Uma mordida em minha orelha, duas, continua até o pescoço. Ele levanta os braços e eu tiro sua camiseta. Ele emite aquele som, aquele silvo de boca encharcada, sedenta, o ar passando entre a ponta da língua e os dentes. Ele lambe meus mamilos e depois eu lambo os dele, aprendendo e colocando em prática quase que ao mesmo tempo. Sinto com meu pau duríssimo o pau dele duríssimo ? meu pau é a parte mais pesada do meu corpo e eu luto contra a vontade de me masturbar imediatamente. Puxo sua calça com tanta rapidez que ele ri, segura meu queixo com força, me levanta e me mete um beijo na boca. Ele faz o que quer de mim nessa noite, eu me dobro a ele, me envergo a ele, me ajoelho a ele e à sua vontade de ser o dono do meu corpo.
Não há oração nem deus que me salve dos braços de João. Estou aqui para João, sou só dele. Me faça chorar, João. Eu quero chorar, João. O veadinho do 5ºB quer gemer no seu pau, João.
Minha língua vai da ponta à base do pênis dele. Tem um gosto de pele, um gosto que nunca senti antes, não é bom nem ruim.
"Olha pra mim."
Saliva se espalha debaixo da minha língua e o pau dele lateja na minha boca. De repente fica quente, gostoso, de repente é bom, a cabeça do pau de João indo e vindo, quase me engasgando, me afogando e eu querendo mais, o menino sem experiência ajoelhado num passado recente, numa ferida aberta para ter mais daquela sensação. Ele me levanta e passa os braços pelo meu corpo, num abraço que esmaga meu peito no dele e me beija de novo, rápido, desesperado. Eu também estou desesperado, estou entregue. Minhas articulações se moldam à sua vontade. Ele me faz deitar na cama e é sua vez de me engolir, aparentemente. Tenho que fazer alguma coisa? Será que tenho que pegar em sua cabeça...?
Sua boca envolve meu pênis.
Uau. Um frio na barriga e um tremor arrepiando os pelos do corpo. Eu quero mais, João. É quente, é molhado, é ultrassensível ? quero me masturbar dentro da sua boca. Ele lambe meu saco, pressiona a língua na pele do meu saco e passa com vontade de um lado a outro. Faz o mesmo na minha virilha. João está com a mão pegando fogo, incendiando meu pau. Todo o sangue do meu corpo está ali e eu gozo. O visco branco e morno é abundante. Agarro as extremidades da cama, me seguro. Estou gemendo, gemendo enquanto João lambe meu gozo, minha felicidade, o frescor de sua língua na cabeça do meu pênis ejaculado. Ele sobe com ela estirada, formando um rastro de saliva até minha boca. O rastro se evapora como se meu corpo fosse asfalto quente em pleno verão.
Meu pau continua duro, continua firme. João deita sobre mim e segura minha cintura, trazendo meu quadril em direção ao seu membro rijo, não tão grosso quanto eu imaginava, veiúdo, babão.
No momento em que coloca a camisinha, concentrado na tarefa, o rasgo na embalagem, o deslizar sobre o pênis, o látex fino tomando forma na curva lustrosa a apontar para o teto, a delicadeza do ato é sexy. Ele diz que como é minha primeira vez, é bom que eu continue deitado de costas, olhando para ele, que coloque os pés em seu peito, que não desvie meus olhos; ele passa saliva nos dedos e massageia meu ânus, eu fico tenso, apesar da vontade, apesar de estar piscando para tê-lo dentro de mim.
Ele me encara de cima, me prende em seu olhar. Seu pênis roça a borda do meu cu, o meu tesão não parece ser o bastante para que meus anéis interiores relaxem e ele consiga me penetrar. Leva um tempo até que eu sinta uma dor rasgante — a imagem que me vem à cabeça é de um maçarico. Depois disso, o caminho parece já ter sido aberto, pronto apenas para ser percorrido. João entra em mim devagar, ultrapassando camadas. Minhas mãos estão jogadas acima da minha cabeça. Ele entrelaça seus dedos nos meus. Nossa respiração é ofegante e a dor não é mais opressora. Estou num ponto em que posso fechar os olhos, sentir meu pau duro latejando e a cama balançando.
É aí que ele diz:
"Vira de bruços e empina essa bunda pra mim."
