Armário de Corno 4/4



Ouvi o ronco da cafeteira e me vi de costas na cama banhada pelo sol da manhã. Sentia-me cansado, satisfeito, culpado, tudo ao mesmo tempo. Alguém tinha que pagar por eu ter gostado daquilo, e adivinha quem sempre leva a culpa de todos os males e erros do mundo, desde Pandora e Eva? Sam apareceu no quarto vestindo um baby-doll branco sob um peignoir semi-transparente e me vi com inveja da sua juventude, sua beleza, sua feminilidade. Talvez eu fosse mesmo um dos afeminados do Ateneu. Talvez o tal do cross-dressing literário fosse a única coisa que me impedisse de desfilar na frente do espelho com as calcinhas da minha esposa.
Duas horas depois, eu tocava escandalosamente o interfone do apartamento do psicanalista. Subi às pressas os quatro lances de escada para encontrar a porta entreaberta e Marco encostado na parede do fundo do corredor, sem camisa, botão das calças aberto, um sorriso sacana no rosto. Foi só eu entrar que o sorriso se alargou, a língua umedeceu a boca, os dentes mordiscaram o lábio inferior e a cabeça se inclinou na direção do quarto. Convite mais franco impossível. Tentei ser breve nas minhas desculpas e avisos de que aquilo não poderia se repetir, mas Marco limitava sua resposta a um sorriso de canto e eu sabia o motivo: enquanto minha boca dizia 'minha casa', meus pés apontavam para a cama dele. Olhei o relógio de pulso e pedi licença para usar o banheiro. Com a porta aberta, claro.
"Saudade do meu pau?" sussurrou quase às minhas costas, enquanto eu ainda sacudia o meu.
Agarrou-me pela gola da camisa e praticamente me arrastou para a cama. Rendido ao poder daquelas mãos firmes de macho, deixei-me ser conduzido para onde ele queria, do jeito como queria, minhas calças abertas e tudo. Parei de quatro no colchão e pela minha visão periférica captei o movimento da espada sendo desembainhada e da mão direita remexendo a primeira gaveta do criado-mudo. Mão e pica fartamente lubrificadas do tubo quase novo de KY que tirou dali, puxou minha mão para seu pau, guiou um lento sobe-desce e passou a dele por entre minhas coxas para me envolver com a pressão certa, criando uma passagem apertada e escorregadia. Com cerca de cinco minutos de bronha mútua, estirou-se entre meus joelhos e ofereceu a boca para eu foder. Ele me dava toda a liberdade, mas eu, por medo de errar o passo ou tempo, continuava esperando seus comandos. Começou com uma sucção leve, língua se agitando sob a glande, lábios indo e vindo com calma e firmeza da cabeça ao talo, mão lubrificada pouco a pouco se aventurando entre as bandas da bunda. Na terceira engolida, a pressão aumentou e o dedo abriu caminho. Marco tirou a boca, olhou-me fixamente e foi empurrando de mansinho a porta da minha câmara mais secreta. O dedo se mexeu livremente, explorou tudo em volta, curvou-se em gancho e alisou a próstata, como se chamasse o gozo. Isso fez meu corpo amolecer, derreter, virar geleia, com exceção de uma parte que, muito pelo contrário, não ficava tão dura desde a primeira vez que Sam me dera a bundinha na cama dos pais dela. Toda a tensão magicamente desfeita, como se aquele ponto sozinho comandasse meu corpo inteiro, a mão começou seu vaivém fluído e obstinado, sempre em busca do epicentro do terremoto que já me sacudia de norte a sul. Mais meio minuto daquilo e eu ia gozar.
Marco também já estava em ponto de bala. Abaixei-me para retribuir o favor e gostei da ideia de ter que me esforçar para abarcar seu diâmetro. Para usar uma expressão pertinente, o cara era ‘cheio dos predicados’. Com um sorriso sacana de dominador, pegou o pau pela base e deu três pancadinhas com a cabeça na minha língua esticada, sinalizando a hora de a minha boca pôr em prática as lições aprendidas na foda anterior, mais uma vez, melhor. Lambi a glande em círculos, fiz pressão com os lábios no corpo do caralho, engoli até onde meus reflexos permitiam. Mamei como se fosse meu último boquete até ele chegar pela segunda vez à beira do descontrole e enfim se ajoelhar atrás de mim, ofegante. Dessa vez tirou do criado-mudo um pacote de camisinhas, que jogou no meio da cama. Quando me pediu para eu abrir a embalagem, perguntei-me se sua outra mão estaria ocupada e com o quê. Virei-me e o vi tocando uma bela bronha para minha bunda erguida.
"Põe a camisinha pra mim." Balançou a pica de um lado a outro da virilha com pentelhos recém-aparados e marca de sunga. Tracei com a ponta do dedo a linha que delimitava a área de acesso restrito e desenrolei a camisinha até a base. "Pro chuveiro." Fechou a mão no meu pescoço como uma coleira e foi me guiando. "Fecha os olhos e só abre quando eu mandar."
