A Chave - Final: Trancado numa gaiola de castidade contra a vontade pela ex

O neon vermelho da lanchonete 24 horas Sabor & Saúde piscava intermitentemente, lançando reflexos rubros nas poças d'água da calçada. Penélope checava o celular novamente, como vinha fazendo em curtos intervalos. De caixas de som surradas, 'Another Day in Paradise', de Phil Collins, emanava em baixíssmo volume, o que lhe conferia uma qualidade quase espectral.

Um casal na mesa ao lado trocava beijos e sussurros, alheios ao mundo além de sua bolha de afeto. Dentro da lanchonete, um funcionário passava e repassava o pano no mesmo ponto do vidro do mostrador, seus olhos vidrados fixos em algum ponto invisível além da vitrine.

O som de saltos contra o asfalto fez Penélope erguer os olhos. Amanda se aproximava, seu vestido vermelho refletindo o neon da fachada, seus cabelos loiros balançando com cada passo decidido. Antes de chegar até Penélope, ela passou no balcão e pediu uma xícara de café.

"Olá", ela disse a Penélope com fingida jovialidade. Penélope fez para que ela se sentasse.

A xícara de café fumegante chegou. Amanda levou-a aos lábios pintados de vermelho e imediatamente seus olhos se estreitaram. Empurrou a xícara para longe como se fosse algo venenoso. "Isso aqui tem gosto de..." Seus dedos tamborilaram na borda da xícara, procurando a comparação adequada. "Tinta preta."

"Segunda-feira", Penélope disse, sua voz controlada como numa negociação difícil no escritório, "eu e Ricardo vamos tirar o dia de folga. Vamos rodar a cidade atrás de um chaveiro que consiga abrir o cadeado." Seus lábios se curvaram num sorriso sem humor. "Estive pensando nas histórias que vamos contar. 'Sabe como é, pegadinha que deu errado, resultado de uma aposta...'"

O riso de Amanda ecoou pela calçada vazia, fazendo o casal na mesa ao lado erguer os olhos momentaneamente. "Três mil reais", ela disse, inclinando-se para frente. "Foi quanto paguei por aquele cadeadinho alemão. Boa sorte tentando abrir."

"Caso não consigamos..." Penélope disse, desafiadora. "Iremos à polícia."

Amanda abriu um largo sorriso. "Sabe o que aconteceria?" Ela tomou um gole do café, fazendo uma careta. Seus olhos azuis encontraram os de Penélope por cima da xícara. "Eu entraria naquela delegacia usando meu vestido mais discreto, pouca maquiagem..."

Seus dedos subiram inconscientemente para ajeitar uma mecha de cabelo, um gesto que parecia ensaiado em sua vulnerabilidade estudada. "Talvez algumas lágrimas... não muitas, apenas o suficiente para borrar levemente o rímel."

O reflexo do neon vermelho da lanchonete dançava em seus olhos enquanto ela se inclinava para frente, baixando a voz como se compartilhasse um segredo. "O homem abusador e sua amante contra a pobre ex-namorada devastada que só queria uma última chance..." Seus lábios se curvaram num pequeno sorriso. "As pessoas adoram uma história assim, não é? Em quem você acha que eles vão acreditar, Penélope?" A pergunta pairou no ar entre elas como fumaça.

Um silêncio pesado se instalou entre elas, quebrado apenas pelo zumbido do neon e o ocasional tilintar de xícaras sendo lavadas nos fundos da lanchonete. Penélope observava Amanda, notando como seus dedos não paravam de brincar com o guardanapo, como seus olhos constantemente varriam o ambiente em busca de ameaças invisíveis.

"Por que, Amanda?" A pergunta escapou suave, quase um sussurro. "Por que todo esse planejamento, toda essa vingança..."

Amanda encarou a xícara de café como se pudesse ler seu futuro nas manchas escuras. "Por quê? Amor, claro." Ela olhou pra Penélope como se tivesse sido forçada a dizer a coisa mais óbvia do mundo. "Amor...", repetiu. "'Você não sabe o que é amor'", ela murmurou, sua voz tão baixa que quase se perdia sob o zumbido do neon. Seus dedos apertaram a xícara com força suficiente para fazer os nós embranquecerem. "Foi o que ele disse pra mim no motel. Como se..." Sua voz falhou. O relógio em seu pulso cintilou quando ela ergueu a mão para afastar uma mecha de cabelo do rosto, o gesto não conseguindo disfarçar o tremor em seus dedos. "Como se três anos da minha vida tivessem sido uma mentira."

