Os Imorais falam de Nós - Capítulo 4




CAPÍTULO 4 – O Sítio


        _ Você lembra?
        _ Com toda a certeza do mundo... Tudo bem que não faz muito tempo desde a última vez em que eu estive aqui com você não?
        _ É...
        Eu parei na entrada de tijolos enquanto ele tirava um molho de chaves do porta-luvas. Ele desceu e eu fiquei olhando o corpo dele mais uma vez.
        Às vezes em que eu tive a oportunidade de vê-lo sem roupas, foi na época em que nós fazíamos natação juntos, e quando terminava o treino e nós íamos tomar banho pra tirar o cloro do corpo, eu muitas vezes pude olhá-lo sem nenhum motivo para me esconder. Afinal, ele estava pelado na minha frente, E eu podia jurar que um dia eu o vi me olhando timidamente, mais bem, eu tenho certeza, foi só em preção...
        _ O Vicente! Dá Pra você entrar logo!
        _ Opa! Foi mau...
        Eu entrei e esperei ele entrar no carro.
        _ Paro aonde? _ Eu perguntei enquanto ele entrava.
        _ Põe perto da porta pra gente poder tirar as coisas com mais facilidade não?
        Eu parei e desci. Eu já tinha me esquecido como era bom ficar de pé. Nós começamos tirar as coisas do carro. Quando nós acabamos, eu sentei no gramado de frente a casa. Era uma casa típica de fazenda, pé-direito bem alto, a se perder de vista, o Caio me disse uma vez, que quando os pais dele compraram o sítio, ela estava destruída, mais eles gostaram tanto, e eles também gostavam daquele tipo de casa, que decidiram restaurar e mantê-la como a sede do lugar.
        Ela tinha três quartos na parte de baixo, e mais três na parte de cima, além de uma varanda que a cercava, tanto em cima, quanto embaixo, e tinha também um grande terraço na parte de cima, com uma churrasqueira, e ele tinha o tamanho da casa. Quando você entrava, dava em um hall, onde tinham muitas fotos do Caio e da família. Saindo, era sala de jantar, que ficava junto com a de TV. Mais pra frente, você entrava na cozinha, que ficava em um nível mais baixo um pouco. Continuando no corredor, você chegava às portas dos quartos da parte de baixo, que eram usados geralmente por visitas não muito íntimas, eu quando ia eu geralmente dormia no quarto do Caio. Até mesmo, pelo fato de nós vararmos as noites jogando truco. Esses quartos tinham várias camas e um armário grande, um deles tinha uma cama de casal do tamanho de um bonde... Ela era muito grande mesmo. Virando, era escada que dava acesso aos outros cômodos e ao terraço. O primeiro quarto era do irmão mais velho do Caio. Eu nunca tinha dormido lá, mais já tinha entrado algumas outras vezes. Ele tinha um armário, e uma cama de casal king, e um aparelho de som empoeirado em um canto. O próximo era o quarto do Caio. Esse eu conhecia muito bem. Ele tinha Um beliche um armário grande como os outros. O Último era o quarto dos pais do Caio. A suíte dos pais dele tinha uma cama de casal king de madeira maciça, e como nos outros quartos, um grande armário de madeira maciça também.
        Eu me levantei e fui pra dentro. Quando eu subi as escadas e fui para o quarto do Caio, eu levei um susto.
        _ Caio?
        _ Fala Vicente.
        _ Faz tanto tempo que eu não venho aqui?
        _ Não. Por quê?
        _ Tiveram algumas mudanças aqui não?
        _ Ah, você já viu? _ Ele vinha entrando vindo do corredor. _ E ai, curtiu não?
        _ Com certeza, mais como você convenceu a sua mãe a trocar a cama assim?
        _ Não foi tão difícil quanto você está pensando. Eu só falei a verdade, aquele beliche estava ficando meio pequeno pra mim. E aí eu a convenci a comprar uma cama nova. A cama de casal foi ideia do meu pai.
        _ Sei. E onde nós vamos dormir agora?
        _ Você se quiser pode ficar com esse quarto. Eu já arrumei o quarto dos meus pais pra mim. Aliás, falando em você dormir, cadê as suas coisas?
        _ Eu não tirei do carro ainda.
        _ Eu sugiro que você vá fazer isso, se não você vai acabar ficando sem cama, sofá ou colchão.
