momento. Sabia que poderia acordá-los, mas na verdade, eu sim, me sentia sozinho. Quem eu mais queria que estivesse ali, já não estava.

Sabe aquele momento em que você está triste e decide ouvir uma música ainda mais triste para foder com tudo? Então... foi o que fiz. Sentado no chão, comendo minha barrinha de cereal sabor chocolate, procurava no youtube história de pessoas que passaram por situações semelhantes.

“Beautiful Boy” na voz de Coleen McMahon,

“Hoje você se foi. Hoje você me deixou. Você me deixou para o céu. Estou sobre meus joelhos chorando e implorando para estar sonhando. Por favor, me faça estar apenas sonhando.

Jovem, menino bonito fazendo seu caminho para os portões dourados. O tempo não vai apagar todas as lágrimas que descem sobre nossos rostos por você. Sentiremos sua falta, pequeno menino.

Lembrando do jeito que você sorria e sempre fazia meu mundo bom. A trágica perda do que sempre fez minha vida digna de ser vivida, e agora, me deixou tão quebrado.

Jovem, menino bonito fazendo seu caminho para os portões dourados. O tempo não vai apagar todas as lágrimas que descem sobre nossos rostos por você. Sentiremos sua falta, pequeno menino.

Você é aquele que me deu vida, a razão porque eu decidi acordar e ‘tentar’. Então, por que você teve de morrer? Você é aquele que me deu asas. A razão porque hoje eu canto esta música sobre sua vida. Eu vou sentir sua falta, pequeno menino.

Jovem, menino bonito fazendo seu caminho para os portões dourados. O tempo não vai apagar todas as lágrimas que descem sobre nossos rostos por você. Sentiremos sua falta, pequeno menino”.

Lágrimas.

Fazia um bom tempo que não conseguia me identificar com uma música assim, como me identificara com esta. Era como se o compositor soubesse exatamente a dor que estava sentindo. O triste dia em que o menino bonito, o lindo par de olhos verdes me deixou para sempre. Ali, no secreto do meu quarto, orando para que tudo não passasse de um sonho. Um pesadelo. Partiu e me deixou quebrado. A razão porque decidi encarar meus medos e preconceitos, a razão porque eu tentei ser diferente me foi tirado repentinamente. A razão da última música que compusera. Eu sentiria sua falta. Eu sentiria a dor de sua falta.

Adormeci.

“Você não precisa subir, se você não quiser” – disse David enquanto me ajudava a colocar o palito de linho preto.

“Eu quero. Vou senti-lo próximo a mim. Ele queria que eu fosse” – disse ajeitando o cabelo e com o olho ainda inchado.

“Boa sorte. Amamos você. Dê o seu melhor” – disse John apertando minha mão direita.

O teatro da Julliard estava completamente lotado. Pessoas bem vestidas e com cara de limão azede me encaravam. Tentei encontrar um ponto cego para olhar e com o mais profundo da minha imaginação, pude visualizá-lo sentado, com a roupa que preparara de antemão e aquele doce sorriso em harmonia com o lindo par de olhos verdes. Em meu coração dediquei a música a ele. Estávamos apenas ele e eu dentro do misterioso apartamento.

[Sinto no coração. Sinto uma pequena dor que perturba a minha alma. Uma tocha que brilhando, inflama minha alma. Se isto não é amor, então se tornará]

Quatro minutos mais tarde e todos me aplaudiam em pé. Estava tão dentro dos meus pensamentos e interpretação que não tive a sensibilidade de me curvar com o sinal de agradecimento. Estava afogado em lágrimas e deixei o palco em meio ao barulho da multidão que assistira aquele desabafo cantado. Alessando Scarlatti também sabia como eu me sentia. “Uma dor que perturba minha alma”.


Noite de natal.


Pessoas que repentinamente sofrem perda de seus queridos podem talvez dizer que hora ou outra aprenderemos a conviver com a dor, bem, eu tinha a esperança de que isso aconteceria. Apenas uma semana havia se passado e aquela ferida ainda continuava aberta e sensível. Eu queria ter tido a oportunidade de passar o natal com ele. Caminhar sobre a neve e fazer um boneco torto e esquisito para chamar de nosso. Queria derrubá-lo no gelo e então beijá-lo. Talvez atirar bolinhas de neve. Queria poder fazer amor próximo à lareira quando a tempestade de janeiro chegasse e acordar ao seu lado depois de uma linda noite de prazeres. Queria enfrentar tudo e todos simplesmente pelo fato de tê-lo comigo. Tudo ficaria bem.