Obediente como jurei ser, faço o que ele manda. Ele morde minha bunda, lambe a entrada do meu ânus e coloca a língua dentro. Meu corpo se desmorona. Ele cospe dentro de mim e coloca um dedo. Me masturba de leve enquanto aumenta o vai-e-vem. Eu me contorço sobre o lençol. Penetra dois dedos e leva a boca à minha bunda. Tira os dois dedos de dentro de mim, coloca a língua mais uma vez. Meus punhos estão cerrados. Tira a língua, deita-se sobre mim e sinto de novo a dor insuportável. Novas posições, novas dores, é o que parece. Peço para que ele tire, mas ele não tira, apenas para e diz "shhh", beijando meus ombros. Minhas mãos tentam empurrar seu quadril, mas ele é mais forte e mais pesado, está esparramado sobre mim, com o pau preso em minhas nádegas, dentro do meu corpo. Fica mais um momento parado e vai forçando aos poucos. Já não luto mais, pelo contrário. Ele me abraça, força o rosto contra o meu, sua garganta emite um rosnado como se fosse um lobo tomando controle sobre a caça. Mete devagar, a dor continua, mas agora há prazer também. Mete mais, mais forte, mais rápido. Meu "ai" é longo e escorre da minha língua antes que se forme direito. Minhas mãos não brigam mais com seu quadril. Quase consigo ver nós dois, embrulhados um no outro, na cama, no mesmo movimento, indo e vindo, o barulho de sua virilha batendo na minha bunda. Eu peço mais e ele diz que vai me comer até o dia seguinte, que vai passar a noite me comendo, que meu cu é gostoso, apertado e quente. A letargia que se espalha a partir de algum ponto dentro de mim, o ponto que seu pênis pressiona, me faz revirar os olhos, gemer o incompreensível de uma mente extasiada, ser controlado por um tremor interno, um chacoalhão que parece mais próximo de explodir, mas que não explode, cresce, cresce a cada metida, a cada vez que o pau de João atinge o fundo.
Ele sai de dentro de mim, tira a camisinha e goza bem no meio da minha bunda. Sinto o caldo grosso do esperma escorrer. Ele ergue o tronco e fica de joelhos na cama. Nos observamos, suados, sorrindo.
João se levanta, pega outra camisinha e me puxa pela mão para que eu o acompanhe. Nos beijamos até o banheiro. Ele não acende a luz. Liga o chuveiro. Me abraça por trás e me encosta no azulejo da parede. A água morna cai entre nós. Ele veste a camisinha e entra em mim novamente. João mete com firmeza. No espaço de uma metida e outra eu levo minha bunda de encontro ao seu pau. Ele rebola ofegante ao pé do meu ouvido. Me abraça cada vez mais forte. Vou gozar. No meio de um gemido, ele se dobra sobre minhas costas. Meu gozo cai pelo meu pênis duro e suspenso, sem que eu ao menos o toque. Meu cu se contrai e João solta um gemido. Seu pênis lá dentro goza dando algumas estocadas. João tem três ou quatro espasmos consecutivos antes que possa sair de mim e tirar a camisinha lambuzada.
Meu homem. Foi a primeira vez que eu disse isso. Só depois, no entanto, que eu fui ter a certeza de que ele era bom e que tinha um amor bom. E então eu soube que, justamente por isso, seria eu o traidor, aquele que iria embora.
*
Moramos juntos agora. Quer dizer, já faz um tempo. Num apartamento de verdade. Ele se formou em Letras e dá aulas numa escola aqui do bairro e ninguém vê problemas em suas tatuagens, nem em seus alargadores — as crianças, inclusive, dizem gostar bastante.
Nunca duvidei da fidelidade de João. Tampouco reivindiquei-a. Eis minha prerrogativa. Mas a mim ele chega dizendo:
"Eu não consigo mais dormir sem você, parece que me falta algo, sabe?"
E meu peito se aperta. Estamos num ponto do relacionamento em que não há apenas nós dois, mas também meus pais, os pais dele, contas a pagar, viagens parceladas no cartão. O ponto da perfeita sintonia. Sinto que posso chegar em casa e contar-lhe que estou apaixonado por uma outra pessoa, tão amigos parecemos ser agora. De novo estou às voltas do que posso ou não deixá-lo saber, com medo do que ele pode pensar de mim.
Ele diz eu te amo mais que tudo e nunca sobreviveria sem você com mais frequência do que eu posso lidar. Eu respondo o mesmo, confesso, mas mal pronuncio tais frases e já sou capaz de vê-las boiando na superfície. Enquanto também estivermos na superfície, tudo correrá bem, eu penso, observando-o dormir. Se um de nós precisar mergulhar, entretanto, essas e outras frases deverão ser deixadas para trás. Digo, caso um dia, um de nós — ou nós dois, quem sabe? —, precise mergulhar.
Uma estória intensa, excitante e realista. Muito bom.