O sol ainda se arrastava tímido sobre as serras de Mafra quando acordei com o peso quente do braço de Gustavo sobre meu ventre. A luz filtrada pela janela de madeira desenhava listras douradas em sua pele, como se o próprio dia quisesse marcar nosso pacto silencioso. Ele murmurava algo contra meu pescoço, palavras que se perdiam entre sonho e desejo, enquanto suas mãos despertavam meu corpo em movimentos lentos, quase litúrgicos.
— Margarete... — sussurrou, e meu nome em sua boca tinha o sabor de uma oração.
— Não fale — respondi, virando-me para encará-lo, os lábios roçando sua clavícula salgada pelo suor noturno.
Fizemos amor como quem colhe frutas maduras: devagar, saboreando cada gota. Seus dedos entrelaçaram-se aos meus, prendendo-me contra o lençol úmido, enquanto o mundo lá fora ainda dormia. Ouvíamos os pássaros do rancho começarem seu coro, e Gustavo ria baixo quando eu arqueava as costas, dizendo que meu corpo era uma corda tensa que só ele sabia tocar.
— Você é meu ritual matinal — ele disse depois, enquanto traçava círculos em meu umbigo
— E você é minha heresia — retorqui, mordiscando-lhe o lábio inferior.
A manhã avançou, mas nós permanecemos entrelaçados, como raízes de uma árvore que a tempestade não consegue derrubar.
Após o almoço — uma feijoada pesada que comemos rindo, trocando beijos melados de cerveja —, ele me puxou para o patio. O ar estava parado, carregado do cheiro de terra molhada e eucalipto. Gustavo não teve paciência para fingir delicadeza. Empurrou-me contra a parede de tábuas envelhecidas, suas mãos agarrando meus quadris com uma fome que me fez gemer antes mesmo do primeiro toque.
— Aqui? Alguém pode ver... — menti, sabendo que o isolamento do rancho nos pertencia.
— Deixa que vejam — respondeu, mordiscando meu ombro enquanto minha saia subia em um movimento fluido.
Não houve languidez desta vez. Éramos animais guiados pelo calor, suando não pelo sol, mas pela urgência de nos fundir. Seus gemidos ecoavam contra meu pescoço, sincronizados com o canto das cigarras. Quando deslizei minhas mãos por suas costas, senti arrepios e calafrios — e pressionei-as, querendo que ele soubesse: O quanto eu o amava
Depois, caímos na rede amarrada entre duas árvores, balançando como náufragos.
— Você me esvazia e me enche ao mesmo tempo — confessou, os olhos semicerrados contra a luz.
Sorri
— É assim o amor, Gustavo. Um incêndio que não consome.
À noite, ele preparou tudo: velas de cera derretendo sobre latas enferrujadas, vinho tinto servido em copos de cafe , cujo aniversário era mera desculpa para nossa festa particular. Já em nosso quarto
— Gustavo você é melhor coisa que já me aconteceu
— hoje e seu dia minha rainha
Desta vez, foi lento novamente, mas não por preguiça — por sacralidade. Cada beijo era uma promessa, cada toque uma declaração. Quando ele entrou em mim, houve uma pausa, um silêncio em que nossos olhares se prenderam, e eu vi refletido nele tudo o que nunca ousamos dizer em voz alta. Movemo-nos como dançarinos cegos, guiados pelo som de nossa respiração ofegante. O cheiro do sexo misturava-se ao nosso suor.
— Margarete... — ele gemeu, e dessa vez meu nome soou como um adeus.
— Fica — supliquei, segurando seu rosto entre as mãos. — Fica até o fim.
Quando acabou, ele enrolou-nos em um cobertor e apontou para a janela:
— Olhe.
A lua estava cheia, flutuando sobre os campos de Santa Catarina como um disco de prata.
— É seu presente — ele brincou, mas eu sacudi a cabeça.
— Meu presente é você o melhor presente que uma viuva de 71 anos poderia ganhar
Rimos, mas havia lágrimas em meus olhos. Sabíamos que dias como esse eram roubados do tempo, pedaços de paraíso que carregaríamos em segredo, como contrabando.
E assim, no rancho de Margarete, onde os nomes dos amantes se perdem no vento, Gustavo e eu escrevemos nossa própria religião — um escrito não com palavras, mas com a carne.
Tesuda hummmm
Delícia