Quase todo fim de tarde de Janeiro e Fevereiro é isso: uma chuva torrencial.
O resultado é o de sempre: alagamentos em vários locais da cidade. O trânsito, informa o noticiário, tornou-se infernal. Teria justamente de sair agora para uma reunião. Penso em tentar adiar o compromisso. Mas antes que tome qualquer providência o telefone toca. O cliente com que iria me reunir avisa que está fora de seu escritório e não vai conseguir retornar a tempo.
- Estamos presos aqui do outro lado da cidade, não vamos conseguir chegar a tempo. Poderíamos adiar para amanhã?
Sem a menor dúvida!... Reagendo essa reunião com um certo alívio. Desligo o telefone e sinto aquela súbita sensação da liberdade de ganhar um espaço de tempo sem ter o que fazer.
Havia acabado de sair do chuveiro, ainda estava vestido apenas no meu roupão de banho quando esse providencial adiamento ocorreu.
Ouço os trovões, o barulho da enxurrada que desce pela rua em declive. Em meu apartamento, com tempo livre para mim, uma sensação de conforto me toma.
Antes de decidir o que fazer, recosto-me no sofá da sala. O farfalhar das águas na enxurrada me embala.
Mas por pouco tempo, parece. A campainha toca.
Vou atender e a encontro, molhada até os ossos.
Ela tenta se desculpar por aquela chegada sem aviso: a chuva a apanhou bem ali perto. Passando pela enxurrada o carro parou de funcionar subitamente. Explica-me que tinha o meu endereço mas estava sem os números dos telefones. Esquecera a agenda no seu escritório.
Bobagem... Óbvio que precisa ser acudida rápido. Mal a deixo falar. Corro para buscar uma toalha.
Envolvo-a toda no pano felpudo de uma toalha nova. Sinto-a de repente como se ela fosse uma menina em busca de abrigo...
Mas logo me dou conta que essa menina é uma mulher. Mulher que enquanto envolvia na toalha me fez sentir as curvas de seu corpo. A maciez embaixo, os seios com bicos eriçados...
Tudo isso ali junto à porta. Poucas palavras. Muitos olhares...
- Melhor tirar essas roupas encharcadas...
Ela concorda. Ajudo, pois o tecido gruda na sua pele, as casas dos botões encolhem, cada abertura toma tempo e paciência. Algo torturante, pois à medida que sua pele vai surgindo livre do tecido molhado, um certo clima nos toma...
Sua blusa é retirada, começo a tirar sua calça e ela me olha.
Ah!... Esses seus olhares...
Um misto de tudo. Surpresa, pela forma como a dispo sem cerimônias. Um certo tempero de timidez. Mas acima de tudo, um ar de pura provocação...
A calça cai ao chão. Nesse momento, surpreendo-me. Descubro que sob aquele vestuário discreto do cotidiano há uma cena preparada.
Até já a vi antes. Mas vale a pena ver de novo...
Lingerie preta, rendas transparentes, um corsellet que sustenta meias 7/8. A calcinha um caso à parte: muito pequena, transparente, manto diáfano provocando minhas fantasias pela frente, sumindo nela por trás, me exibindo carnes que não resisto a buscar, sentir, apertar.
Ao fazer isto, apertando-a dessa forma, sinto-a abandonar-se sobre meu corpo. Sua cabeça busca repouso em meu ombro.
Ela bem sabe. Quando esta centelha se lança em nossos corpos, inicia-se um processo que não pode ser interrompido.
Beijo seu pescoço, sua nuca. Ela me oferece seus lábios e se entrega num beijo.
Sinto suas mãos explorando meu corpo da mesma forma com que lhe faço. Só agora relembro de que só vestia meu velho roupão de banho...
Assim sendo, suas mãos viajam pela minha pele, e nesse seu périplo ela logo encontra livre meu membro. Rígido. Toma-o nas mãos. Sinto um arrepio a percorrer neste momento. Ela treme, sua pele se arrepia, na forma como ela sempre ficada tomada, quase que em transe, quando se vê frente a frente com minha ereção. Como se antevisse tudo o que a espera.
Pouco tempo a perder. Coloco-a contra a parede, faço-a apoiar-se sobre o console junto ao corredor de entrada.
