Tudo se desfaz quando me lembro do país de semi-letrados em que vivemos. Mesmo que fosse publicado, a possibilidade de algum sucesso e rentabilidade seria - vide o parágrafo anterior - escassa.
Assim, não cheguei a cair da cadeira quando abro minha caixa postal mal-comportada e vejo o convite. Um sujeito, dizendo-se editor, elogia meus contos e pede que entre em contato por seu e-mail.
Nem dei muita atenção. Ou seria simplesmente algum golpe, ou então alguma dessas editoras que ganham dinheiro à custa de ingênuos.
Os autores AEP (às próprias expensas), como diz Umberto Eco em seu “Pendulo de Foucault”. Convencem-nos de que são geniais, e que tudo que precisam seria de um pequeno passo: investir capital próprio na impressão de seu primeiro livro. Depois viria o sucesso, e muito dinheiro... Via de regra o coitado queima sua poupança e, em troca, fica com caixas de livros guardados embaixo da cama. Servindo no máximo para serem usados como presente aos amigos e família no Natal.
Como não respondi, dois dias depois me mandam outro e-mail. Dessa vez o sujeito identifica sua editora e informa telefones para que o procure.
Liguei, mais por simples curiosidade que qualquer outra ilusão. O cara se desmanchou em elogios. Parecia estar com minha página aberta em sua tela, pois tentando ser adulador citava frases inteiras de contos que escrevi. Dizia que eram exemplos de textos de muita qualidade. Sem ilusões quanto ao que viria, não me senti muito envaidecido...
Mas como a sede da editora ficava bem perto, acabei - sempre a curiosidade - aceitando marcar uma reunião. Terror dos vendedores que jamais conseguem me empurrar uma mercadoria que não queira comprar, sabia que não havia riscos de cair nalgum golpe. Conclui que poderia ao menos ser divertido.
Ou vai que...
Bem: o sujeito era bem jovem. Luís Demétrio, filho do dono. O velho se aposentou e ele ficou ali. Nada de golpes, mas também nenhuma abertura para publicar-me. Sempre louvando a minha presumida qualidade, o que me propunha era participar de um grupo que faria a seleção e edição de contos eróticos de novos autores. Era seu projeto editorial. Nenhum grande dinheiro, obviamente, mas tinha lá seu apelo. Eu teria que me reunir todas as quintas-feiras à tarde com os outros membros do grupo, gente de perfil semelhante ao meu, para ler e analisar em conjunto os textos que nos encaminhariam, propondo caminhos para seu desenvolvimento.
Voltei no dia seguinte, ainda sem muito interesse, para uma reunião com os outros dois membros do grupo e a supervisora de edição. Tive uma surpresa: uma rara empatia surgiu. Homens mais ou menos da mesma faixa etária, bom nível cultural, Carlos Ludovico, o Ludo e Ricardo Soares, Rico, logo se tornaram meus mais novos amigos de infância.
Além deles havia a supervisora de edição, Silvia, uma longilínea morena chegando nos quarenta, que no seu jeito discreto, algo misterioso, de ser, sempre deixava um rastro de sensualidade por onde passava.
Topei...
Começamos na quinta-feira seguinte. Quatro a cincos horas, sempre nas quintas à tarde, com fugidas vez por outra à cafeteria em frente. Propriedade de Isabel, uma loura de 39, muito interessante. E longos happy-hours no fim da tarde, numa choperia alí perto.
Agora, quanto aos textos...
Uma enxurrada de mesmices, onde mulheres ultra-saradas, sem nenhuma grama a mais de gordura no corpo, tinham orgasmos múltiplos com atletas sexuais - sempre o narrador - que as penetravam incessantemente com seus "mastros de 23 centímetros...".
Além da necessidade de se traduzir o que escreviam, já que era comum suas "obras" virem naquele "idioma" de rede social. Parece que eles acham que se faz literatura assim... Afora isso, havia sua grande "criatividade" em lidar com a ortografia. Não raro surgiam pérolas do tipo:
"...a gata ksada semudo-se aki p/ meu prediu. Tava td dia de saia curta e blusa c/ os peitão q quasi saiam p/ fora. Sakei logo q essa mina gostava muinto de shifrar seu kornu. Loka pruma piroka. Mesmo pq, tenhu olhu clinicu. Naum é p/ contar vantajem, mais um dia ela entra no elevador e viu meu mastro escondidu na bermuda. Mais tava na kara que a mina fikou exitada..." .
Além de nós, certamente os ambientalistas se indignariam. Tanto papel usado para imprimir baboseiras desse quilate...
Resumo da ópera: Luís Demétrio, que resolvera brincar de editor, era quem fazia a preseleção. Parecia que para ele isso estava bom. Não para nós: em seis semanas, nada surgiu que valesse a pena...