        _ Com a quantidade de cama que tem nessa casa, eu acho meio difícil...
        _ Quem avisa amigo é.
        _ Tá. Não fica preocupado. Falando na galera, que horas eles vêm?
_         Não demora muito eles estão chegando...
        _ E você me apressando né?
        _ Eles estão atrasados, eu cheguei adiantado na hora que eu tinha falado.
        _ Sabe que eu ainda to achando meio estranho não ter mais a beliche aqui? Parece que têm muitas coisas que foram mudadas...
        _ Eu to achando estranho você não ter... Você já deu uma andada lá por baixo?
        _ Não. Por quê?
        _ por nada. É que lá também foram feitas algumas mudanças.
        _ Ah ta. Já tem alguma cerveja gelada?
        _ Sim. Você quer tomar uma?
        _ Você me acompanha né?
        _ Sim. Vamos lá pra pegar.
        Confesso que ele tinha me deixado curioso pelo fato de terem mais mudanças na casa e pelo fato de que eu não tinha reparado.
        Nós descemos as escadas conversando sobre coisas irrelevantes, e o celular dele tocou.
        _ Puta merda!
        _ O que foi?
        _ A Lívia, agora ela não me dá paz... Tudo bem que ela já não me dava antes.
        Ele atendeu o telefone, e foi em direção à cozinha fazendo sinal para que eu o esperasse aonde eu estava. Eu terminei de descer as escadas, e uma coisa me chamou a atenção:
        A um canto, a sala fora rearrumada com os sofás virados de costas para a TV, e para a escada. Eu reparei que lá não tinha muita luz externa entrando, pois a janela estava fechada. Eu fui abrir.
        Depois que eu abri, eu me virei pra contemplar a sala.
        E lá estava ele: Preto, envernizado, mogno e imponente na minha frente. Eu não pude acreditar no que os meus olhos estavam vendo. Eu dei um passo hesitante em sua direção. Depois fechei a distância entre nós em dois ou três passos. Eu experimentei a tampa e vi que ela estava aberta. Puxei o banco de mogno também e me sentei.
        “Um piano!” Eu pensei, e imediatamente os meus dedos deslizaram pelas teclas, tocando a primeira música que me veio à cabeça. “Moon Ligth Sonata”, e quando eu estava na metade da música, e justamente quando eu estava pensando nele, e justamente quando eu resolvi olhar ao meu redor, quem eu vejo com duas latinhas de cerveja na mão sorrindo e ao meu lado:
        _ Você está aqui há muito tempo?
        Eu disse enquanto eu fechava o piano.
        _ Não. Na verdade, eu acabei de chegar... Eu ouvi você tocando, e essa é a minha música favorita... Sua cerveja.
        Eu peguei e ainda sentado ao piano, eu tomei alguns goles.
        _ Mais o que a Lívia queria?
        _ Mais uma vez fazer preção... Ela só queria tentar me fazer voltar pra ela... Mais por que você parou?
        _ Ah, eu não vô ficar te chateando com essas músicas...
        _ Eu gosto dessa. Toca pra mim?
        Cara, o Caio estava me pedindo pra tocar Beethoven, e ele disse que gostava? Alguma coisa estava errada.
        Eu continuei sentado e tomando a minha cerveja em goles, enquanto eu me perdia em pensamentos, ele disse:
        _ Então, você toca pra mim?
        _ Você tá falando sério?
        _ Claro. Eu realmente gosto dessa música.
        Eu terminei a minha cerveja, e entreguei a lata vazia a ele que já estava com a mão estendida.
        _ Você não tá brincando mesmo Né?
        _ Não. E por que eu estaria?
        _ Simplesmente pelo fato de que quando eu tinha aprendido essa música, você nunca gostou.
        _ Depois de um tempo, eu comecei a prestar mais atenção nela, e daí eu vi que ela me dizia muitas coisas. Você vai tocar pra mim ou não?
        Eu abri o piano, e meio desconfiado comecei. Ele puxou uma cadeira e pôs ela ao meu lado e se sentou pra me ouvir. Nesse momento eu deixei de lado todas as minhas dúvidas se ele estava me zoando, e toquei com toda a minha alma, com toda a minha força.
        Quando eu terminei, ele estava se levantando furtivamente, e quando eu olhei, ele estava chorando.
