Me Chifre! 2/3



II — GERMINAÇÃO
O silêncio de Beta na manhã seguinte aliviou parte do meu medo de que fosse à polícia fazer exame de corpo de delito, mas era provável que ela ainda estivesse sob efeito do trauma, se agarrando à rotina numa tentativa inconsciente de convencer a si mesma de que nada daquilo acontecera. Síndrome de trauma de estupro. Eu já lera sobre isso. Naquele dia voltei mais cedo do trabalho, com um buquê de flores e um cartão com duas palavras que, só depois percebi, mais pareciam uma ordem que um pedido de desculpas: 'Me perdoa'.
Mais um mês se passou e nossa vida voltou ao normal. Num acordo tácito, deixamos as amarras de lado, mas no dia a dia ela continuava passiva como sempre, devotada a mim com uma espécie de senso de obrigação que eu não entendia. Era amor? Era submissão? Era fraqueza? Sua vulnerabilidade me parecia tão grande que quase sem querer me vi pegando gosto por aquele jogo perverso de testar seus limites. Maltratava-a principalmente nos dias em que me sentia irritado, tenso ou aborrecido, como quando peguei uma virose daquelas que te derrubam por quase uma semana e te fazem se sentir um inválido estirado num leito de hospital, sem nada para fazer além de assistir TV o tempo todo. No começo da terceira noite, depois de abusar da boa vontade de Beta por quase 48h e mal conseguindo me levantar da cama, pedi para ela pegar um analgésico no gabinete acima da pia do banheiro. Tinha vertigens e não queria que ela soubesse.
"Qual você quer?"
"Qualquer um, sua tonta", xinguei e ela não retrucou. "Fraca. Você é tão fraca." Do quarto, pela porta entreaberta, vi sua mão ir de um lado para o outro diante da prateleira inferior, indecisa entre duas cartelas. "Aí não, porra! Em cima!" gritei e imediatamente senti uma pontada de dor, mas ela não viu. Ofendida com mais aquela grosseria, fechou o gabinete e fez menção de sair do banheiro. Eu mal podia acreditar naquele arremedo de brio. "Vai me deixar sofrer? Não sabia que era tão insensível." A inversão chantagista funcionou e ela deu meia-volta. Não deixei por menos: "É uma fraca mesmo".
Ela me encarou por um segundo. Quando falou, sua voz estava carregada de desprezo: "Foi por isso mesmo que você me escolheu, né? Você precisa dessa afirmação. Você precisa provar pra você mesmo que existe alguém no mundo mais fraco que você, mais frágil que seu orgulho e seu equilíbrio mental".
Aquela ousadia me deu uma vontade quase incontrolável de lhe dar um tapa na cara, mas ceder ao impulso só confirmaria tudo que ela acabara de dizer. Eu certamente ganharia muito mais cuidando da minha saúde. Em dois dias já estava quase novo, livre das dores no corpo e da febre de quase quarenta graus, mas ainda me sentia fraco e achava que conhecia o melhor remédio para isso. Onde estaria Beta? Na cozinha, para variar... Flagrei-a num rebolado involuntário, esfregando panelas de costas para a porta, alheia à minha chegada. De um salto, encoxei-a contra a bancada da pia, levantei a saia, arranquei a calcinha e juntei seus pulsos para trás.
"Cadê as algemas?" sussurrei no seu ouvido, mordiscando o lóbulo da orelha.
"Pensei que a gente não fosse mais usar essas coisas." Inclinou a cabeça para o outro lado, para longe dos meus dentes.
"Vamos brincar um pouco. Você está tensa. Isso vai te ajudar a relaxar."
"Quer dizer TE ajudar a relaxar, né?" Virou o rosto para trás.
Não respondi. Se não ia por bem, ia por mal. Rasguei a frágil calcinha de renda branca e a usei para amarrar seus pulsos. Puxei o pano de prato com o gancho de ventosa da parede e tudo, abri a torneira e segurei o pano sob a água corrente até encharcar. "Vai dizer que você não gosta?" Torci o excesso de água. "Pensei que gostasse."
"Assim não. Para, por favor. Estou te pedindo."
