Eu fui vivendo fases diferentes nessa homossexualidade enrustida e mal resolvida. Depois do que experimentei por último, desisti de tudo. “Que se foda o mundo!” Concluí também que era impossível deixar meus filhos, minha família e acabar com o envolvimento pastoral. No fundo, de algum lugar, sentia ainda que talvez Deus pudesse fazer alguma coisa por mim e comigo. Comecei então a ignorar a culpa e a acachapante incoerêcia moral, ética e teológica. Passei a ter duas vidas, ambas bem definidas. Era um bom pastor, cuidava das pessoas, servia, jamais usei de dinheiro da Igreja, vivia uma vida simples, jamais manipulei alguém ou consentira em ter alguma coisa sexual com alguém da Igreja. Era um cara do bem, pregava, servia e cuidava de todos. Entretanto, havia um outro “eu”. Esse outro personagem era um cara sem limites na sua sexualidade. Cansara de gastar energia tentando sujeitar esse cara ao primeiro. Liberei geral e a coisa ficou desenfreada. Passei a sair com caras do bate papo semanalmente, viajava e ficava às vezes com até cinco caras diferentes. Fiz dupla penetração, fumei maconha, usei drogas, visitava banheiros e transava com dezenas de caras literalmente. Eu sabia que aquilo era uma forma de me punir, me auto-destruir, me auto flagelar. Minha auto-estima foi para a lama e fui me afastando de pessoas espirituais e preciosas. Me afastei de colegas amados de ministerio, me afastei de qualquer ligação emocional com qualquer pessoa. Meu casamento esfriou, me afastei dos meus filhos. Sentia vergonha de mim. Me via sujo espiritual e moralmente. Quando não encontrava caras disponíveis no perfil que me agradava, ativos, maiores do que eu e de pinto grande, eu procurava garotos de programa. Em uma só viagem saí com oito caras diferentes. Caras feios, horrorosos, alguns me causavam repulsa. Buscava o amor, a proteção e o aconchego de um homem bom. Difícil.
Saí com um cara baixinho, com rosto feio, olhos esbugalhados e um mega pinto de 23cm que me machucou muito... Saí com outro cara esquisito de pau grosso que no ato sexual teve um ataque de epilepcia, saí com o Flavio que trabalhava no café, com o velho que me comeu no banheiro do shopping, com o padre que me levou para a casa paroquial, com o Eduardo que estava saindo do exército, com o cara da rodoviaria, o jogador de futebol, o rapaz que trabalhava no turno da noite na industria... A coisa ficou desgovernada. Sexo virou uma “dose” de uma droga que ao acabar o efeito fugaz já me arrastava para outra busca alucinada por nova dose.
Sai em São Paulo com um negro muito alto e bonito, que morava na Consolação em uma passagem minha pela cidade. O cara foi super violento comigo e literalmente me arregaçou todo. Me bateu enquanto me fodia. Ele tinha mãos muito grandes e fortes e me pegava machucando todo. Me deixou com hematomas pela pele e corpo. Me machucou também metendo em mim sem dó com um pênis grande, comprido que me fez sangrar muito. Ele metia me odiando. Ao voltar para o meu carro, notei que a cueca estava cheia de sangue e aquilo havia vazado manchando também a minha calça. Chorei de tristeza. Na minha alucinação fiquei com caras em Manaus, Belém, Roraima, Cuiabá, Goiânia, Salvador onde saí com muitos caras, Recife, Belo Horizonte, Rio... Em Curitiba perdi a conta de com quantos homens saira. Sem nenhum exagero, em três anos fiz sexo protegido e desprotegido com centenas de homens. Casados, solteiros, bonitos, feios, jovens, velhos, ativos, versáteis e alguns passivos. Comi alguns caras também quando me apetecia.
Tentei parar várias vezes. Tentei dar um basta mas não via mais solução pra mim. Conheci alguns caras maravilhosos, pessoas humanas amáveis e maravilhosas. A maioria entretanto era gente em busca só de um buraco pra enfiar pinto. Outros finalmente era uns crápulas imbecis. Encontrei ouro puro e vermes, muitos vermes.
De vez em quando, na Igreja, caia em mim e chorava muito, pedia a Deus misericórdia. Na segunda feira, entretanto, a “roda viva da fudelança” voltava a rolar desenfreada. Tive raiva do nordestino branco que era racista contra negros, do viciado em cocaina que me comeu chingando, do velho que meteu e depois mijou dentro de mim... Eu poderia relatar literalmente centenas de casos.
