Como se não bastasse, a cada dia que cruzo com ele na cafeteria, ele me observa... me observa... e me observa. Se bem que, quando me vê com Mike ou os outros caras, vai embora depressa. Que coisa!
Hoje estou atoladíssimo com as pilhas de papel que o maníaco do meu chefe me pediu. Como sempre, parece esquecer que Mike, embora seja o secretário do senhor Zayn, é quem deve se ocupar de cinquenta por cento da papelada que gerenciamos.
Na hora do almoço aparece no escritório o objeto dos meus sonhos úmidos e, após cravar seu olhar insistente sobre mim, entra na sala do meu chefe sem bater na porta, e dois segundos depois eles saem juntos e vão almoçar.
Quando fico sozinho, me sinto enfim aliviado. Não sei o que acontece, mas a presença desse homem me dá calor e faz meu sangue ferver. Depois de arrumar um pouco a minha mesa, decido fazer o mesmo que eles e ir comer. Mas é tamanha a confusão de papéis que me esperam que, em vez de usar minhas duas horinhas para o almoço, saio apenas por uma hora e volto em seguida.
Ao chegar, enfio minha mochila no gaveteiro, pego meu iPod e coloco os fones de ouvido. Se há algo de que gosto nesta vida, é música. Minha mãe ensinou a meu pai, minha irmã e a mim que quem canta seus males espanta. Este é, entre outros tantos, um de seus legados, e talvez por isso adoro ouvir música e passo o dia cantarolando. Após ligar meu iPod, começo a cantar enquanto me ocupo dos papéis. Minha vida se reduz à papelada!
Entro carregado de pastas na sala do maníaco do meu chefe e abro uma espécie de aparador que usamos como arquivo. Esse aparador se comunica com a sala do senhor Zayn, mas, como sei que ele não está, relaxo e começo a arquivar enquanto cantarolo:
“Te regalo mi amor, te regalo mi vida,
a pesar del dolor, eres tú quien me inspira.
No somos perfectos, somos polos opuestos.
Te amo con fuerza, te odio a momentos.
Te regalo mi amor, te regalo mi vida,
te regalaré el Sol siempre que me lo pidas.
No somos perfectos, sólo polos opuestos.
Mientras que sea junto a ti, siempre lo intentaría
¿Qué no daría...? “
— Senhor Pardo, o senhor canta muito mal.
Essa voz. Esse sotaque.
Assustado, derrubo no chão a pasta que eu segurava. Me abaixo para pegá-la e, putz!, dou uma topada nele. No senhor Zayn. Com a angústia que tenho estampada na cara pela quantidade de gafes que estou cometendo com esse super chefão alemão...! Olho para ele e tiro os fones do ouvido.
— Me desculpe, senhor Zayn — murmuro.
— Não tem problema. — Toca meu rosto e pergunta com familiaridade: — Você está bem?
Como um bonequinho, desses instalados na parte traseira de alguns carros, faço que sim com a cabeça. Outra vez me pergunta se estou bem. Que fofo! Sem poder evitar, meus olhos e todo o meu ser o examinam em profundidade: alto, cabelo castanho com mechas louras, trinta e poucos anos, musculoso, olhos azuis, voz profunda e sensual... Convenhamos, um espetáculo.
— Lamento tê-lo assustado — acrescenta. — Não era minha intenção.
Volto a mover a cabeça como um boneco. Como sou bobo! Levanto com a pasta nas mãos e pergunto:
— O senhor Sánchez veio com o senhor?
— Veio.
Surpreso com a informação, já que não o vi entrar em sua sala, começo a tentar sair do arquivo, quando o alemão agarra meu braço.
— O que você estava cantando?
Aquela pergunta me pega tão de surpresa que estou prestes a soltar: “E o que você tem com isso?” Mas, felizmente, contenho o impulso.
— Uma música.
Ele sorri. Meu Deus! Que sorriso!
— Eu sei... Gostei da letra. Que música é essa?
— “Blanco y negro”, de Malú, senhor.
Mas parece que está achando engraçado. Será que está rindo de mim?
— Agora que você sabe quem eu sou, me chama de senhor?
