- Shakespeare?!! Conto!! Meu Deus de onde vem tamanha pretensão?
- E não é um conto?
- É uma crônica, quando muito.
- Que seja.
- E quem vai perder tempo em ler? Ainda mais com você se comparando a quem?
- E o que é que tem? Eles leem qualquer coisa, porque não leriam esse?
- Você viu o último, alteramos até o título, Dri não merecia um título tão sujo e nem assim se deram ao trabalho de ler o tarado do conto.
- Mas esse é diferente, estranho, quase um poema? E nós escrevemos poemas.
- Porque você quer, por que por eles nem precisávamos nos dar ao trabalho.
- Mas tem quem goste.
- Poucos... Loucos.
- Então vai... Aponta a pena e escreve.
- Que pena é um teclado isso aqui.
- Você acha que ela merece?
- Quem a Dri?
- Não a Di, nem sabemos quem ela é, sabe-se lá o que vai pensar.
- Mas é por isso que estamos escrevendo, prometemos, não foi?
- Ah! Promessa de internet é igual cu de bêbado.
- Não entendi a comparação, você anda cada vez mais sem razão.
- Tá bom, mas escreve... Digita:
****
- De onde surgiu tal figura? Um jeito novo, mas estranho sempre fico numa dúvida afinal, quem é?
- Talvez seja o medo de se revelar, mostrar, afinal não passamos de um monstro, viciados na busca do orgasmo infinito.
- E quem não é? Mas tu sempre inventas uma estória mirabolante para por a culpa na tal deusa.
- Mas não sou eu, ambos somos, devotos vassalos, escravos cativos da quente dama.
- Claro não, já te falei tua imaginação alça voos altos, estranhos.
- E a tal moça quem é? De onde vem?
- ‘Ele’, ela disse claramente que ‘ela’... Era... ‘ele’.
- Mentirosa, enganadora, manipuladora é o que ela é.
- Ele, foi o que escreveu não foi? Jovem com certeza.
- Ele, pois sim. Fala pelos cotovelos.
- Escreve.
- Escreve de um jeito doce, elogia como só mulheres fariam e nem quando mandamos um beijo reaje com ultraje.
- Pessoa cordata, sabe o mundo onde se meteu. Sabe que somos no mínimo exóticos.
- Ainda assim uma fêmea.
- Um macho.
- Talvez Di de: Diana, Divina, Dione
- Mas se homem o Di seria de: Dirceu, Diógenes, Diogo...
- Fico a imaginar tal figura - mulher universitária do curso de exatas da USP, pele clara, 22 anos, estatura mediana, cabelos bem curtos pretos, olhos verdes, bochechas salientes, lábios carnudos, seios medianos empinados, bicos pontudos rosados, uma bundinha arredondada, chamativa e uma xaninha incandescente, bom demais para ser verdade.
- Depravado! Absurdo como consegues imaginar essa figura, nem a voz ouvimos. Diabos! É um homem!
- Se for então talvez não passe de um bigodudo careca, que usa uma peruca topetuda, 40 anos e um histórico de correr atrás do cuzinho desavisado de inocentes escritores libertinos.
- Deus nos livre, era só o que faltava!! Nem todos os leitores são assim, muitos são normais, abusados pervertidos, mas normais figuras sociais, porque Di não seria?
- Ficou intimo agora é apenas Di e não Coelho?
- E daí?
- Se não pode ser a jovem quem sabe uma coroa sessentona, alta, loira algumas plásticas mais conservada, pernas esguias, um pouco flácida, ainda assim experiente atraente, louca varrida por histórias sodomistas com apetitosas acompanhantes lindas, escrita por autores amadores e babacas. Sempre a procura do prazer que há além do ponto G.
- Ou então um bem sucedido empresário do ramo da construção moreno, alto, bronzeado e charmoso a procura de novas e exageradas orgias. Disposto a experimentar todas as formas de amar. Sempre a procura do prazer que há no fundo do ponto P.
- P? Pois sim... Eu é que vou comer o ponto P dele, isso sim. Aliás, não vou, vê se perco meu tempo com cu de homem. Tanto cu lindo no mundo, apertadinho, depilado e nós vamos desperdiçar tempo com cu barbado.
- Mas tem quem goste? Nós gostamos, não damos o nosso P nas estórias.
- Pras insaciáveis, gentis damas. Mas só elas, quando confidentes, confiantes.
- Cuidado com o que falas e se Di for uma imatura adolescente, curiosa...
- E fogosa...
- Ainda assim inocente menina moça a sonhar com o proibido prazer carnal.
- Achou um péssimo lugar para se educar.
- Melhor seria então alertar, avisar, comandar... SAIA DAQUI, SUA TOLA!!!
- Mas afinal quem é DiCoelho?
- Interessa? Se nem você é quem você é. Como pode querer que os outros sejam quem você quer?
- Mas eu sou quem eu sou, não somos?
- E quem és? Quem somos?
- Escritor eclético, louco tarado, que por ingenuidade e cupidez se deixou levar por noturnos demônios que antes trancados a sete chaves, escondidos num sótão escuro e fétido...
- Sua alma?
- Nossa. Deixamos ela escapar, maligna deusa do prazer quente, Sucubus, dominadora, exigente ardente amante das madrugadas tresloucadas solitárias, é esse quem nós somos.
- De novo essa estória!! Cada vez uma diferente, mirabolante, quem desejas amedrontar? Ou é só a chamar atenção? Já falei e repito. Somos filho de uma cigana romena com um surfista australiano, nascido e crescido na Armênia, que fugiu aos 15 anos para Lassa convertido ao budismo tibetano. Celibatário, contrito, que nas poucas horas livres escreve contos de arrepiar os pelos da xana de qualquer virgem e a dar esperanças a velhotas cansadas, ainda sapecas.
- Falácias, monge budista vê se tem cabimento.
- Mas é, eu sei, nós somos.
- Afirmo somos cativos do demônio, a depravada deusa, que nos rouba a libido e nos obriga a essa lida demente de escrevente sexual.
- Sai dessa ‘vibe’. Não passas de um devasso monge budista. Que um dia quer chegar ao Nirvana, se tornar o nada, sem ego, sem alma.
- Desvairado de jogar pedra.
- Somos.
- Se somos, então ela pode ser quem quiser?
- Ela... Ou ele...?
- Que importa? Deve ser uma louca, inconsequente.
***
- E aí gostou?
- Eu? Até que não ficou tão mal, mas parece que faltou um arremate final. Mas seja como for, ninguém vai ler.
- Mas ela vai.
- Ele.
- Prefiro pensar que é ela.
- Uma coisa é certa vai falar pelos cotovelos.
- Escrever... E isso é a prova. Mulher, fêmea.
- Macho, ainda acho.
- Somando tudo um andrógino.
- Foi isso que escrevemos.
- E ela gostou.
- Ele.
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