O CAMINHONEIRO GRANDÃO

Eu trabalhava no Serviço de Atendimento ao Consumidor e só pensava em fugas quando conheci o Ogro. Ele ficou me provocando com aquela cara cheia de pelos, com dois olhos jogados naquele tufo, como de macho que quer aprontar. Eu, que já era louco por homem, encarei de volta, mas não entreguei fácil, não, pisquei como um adolescente virgem e carente. Ele tomava uma cerveja e sondava a rua de vez em quando. Depois me lambia com aquela atenção toda. Eu terminei de almoçar pouco antes de percebê-lo ali me percebendo. Insisti na mesa por vaidade, eu voltava pro trabalho às doze. Talheres ainda batiam nos pratos de outros fregueses. Uma nuvem de conversa se confundia ao som dos carros que invadia o bar. Não vou fingir que não vi a aliança no dedo. Mas não vou confessar a culpa que não tive.
Quando me levantei, ele se levantou. Era um brutamontes, coxudo e sorridente. “Nunca te vi aqui antes”, eu disse, na rua. “Não sou daqui, não”, respondeu. Era de Piedade. Fazia entregas pela região de Sorocaba. Sua voz era mais jovial e alegre do que esperei ouvir. Não tinha rotina, nem horário, nem regra. “Só esposa”, falei. Ele passou a mão sobre a barba. “Quantos anos você tem?”. “Dezenove”, eu tinha 21. “Meu caminhão está lá embaixo, único lugar que deu pra estacionar”. Atravessamos a rua. “Já se enroscou num caminhão?”. “Não é apertado?”, como se eu me importasse. “É”, falou.
Ele se encostou no caminhão e abriu as pernas, me convidando para me aninhar ali. Assim o fiz. Roçamos os quadris um no outro. Pude sentir o volume explodindo no jeans velho. “Eu quero você”, disse. Nos beijamos. Ele segurava minhas costas com uma baita mão. Puxava o elástico da minha cueca com outra. “Eu vou rasgar isso aqui”. Olhei para os lados. A avenida ficava ao lado da mata. Longa e solitária.
Virei-me de costas e abaixei a calça. Rebolei em seu colo. Peguei seus dedos e levei-os ao meu pescoço. Ele apertou de leve. Respirou sobre minha nuca. Mordeu minha orelha. “Putinha”, falou. “Sua putinha”, respondi.
Tateei o botão de sua calça. “Tá doido, é?”, a voz dele escorregou pelo meu ouvido. Ele também estava doido. Estávamos ambos doidos. Desci minha cueca. Fechei os dedos na tora que era aquele cacete. Babão e cheio de veias. Pulsando sob meu aperto.
Seria imprudente transarmos ali. Esfreguei a cabeça entre as nádegas. “Você quer?”. “É claro que eu quero, seu filho da puta”. Eu poderia interromper agora e discorrer sobre quão criminoso é se atracar com um macho num local público. Se você não se convencesse, eu poderia estender o alerta às raias do pecado. Você não quer isso. Você quer saber como eu dei o meu cu para um urso de dois metros de altura com um braço da largura do meu corpo inteiro, em pé, sob um sol de rachar, sentindo o cheiro de borracha espocar do veículo. E eu quero contar.
Ele cuspiu no pau e entrou com urgência. Me colocou de frente para o caminhão. Apoiei meus braços na carroceria. Senti-o dentro de mim. Revirei os olhos. “Ai”, minha voz era preguiçosa. O sol pressionava minha nuca. O suor brotava de minhas costas. “Ah”, ele ofegava no vai-e-vem lento e ritmado.
A vida é difícil. O mundo é cruel. Você é pobre, quer botar fogo no emprego, o tempo não o espera, sua família é um lixo às vezes, alguém descobre uma doença, você descobre, alguém morre. E de repente você está em êxtase sentindo o peso de um homem sobre si. Você foi desejado. Você foi escolhido. Que infância péssima deve ter sido a ponto de o fazer se atrasar para bater o ponto, se expor no meio da rua, porque ele, cujas características você considera superiores às suas, aceitou-lhe com os olhos.
“Eu vou gozar”, diz ele. O dorso curvado. O peitoral encostado em meus ombros. A mãozorra segurando meus quadris. Puta que o pariu. Se ele gozar eu gozo também. Meu pau balança duro no ar. Eu não preciso nem tocá-lo. “Ai, caralho”, sua voz fica mais aguda e seu ritmo aumenta. Ele vai me embebedar de leite. Eu poderia engravidar dele, se bastasse o meu desejo.
“Eu vou gozar”, diz novamente. E goza. Expele todo o ar. Treme o corpo. Apoia a testa na parte de trás da minha cabeça. Que tesão. Rebolo no cacete pulsando dentro de mim. Mordo seu pau com meu cu. Ele desliza a mão sobre minha pele. Dos quadris à minha barriga, ao meu peito, mamilos. Retoma o vai-e-vem. “Vou gozar também”, eu digo. Seguro suas mãos. Empino a bunda. Contraio. Gozo. Jogo minha cabeça para trás, em seu peito.
Ficamos ali alguns segundos. Ele sai de dentro de mim. Sobe a calça. Subo a minha. É isso.
Hora de voltar pro mundo. Estou atrasado.

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Comentários


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baianover Comentou em 14/09/2024

Escrita genial, quase rapsódica. Parabéns, rapaz, investe nisso.

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engmen Comentou em 13/09/2024

Uma narrativa deliciosa, repleta de tesão e analogias sagazes. Se destaca de forma marcante, excelente!

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celo24 Comentou em 13/09/2024

Nossa, tenho a maior vontade de dar gostoso para um caminhoneiro na boleia de um caminhão. Rsrs




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219732 - BOQUETE NO BANHEIRO PÚBLICO - Categoria: Gays - Votos: 7

Ficha do conto

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Nome do conto:
O CAMINHONEIRO GRANDÃO

Codigo do conto:
219516

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
13/09/2024

Quant.de Votos:
14

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