Afastei bem suas pernas, curvei-a sobre a pia com as mãos para trás, levantei a saia até as costas e com o pano úmido açoitei-lhe a bunda até ficar vermelha. A visão do rabo marcado e empinado quase fez meu pau saltar de dentro das calças, mas dessa vez não estávamos no sítio; se eu levasse a cabo a ideia que tinha em mente, Beta gritaria e se debateria de tal forma que algum vizinho acabaria ouvindo. Em vez disso, meti de uma vez na buceta mesmo, puxei-lhe os cabelos com força suficiente para fazer a parte de trás da cabeça encontrar o ombro e soquei fundo até despejar bem lá dentro a última gota de porra. Quando a larguei e soltei suas mãos, ela apoiou-as em punho na bancada, corpo trêmulo, cabeça baixa. Naquela posição eu não podia ver seu rosto, mas desconfiava de que estava chorando de novo. Se estivesse, eu ia querer ver.
"Está se sentindo melhor?" perguntou em tom acusador, ainda apoiada na pia. Isso mexeu com algo na minha cabeça. "Está se sentindo melhor agora, está?"
Não. Me sentia mais doente que nunca; me sentia um covarde. Mas, como um típico covarde, não admitiria isso para ela. O máximo que fiz foi me aproximar no dia seguinte com um pedido de desculpas, que ela a princípio recusou mas depois acabou aceitando, como todos os anteriores. Aleguei que andava estressado, impulsivo, e que esperava dela, minha esposa, que fizesse um esforço para me entender e perdoar. Claro que havia ideias perigosas por trás daquele discurso, mas Beta não reconheceria o machismo nem se ele a estuprasse e espancasse todos os dias pelo resto da sua vida. Aquela era sua realidade. Sempre fora.
O período de calmaria durou quase duas semanas. Uma tarde, procurando pornografia para baixar no computador do escritório, tive uma ideia que me deixou de pau duro pelo resto do expediente. Beta assistia a uma comédia romântica estilo Cinderela quando cheguei do trabalho e sem falar nada me sentei do seu lado no sofá da sala. Carinhosamente beijei seu pescoço, tirei sua roupa e desci a boca pelo seu corpo até a buceta. Fui todo atencioso no oral, caprichando bastante para deixá-la bem molhadinha, coisa que havia meses não fazia. Ela pareceu surpresa com tantos cuidados, e mais ainda quando parei e pedi que se maquiasse.
"Pra quê?"
"Obedece."
Quando voltei para a sala, máquina fotográfica em punho, ela fugiu para debaixo da manta do sofá.
"Ainda está molhadinha?"
"Se não enxugar, não seca de uma hora pra outra", respondeu friamente, como se além de tudo tivesse que me explicar o óbvio.
"Tira a manta, tira?"
Ela baixou os olhos e com mãos hesitantes puxou a manta, descobrindo por etapas os peitos, a barriga e a virilha, feito virgem tímida. Apontei a câmera para a buceta de pelos aparados e me aproximei mais.
"Abre as perninhas, amor. Assim não, não dá pra ver nada... Melhorou. Mais um pouco. Tem que dar pra ver a xaninha aberta. Isso, bem arreganhada." Acompanhei o comentário com um sorriso malicioso e ela se apressou em fechar as pernas antes que eu pudesse ajustar o foco e apertar o botão da máquina. "Desculpa, amor. Foi só uma brincadeira. Faz de novo, vai. Só pra mim... Assim. Pronto. Agora mais uma abrindo com os dedos... Isso. Abraça os joelhos por baixo, quero que dê pra ver o cuzinho também. Hmmm. Estica as pregas e alisa ele com a pontinha do dedo. Isso. Espalha o melzinho nele. Agora enfia. Mais. Até a metade. Tesão. Está me dando uma vontade de meter aí... Meu pau está duraço. Vou meter no seu cuzinho, você deixa?"
O pedido deve ter reavivado na sua cabeça todas as sensações da curra na poltrona, porque ela na mesma hora afundou no sofá, pernas encolhidas e expressão relutante, numa pose defensiva que só aumentou meu tesão e minha vontade de registrar a cena. Reergui a câmera e recuei alguns passos para uma foto de corpo inteiro.
"Rosto não."
"Ou é de corpo inteiro ou de corpo inteiro com marcas roxas. Você escolhe", ameacei e ela me olhou assustada. "Estou brincando, amor. Faz pra mim, por favor. Só com as pernas abertas pra mostrar o melzinho. Ninguém vai ver. É só pra eu usar de referência pra um desenho."
Movi o abajur para a mesa de centro, tirei a foto e ampliei a imagem no visor para ela se ver exposta por inteiro, buceta arreganhada e melada.
"Acabou?"