O que sobrava mesmo eram os longos papos que tínhamos. Pouco dinheiro, mas nos divertíamos muito. Trocando comentários, inevitavelmente jocosos, durante o trabalho, e depois, na chopperia. Além de nós, Silvia vinha conosco. E Isabel, da cafeteria ali perto, depois que fechava o estabelecimento também se juntava a nós. Como o tema de toda a tarde era erotismo, esse seguia permeando nossas conversas. Um clima se ia criando...
Todos casados, todos se queixando da rotina e marasmo em que os anos tornam os casamentos.
Ludo, fomos percebendo, sempre arranjava algum motivo para uma passadinha na sala de Silvia. Rico sempre fugia sozinho, até a cafeteria de Isabel. Dizia que para comprar cigarros, mas nunca o víamos fumando. Justificava a demora em voltar, argumentando longos papos culturais com Isabel, que era formada em sociologia como ele.
Após aquelas semanas de consumo do lixo pseudo-erótico que Luís Demétrio nos mandava analisar, nada restou. Menos de 1% dos textos que vimos tinham alguma chance de serem trabalhados - isso se muito trabalhados... - mas esses poucos autores, ou não se interessavam, ou simplesmente achavam que já tinham feito tudo que se precisava e seríamos nós que reescreveríamos tudo em nome deles. Foram para o triturador de papel como os outros.
O que sobrou foi a nova amizade que nos uniu, algum dinheiro - pouco - ganho, e tudo o quanto nos divertimos. Estávamos certos de que a "boquinha" acabaria, quando Luís Demétrio nos chamou para uma reunião. Mas para nossa surpresa, ele nos informou que estava deixando a empresa - papai deve ter se cansado da sua brincadeira de ser editor - e nos apresentou Sônia, a nova editora.
Uma mudança da água para o vinho. Sônia tinha mais ou menos nossa faixa etária. Muito experiente, tinha sido diretora editorial de uma revista feminina grande. Acabou sabendo dessa brincadeira de Luís. Só que ela tinha um projeto sério. A coisa que Luís Demétrio tocava, sem a menor competência, ia de encontro a um projeto editorial que pretendia desenvolver há muito tempo. Fez uma proposta de trabalho ao velho, que aceitou na hora. Luís foi mandado cuidar de umas fazendas...
Olhos castanhos de um brilho pouco comum. Em forma. Bonita. Daquele tipo de beleza de mulher madura, uns 40 anos, que vai se revelando aos poucos. Confesso que no simples formalismo de um aperto de mãos, senti um frisson me percorrer. Juntou-se à empatia que já havia entre nós quatro - mais Isabel da cafeteria - e de pronto também aderiu ao nosso alegre hábito do happy-hour no final das quintas feiras.
Novamente um clima se insinuando. Ela sempre me fitava firme nos olhos quando conversávamos. E passamos a conversar muito. Ela me revelou que estava lendo meus contos, interessou-se, perguntava-me muito sobre minhas inspirações.
Profissionalmente tudo mudou. Sônia, como disse, tinha um projeto já preparado. Tinha garimpado muita coisa, que foi nos repassando. Com uma qualidade infinitamente superior à dos textos que Luís nos entregava. Com uma participação de mulheres autoras significativa, coisa que na fase de Luís era quase inexistente.
Passamos a trabalhar de verdade. O triturador de papéis, ao contrário, diminui bem sua atividade. Numa reunião eu propus a Sônia que nos focássemos nas autoras:
- O universo e os segredos do erotismo feminino são pouco conhecidos ainda. É pouco revelado em prosa e verso. Seria interessante se pudéssemos lançar alguma luz sobre esse segmento. - eu argumentei.
Me fitando como sempre fazia, os olhos de Sônia brilharam:
- Você leu meus pensamentos!
Pegou de leve na minha mão e disse a todos:
- Se todos concordam, será esse nosso caminho.
Todos concordaram. Todos retornaram as suas salas, mas Sônia pediu-me que ficasse.
- Estou lendo teus contos e me encanta a sensibilidade que você tem, de entender a alma feminina - ela me diz.
Já me disseram isto antes. O que, confesso, sempre me surpreendeu. Nunca me achei nada extraordinário. Agora, vindo este comentário da parte dela, senti-me obviamente envaidecido.
- Será que você sabe das reações que provoca? - me olha num sorriso sutil...
Ela toma minha mão, fita meus olhos:
- Eu quero que você coordene este projeto. Entre outras coisas que eu quero...
Tocou o telefone. O velho, o pai de Luís estava ligando. Sentindo que seria assunto longo, levantei-me e fui saindo.
Mas aceitei.
Quando estou na porta, ela tapa o bocal do telefone, me diz:
- Se você quiser, depois a gente pode conversar bem mais...
Ao voltar para nossa sala, continuei sentindo o calor da mão de Sônia na minha...
Quando retorno, Ludo me olha, lança um olhar malicioso para Rico e Sílvia que estava também por lá e diz, olhando-me abaixo da cintura:
- Demorou, hein? Está com uma banana no bolso ou é apenas a alegria de nos ver?
Silvia sai da sala, não antes de checar-me também. Ruborizada, mas rindo....
