Desventuras na Estrada - Cap 21



ATENÇÃO, CAPÍTULO TOTALMENTE DEPRESSIVO rsrs
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Meu coração se apertou, pelo tom de voz de
Marcelo não era boa coisa.
Desliguei o celular.
- Preciso ir embora - falei apressado com Heitor - aconteceu alguma coisa com meu pai!
- Eu te levo, vamos - ele disse se levantando rapidamente.
Descemos correndo até o estacionamento.

Chegamos na minha rua em tempo recorde.
Quando avistei as sirenes da ambulância na porta de minha casa comecei a chorar, só podia esperar o pior. Desci do carro correndo e Heitor me acompanhou. Marcelo estava parado no portão enquanto os paramédicos saíam da minha casa empurrando uma maca, meu pai parecia desacordado e eu fiquei imóvel.
Os vizinhos estavam nas janelas e alguns na rua querendo saber o que aconteceu.
Colocaram a maca dentro da ambulância.
- Algum parente vai acompanhá-lo? - um dos paramédicos perguntou.
Eu me aproximei da ambulância e entrei na parte de trás:
- Sou filho dele - disse quase sussurrando.
As portas da ambulância se fecharam. Mesmo desacordado o rosto do meu pai não estava mal, podia até dizer que estava sorrindo; segurei sua mão com força e não queria soltar, só a idéia de perder meu pai já me deixava doido.
Algum tempo depois chegamos ao hospital, tiraram ele da ambulância e o levaram as pressas pra dentro. Tentei ir junto mas o levaram pra UTI e não pude acompanhá-lo.
Me sentei em uma das cadeiras no corredor ao lado da porta onde ele estava, ao mesmo tempo que milhares de coisas passavam pela minha cabeça eu não conseguia pensar em nada. Olhava para o piso, para o teto, para minhas mãos, chorava, parava de chorar e depois voltava a chorar de novo. Nunca tinha ficado tão nervoso.

Marcelo apareceu e se sentou ao meu lado sem dizer nada, me deu um abraço apertado.
- Como você apareceu lá? - perguntei depois de muito tempo em silêncio.
- Estava vendo minha filha, já estava indo embora quando sua irmã saiu de casa chorando e fui ver o que tinha acontecido.
- O que tinha acontecido quando você chegou?
- Não sei muito mais do que você Otávio, quando entrei na sua casa ele estava desacordado no chão perto do sofá, foi aqui que liguei pra ambulância e depois liguei pra você.
- E minha irmã?
- Ficou na casa da amiga no fim da rua.
Voltei a chorar.
- Não sei o que fazer - disse entre os soluços - E se...se ele morrer Marcelo.
Ele suspirou fundo.
- Você tem que ser forte, nós somos adultos, temos que estar preparados pra tudo.
- Mas e se eu não estiver preparado pra isso? - falei mais alto do que queria - Eu faço o que?
- Você não vai estar sozinho, você tem a mim!
- E a mim - disse Heitor entrando no corredor e se sentando do meu outro lado - a gente vai estar com você independente do que aconteça.
Era bom saber que eu tinha com quem contar, percebi que tinha que aceitar os fatos, meu pai estava muito ruim de saúde e eu tentava esconder isso de mim mesmo, tentando fingir que ele estava bem mas no fundo eu sabia que não estava. Já sabia o que estava por vir e tinha que me preparar.

Horas se passaram e continuavamos ali sentados, falando quase nada. Vez ou outra a mão de Heitor ou Marcelo acariciava minhas costas tentando me confortar.
- Já está tarde, acho melhor vocês irem - falei aos dois - daqui a algumas horas já vai amanhecer.
- De jeito nenhum - falou Marcelo!
Heitor completou:
- E se alguém precisa descansar é você.
- Eu não vou sair daqui até ter notícias do meu pai.
O silêncio tomou conta do lugar mais uma vez e depois de quase uma hora um médico veio até nós, meu coração gelou de nervosismo e quando vi a expressão de pena em seu rosto comecei a chorar, já sabia o que ele tinha a dizer. Chorava tanto que não conseguia distinguir muito bem sua palavras só entendi algo como:
"Tentamos tudo" e "Não resistiu"
Me curvei até minha cabeça tocar meus joelhos, mesmo que eu quisesse não conseguiria parar de chorar, a dor de perder meu pai era insuportável e só me fez lembrar de quando perdi minha mãe.
Fiquei ali sentado chorando por mais tempo que eu podia contar, Marcelo e Heitor não saíram de perto de mim nem por um segundo.

Depois de muita lágrima derramada me levantei e saí do hospital:
- Não precisa se preocupar com nada - Heitor disse - Eu e Marcelo cuidamos de tudo.
Marcelo assentiu com a cabeça.
Ainda estava amanhecendo, talvez fosse cinco da manhã.
- Ta com fome? - Marcelo perguntou.
Neguei com a cabeça:
- Só quero ir pra casa - falei tão baixo que quase duvidei que eles ouviram.
Os dois estavam em seus carros, não queria causar mais confusão escolhendo ir com um e deixando o outro sozinho.
- Eu vou de ônibus - falei já andando até o ponto - preciso ficar sozinho por um tempo.
Ele não se opuseram.
- Liga se precisar de alguma coisa - disse Heitor de longe.