Ouvi o chuveiro ser ligado e senti mãos ensaboadas me virarem para a parede e escorregarem por toda a curva da minha bunda. Tentei achar seu pau, mas ele recuou para fora do meu alcance e ordenou que eu não o tocasse. Sem a visão ou o tato, tive que caçar a rola no faro e na audição, ajudado pelos comentários e risadas do Marco, que fugia entre pistas esporádicas, achando graça da minha urgência em tê-lo em qualquer parte do corpo. Ficou só fazendo suspense, provocando, até eu jogar as últimas reservas por terra e me empinar despudoradamente para ele. Não adiantou. Para sentir de novo tudo aquilo dentro de mim, eu ia ter que rebolar. Literalmente. Enfim entraram dois dedos e depois o pau, quente e tão duro que parecia me rasgar a cada investida. Seus gemidos se elevaram pouco acima do som da água corrente e o ritmo foi crescendo com lentidão enlouquecedora, como se para prolongar ao máximo nosso prazer. Não fossem os braços do macho, minhas pernas trêmulas teriam me feito escorregar para o chão.
Acabou rápido demais. Quando vi, estávamos deitados na cama, banho tomado, eu aninhado no seu peito peludo, discorrendo sobre Sam e nossas incursões eróticas num site para escritores chamado Recato das Letras ou coisa parecida.
"Vale tudo... desde que com amor. Abaixo os falsos pudores... desde que sempre com a mesma pessoa", resumiu o que eu contava com meu orgulho de homem que acredita ter escolhido certo. "Essas são as regras dela, e pelo visto um fardo tão pesado que precisa ser dividido com todas as outras mulheres. Odes e mais odes ao casamento. Não é óbvio o desespero?"
"Ela aguenta. Casou virgem."
"Isso não é vantagem. Muito pelo contrário."
"Por quê?"
"Imagina se você tivesse casado virgem. Não ia estar doido pra conhecer outras mulheres?"
"Hum. Mas enquanto ela estiver criticando, é porque não está fazendo."
"Não necessariamente. A hipocrisia nem sempre é inconsciente, Nelsinho. Você sabe disso." Abriu um sorriso acusador. "Aliás... Já que gosta tanto de ser as mulheres dos seus contos, deve gostar de se ser também nas suas trepadas. Quero que venha com uma calcinha da Sam pra nossa próxima foda.”
"Que tipo de calcinha?"
"Uma bem safada, daquelas que a bunda engole." Riu. "Só tem uma coisa. Se você vai se vestir como mulher, eu vou te tratar como mulher."
A promessa me deixou aceso a ponto de no mesmo dia rodar várias lojas de lingerie. Acabei parando numa sex shop, caso quiséssemos incrementar a fantasia. Sim, cinta-liga, meias 7/8, saltos e tudo mais que faltasse para uma produção digna de suíte com hidro e espelho no teto.
Fui quase todo montado por baixo da roupa social, os sapatos de salto numa sacola branca que me recusei a abrir até estar tudo pronto. Ele anunciou que ia tomar um banho, mas nem deu tempo. Quando veio do banheiro enrolado numa toalha, eu já estava só de cinta-liga, meias, saltos e calcinha preta fio dental, bunda no ar e testa no travesseiro, doido para levar palmada de deixar marca, enterrar o nariz naqueles sovacos suados de macho provedor, tomar leitada na cara e fazer tudo que a maioria das mulheres detesta.
A visão inesperada fez Marco parar na porta do banheiro. Daquele meu ponto de vista invertido, no triângulo formado pelas minhas pernas escancaradas e a cama, vi ele deixar a toalha cair para o chão e vir crescendo no meu campo de visão até se reduzir a um par de coxas, um saco peludo e um pau apontado para o teto. Ajoelhou-se no colchão, segurou-me pelas ancas e lambeu minhas costas da linha da cintura até a nuca. Passou um dedo por baixo da junção dos fios em Y, cuja espessura era tão próxima à de um fio dental que mal tapava meu cu depilado, e foi deslizando bem devagar pelo comprimento, desenterrando centímetro por centímetro aquele arremedo de roupa íntima. Empinei mais e ensaiei um rebolado tímido. Suspirava de antecipação quando ele puxou o fio para o lado, abriu minha bunda com as duas mãos, passou o dedo pelo rego de cima a baixo e esticou o pescoço para um enlouquecedor banho de língua. Provavelmente teria desmontado de tesão se a promessa do outro dia não tivesse me feito reerguer a bunda no último segundo, na expectativa de um tapa.
O tapa não veio. Veio beijo, carinho e chupão, vários e bem molhados, do cóccix até o pescoço, e por fim o rosto barbado no meu, rumo à minha boca virgem de língua de macho. Fiquei parado, sem encorajar nem repudiar, mas ele virou minha cabeça e amassou os lábios nos meus. Morto de vergonha do Marco e de todos aqueles espelhos refletindo aquele momento tão singular da minha vida, estiquei a língua com a relutância de uma adolescente tímida com medo do primeiro beijo e deixei que ele a lambesse sensualmente, saboreando.