O casal na mesa ao lado riu de algo, o som alegre contrastando cruelmente com o momento. Amanda piscou rapidamente, suas unhas arranhando levemente a superfície da xícara. "Fiquei acordada todas as noites durante aquele caso impossível da empresa japonesa que quase o fez pedir demissão..."

Penélope sentiu um arrepio à menção daquele caso. Embora ela não tenha feito parte da equipe que tratou dele - e deu graças a Deus por isso -, ela lembra bem daquele período: as luzes do escritório acesas até tarde da noite, as expressões tensas dos colegas nos corredores, discussões acaloradas, nervos à flor da pele... Lembrou-se das pilhas intermináveis de documentos em japonês, das videoconferências durante a madrugada para acomodar o fuso horário de Tóquio, do medo constante de que um único erro de tradução pudesse custar milhões. Fora uma época difícil no escritório. Ela lembrou-se de um almoço com Ricardo, após o desfecho favorável daquela negociação, as olheiras profundas dele contrastando com o brilho nos olhos. "Não sei como você aguentou toda essa pressão", ela havia dito. Ao responder, ele abriu um sorriso: "A Amanda... ela foi incrível. Me manteve são."

Amanda seguiu: "Ele estava à beira de um colapso nervoso durante esse período. Eu massageava seus ombros tensos depois de cada reunião fracassada. Ficava acordada com ele durante as intermináveis madrugadas revisando os contratos. Aprendi a fazer o café com gengibre que ele tanto gosta."

A voz de Amanda continuou, agora quase um sussurro: "E ele diz que eu não sei o que é amor."

"Não se prende numa gaiola daquelas alguém que se ama, Amanda. Não contra a sua vontade." Penélope manteve a voz baixa, controlada.

"Você não entende", Amanda disse. "Eu fiz tudo por ele. Absolutamente tudo. Quando a mãe dele teve aquele AVC, quem ficou acordada todas as noites? Quem segurou a mão dele enquanto ele chorava no corredor do hospital? "Três anos", ela continuou, sua voz falhando. "Três anos dedicando cada segundo livre para ser a namorada perfeita." Suas unhas vermelhas deixaram pequenas marcas em forma de meia-lua em suas próprias palmas. "E como ele termina comigo? Uma mensagem. Uma maldita mensagem de WhatsApp numa segunda-feira às 10:47 da manhã. 'Não está mais dando certo'. Como se eu fosse... descartável."

"E então... Silêncio. Seis meses", ela riu, um som amargo. "Seis meses me ignorando completamente. Como se eu nunca tivesse existido."

Amanda levantou os olhos, a tristeza sendo substituída por um brilho cruel. "Então, eu planejei tudo. Comprei aquela gaiola e o cadeado estupidamente caro. Pratiquei montá-la da forma mais rápida possível, até meus dedos doerem... Porque ele precisava entender", sua voz falhou. "Precisava sentir um pouco do que eu senti. Da impotência. Da frustração. Do desespero de ser ignorada, descartada, esquecida..."

Virou-se, seus olhos agora duros. "E isso é amor. Amor verdadeiro. O tipo de amor que faz você planejar uma vingança por meses só para voltar à vida da pessoa que te machucou."

Seus dedos tocaram a xícara com o agora frio café. "E agora você me diz que isso não é amor? Que é obsessão? Controle?" Ela riu novamente, o som quebrando no final. "Talvez seja. Talvez amor e obsessão sejam a mesma coisa. Talvez seja impossível amar sem querer controlar e possuir em alguma medida."

Penélope observou Amanda por um longo momento, seus olhos castanhos suavizando-se com compreensão. "Você está confundindo as coisas.", ela disse finalmente, sua voz gentil mas firme. "Me pergunto se alguém te machucou tanto a ponto de perverter sua definição de amor. Amor não é sobre quanto você se sacrifica. Amor é sobre compreensão. É sobre aceitar que em alguns casos as pessoas mudam, crescem em direções diferentes e, às vezes, inesperadas. É sobre entender que ninguém é propriedade de ninguém. E, sim, às vezes amor é perdoar. Perdoar quando o outro não corresponde às nossas expectativas. Perdoar quando o relacionamento acaba de uma forma que nos machuca. E, principalmente, perdoar a nós mesmos por não sermos capazes de fazer dar certo."