As piadas, as gargalhadas, as gozações, que eram o som típico de nossa sala, foram se tornando menos comuns. Um clima de profissionais compenetrados, não raro tocados por um certo excitamento, tornou-se a tônica daquele ambiente. Os textos que Sônia preselecionava eram totalmente diversos dos da fase de Luís Demétrio. Eram intensos, reveladores. Mesmo aqueles onde a pouca cultura das mulheres que ousavam escrevê-los se evidenciava. Ainda que cheios de erros de concordância e ortografia, eram plenos de conteúdo. Diamantes que só necessitavam uma boa lapidação.
Produzimos uma primeira coletânea com vinte autoras. Sônia e o dono da editora definiram que seria uma série. Por ora pensamos em chamá-la: "O Olhar Feminino da Sensualidade".
Quando terminamos a produção desses contos, tive uma longa reunião com Sônia. Depois de todas aquelas semanas, sempre temperadas pelo mesmo tema, estava mais que claro que tínhamos uma empatia que se tornava mais e mais forte. A secretária da empresa entrou na sala, avisou que todos já tinham saído, pedindo que trancássemos tudo quando tivéssemos terminado. Após ouvi-la fechar a porta da rua, Sônia me encara:
- Basta de trabalho por hoje. Se não me engano você já escreveu algo sobre encontrar uma parceira no escritório após o fim do período, não foi?...
- Sim - eu concordo - mas ainda preciso de mais pesquisa sobre o tema...
Sônia levanta-se e vem para o meu lado. O sinal foi dado: ora do gentleman sair de cena e ceder seu espaço ao LOBO predador. Apanhei Sônia pela cintura. Na mais plena certeza de que sua única reação seria aninhar seu corpo ao meu. Estava absolutamente certo.
Sônia colocou sua coxa entre as minhas. Trocamos sinais de nosso desejo: o volume formado dentro das minhas roupas e o calor úmido que se evidenciava entre as pernas dela. Um beijo longo, na volúpia que o momento exigia. Minhas mãos acariciam seus seios por entre o tecido de sua blusa. As dela abrem o zíper da minha calça e agilmente libertam meu membro duro.
Sônia se deixa escorregar pelo meu corpo até se por de joelhos ante mim.
Tento me abaixar, quero tirar suas roupas, deixá-la nua, mas ela pede que aguarde.
- Não...Primeiro eu quero ir até o fim. Posso?
Como negar? Acaricio carinhosamente seus cabelos.
-Todo teu. Farte-se!...
Para um pouco, me olha e inicia. Apanha meu pau com a duas mãos. Passa sua língua ao longo de seu comprimento. Com a ponta dela circunda minha glande, cabeça vermelha que ansiava pela seqüência.
Suga-me vagarosamente. Fecha os olhos, parecendo fruir cada instante que vive agora. Ora os abre e - com meu pau todo em sua boca - me fita provocantemente.
Sônia segue numa mescla de calma e furor. Ora chupando vagarosamente, ora fazendo tudo com voracidade. Num momento para e me encara para dizer:
- Você não imagina como eu gosto disto! Queria que você gozasse na minha boca. Me dá tudo. Quero sentir teu líquido...
Prosseguiu, até finalmente ser atendida.
Levantou-se então. Sentou-se na mesa, passando a língua nos lábios, enquanto atirava longe os sapatos. Tirou a saia e baixou a calcinha. Uma provocante depilação num pequeno triangulo ganhou a luz.
-Hmmm! Adorei este teu gostinho de pimenta branca... Agora é tua vez. Vem provar do meu sabor. VEM!...
Parou um pouco, assustada. No tesão em que estava, tinha gritado aquele "VEM!". Deu-se então conta de que estávamos só nós àquela hora na editora. relaxou, abriu bem as coxas e exibiu-me a buceta aberta, toda aberta, que me convidava.
Fui beijando e lambendo sem pressa suas coxas. Indo cada vez mais, perto, sentindo que nessa viagem sua pele se ia tornando mais quente, mais rubra. Fui recebido por um calor úmido, que reverenciei em lábios e língua, indo e vindo sem cessar, entrando e saindo, prendendo seu clitóris, fazendo-o girar.
Ninguém por perto, Sônia soltou-se. Estremecia, contorcia-se sentada no tampo da mesa enquanto eu a chupava toda.
Gemeu muito, até culminar, com seu orgasmo, num grito.
Acariciou carinhosamente meus cabelos, pedindo-me que me ergue-se. Com as mãos em minha face, encarou-me daquele seu típico jeito, olhos sempre nos olhos.
- Acho que você é do tipo que adora sexo e não tem preconceitos, não é?
- Sem preconceitos! Heterossexualmente falando, claro...- eu respondo.
Ela sorri e vem para mim. Um longo e melífluo beijo, onde nossos sabores em nossas bocas se encontram. Nossos corpos se preparando para os próximos atos...
( A continuar )
LOBO
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