        Eu estiquei o meu braço e o em pedi de levantar, e fiz com que ele se sentasse no lugar, e passei o meu braço nos ombros dele; e para a minha surpresa ele não tirou o meu braço, e pra mais uma vez me surpreender mais ainda, ele apoiou a cabeça no meu ombro, como uma criança, eu o consolei ao máximo.
        _ sabe o que mais me dói cara?
        Eu fiz que não com a cabeça.
        _ O fato de ela poder um dia numa hipótese bem remota, de que ela tenha me traído.
        _ Você realmente acha?
        _ Sim... Quero dizer, eu tenho que ter essa pulga atrás da orelha. É melhor pra mim eu dar a ela o benefício da dúvida.
        Nós ficamos ali di frente ao piano por um tempo que para mim pareceu uma hora, mais na verdade não tinha passado de dez minutos; mais pra mim já foi uma realização incrível. Quando eu podia imaginar ter o Caio no meu peito, por tanto tempo? Aos poucos ele foi se acalmando e, para a minha infelicidade, e por motivos meio que óbvios, ele se levantou, e enquanto enxugava o rosto, ele disse:
        _ Cara, você é um amigo e tanto. Mais eu tenho que te pedir uma coisa.
        _ Fala Caio.
        _ Não conta pra ninguém que eu estive chorando. Essa festa é meio pra ver se eu consigo me esquecer dos meus problemas.
        _ Mais isso você não precisava pedir...
        Ele foi à cozinha e voltou com mais duas latinhas de cerveja.
        _ Quando eles chegam??        _ Ficou combinado de eles me ligarem quando eles chegassem ao “LEITE AO PÉ DA VACA”.
        Nesse momento o celular dele tocou.
        _ E falando neles...
        Ele atendeu e eu mais uma vez voltei para o piano.
Mas, dessa vez, eu toquei uma música que eu sabia que ele gostava muito. Ele desligou e parou um pouco pra me ouvir.
        _ Você quer vir comigo?
        _ Você acha que eu devo ir??        _ Não, realmente eu tenho condições de dirigir agora. Mais se você quiser vir, seria bem legal.
        _ Acho que não. Por mais que você não queira, você tá precisando de um tempo sozinho pra pensar.
        _ É, eu acho que você tem razão. Então, eu já volto ta?
        _ Sim. Não se preocupe ta?
        Ele saiu.
        Assim que eu ouvi o carro entrando na estrada, eu fui correndo ao quarto dele. Estava exatamente como da última vez em que eu estive, exceto pela cama de casal. Eu abri o guarda-roupa, e comecei a fuçar nas gavetas Dele, e eu vi uma foto que me doeu um pouco. Ele e ela. Estava dentro de uma caixa junto com outras fotos deles, e dele sozinho.
        Eu achei uma foto dele na praia, sem camisa, só de shorts, eu decidi que eu ia pegá-la pra mim. Quando eu tava arrumando a caixa no lugar, eu ouvi o carro entrando, mais não era o dele. Depois de um tempo pequeno, eu ouvi o barulho da caminhonete.
        Rapidamente eu coloquei a caixa no guarda-roupas, e fui com a foto enfiada no bolso encontrar todo mundo que estava chegando.
        Depois das apresentações da casa, das cerimônias iniciais, eu consegui dar uma escapada, e fui esconder o meu pequeno furto na minha mochila.
        _ O Vicente, vem tocar um pouco de piano pra nós!
        Era o Caio me gritando de dentro da sala.
        Quando eu me virei pra voltar pra dentro, eu o vi olhando distraído pela janela.
        Quando eu entrei, a Juliana já estava no lugar que o Caio havia ocupado antes. Eu fui meio a contragosto e me sentei ao lado dela.
        Eu queria mil vezes que o Caio estivesse lá...
        Assim que eu terminei de ajeitar a cadeira, ela pôs a mão na minha cocha, e pediu:
        _ Toca uma música da Cássia Eller pra mim?
        Juro que quase a mandei à merda. Eu só toquei porque mais pessoas pediram também.
        Eu terminei a música e alguém deu a ideia de nós irmos lá pra fora pra começar o churrasco.


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Ficha do conto

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Nome do conto:
Os Imorais falam de Nós - Capítulo 4

Codigo do conto:
60895

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
18/02/2015

Quant.de Votos:
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