A noite estava fresca, e a pracinha onde tudo começou parecia ter um brilho diferente sob as luzes amareladas dos postes. As risadas dos meus amigos ecoavam entre os bancos de madeira e o piso de paralelepípedos. O vinho circulava entre nós, cada um compartilhando seus planos para o feriadão. Alguns falavam de praia, outros de descanso em casa, mas eu apenas mencionei que talvez estudasse para as provas da semana seguinte. A verdade é que eu não tinha nada certo.
Quando o grupo decidiu seguir para a estação de metrô, fiz um desvio rápido para comprar água e pastilhas no quiosque. Um atraso bobo, mas que custou caro. Ao sair, vi meus amigos ao longe, já correndo para pegar o metrô que se aproximava. Eu também tentei acelerar o passo, mas o sedentarismo e as escadas longas me fizeram desistir antes mesmo de chegar à plataforma. Quando finalmente subi, as portas do vagão se fecharam diante dos meus olhos. Eles se foram.
O celular vibrou no bolso. Thiago ligava para perguntar onde eu estava. Expliquei o que aconteceu e garanti que pegaria o próximo metrô sem problemas. A conversa foi curta, e ao desligar, comecei a descer as escadas para esperar o próximo trem. Foi então que uma voz familiar rompeu o silêncio:
— Está perdido?
Meu coração deu um salto. Me virei e encontrei aqueles olhos conhecidos, cheios de um brilho travesso. Rafael.
A presença dele provocou um choque no meu corpo. Meu peito apertou, e precisei de um segundo para recuperar o fôlego antes de responder:
— Não, estou indo para casa. E você?
— Estou de bobeira por aqui — Rafael sorriu. — Decidi ficar um tempo pela estação.
— Ah, então foi por isso que não te vi mais por lá.
Rafael arqueou uma sobrancelha.
— Quer dizer que você me procurou?
Desviei o olhar, tentando esconder o sorriso.
— Não é que eu tenha procurado… só percebi que você sumiu.
— Sei… — Rafael sorriu de canto, estreitando os olhos.
A conversa seguiu por mais alguns minutos, até que Rafael sugeriu que nos encontrássemos na próxima semana para tomar um vinho na praça. Tentei não demonstrar empolgação, mas no fundo, algo dentro de mim saltava de alegria. No entanto, não queria criar expectativas.
— Vou ver — respondi, hesitante.
— Então posso confirmar contigo na segunda, na saída do teu trabalho?
Meu estômago revirou. Queria muito dizer que sim, mas temia demonstrar demais. No fim, apenas confirmei com a cabeça. Quando comecei a me afastar, Rafael chamou novamente:
— Segunda-feira eu vou te esperar na porta do teu trabalho para confirmar, certo? Eu posso mesmo?
Sorri, sem conseguir esconder completamente a felicidade.
— Pode.
Naquela noite, deitado na cama, o garoto que havia perdido a virgindade com Rafael semanas antes sentia algo diferente. Não era apenas desejo. Era outra coisa. Algo mais profundo. E isso me assustava.
Segunda-feira chegou, e me peguei contando as horas até o fim do expediente. Cada minuto parecia se arrastar, e quando finalmente bati o ponto, meu coração acelerou. Corri até o elevador, cheguei ao térreo e saí do prédio com a expectativa queimando dentro de mim.
Mas Rafael não estava lá.
A decepção caiu sobre mim como um balde de água fria. Fiquei parado por um instante, olhando ao redor, procurando por qualquer sinal dele. Nada.
“Como fui tão idiota?”, pensei.
esperei dez minutos. Depois mais vinte. Cada minuto que passava, a mágoa crescia. Quando finalmente decidi ir embora, já estava convencido de que não deveria mais dar brechas para Rafael.
— Nunca mais — murmurei para mim mesmo, caminhando para o ponto de ônibus.
No dia seguinte, ao sair do trabalho, me sentei no banco da parada, esperando o ônibus. Estava distraído, perdido nos meus próprios pensamentos, quando senti uma mão segurar meu braço.
Era Rafael.
Arregalei os olhos. Ele estava diferente. Usava roupas limpas, um corte de cabelo novo e parecia… renovado.
— Não vai agora, não. Preciso falar contigo — pediu Rafael, quase implorando.
Fiquei parado por um momento, medindo a situação. Eu deveria simplesmente ignorá-lo e seguir meu caminho? Ou deveria ouvir o que ele tinha a dizer?
Respirei fundo.
— O que você quer? — perguntei, a voz carregada de frustração.
