Aceitei uma corrida que partiria do Shopping Eldorado. Garoava forte. A pessoa que pediu a corrida estava com algumas sacolas e um pacote mais volumoso. Não tinha nada muito pesado, mas, era difícil para uma mulher carregar tudo aquilo sozinha.
Ela era uma jovem aparentando uns 30 anos, morena, cabelos longos. Devia ter 1,60m de altura (talvez menos). Vestida de maneira bem sóbria, aparentando até ser evangélica.
A corrida seria até o Terminal Jabaquara. São 13 km. Num dia normal, gastaríamos no mesmo horário uns 40 – 45 minutos. Mas, naquele dia abençoado, a previsão era de 1 hora e 25 minutos. O mal tempo havia transformado a cidade num estacionamento a céu aberto.
Coloquei as compras no porta-malas, abri a porta para a passageira entrar, me certifiquei que ela estava acomodada e, fui para o meu lugar para iniciarmos a corrida. Em situações como aquela, este era um comportamento padrão para mim.
Fomos conversando ao longo do caminho. Conversa agradável, falávamos sobre amenidades enquanto os motoqueiros passavam buzinando desesperados no corredor entre os carros.
No trajeto, a moça disse que pegaria o ônibus para Santos, mas, por causa daquele tempo horroroso, estava preocupada com as dificuldades que enfrentaria na rodoviária até conseguir embarcar com aqueles pacotes todos.
Dei razão à preocupação dela e, comentei que em condições normais, gastaríamos para ir para Santos o mesmo tempo que estávamos gastando na corrida dela.
Talvez pela seriedade no atendimento ou, pelo modo como me dirigia a ela, a moça sentiu confiança e me perguntou se eu aceitaria levá-la até Santos.
Respondi que sim sem pestanejar, afinal, já estava resignado com o fato de que o faturamento seria uma lástima naquele dia.
Ela perguntou se poderíamos deixar os pacotes num lugar antes do destino final. Falei que sim e, orientei que ajustasse o aplicativo para duas paradas.
Seu nome era Aline e, lecionava artes plásticas num liceu renomado, frequentado por alunos vindos de famílias muito abastadas.
As condições climáticas estavam tão ruins, que a descida da serra estava ocorrendo através da operação comboio.
Assim que vimos o aviso luminoso informando sobre o comboio, a passageira mostrou-se satisfeita por ter optado pelo conforto e a segurança do carro, ao invés do ônibus. De fato, aquela foi a decisão mais acertada.
Demonstrando empatia, ela ainda comentou:
- “A viagem será cansativa para você. Voltará tarde para casa. Sua esposa ficará preocupada.”
Respondi que não era casado e, não tinha filhos. Morava com meus pais já idosos e meu cachorro.
Dali para frente, o que se viu foi uma mulher muito sagaz conduzir a conversa de tal modo, que um aroma muito sutil de sedução pairava implicitamente em suas falas.
Já quase no final da serra, a Aline me aconselhou a não aceitar corridas em Santos, pois, havia o risco de eu ser levado para algum morro da cidade e, lá ser assaltado ou coisa pior.
Agradeci o conselho e, bloqueei o aplicativo para não receber novas chamadas.
Chegamos no primeiro destino. Ajudei-a a levar os pacotes até o interior do estabelecimento e, enquanto voltávamos para o carro, ela elogiou meu perfume e, agradeceu pela gentileza de ter levado os pacotes para ela.
Nitidamente querendo puxar assunto, perguntou se eu não estava com fome.
Respondi que sim, mas, cuidaria disso depois, talvez até antes de voltar para São Paulo.
Na saída do prédio, ela escorregou no piso molhado e, só não caiu porque consegui segurá-la antes que levasse um tombo.
Reparei que ela demorou um pouco para se reequilibrar. Não quis constrangê-la, mas, tive uma forte impressão de que suas mãos apalpavam meus braços.
Fiquei ainda mais cabreiro quando, antes de entrar no carro, ela deu um jeito de esbarrar sua bunda em mim. Agi como se nada tivesse ocorrido. Esperei-a se acomodar, sorri, fechei a porta e, fui para o meu lugar.
Ao entrar, percebi que ela havia mudado o destino. Confirmei o endereço e, seguimos viagem.
Com um sorriso que me pareceu malicioso, ela falou: “Você não conhece nada aqui na Baixada mesmo, né?”
Sorri, concordei e me desculpei pela minha limitação.
Vi que ela esboçou um sorriso de satisfação, mas, achei melhor ficar na minha. No restante do trajeto ela não falou mais nada. Em respeito ao seu silêncio, também me mantive quieto.
O novo destino era um motel e, ao chegarmos, ela instruiu de forma imperativa: - “Entra e peça a suíte ‘tal’ ”.
Obedeci. Peguei as chaves da suíte e, enquanto nos dirigíamos até lá, ela solicitou que eu colocasse o carro na garagem, pois, queria desembarcar o mais discretamente possível.
Mais uma vez eu obedeci à sua solicitação e, encerrei a corrida assim que entrei na garagem.
Antes mesmo de soltar seu cinto de segurança, ela ordenou: - “Desliga o carro; fecha a porta da garagem e, sobe comigo.”
Vendo minha expressão de surpresa, ela se impôs dizendo: - “O que é? Vai me dizer que tem preconceito? Por acaso uma mulher não pode te convidar pro motel?”
Ali vi uma mulher sedutora e determinada, mostrando que sabia muito bem conquistar o que queria. Percebendo a lerdeza que me tomava, ela completou apressada:
- “Anda, vai! Está um baita trânsito aqui, em São Paulo está muito pior. Você vai demorar uma eternidade pra voltar pra sua casa. Ambos estamos com fome. Então, pronto! Já está decidido. Você é meu convidado! Vai lá, fecha a porta da garagem e vamos subir. Você não vai recusar o meu convite, né?”
Fechei os vidros do carro, abaixei a porta da garagem e, mais rápido do que se possa imaginar, nos atracamos ali na garagem mesmo.
(continua)