"Mas sabe o que é mais difícil?", Penélope perguntou suavemente. "Às vezes, a maior prova de amor é deixar a pessoa ir. É entender que, por mais que doa, por mais que pareça impossível, às vezes a melhor coisa que podemos fazer por alguém que amamos é permitir que siga seu próprio caminho. Amor verdadeiro", Penélope concluiu, sua voz pouco mais que um sussurro, "é ter a coragem de abrir mão. De desejar a felicidade do outro, mesmo que essa felicidade não inclua você."

Amanda olhava pra ela, seus olhos azuis gélidos, indecifráveis. "Me dê a chave, Amanda. Liberte Ricardo. Liberte a si mesma. Liberte a todos nós." Penélope pousou sua mão sobre a de Amanda, delicadamente.

Amanda puxou sua mão como se tivesse sido queimada. Uma risada áspera escapou de seus lábios enquanto ela vasculhava a bolsa. "Psicologia barata às duas da manhã?" Jogou uma nota amassada sobre a mesa para pagar pelo café. O som de sua cadeira arrastando contra o concreto fez o funcionário atrás do balcão erguer os olhos momentaneamente. "Eu sei muito bem o que é amor."

O som dos saltos de Amanda foi diminuindo gradualmente. Penélope fechou os olhos, sentindo o peso dos dias que viriam. Quando os abriu, um brilho metálico sob o guardanapo úmido de café chamou sua atenção. Seus dedos tremeram ao alcançá-lo, seu coração batendo tão forte que tinha certeza que o casal na mesa ao lado podia ouvir. Ali, pequena e prateada, estava a chave.

Ela olhou em volta, mas Amanda já tinha sumido na noite, quase como se fizesse parte dela. Ela apanhou a chave e a guardou.

Penélope checou o celular enquanto dirigia de volta para casa. As notificações piscavam insistentemente - várias mensagens de Ricardo que ela havia ignorado, temendo que qualquer distração pudesse irritar Amanda durante aquele delicada conversa. Seus dedos, ainda tremendo levemente de adrenalina, deslizaram pela tela.

"Onde você está?"

"Pê, está tudo bem?"

"Por favor,responda."

Ela respondeu apenas que estava voltando. O resto deveria ser dito pessoalmente.

Penélope girou a chave na fechadura de seu apartamento, seu coração ainda acelerado. Ricardo estava na sala, andando de um lado para outro como o animal enjaulado que era. Ao vê-la, parou abruptamente.

"Onde você estava?" A preocupação em sua voz era palpável.

"Com a Amanda."

Os olhos dele se arregalaram. "O quê? O que aconteceu?"

Em resposta, Penélope retirou a pequena chave prateada do bolso. O rosto de Ricardo se iluminou com um sorriso.

"Você conseguiu..." O sorriso vacilou. "Espera, você não... não bateu nela nem nada, né?"

Penélope riu suavemente. "Não, nada disso. Ela... deixou a chave."

Antes que ele pudesse fazer mais perguntas, ela deu um passo em sua direção. "Abaixa as calças. Hora de tirar essa gaiola."

Ricardo obedeceu, suas mãos tremendo levemente de antecipação. Penélope se ajoelhou à sua frente, estudando por um momento o pequeno cadeado que havia causado tanto tormento. A chave deslizou suavemente na fechadura, e o 'click' do mecanismo soou como música. Ela removeu o cadeado e o colocou sobre a mesa próxima.

Ao se virar, notou que Ricardo ainda estava com a gaiola. Seu rosto tinha uma expressão distante, quase assustada.

"Eu... você pode..." Ele engoliu em seco. "Não consigo tocar nela."

Penélope assentiu compreensivamente. Voltou a se ajoelhar e, com toda a delicadeza possível, começou a remover a gaiola. Seus dedos trabalhavam com paciência, consciente do trauma - tanto emocional quanto físico - que aquele objeto representava. Quando finalmente a retirou por completo, notou as marcas que o metal havia deixado na pele dele - círculos e linhas que contavam uma história de cativeiro e aprisionamento.

"Está tudo bem. Você está seguro agora."