— Desculpe, senhor Zayn — esclareço com profissionalismo. — No elevador eu não o reconheci. Mas, agora que já sei quem é, devo tratá-lo como merece.
Ele dá um passo na minha direção e eu dou outro para trás. O que está fazendo?
Ele dá mais um passo e eu, ao tentar fazer o mesmo, me grudo ao aparador. Não tenho saída. O senhor Zayn, esse cara sexy em cuja boca enfiei há alguns dias um chiclete de morango, está quase em cima de mim e se agacha para ficar da minha altura.
— Eu gostava mais quando você não sabia quem eu era — murmura.
— Senhor, eu...
— Edward. Meu nome é Edward.
Confuso e descontrolado pela excitação que esse cara imenso está me despertando, engulo a enxurrada de sensações que formigam por todo o meu corpo.
— Me desculpe, senhor. Mas isso não me parece correto.
Eu o encaro. Ele me encara também. E nossos olhares são seguidos por um silêncio mais que significativo, durante o qual nós dois ficamos com a respiração entrecortada.
— O gato mordeu sua língua? — me pergunta, rompendo o silêncio.
— Não, senhor — respondo, à beira de um colapso.
— Então onde escondeu o garoto brilhante do elevador?
Quando vou responder, ouço as vozes de meu chefe e Mike, que entram na sala. Zayn cola seu corpo ao meu e me manda ficar quieto. Sem saber muito bem por quê, obedeço.
— Onde está Johnata? — ouço meu chefe perguntar.
— Deve estar na cafeteria. Foi tomar uma Coca. Vai demorar — responde Mike e fecha a porta da sala do meu chefe.
— Tem certeza?
— Tenho — insiste Mike. — Vamos, vem cá e deixa eu ver o que você está usando hoje debaixo dessa calça.
Meu Deus! Isso não pode estar acontecendo!
O senhor Zayn não deveria ver o que eu acho que esses dois estão prestes a fazer. Penso. Penso em como distraí-lo ou despistá-lo, mas nada me ocorre. Aquele homem está quase em cima de mim, sem parar de me olhar.
— Tudo bem, senhor Pardo. Vamos deixar que eles se divirtam — me sussurra.
Quero morrer!
Que vergonha!!
Instantes depois, não se ouve nada exceto o som das bocas e línguas deles dois se encontrando. Assustado com aquele silêncio incômodo, espio pela abertura da porta do arquivo e tapo a boca ao ver meu chefe sentado sobre sua mesa e Mike acariciando-o. Minha respiração se acelera e Zayn sorri. Passa a mão pela minha cintura e me puxa ainda mais para si.
— Excitado? — pergunta.
Olho para ele e não digo nada. Não pretendo responder essa pergunta. Estou envergonhado pelo que estamos presenciando juntos. Mas seus olhos curiosos se cravam em mim e ele aproxima sua boca da minha.
— O futebol o deixa mais excitado do que isso? — insiste.
Ai, Deus! Ele é que me deixa excitado. Ele, ele e ele.
Como não ficar excitado com um homem como esse em cima de mim e diante de uma situação como essa? Que se dane o futebol! No fim, volto a fazer que sim com a cabeça como um bonequinho. Que sem-vergonha eu sou.
Zayn, ao me ver tão alterado, também move a cabeça. Espia pela fresta e me arrasta até ficarmos os dois diante do vão da porta. O que vejo me deixa sem palavras. Meu chefe está de pernas abertas sobre a mesa, enquanto Mike passeia sua boca com vontade no meio das coxas dele. Fecho os olhos. Não quero ver isso. Que vergonha! Instantes depois, o alemão, que continua me segurando com força, me empurra de novo contra o arquivo e me pergunta ao pé do ouvido:
— Está assustado com o que vê?
— Não... — Ele sorri e eu acrescento, cochichando: — Mas não acho certo a gente ficar espiando, senhor Zayn. Acho que...
— Espiá-los não vai nos fazer mal e, além do mais, é excitante.
— É meu chefe.
Faz um gesto afirmativo e, enquanto passa sua boca por minha orelha, sussurra:
— Eu daria tudo para que fosse você que estivesse em cima da mesa. Passearia minha boca por suas coxas, te viraria de costas, para depois enfiar minha língua dentro de você e te possuir.
