Tinha acabado de entrar, quando de repente uma visão fez parar.
Aquela mulher, sentada a olhar pela janela no comboio, fez com que me decidisse ficar por ali. Não era uma beleza arrebatadora, mas era de uma grande sensualidade inegável, algo especial imanava dela, e uma vez que a viagem ia ser longa e cheia de tédio, ao menos apreciaria a paisagem. O decote, as pernas e aquele nariz arrebitado seriam o meu passatempo.
Ela sorriu, sentou-se direita, cruzou as pernas lentamente, encostou a cabeça ao vidro e olhou-me com luxúria e provocação (pelo menos assim senti). Passou discretamente a mão pelo decote, ajeitou o casaco que vestia. Cada movimento que fazia era lento, suave e sensual. Senti-a inquieta, com um olhar perdido, suspirou e voltou a olhar pela janela.
Segui-a com o olhar, o que estaria por baixo daquele vestido, apetecia-me arrancar cada botão daquele casaco de malha, agarrar aquele cabelo longo. Engoli em seco, tinha que respirar fundo para não me entusiasmar em demasiado. Já sentia o volume pélvico a aumentar e ainda agora me tinha sentado. Só tinham passados dez minutos desde que vi aquela mulher, mas disse para mim que não acabaria a viagem sem ter a mão no meio das suas pernas.
Reparei que me olhava de uma forma divertida pelo reflexo do vidro, quando o telefone toca e atende, com uma baixa, mas colocada:
- Olá, tudo bem e contigo? Desculpa agora não posso falar, estou ocupada…
Disse esta última palavra a olhar para mim com um ligeiro sorriso nos lábios e desligou o telemóvel.
Eis a oportunidade que necessitava para meter conversa:
- É uma grande mentirosa, está ocupada com quê?
- Consigo. – Responde-me. – Estava a divertir-me a olhar para si.
- Comigo? Indago – Porquê?
- Tem os botões da camisa mal apertados. – Returque
Corei e olhei para a sua camisa. Estava efectivamente com os botões todos mal apertados, arranjei-me sob o olhar dela de curiosidade.
- Já comprou a prenda para o seu namorado? Hoje é dia deles, é só corações por todo o lado. - Perguntei-lhe:
- Deixei de acreditar nos namorados e no amor há muito tempo. – Disse-me ela
- Acredita em quê então? - Questionei eu
- No desejo e no dinheiro. Em fazer o que quero e o que necessito. – Proferiu.
Pôs-me a mão na perna e aproximou-se e sussurrou-me:
- Sabe o que precisava agora? – Pronunciou ela
- De quê? – Questiono eu
- De um café...
- Não seja por isso, mal a conheço mas faço tudo o que precisa querida mentirosa.
- Tudo, tudo não sei se fará. Não me chame querida. – Indaga ela
- Mentirosa posso portanto - digo-lhe encantado, e com um enorme sorriso nos lábios.
Levantamo-nos e dirigimo-nos até ao bar. De repente o comboio pára e ela desequilibra-se agarra-se à minha e eu agarro-a com uma mão. Penso que conseguiu sentir os seus abdominais sólidos. Pus a mão no rabo dela, delineado e firme, abracei-a com um instinto protector, sentindo as suas mamas encostadas ao meu peito.
- Desculpe se o magoei, estou muito desastrada hoje.
- Não se preocupe que está tudo bem, ainda bem que não caiu.
Demoramos alguns segundos a soltarmo-nos, e com um jeito envergonhado sorrimos e dirigimo-nos para o bar.
Conversamos e tomamos café, todas as frases proferidas tinham segundas intenções. Comecei mexer-lhe no relógio, a pôr-lhe a mão na perna, ela a fazer-me festas na barba. Ela sorria, tentávamos resistir a experimentarmo-nos, mas começava a ser difícil.
De repente, ela levanta-se. Pega na fivela do meu cinto e diz simplesmente:
- Anda.