Penélope guardou a gaiola em uma caixa, tirando-a imediatamente de vista. Só então Ricardo conseguiu respirar aliviado.

"Acabou", ela disse suavemente, envolvendo-o em seus braços. "Acabou de verdade."

Ela o conduziu gentilmente até o banheiro, onde a água quente do chuveiro começou a lavar semanas de tensão e ansiedade. Penélope o ensaboava com movimentos deliberadamente lentos, seus dedos percorrendo cada centímetro de sua pele como se o estivesse redescobrindo. A intimidade do momento ia muito além do sexual - era uma reconexão, uma reafirmação de confiança. Seus seios roçavam nas costas dele enquanto ela o lavava, seus mamilos endurecidos traindo sua própria excitação.

O banho havia lavado não apenas o suor, mas também as últimas memórias da prisão que o aprisionara por tanto tempo. Agora, na cama, seus corpos nus se encontravam com uma intimidade renovada. A língua dele explorava sua vagina com dedicação, arrancando gemidos cada vez mais intensos. Suas coxas tremiam ao redor do rosto dele, seus dedos entrelaçados em seus cabelos ainda úmidos do banho

"Assim", ela sussurrou entre lambidas. "Você sempre soube exatamente como me chupar..."

Penélope deitou-se sobre ele. O 69 era mais que uma posição - era uma demonstração de confiança mútua, de entrega total.

Ricardo gemeu contra ela quando sua língua o tocou pela primeira vez em semanas sem a barreira do metal. Cada sensação era amplificada, cada toque enviando ondas de prazer por seu corpo. Sua própria língua trabalhava com dedicação entre as pernas dela, saboreando seu gosto familiar, deliciando-se com seus gemidos abafados.

Quando sentiu que ele estava próximo demais do orgasmo, Penélope se moveu, virando-se para encará-lo. Seus olhos estavam escuros de desejo, seu rosto corado. "Ainda não", ela sorriu. "Quero sentir você dentro de mim primeiro."

Ricardo puxou Penélope para um beijo profundo e desesperado, muito diferente dos beijos contidos e frustrados das últimas semanas. Suas mãos exploravam o corpo dela com urgência renovada, percorrendo cada curva, cada textura.

Quando Penélope finalmente montou sobre ele, seus corpos se encaixaram com uma familiaridade que fez ambos gemerem. Ela começou a se mover lentamente, saboreando cada sensação, cada momento. Seus seios roçavam no peito dele enquanto se inclinava para beijá-lo, seus cabelos criando uma cortina que os isolava do mundo exterior.

O ritmo aumentou gradualmente, seus corpos se movendo em sincronia perfeita. O som de pele contra pele ecoava pelo quarto, misturado com seus gemidos.

O orgasmo, quando veio, foi avassalador. Ricardo arqueou as costas, apertando as coxas dela com seus dedos, enquanto ondas e mais ondas de prazer atravessavam seu corpo. Seu pau pulsava dentro dela, liberando meses de frustração acumulada. Penélope o seguiu logo depois, sua boceta contraindo violentamente ao redor dele, seu corpo tremendo incontrolavelmente sobre ele.

"Te amo", ela murmurou entre gemidos, suas mãos explorando o peito dele. "Te amo tanto..."

Ele, lembrando-se de tudo o que ela havia feito por ele naquele mês terrível, sorriu. "Eu sei. E também te amo", ele conseguiu dizer entre respirações entrecortadas. "Obrigado... por tudo..."

Depois, deitados lado a lado, ainda ofegantes, ela passeava com os dedos em seu peito enquanto ele brincava com seus cabelos. Não havia necessidade de palavras - o silêncio era confortável, íntimo.

Finalmente, pela primeira vez em muito tempo, Ricardo se sentia verdadeiramente livre. Não apenas do metal que o aprisionava, mas das correntes emocionais que Amanda havia forjado em sua mente.

A chave, agora esquecida sobre a mesa de cabeceira, cintilava sob a luz do luar que entrava pela janela - não mais um símbolo de prisão, mas um lembrete do que haviam superado juntos.


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Ficha do conto

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Nome do conto:
A Chave - Final: Trancado numa gaiola de castidade contra a vontade pela ex

Codigo do conto:
224370

Categoria:
Fetiches

Data da Publicação:
10/12/2024

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