— Quero me desculpar pelo bolo que te dei ontem. Se você me deixar explicar, eu juro que não foi intencional.
O olhar dele era de quem realmente queria ser ouvido. Hesitei. No fundo, queria entender.
Acabamos indo para a praça, sentando-nos em um banco sob a luz fraca do poste. Rafael comprou uma água para mim, um gesto pequeno, mas que carregava muito significado.
— No sábado de manhã, minha mãe me encontrou na estação — começou Rafael, sua voz carregada de emoção. — Eu nem percebi quando ela chegou. Só acordei e ela estava lá. Ela me pediu para voltar para casa. Disse que deveria ter me ajudado antes, que não devia ter me deixado sozinho.
Permaneci em silêncio, absorvendo cada palavra.
— Fui com ela. Tomei um banho decente pela primeira vez em muito tempo. Dormi em uma cama de verdade. No dia seguinte, conversei com meus pais e eles colocaram alguns limites. Me disseram que eu precisava trabalhar e ser mais responsável.
Ele parou por um instante, apertando a garrafa de água nas mãos.
— Na segunda, eu fui com minha mãe ao supermercado e perdi a hora. Quando cheguei na frente do teu trabalho, você já tinha ido. Eu me senti um lixo, sabia que você ia ficar chateado. Mas eu juro que não fiz por mal.
Os olhos dele buscavam nos meus alguma resposta.
O silêncio se estendeu entre nós. Por fim, respirei fundo.
— Fico feliz que as coisas estejam melhorando para você — disse, sincero. — Mas eu ainda tô magoado.
Levantei-me. Precisava ir embora. Mas antes que desse mais um passo, Rafael segurou minha mão.
— Me dá uma chance de compensar isso. Vamos sair na sexta?
Franzi o cenho.
— Sair pra onde?
— Vamos dar um mergulho! Pode ser na praia ou numa cachoeira. O que acha?
Hesitei. Mas, no fundo, a ideia me agradava.
— Se você estiver aqui na quinta-feira para confirmar, eu topo. Mas se você não aparecer… juro que nunca mais olho na sua cara.
Rafael abriu um sorriso largo.
— Quinta, às 18h, na porta do teu trabalho. Eu prometo.
Apenas assenti e caminhei até o ponto de ônibus.
Dessa vez, queria acreditar. Mas parte de mim sabia que o destino gostava de brincar com os encontros e desencontros entre nós.
A semana passou rápido, e enfim chegou a quinta-feira, e ao finalizar o expediente eu respirei e decidi que não iria me frustrar caso o Rafael não estivesse me esperando na entrada do prédio. Mas ao descer eu vejo ele parado com uma camisa cinza, calça jeans e sapato fechado.
Aquilo me deu um misto de sensações no estomago.
Conversamos um pouco, após nos cumprimentarmos com um abraço, onde sinto o cheiro de perfume do Rafael.
- Cheiroso demais. – Falei.
- Obrigado! – Ele respondeu com um sorriso sincero.
- Estou aqui desde 17:30h para não ter perigo de me atrasar. – falou ele rindo.
- Muito bom! – falei em tom de deboche carinhoso.
Confirmamos o nosso rolê no dia seguinte e sem muita demora segui para casa.
O feriado chegou, e com ele, a promessa de um dia juntos. Acordei mais cedo do que o habitual, sentindo a excitação crescente. Depois de uma semana cheia de dúvidas e ansiedade, finalmente teria o tão aguardado momento com Rafael. Eu estava determinado a aproveitar cada instante, mas também sentia uma expectativa que fazia meu coração bater mais rápido.
Quando cheguei à porta do meu trabalho, como combinado, Rafael já me esperava, com um sorriso de orelha a orelha e uma energia contagiante. Ele estava com uma bermuda casual e uma camiseta de um tom azul claro que combinava perfeitamente com o céu limpo daquela manhã. Seus olhos brilhavam, e seu sorriso parecia transmitir uma felicidade genuína que eu não conseguia deixar de notar.
— Oi, Sérgio! — Rafael disse com entusiasmo, se aproximando e me dando um abraço apertado. — Pronto para o nosso rolê?
Sorri de volta, sentindo um calor no peito ao ser envolvido pelo abraço dele. Algo dentro de mim já sabia que este feriado seria mais do que uma simples fuga da rotina. Era um momento que eu não sabia ao certo o que significava, mas sentia que iria mudar algo em minha vida.