Boquiaberto.
Perplexo.
Alucinado.
Mas... o que foi que esse homem disse?
Impressionado e absurdamente excitado, me preparo para dar uma resposta atrevida quando, de repente, todo meu corpo reage e eu sinto meu pênis endurecendo. O que esse homem acaba de dizer está mexendo comigo e eu não consigo disfarçar, por mais grosseiro que tenha sido o comentário dele. Então, o percurso de seus lábios se detém diante da minha boca. Sem tirar os olhos de mim, põe para fora sua língua molhada, passa por meu lábio superior, depois pelo inferior e, finalmente, me dá uma leve e doce mordidinha no lábio.
Não me mexo. Não consigo nem respirar!
Ao ver que estou ofegante, volta a esticar a língua e, sem pensar, eu abro a boca. Quero mais. Suas pupilas se dilatam. Confiante, enfia a língua na minha boca e, com uma habilidade que me deixa atordoado, começa a movê-la até me fazer perder os sentidos.
Esquecendo tudo, correspondo a suas exigências e em seguida sinto que sou eu quem se aperta contra seu peito musculoso em busca de algo mais. Me deixo levar pelo meu desejo. Durante alguns segundos, nos beijamos apaixonadamente no mais absoluto silêncio, enquanto escutamos os gemidos do meu chefe. Meu corpo treme ao contato de seu corpo. Sinto suas mãos agarrando minha bunda e tenho vontade de gritar... mas de prazer! Logo retira sua língua da minha boca e, sem tirar de mim seus olhos azuis, pergunta:
— Janta comigo?
Volto a balançar a cabeça, mas desta vez para negar. Não pretendo jantar com ele. É o chefão, o dono da empresa. Mas minha resposta não parece agradar, e ele afirma:
— Sim. Você vai jantar comigo.
— Não.
— Gosta de me contrariar?
— Não, senhor.
— Então?
— Não janto com chefes.
— Comigo sim.
Sua proximidade é irresistível, e o novo ataque à minha boca é arrebatador. Se antes houve faíscas, agora é puro fogo. Ardor... Calor... E, quando consegue me ter derretido em suas mãos, tira novamente a língua da minha boca e insinua um sorriso. Adoro essas insinuações!
Sem fala e perturbado, eu o encaro. Que merda estou fazendo? Sem se mexer um milímetro sequer, pega do bolso um Blackberry preto e começa a digitar. Minutos depois, ouço baterem na porta do meu chefe, ao mesmo tempo que ele me pede silêncio. Mike e ele se recompõem rapidamente e eu não consigo deixar de me surpreender com sua capacidade de reação. Segundos mais tarde, Mike abre.
— Desculpe, senhor Sánchez — diz uma voz que não reconheço. — O senhor Zayn quer tomar um café com o senhor. Está esperando na cafeteria do nono andar.
Através da porta entreaberta e ainda com o alemão em cima de mim, vejo Mike indo embora e meu chefe sai da sala. Nesse momento, sinto que a pressão desse homem sobre mim diminui, e ele me solta.
— Ouça, senhor Zayn...
Mas ele não me deixa falar. Volta a pôr um dedo na minha boca. Sinto vontade de mordê-lo, mas me contenho. E, após abrir as portas do arquivo, me olha e diz:
— Tudo bem. Não nos trataremos por “você”. — Caminha até a porta e acrescenta com uma segurança esmagadora: — Passo na sua casa às nove. Esteja lindo, senhor Pardo.
E eu fico olhando para a porta como um idiota.
Mas qual é a desse cara?
Quero gritar “não!”, mas, se eu fizer isso, o escritório inteiro vai me ouvir. Cheio de calor e agitado, saio do arquivo e, enquanto caminho até minha mesa, meu celular apita. Uma mensagem. Abro e fico espantado quando leio: “Sou seu chefe e sei onde o senhor mora. Nem pense em não estar pronto às nove em ponto.”
Estou perplexo com o quão maravilhosa está sendo essa sequência excitante de contos! Continue por favor. Queria ter o mesmo dom para escrever que você! Um beijo gostoso.