Rodrigo e Bernardo - Cap. V e final

Chamo-me Bernardo e tinha 19 anos na época em que tudo começou, o Rodrigo 39 anos. Foi uma relação longa e particularmente feliz. Em todos os aspectos havia uma singular proximidade. Eu (Bernardo) e o Rodrigo fomos namorados/amantes apaixonados, depois veio o amor, sim dois homens podem-se amar, não vejo mal nenhum. Passaram anos, mas o fogo da paixão continuava forte e absolutamente imune ao tempo. As idades, diferença de 20 anos, não tinha importância rigorosamente nenhuma, o importante eram os sentimentos. Ele era casado, tinha filhos, mas sempre aceitei isso, eu era o amante discreto e secreto. Eu tinha namoradas, mas nós tinhamos o nosso espaço, o nosso mundo. O importante foi compreender as fronteiras. Éramos confidentes, praticamente não havia segredos, mas sim amor. Ao longo da vida conhecemos pouco o amor, acontece, paixões sim, amor pouco. Pena as pessoas misturarem amor e paixão, mas cada pessoa lá sabe, não sou ninguém para criticar. O importante é sermos honestos connosco próprios, a partir daqui tem-se um bom ponto de partida, bons alicerces na vida.
Voltando ao Rodrigo, passados muitos anos, para quê dizer quantos, ainda sinto a sua proximidade. A sua voz, olhar, aspecto. tudo ficou na minha memória. Que sensacionais horas em centenas de encontros. Sinto ainda hoje a forma como nos beijavamo-nos, como era bom sentir os lábios, as línguas próximas, e a saliva a misturar-se, depois os corpos juntos, as caricias, as lambidelas, as erecções mútuas, tudo era bom, ficou guardado para sempre dentro de mim - na minha cabeça. Por muitos anos que viva, ou não, nunca esquecerei o Rodrigo.
Depois a vida deu voltas, Rodrigo foi vitima de um acidente de aviação, mas isto é não quero falar, prefiro assim, melhor recordar os anos bons e marcantes.
A vida retomou o seu rumo, naturalmente com dificuldades, abalo foi muito, mesmo muito, forte. Aceitei tudo, a fé ajudou.
Ao terminar não posso deixar de emocionar-me, realmente eu (Bernardo) e Rodrigo tivemos uma relação de excepção na minha opinião. Melhor recordar o lado bom, se ele (Rodrigo) existisse ainda seriamos próximos, a relação continuava forte como sempre. Conto verídico, mas mudei certas coisas que não mudaram em nada o relato, relação discreta, sigilosa, assim vai continuar.