Ela me olha, acende todo meu fogo com esse olhar. Afasta sua minúscula calcinha para o lado e me diz.
- Sou toda tua! Vem! Vem...
Conheço bem esse estado. Enfio todo meu membro que é recebido por uma fornalha úmida. Ela geme, ainda tem a presença de espírito de pedir que a beije, calando sua boca, antes que aqueles gritos de tesão sejam ouvidos no corredor do prédio.
Tão excitada ela logo alcança seu orgasmo.
- Antes de mim? - Eu questiono, para ela, que me sorri provocativa. Tira meu membro ainda rijo de dentro dela. Ela literalmente pinga, sai de cima do console e deixa-se cair sobre o assoalho.
E como uma felina sedenta cai de boca no meu pau. Chupa-o todo naquele jeito tão seu, misturando a sucção dos lábios com os movimentos de sua língua ávida.
Vez por outra para, olha para mim - sempre aquele olhar... - e me pergunta:
- Vai gozar? Me avisa antes, por favor!...
E assim continua, levando-me ao êxtase. Quando sinto que meu momento está chegando aviso como pediu.
Ela tira meu pau da sua boca e começa a esfregá-lo em seu rosto, nos lábios, na testa, até que meu jorro de prazer lhe é entregue.
Continua a passá-lo na face, até que o engole de novo, para sorver as últimas gotas.
Que delícia!
Ajudo-a a levantar-se e vamos para cozinha tomar um café. Não deixo de notar uma mancha molhada no assoalho onde ela havia sentado. Preciso tomar providências antes que a empregada - evangélica ultraconservadora - a encontre amanhã.
Na cozinha tomamos o café fazendo um daqueles joguinhos que ela adora: tentarmos agir naturalmente, até formais. Como se não estivéssemos nus, como se nossos corpos não rescendessem a sexo. Gotejando o prazer consumado...
Então ela deixa - na verdade joga... - a colher de café cair no chão e abaixa-se para apanhá-la.
Ora, ora...
Pego-a pela cintura. É o que basta para uma nova ereção. Não há mais espaço para conter as palavras ou render-se à censuras conservadoras.Outro grito abafado sai das entranhas dela:
- Isso! Enfia tudo no meu cuzinho, seu safado...
- Quer tomar no cu, sua puta?
- QUEEEEEROOOOO!
Essa entrada já fora acostumada a minha posse. A penetração se faz sem resistência quase. De há muito ela não sente mais o incomodo da dor. Só o tesão. Um enorme e incomensurável desejo de ser tomada como a mais devassa das devassas...
Dentro dela vou enfiando cada vez mais dentro. Ela geme, grita, rebola...
O interfone toca:
- Doutor, tem uma pessoa aqui querendo comprar um carro, é o senhor que está vendendo um Pálio Prata?
- Não... - respondo mal-acordado -... deve ser o vizinho do lado...
Volto para a sala. Meio cambaleando como sempre faço, quando sou repentinamente acordado de um sono profundo.
Subitamente noto que meu roupão está inchado... Estou com uma enorme ereção.
Será possível que estou ficando cada vez mais tarado? Outro sonho daqueles!
E este parecia tão real...
As imagens então me voltam.
Sinto o sabor salgado de uma pele de mulher nos meus lábios, sinto a pimenta quente de seu sexo na minha língua...
Ah!... Que vontade de ligar para ela agora. Mas sei que não vou encontrá-la. A executiva superocupada vai estar trancada em reuniões infindáveis. A secretária ao notar que não é assunto profissional, nem é o marido quem liga, vai fazer perguntas, pode ser comprometedor.
O celular, já sei, vai estar desligado. Mas não resisto a deixar um recado rápido:
- Não está afim de um pau duro dentro de você, putinha?
Soa extremamente grosseiro e vulgar, não é? Mas isto seria se fosse fora do contexto. Se não houvesse toda uma química entre nós.Quando há cumplicidade plena na sensualidade entre dois, todas as palavras são santas.
Eu a conheço bem. Sei muito bem que ela vai adorar. Vai vir assim que puder...
Já tenho as cenas de nosso teatro preparadas...
LOBO
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