Finalmente decidi tentar parar aquela insanidade mais uma vez. Catei meus “cacos” e pedaços e tentei me reerguer. Não me reconhecia mais. Marquei um tempo com o pastor responsavel por mim na minha denominação e abri tudo o que estava acontecendo comigo. Aquilo foi mais um gesto desesperado, radical e sincero. Procurei a minha esposa e me abri com ela também. Contei tudo. Na Igreja eu fui disciplinado e mandaram um outro pastor pra assumir o meu lugar enquanto me encaminharam para fazer uma terapia. Meu casamento ficou bem abalado e sofremos muito juntos. Eu sofri muito sozinho. Passei a pensar seriamente em acabar com a minha vida imaginando as opções possíveis. Me sentia um cadáver.
Ai encontrei o João Carlos... Como apesar das confissões não parei de sair com caras, entrei certa vez num bate papo e conheci o sujeito. A conversa rolou, se aprofundou. Ele é um cara que lê muito, gosta de literatura, magrão, feioso, papo de Nerd e muito sensível, do bem. Gostei muito dele. O cara consegue ser machão metedor e carinhoso-sensível ao mesmo tempo. Tem 1,78 e 70kg, dono de uma super pica pesadona carnuda e veiúda de 23cm. Saímos algumas vezes, começou a rolar sentimento. A coisa cresceu e se aprofundou.
A pegada do João Carlos era diferente pois ele fazia sexo muito forte, curtia montar por tráz e metia por muito tempo. Numa dessas ocasiões enquanto nos beijávamos e ele me penetrava, olhou bem pra mim e disse: “eu te amo”! Descobri também que estava amando aquele rapaz de 24 anos de idade, eu com 48. Ele não era bonito. Era super especial. Ele me amou além da casca e das barreiras.
Passamos a viver algo regular e eu quis que fôssemos amantes. As minhas indefinições e instabilidades, a minha absoluta inconstância nas multiplas tentativas de voltar à viver um cristianismo coerente, entretanto, acabou por destruir esse relacionamento também. Foi ele quem decidiu afastar-se de mim definitivamente me dizendo que eu lhe fazia mal. Com ele chegamos a alugar um apartamento nosso, começamos a mobiliar até que eu fugi. Quando retornei ele já não queria mais nada. Ainda amo o João Carlos. Amo muito! Com ele rolou algo que envolvia amor, respeito, carinho, parceria, aceitação incondicional do meu estado e um sexo maravilhoso. Eu adorava viajar guardando todo o seu esperma dentro de mim. Ele se recusava a fazer amor comigo sem gozar dentro de mim. Passamos a ser marido e mulher, ele queria que sempre eu usasse calcinha ao dormir com ele. Apesar de ter atitudes e jeito masculino, eu me tornei de fato a sua mulher. Ele se referia a mim como, “linda”, “princesa”, “querida”... Isso me realizava profundamente. Muitas vezes fantasiávamos tendo nossa familia e nossos filhos. Ele assumiu para sua mãe o relacionamento comigo e chegamos a falar da possibilidade de, caso eu me divorciasse, eu fazer a cirurgia removendo meu pênis e construindo uma vagina real para agradá-lo mesmo mantendo minha aparencia masculina. Vi inúmeras fotos de caras másculos, fortes, peludos, de barba com uma vagina real. Um dia ele cansou de não viver na realidade e me deixou.
Minha rotina continuou na mesma loucura da vida dupla... eu era a personágem do antigo programa do Chacrinha: “Maria sapatão, sapatão, sapatão de dia é Maria, de noite é o João.” De fato, era o “Martin, o viadão, viadão, viadão, de dia é pastor, de noite é o putão”! Nessa noite escura da minha vida, me sentia uma pessoa morta por dentro... uma caricatura de gente. Um zumbi real, de carne e osso perambulando pelos guetos de Curitiba. Virei um vegetal enquanto gastava uma energia imensa mantendo a minha vida de aparências. Por outro lado, passei a ter ainda mais compaixão das pessoas com todas as suas incongruências, cacoetes e fracassos. Na minha dor meus olhos se abriram para amar e aceitar mais incondicionalmente outras pessoas do “gueto” auto imposto, feridas, solitárias, cheias de falhas como eu mesmo.
Afinal, como você está? Você se assumiu ? E a sua família ?