Queria ter mais do que as fotos, o perfume, anotações e notas fiscais de nossos jantares. Queria ter mais do que o convite naquele envelope amarelo. Queria tê-lo ali. Precisava dele ali.

Citei o envelope amarelo que seu irmão me entregara naquela triste noite. Além das fotos, um perfume e alguns outros pequenos objetos pessoais, um convite. Ele tinha me convidado, através de sua universidade, para ser um professor convidado em um evento de Janeiro na cidade de Buffalo, Nova Iorque. Tudo estava pronto e assinado. Era sua surpresa para mim. Minha próxima história narrará o episódio de Buffalo.

Naquela noite de natal, lembrei-me de uma música que ouvimos juntos enquanto arrumávamos sua árvore de natal. Nunca tinha parado para pensar em como esta música faria sentido em minha em um futuro tão próximo. Era como se, inconscientemente, soubéssemos o que acontecerei. Pode ser que pareça exagero, mas talvez tenha a ver coma sensibilidade do músico. Enfim, gostaria de compartilhar a letra com você, caro leitor:

“It’s not christmas without you”, Katharine McPhee.

“Ano quase acabando. Certamente parece ser dezembro. A neve e o gelo tomam o chão e eu não mandei nenhum cartão de natal. Dia 31 tá chegando. Me faz pensar no último dezembro, como a cidade estava tão bonita coberta de branco. Enquanto andávamos pelas ruas naquele dia enquanto você me mantinha quente e não podíamos esperar para entrar em casa. Agora é natal e você está tão distante. Neste natal, tudo o que eu queria é que você tivesse ficado. Tudo o que penso é se você está pensando em mim hoje. Eu não sei o que vou fazer, porque não é natal sem você.
Eu escuto os sinos distantes. Prefiro não ouvir, porque todos os sons dizem que você não ta aqui. Caso você mude de idéia, vou deixar a luz acesa perto da porta, esperando que você apareça de repente.
É natal e você está tão distante. Neste natal, tudo o que queria é que você tivesse ficado. Penso se você está pensando em mim hoje. Eu não sei o que farei. Não é natal sem você.
Eu sou muito velho para acreditar em papai Noel oui para deixar uma lista em baixo da árvore. Mas eu fiz isso uma vez ou era apenas um sonho? Ele me traria você de volta?
É natal. Tudo o que queria esse ano, neste natal, era você estar aqui. Eu não vou pensar se você está ou não pensando em mim ou não, porque você está aqui. Meu único desejo não se tornou realidade e não é natal sem você.”


Caro leitor, aqui me despeço, na esperança de que um dia você possa me escutar nas ondas de uma estação de rádio e possa identificar a música sobre meu primeiro romance. “Um verão no meio de dezembro”. Eu realmente queria que o mundo pudesse ouvir sobre ele, sobre o lindo par de olhos verdes que me arrancou as algemas e tirou-me do mais profundo dos meus medos e me provou que tudo ficaria bem.
O lindo par de olhos verdes que me admirava simplesmente por quem eu era, mas que não tive a chance de dizer tudo o que realmente sentia. O lindo par de olhos verdes que foi arrancado repentinamente da minha vida e de todos os que o amavam. Lindo par de olhos verdes que deixou um vazio que não será preenchido por outra coisa ou pessoa. Lindo par de olhos verdes que me ensinou que as pessoas podem ser boas e que tenho que aprender a levar a vida de maneira simples e descontraída. O lindo par de olhos que me ensinou que precisamos resolver questões familiares o mais rápido possível, porque o tempo podem não ser suficiente. Par de olhos verdes que será pra sempre lembrado em minha música e em meu coração como “o primeiro”.
Lindo par de olhos verdes que se fecharam para sempre.

Final


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Comentários


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reelix Comentou em 04/09/2015

Mano eu sinto muito. E eu não queria que fosse assim. Quem dera que tudo fosse perfeito. Porque quando a gente encontra a pessoa certa acontece algo? Eu entendo seu sofrimento. Mais eu espero que Deus conforte seu coração. Cara a onde seu Bhenjamin estiver ele vai querer você feliz. Força amigo. Espero que você supere esse sofrimento. Um abraço do seu leitor.




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Ficha do conto

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Nome do conto:
gringobrasileiro - Minha primeira vez - Final

Codigo do conto:
70286

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
03/09/2015

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