"Você está muito gostosa nessa calcinha. É da Sam?"
"Não, comprei numa sex shop. Minha esposa não tem nenhuma roupa tão safada quanto eu." Sorri e ele me deu um beijo de língua que me deixou sem ar. Dessa vez não ia dar para esperar nem o boquete.
"Deita.”
"Como quiser, meu macho."
Marco riu da minha subserviência e acariciou os cabelos da minha nuca. "Hoje você é uma mulher, não um sub. Você quer deitar?"
"De costas", impus a condição e ele se deitou entre minhas pernas abertas para uma chupada de revirar os olhos. Uma quantidade farta de gel frio se espalhou pelo meu rego e meus quadris subiram para liberar o acesso. "Enfia dois dedos na minha buceta."
"Está me saindo melhor que a encomenda." Olhou-me nos olhos e começou a enfiar os dedos aos poucos, avançando e voltando algumas vezes enquanto me chupava.
"Caralho! Assim eu gozo!"
"Então vem, safadinha! Mostra a mulher que você é e faz o que quiser comigo." Pôs uma camisinha e sorriu seu sorriso irresistível. Não pensei duas vezes. Montei no corpanzil estendido de costas na cama e me preparei para descer por vontade própria, agora sim numa cena digna de todos aqueles espelhos. "Olha pra trás", sussurrou com voz rouca. O que vi no espelho foram ambas as suas mãos separando as bandas da minha bunda como se fossem me rachar ao meio e a cabeça apontada bem para o olho do meu cu. "Abre você mesma e vem descendo devagarzinho. Quero ter uma visão privilegiada dessa bundinha gulosa engolindo meu pau até o talo."
Forcei devagar até a passagem se abrir e ele começar a entrar. Era grande a vontade de ver também, mas ainda maior a dificuldade de manter os olhos abertos naquela nova posição que me permitia sentir melhor que nunca seus 19cm me recheando por completo. Um beijo me despertou do transe e duas mãos firmes começaram a guiar meus quadris num sobe-desce frenético, fazendo-me pular naquele mastro. A direita saiu para me punhetar gostoso e o instinto se encarregou de manter o ritmo. Rebolei, quiquei, esfolei o rabo naquela pica dura como ferro até sentir o gozo chegar.
Lavei a alma, e de quebra também a cara do Marco. De porra. Quando abri os olhos, o caldo branco escorria pelo seu rosto sorridente, gotejando do queixo para uma pequena poça na depressão do pescoço. Um rio de suor escorria pelas minhas costas. Eu transpirando e arfando feito corredor de 110 metros com barreiras em final de prova e ele lá me olhando com um sorriso tranquilo, apenas um espectador daquele meu recorde de esforço físico e psicológico. Sem pausa para respirar, desencapei seu pau e mamei até ele começar a gemer e descer uma mão para terminar na punheta, jorrando vários jatos de porra quente nas minhas faces, nariz, boca e queixo. Direto do produtor, sem intermediários.
Faltavam quinze para as oito quando cheguei em casa. Sam estava ao computador, nariz enfiado na tela, ombros curvados como se por um peso invisível, exatamente como eu sabia que estaria. Ao me ver, chamou-me para ler um trecho de um conto de outra autora assídua do tal site.
"Mais um de sexo casual. Quanta liberdade! E essa foto?" perguntou enojada.
"Que tem a foto?"
"O sorriso. Como pode uma mulher ser feliz desse jeito?"
"Quer dizer sem viver numa prisão?" respondi sem rodeios. Ela me olhou sobressaltada. "Você também pode, Sam."
"Ahn?"
"Pode ver outras pessoas. Eu entendo."
"Mas o quê... Como... Jura?"
"Juro."
Na hora ela não disse mais nada, mas no fim da tarde seguinte anunciou que iria ao cinema com uma amiga. Fiquei só olhando enquanto se arrumava e pegava a bolsa para sair.
"Sam?" perguntei no último segundo. Ela parou na porta sem se voltar completamente, como se por medo de me ouvir dizer que estava brincando e mandá-la esquecer tudo. "Leva isso." Estendi-lhe uma camisinha, que ela pegou sem dizer nada, uma mistura de perplexidade e desconfiança no rosto. "Vai em paz. Eu te amo."
Não era brincadeira. Eu sabia que lhe devia isso; por cada elogio rasurado, cada rima perfeita perdida na tradução, cada licença poética mal-intencionada, cada poema sem poesia, cada ironia velada, cada traição, cada promessa quebrada, cada vez que ela precisou da minha compreensão e eu, bicho egoísta, só enxerguei meu próprio umbigo.
Respirei fundo e puxei a cadeira para escrever, agora sem os impulsos refreados, a crítica implacável e o castigo simbólico apregoado pelos caça-dízimos. Quebrando todas as regras.

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Ficha do conto

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Nome do conto:
Armário de Corno 4/4

Codigo do conto:
89196

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
16/09/2016

Quant.de Votos:
5

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