As Duas Panfletárias

Havia em minha faculdade uma imprensa, na verdade um pequeno jornal, gerido por
duas panfletárias, a primeira era meiga, mas facilmente irritável, adotava o revisionismo histórico, em suas manchetes bradava – Esta nação nasceu de um estupro. – A outra, alta e morena, era uma comunista ortodoxa – O motor da história é a luta de classes. – Enfurnadas no
Centro Acadêmico, ornado com imagens que iam de Che a Raul, escreviam suas matérias em meio as brumas de incenso, alguns homens ao derredor enrolavam e acendiam pequenos baseados. O pensamento era retardado pela droga, mas intensidade das sensações era ampliada.
– Claro que defendo os pobres e a educação... – Um dos jovens se aproxima, andar letárgico, mas o suficiente para interromper o argumento de Kátia, se desvencilha do cinto e pousa seu
pênis junto a boca da jornalista, que prontamente se entreabriu e com um movimento rápido de língua o
trouxe o membro do rapaz para próximo de sua garganta; vagarosamente ela o chupou, entorpecida pela droga – Mas isso não
pode ser tudo, as mulheres não podem ser as grandes vítimas deste país – disse
limpando os lábios babados com os dedos. – Ontem, a burguesia contra o proletariado, hoje, o homem contra a mulher – gritou Vivi estirada em um sofá; um homem, um de seus professores a acariciava pernas entre as pernas buscando seu sexo; outro se deliciava com os lábios grudados a carne de seu pescoço. Passavam-se dias, os pais ligavam, as garotas devotadas aos estudos respondiam alegando a sua missão em construir uma nova e melhor civilização, e semanas e os meses se esgotavam; coxões, colchonetes, redarios, tudo servia a revolução. As carícias duravam horas, o
orgasmo era intensificado pela droga e pela perda da consciência; tão vagarosos que a arremetida de um pênis poderia demorar minutos, estacionado dentro da colega, arfando. Um dia me convidaram para
aquele simpósio, a sala estava envolta de um névoa branca e espeça, as palestrantes sentavam ao colo e beijavam
os convidados como forma de cumprimento, eram sempre abusadas por alguns que mal se contentavam com aquele pouco carinho, uma gemia, a outra vinha em socorro – Chupa as bolas desse filho da puta amiga... – rapidamente o moço gozou e a soltou. Acabei sendo o último a ser cumprimentado naquela roda, tive o prazer de levar aquela saudação dupla – Se você ficar com a boca eu
abocanho o pau do novato – advertiu Kátia. Vivi logo que me beijo se ocupou habilidosamente de abrir o zíper de minha calça; senti a língua de Kátia envolver-me, quente e úmida, vagarosamente enfiei os dedos entre seus cabelos e a conduzi a um ritmo mais acelerado – Calma –
exclamou Vivi – Ainda temos um longo debate pela frente. – Há tempos não retorno, o sexo consome, a droga lhe retira o contato com a alma, os membros daquele jornal andam como zumbis, mas há sempre aqueles que preferem se render ao apocalipse do que lutar.