— Tia, tá parecendo uma *influencer* perdida no mato — ele disse, rindo, enquanto eu tentava equilibrar uma caixa de sapatos em cima do carrinho de mão.
— Influencer de mudança frustrada, querido. Me ajuda com essa geladeira antes que eu desista e vire nômade — respondi, jogando-lhe uma chave que ele pegou no ar, com jeito de quem jogava basquete nas horas vagas.
O sol de uma hora da tarde queimava como brasa. Em 45 minutos, estávamos encharcados de suor, mas o caminhão estava vazio. Paguei o motorista, que tossiu um "boa sorte" antes de ir embora. Luan ficou parado na calçada, olhando a casa como se ela fosse um quebra-cabeça.
— *Vamos começar pelos quartos, tia?* — sugeriu, empurrando os óculos para a testa.
— Calma, menino. Tô precisando pegar um sol primeiro. Dez anos em apartamento me deixaram pálida que nem vampira — disse, pescando duas cadeiras de praia do meio das caixas. Encontrei a bolsa rosa com o bronzeador e balancei o frasco. — Vem cá. Nos fundos tem um cantinho que pega sol até de ladinho.
Luan hesitou, mas seguiu. O muro alto nos isolava do mundo, e o sol caía vertical, implacável. Estendi as cadeiras, tirei a camisa oversized (deixando só o top de alcinha) e sentei. Ele ficou de pé, roendo a unha.
— Relaxa, Lu. Não vou te transformar em escravo do bronzeador — brinquei, jogando o frasco para ele. — Só nas costas. E não economiza, viu?
Ele engoliu seco. Quando suas mãos tocaram minhas costas, geladas de nervoso, dei um pulo.
— *Caramba, tia! Tá fria ou eu que tô com febre?* — ele riu, esfregando o creme com mais força.
— Tá fria mesmo. Sangue de divorciada deve vir com refrigerador embutido — respondi, tentando aliviar a tensão.
Ele parou um instante.
— A mãe falou que… que o tio Carlos era um babaca.
— Sua mãe sempre foi a esperta da família — suspirei. — Mas olha, hoje a gente não desempacota mágoa, só caixas. Combinado
Anoite montamos um dos quartos apenas uma cama liguei pra Helena pedi pra Luan passar noite lá pra continuarmos a mudança logo cedo até hj não sei se isso foi um erro ou acerto
A noite grudava-se em mim como uma segunda pele. Até a lua lá fora parecia ofegante. Luan deitado ao meu lado, a respiração dele um ritmo rouco que ecoava nas sombras — um tambor tribal chamando algo que eu já não sabia esconder. A camisola de seda colava-se ao meu ventre úmido, e eu pensava: são os campos, o verão, o suor… Mentiras. Era ele. Sempre ele.
Quando suas mãos me envolveram por trás, não surpresas, mas um alívio feroz. Seus lábios no meu pescoço não eram carícias — eram declarações. Cada mordiscada um verso de um poema que só nossos corpos entendiam.
— Você tá me devorando, Luan… — soltei, mas minha voz era um gemido.
— Tô é pouco — ele respondeu, a boca quente no meu ombro.
E então, o movimento. Brusco, inevitável. Como um rio rompendo a barragem. Quando ele me penetrou, não foi dor ou surpresa — foi um sim ancestral. Meu corpo arqueou como um arco antes da flecha, e eu ri, um riso selvagem, porque finalmente… Finalmente não havia mais palavras.
— Gilda… — ele rosnou, mãos firmes nos meus quadris, e eu entendi: meu nome nunca fora uma palavra. Era um feitiço.
Me posicionei de quatro, não por submissão, mas por soberba. O quarto girava, as paredes testemunhas mudas de nosso ritual. Cada embate era uma pergunta, cada resposta um gemido abafado no travesseiro. Luan não me possuía — dançava comigo, cru, primal, enquanto o calor do mundo desabava sobre nós como um manto sagrado.
— Assim… assim… — sussurrei, não para ele, mas para a noite, para os campos lá fora que agora entendiam meu fogo.
Ele me virou de frente, os olhos dois carvões acesos. Sem pudor, levei seus dedos à minha boca, lambendo o sal de nossa fusão.
— Você é… — ele tentou falar, mas eu calei sua boca com meus lábios.
Palavras? Para quê? Nossos corpos já escreviam um evangelho de carne.
Quando o clímax veio, foi como um raio cortando o céu seco — violento, purificador. Caímos lado a lado, o ar carregado de íons e segredos.
— Campos Novos… — ele murmurou, traçando meu contorno suado com a ponta do dedo.
— Já não somos novos — respondi, sorrindo, enquanto a lua nos banhava em prata.