Segui-a sem ter percebido muito bem o que ela disse, nem para onde ia. Ela continuou a levar-me pelo cinto como um verdadeiro cachorrinho sedento de sexo. Vê que ninguém está a passar no corredor e atira-o para a casa de banho e fecha a porta.
Agarrei-a pela anca, e atirei-a contra a parede. As pernas dela automaticamente ficaram à minha volta. Beijamo-nos furiosamente, roçamo-nos. Eu estava cada vez mais duro, ela sentiu-o cada vez mais excitada. Com agilidade retiro da carteira um preservativo.
Começaram a bater à porta.
- Ainda demoro - repliquei ofegante.
Virei-a contra o lavatório, desci-lhe as meias, afastei a tanga. Ela desapertou-me os botões das calças e baixou-me os boxers, pôs-lhe a mão e disse:
-É tudo o que preciso neste momento.
Fodi-a por trás, de forma energética e ritmada. Tapei-lhe a boca para não se ouvir os gemidos que se tornavam cada vez mais frenéticos e altos.
De forma a prolongar aquele estado de quase orgasmo que ela estava, brinquei com ela. Fazia movimentos lentos e profundos que a estavam a enlouquecer. Ela gritou de prazer, vim-me pouco tempo depois. Olhei para ela, sorri e disse-lhe:
- Realmente ocupei o teu tempo.
Ela beijou-me e trincou-me o lábio ficando a sangrar, subiu as meias, desceu a saia. Deu um jeitinho ao cabelo e disse-me:
-Arranja-te que eu saio primeiro.
Fiquei algum tempo a olhar para o espelho. Passei água pelo rosto, subi as calças e saí. Não estava ninguém à porta, estava tudo com um ambiente calmo, só eu sorria como um menino a quem lhe deram um doce.
Quando voltei para perto da linda mulher, ela estava exactamente com o mesmo olhar, o mesmo desejo, as mesmas pernas cruzadas e sorriu-me. Perguntei-lhe:
- Posso ter o teu número, o teu email, o teu facebook?
- Nunca mais nos vamos encontrar, nem te disse o meu nome, não te vou dar os meus contactos. Tudo é demasiado complicado para nos voltarmos a ver. Adorei ter-te, não quero saber o teu nome nem o teu número de telemóvel, há coisas que aprecio demais para as perder. – Disse-me
Fiquei sem saber o que dizer, nesse momento tocou o seu telemóvel, nem vi quem era, só me interessava aquele anjo/demónio que estava ao meu lado. Ficamos em silêncio a olhar para a janela sem vermos uma única imagem da paisagem que voava ao ritmo dos carris transpostos.
Anunciaram o fim da linha.
Levantamo-nos, cruzamos o olhar e não conseguimos resistir. Demos um grande beijo antes de sairmos do comboio, um daqueles beijos onde tudo se junta, as pernas se entrelaçam, as mãos tentam tocar em tudo para não perder aquela recordação, aquela sensação que estivemos juntos, aquele desejo saciado que mais parecia um sonho erótico. Um último abraço, um último beijo e o comboio pára. Atravessamos as portas separados. Cruzamos um último olhar e um último sorriso sem proferirmos nenhuma palavra. Sabíamos perfeitamente que foi só uma vez e não se ia repetir, ela tinha deixado claro isso.
A minha respectiva da altura corre para mim, enche-me de beijos e perguntas sobre o lábio ferido
Por outro lado, ela vai ter com o namorado visivelmente mais velho dá-lhe um beijinho de praxe, desprovido de emoção e seguem para o carro.
-Correu bem a viagem eu querido? – Pergunta-me a respectiva.
- Foi agradável, um pouco cansativa - Respondo-lhe com uma voz enfadada e olhando de soslaio para aquela mulher.
Saímos da estação em direcção aos respectivos carros.
Voltei-a a encontrar anos mais tarde. Apresentamo-nos e trocamos contactos. Nenhum de nós esqueceu aquela viagem e a forma como ela afectou as nossas relações. Soube aí que tinha sido pedida em casamento nessa noite.