“Como assim, ‘acabou’? Já esqueceu o que pedi?” Apoiei um joelho na beira do sofá, pairando ameaçadoramente sobre ela. “Não precisa ficar com medo, vou devagar. Olha, só um dedinho.” Apalpei o rego à procura do buraquinho e comecei a enfiar e tirar o médio inteiro em movimentos lentos e contínuos, com um giro completo a cada dedada. “Assim, não é gostoso?” Dei-lhe alguns minutos para que se acostumasse à invasão antes de aumentar o calibre, mas foi só encostar a cabeça do pau na portinha que ela se esquivou. “Deixa, amorzinho...” De novo pressionei e de novo ela se esquivou. A relutância me excitava e lhe dei algum espaço para se contorcer, saboreando cada tentativa de fuga da minha presa. A cada investida, empurrava um pouco mais, com calma e paciência, até entrar toda a cabeça. Com um grunhido, ela se remexeu toda e tentou tirar, mas nessa hora prendi-a de verdade e colei a boca no seu ouvido: “Shhh... Quietinha...” Fiquei parado com a cabeça do pau enfiada, o anel pulsando na bainha. “Assim. Sente minha pica no cu, sente como é bom. Você gosta, né? Gosta sim...”
Ela buscava a porta da sala com olhos aflitos, como se contasse os segundos para tudo acabar. Embora a expressão não fosse de dor como na primeira vez, o desconforto era óbvio. Um balde de água fria para qualquer homem de caráter, mas que só me deu ainda mais vontade de deixar aquele cu todo ralado e recheado de porra. Coloquei-a de quatro e fui empurrando o resto de soquinho até os pentelhos encostarem na bunda.
“Minha putinha está gostando de levar rola no rabinho? Se estiver, rebola pra eu ver. Rebola com minha pica enterrada no cu”, pedi baixinho, mas Beta continuava imóvel, trepada no encosto do sofá feito uma gata tentando livrar o rabo das mãos de um moleque encapetado. Perdi a paciência e dei-lhe um tapa na bunda. “Mandei rebolar!” Nem um giro inteiro e parou. Não importava, eu já estava quase. Para deixar ainda mais apertado, enfiei dois dedos na buceta e soquei até o fundo. “Vou gozar. Vou gozar no seu cuzinho, você deixa?” pedi atrasado, já esguichando o primeiro jato rabo adentro.
A porra foi tanta que escorreu feito cascata assim que me desencaixei dela. Quando Beta se virou e viu aquela mistura gosmenta no meu pau, imediatamente correu os dedos fechados da base até a cabeça, preferindo melecar a própria mão a deixar a sujeira onde já estava. Saiu em direção ao banheiro da suíte com passinhos esquisitos, bem devagar para não sujar o chão, uma poça de esperma na palma da mão em concha e um filete escorrendo entre as pernas. Na porta do quarto, como se fizesse um esforço para voltar ao assunto, se virou para mim e pediu com voz cansada:
“Apaga aquela foto, por favor.”
“Já disse que é só pra fazer um desenho. Você não confia em mim?” fingi indignação.
E realmente fiz o desenho; mas não foi ele que publiquei na comunidade virtual de artistas amadores da qual fazia parte, e sim a foto. As reações nas seis páginas de comentários foram as mais variadas: uns faziam piadas sujas, outros discutiam se era arte ou pornografia, poesia ou autopromoção. Alguém criticou minha total falta de técnica e perguntou se a foto fora tirada com o celular ou alguma câmera automática de baixa resolução. Só um atentou para o mais importante: ‘Ela parece triste. Por que ela está triste?’ Menos de 24h depois, minha conta foi cancelada sem aviso.
Essa foi uma das nossas últimas preliminares. No resto do tempo, era na base da chicotada, como naquele primeiro dia do cinto. Eu já nem me preocupava em evitar as marcas e hematomas, chegando por vezes a fazer de propósito, na cama ou fora, com ou sem pretexto. E Beta? Tão acostumada a se esconder sob a maquiagem e o silêncio que provavelmente já não se reconhecia sem eles. Agia como se não soubesse que violência doméstica é crime, assim como eu. Dei provas suficientes disso no bar perto do sítio, no começo de uma noite de sábado, quando cheguei para comprar cerveja e dois caras comentavam um acidente de carro.
"Nada de mais", um dizia. "Pancadinha à toa. Acontece com todo mundo."
"Comigo não", o outro se defendeu. "Nunca bati."
Me meti na conversa: "Já ouvi muito isso. Eu não, já bati muito. Pra aprender".