Peguei um ônibus e logo estava em casa. Entrei na sala e me joguei no sofá, estava sem forças sem ânimo pra absolutamente qualquer coisa. Ainda bem que Heitor e Marcelo se ofereceram pra cuidar de tudo, não teria cabeça pra cuidar do velório do meu pai.
Meu celular tocou e eu atendi preguiçosamente.
- Alô.
- Otávio, é sua tia meu amor - ela parecia estar chorando.
Quando eles disseram que iam cuidar de tudo, disseram tudo mesmo.
- Ah, oi Tia.
- Nós estamos a caminho, não vamos te deixar sozinho numa hora dessas.
Ela falou mais inúmeras coisas mas parei de prestar atenção e passei a responder só com "aham".

Minha Tia era um ótima pessoa, mas quase não nos víamos. Era irmã da minha mãe mas também parecia irmã de meu pai de tão amigos que eram.

No fim da noite minha Tia chegou com seu marido na minha casa.
Ela parecia arrasada, mesmo sem vontade conversei bastante com ela.
- E sua irmã? - ela perguntou
- Na casa de uma amiga, ainda não tive coragem de avisar pra ela.
- Não se preocupa, eu converso com ela e também preciso conversar com você, sei que não é o melhor momento mas é necessário.
- Pode falar!
- Você é um garoto começando a vida agora, então, você não acha melhor deixar sua irmã um tempo comigo?
- COMO ASSIM? - gritei - já perdi minha mãe, meu pai e agora a senhora quer tirar minha irmã de mim?
- Não quero tirar ninguém de você Otávio, mas é só pensar, a vida não ta fácil, como você vai criar uma criança? Eu e seu Tio não temos filho, nós vivemos bem em Brasília, podemos dar uma vida boa pra sua irmã - ela parou por um tempo - e também não precisa ser pra sempre, só até você voltar a rotina, ter uma vida financeira estável, e você sempre pode ir ver ela e ela também vai vir sempre aqui.

Não era preciso pensar muito pra saber o que era melhor pra minha irmã, minha Tia tinha uma vida ótima e eu não poderia oferecer tudo que ela precisava, seria até egoísmo privá-la dessa oportunidade.

- Acho que vai ser melhor pra ela - disse voltando a chorar.
Minha Tia me abraçou e logo foram ver minha irmã e contar pra ela.

No outro dia de manhã bem cedo todos estavam reunidos no cemitério, o padre falava muito e minha cabeça doía, só queria voltar pra casa e chorar sozinho. Estava abraçado com minha irmã, Marcelo e Heitor estavam do outro lado fingindo prestar atenção nas palavras do padre (mas quem presta atenção de verdade não é mesmo?)
Ver meu pai sendo enterrado foi o que mais me doeu, meu peito se apertou e minha vontade era ser enterrado junto.

Logo depois do enterro minha Tia ía embora, minha irmã não demonstrou nenhuma resistência quanto a ir morar com ela, seria bem melhor pra ela. Nos despedimos com muito choro e eu voltei pra casa enquanto minha irmã ia embora pra outra cidade.
Quase não falei com Marcelo e com Heitor, sabia que eles tentariam me confortar, mas não queria isso; só queria chorar até essa dor passar.

Peguei um ônibus e cheguei em casa, assim que cruzei a porta minhas lágrimas vieram com mais intensidade. Nunca mais veria meu pai sentado no sofá lendo seu jornal.
Entrei pro meu quarto e me deitei, não conseguia dormir mas não queria levantar.

Depois de muito tempo (não sabia quanto) Heitor apareceu na porta do meu quarto sem dizer nada, ele andou lentamente até mim e se deitou no canto da minha minúscula cama de solteiro. Seus braços me envolveram com força e pela primeira vez desde que meu pai morreu me senti seguro.
Ele beijou minha testa e eu não queria me soltar dele nunca.
Segurei seu rosto e trouxe pra mais perto de mim, encostei meus lábios nos dele num beijo silencioso:
- Eu também te amo - falei com o rosto molhado de lágrimas.
Ele me abraçou ainda mais forte.
- É bom saber.
Tinha certeza, certeza absoluta de que amava Heitor, mesmo com toda essa dor dentro de mim podia sentir meu amor por ele e ao mesmo tempo sentia o mesmo amor por Marcelo, minha cabeça estava como um cataclisma.


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Comentários


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littleking Comentou em 11/03/2016

parece que vc me viu no dia do falecimento do meu pai!! Chorei muito com o conto!!

foto perfil usuario carlosandre89

carlosandre89 Comentou em 09/03/2016

Tristezas existem. Devemos superá-las

foto perfil usuario henry_pe

henry_pe Comentou em 09/03/2016

Um turbilhão...sem mais palavras.

foto perfil usuario wqam19

wqam19 Comentou em 07/03/2016

Capítulo triste mais bom gosto muito do Heitor




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Ficha do conto

Foto Perfil safadinho6969
safadinho6969

Nome do conto:
Desventuras na Estrada - Cap 21

Codigo do conto:
80043

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
06/03/2016

Quant.de Votos:
11

Quant.de Fotos:
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