Juntos, seguimos para a estação de metrô. Rafael estava sempre olhando para mim com um olhar doce, como se estivesse tentando decifrar meus pensamentos sem que eu precisasse falar nada. Durante o trajeto, nossas mãos se esbarravam de vez em quando, e, cada vez que isso acontecia, eu sentia uma corrente elétrica passar pelo meu corpo. O toque dele, mesmo sem ser intencional, era como um aviso sutil de que algo mais estava prestes a acontecer entre nós.
Quando chegamos à praia, o calor do sol parecia não incomodar nenhum de nós. A areia dourada sob nossos pés e o som das ondas quebrando na beira do mar criavam a atmosfera perfeita para esquecer o resto do mundo. Decidimos nos instalar em uma área tranquila, onde poderíamos aproveitar a paz e o silêncio do local.
Rafael estava sempre atento ao que eu precisava, oferecendo-me uma bebida, perguntando se eu estava confortável. Notei o cuidado e a atenção que ele tinha comigo, e isso fazia meu coração disparar. Cada gesto dele parecia ser cheio de carinho, e o jeito que ele olhava para mim fazia com que eu me sentisse especial de uma maneira que eu nunca imaginei.
Com o passar das horas, as risadas e as conversas foram se tornando mais leves. A bebida estava deixando-nos mais descontraídos, e o álcool parecia aumentar a intimidade entre nós. Eu sentia meu corpo esquentar, e não era apenas por causa do sol ou do vinho. Rafael estava mais próximo, mais acessível, e parecia estar cada vez mais presente em meus pensamentos.
Já ao cair da noite, as estrelas começaram a brilhar no céu. O calor do dia tinha dado lugar a uma brisa fresca que tornava o ambiente ainda mais mágico. Estávamos rindo de algo bobinho que eu tinha dito, mas, de repente, o olhar de Rafael mudou. Ele me olhou com uma intensidade que eu não podia mais ignorar.
— Sérgio… — Rafael falou, sua voz suave e grave, como se estivesse tentando se decidir sobre algo importante. — Eu preciso te contar uma coisa.
Eu senti um frio na barriga. Sabia o que estava por vir, mas não sabia como reagir. Estávamos muito próximos agora, e o olhar dele estava fixo em mim, como se eu fosse a única coisa no mundo.
— Eu… — Rafael hesitou, mas então se aproximou mais, seus lábios quase tocando os meus. — Eu estou apaixonado por você.
As palavras dele fizeram meu coração bater mais forte. Eu senti uma onda de emoções misturadas. Surpresa, felicidade, e algo mais profundo que eu não conseguia definir. Antes que eu pudesse responder, ele me beijou. Foi um beijo suave no começo, mas logo se tornou mais intenso. As mãos dele envolveram meu rosto, como se quisesse gravar aquele momento na memória.
O beijo de Rafael não era apenas físico, era uma entrega. Era um beijo que falava de cuidado, de desejo, e de algo que ambos já havíamos sentido, mas até então não tínhamos tido coragem de admitir. As ondas do mar pareciam aplaudir ao fundo, e as estrelas no céu iluminavam a cena, tornando tudo mais mágico.
Quando nos separamos, eu senti como se tivesse acordado de um sonho. Mas não era um sonho. Era real. Eu estava ali, com Rafael, na praia, e pela primeira vez, eu sabia que aquilo era o começo de algo muito mais profundo.
Rafael, com um sorriso tímido, ainda segurando minha mão, falou:
— Eu sabia que você também sentia, mas eu precisava te dizer. Eu não queria ter que esconder isso de você.
Sorri, sentindo meu corpo inteiro relaxar. Eu não sabia o que o futuro reservaria para nós, mas naquele momento, eu sabia que estava pronto para viver o que fosse acontecer.
— Eu também, Rafael. — disse, com a voz baixa, mas firme.
A noite seguiu de forma leve e envolvente, com os dois se entregando ao prazer da companhia um do outro. Entre risadas, carícias e um amor crescente, nos perdemos na praia. O som das ondas e a brisa suave foram os testemunhos silenciosos de uma noite inesquecível.
Avisei que já estava ficando tarde e que eu precisava ir, então o Rafael sugeriu me levar em casa. Eu fiquei empolgado com a ideia, mas disse que não precisava e que talvez não fosse legal chegar acompanhado com ele em casa. Não por enquanto.
Segui rumo a meu destino, e mais uma vez tive que me despedir do Rafael, mas dessa vez com a sensação e sentimento de recíproca. Eu realmente me apaixonei por ele, pelo rapaz que me tirou a virgindade.
continua..
Que legal!
Muito bom e gostoso seu conto. Aguardando a continuação 😄