O primeiro, versado na prática, me surpreendeu com o sorriso largo de orgulho e satisfação daqueles que identificam um igual na multidão. Foi quando um grandalhão, que até então só entreouvira a conversa de uma das outras mesas, me encarou feito boxeador adversário na pesagem que antecede a luta e disse em voz alta: "É? Se eu fosse você, tomava cuidado. Um dia morre ou vai pra cadeia e não sabe por quê".
Isso calou a boca dos três. Sem fixar o olhar em nenhum deles, paguei o balconista, peguei as cervejas e saí para o estacionamento.
Em casa, Beta chorava no sofá da sala, rosto entre as mãos, como vinha acontecendo com frequência cada vez maior, no que me parecia uma depressão quase tão profunda quanto sua determinação em aguentar tudo calada. Ainda queria acreditar? Pensaria ter investido demais em mim — sua virgindade, sua juventude, seus sonhos, sua autoestima — para me ver sair por aquela porta sem deixar em troca pelo menos um punhado de boas lembranças?
"Você precisa de ajuda profissional, Beta", declarei com superioridade, só para não perder a chance, nem de longe tendo considerado a possibilidade de abrir mão da necessidade que ela parecia ter daquele ou talvez de qualquer outro relacionamento.
"Eu preciso é do seu amor", se esforçou para falar através do choro, engolindo os soluços feito criança. "E sei que se eu continuar te amando também, sua raiva vai passar e seu lado bom vai aparecer. Bela não conseguiu amansar Fera com amor?
Então essa era a origem de parte da sua complacência. Eu quis rir, mas no fundo aquilo não tinha a menor graça. O que saiu foi um sorriso cheio de dentes, um sorriso que sugeria que o final feliz de A Bela e a Fera não passava de uma grande, conveniente e perigosa mentira. Que os abusos de Fera, recompensados por Bela com amor e submissão, foram pouco a pouco se multiplicando e intensificando até um ponto insustentável. Que Bela, vendo-se num beco sem saída, acionou a Justiça e pediu o divórcio, mas Fera respondeu com insultos e ameaças, porque casamento de fera só termina quando a fera quer.
Embora fosse muito para ser dito num único sorriso, Beta pareceu captar a ideia. Boquiaberta, olhos arregalados, deu um passo para trás e se retirou sem uma palavra. Deve ter passado a noite em claro, porque logo na manhã seguinte chegou dizendo que precisávamos conversar. Tagarelou por quase meio minuto sobre como se sacrificara pelo casamento, atendera a todos os meus caprichos, ignorara meus abusos até onde aguentara, e mais uma série de justificativas que fiz questão de ignorar só para deixar claro que sua opinião não tinha a menor importância. Terminado o discurso, levantei os olhos e disse em voz baixa: "Vai fazer uma lasanha. Quero almoçar antes de voltar pra cidade". A ordem ficou sem 'sim' nem 'não'. Meio aérea, como se em estado de choque, ela tomou as chaves do carro e o rumo da porta. Estranhei. "Aonde você vai?"
"À venda. Na despensa não tem massa pra lasanha."
"Hum. Certo."
Uma hora se passou sem que ela voltasse ou atendesse o celular. Algo me dizia que planejava qualquer coisa como pegar a estrada para a capital, esvaziar suas gavetas e de lá fugir para a casa dos pais no interior. Eu já pensava num jeito de voltar sem o carro quando ela enfim apareceu com as sacolas de compras. Mais meia hora e trazia a travessa e o vinho, servil como sempre. A lasanha é que não parecia a mesma.
"Gosto amargo."
"O molho é de outra marca. A que eu uso não tinha."
"O vinho também parece amargo."
"É", respondeu secamente.
"Não vai almoçar?"
"Estou sem fome."
O relógio de parede deu duas badaladas. Cerca de quatro horas para o anoitecer, tempo de sobra para descansarmos um pouco antes de pegar a estrada. Mas descansar de quê? Era domingo à tarde e eu me sentia mais relaxado que se tivesse entornado uma garrafa de uísque, embora não tivesse passado de duas taças de vinho. Tirei a camisa e me deitei no sofá com um livro, para nada; não me lembro de ter conseguido virar três páginas.

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Ficha do conto

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Nome do conto:
Me Chifre! 2/3

Codigo do conto:
85754

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
04/07/2016

Quant.de Votos:
3

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