A vida privada de um pai carente e uma filha fogosa em 5 atos. Ato 1: Safadezas da Dona Suzy
Quase todas as noites acontecia a mesma coisa. A cama batia na parede por uns 10 ou 15 minutos, de vez em quando dava pra ouvir uns tapas bem fortes. Uns dez minutos depois podia ir na cozinha que a Suzy estava esquentando pão na sanduicheira. Ela me olhava com uma cara de safada, e não dizia nada, no máximo repetia o de sempre: __achei que você já tinha dormido, flor... Em seguida, ela levava o lanche pro namorado. O apartamento era um t2: dois quartos, banheiro, sala, cozinha e uma área de serviço. Suzy e Marcelo moravam em um quarto e no outro, eu e meu pai. Suzy tinha 48 anos, uma mineira morena, de fala engraçada, com um corpo bem feito, seios grandes e bumbum enorme, lábios carnudos, cabelo encaracolado até a cintura e olhos bem castanhos. Era uma mulher bem extrovertida, trabalhadeira, muito organizada, uma pessoa bem pra cima. Apesar de ser muito safada de noite, durante o dia tinha um jeitão de mãe protetora e costumava dizer: __eu tenho a Cleuza como filha, seu Dário. Ainda bem que ela me ouve. Menina obediente que o senhor tem. Menina de ouro, viu seu Dário? Por que hoje em dia tá difícil. Essa juventude não quer nada com nada. De fato, Suzy me dava bons conselhos, e eu gostava de conversar com ela para tomar minhas decisões. Embora eu nem concordasse com tudo, pois ela tinha um grande defeito, de generalizar todo mundo: __as piores mulheres do mundo são as amigas... essas que você tem que desconfiar de verdade... se for parente, pior ainda. Esse negócio de prima, cunhada... não confie! Pra isso ela usava o exemplo da minha mãe, que tinha traído meu pai: __olha pra você ver, Cleuza, seu pai. Homem bom, né? Trabalhador, honesto, um coroa bonitão. Tinha dinheiro. Homem de família. O que mais sua mãe iria querer? e sua mãe fez o que fez. Né? Espia só! E a frase que ela mais repetia com jeito de espanto: __não existe mulher santa, Cleuza, se ela não faz, ela imagina... santa mesmo, só Nossa Senhora, mas olha que doideira, menina: como é que ela engravidou? Suzy até tinha razão em algumas coisas, mas eu pensava que o fato dela ser tão safada fazia ela achar que todo mundo era igual ela. A noite Suzy virava outra pessoa. E essa esturdície aconteceu desde o começo. A primeira vez achei que estava sonhando, puxei a coberta e fiquei quietinha até o barulho acabar. Mas, aconteceu na segunda noite, na terceira, na quarta e eu fui perdendo as contas das vezes. Nessas horas eu só pensava no meu pai, em como ele estaria com vergonha da gente estar ouvindo o barulho da indecência todas as noites. Uns 15 dias depois ele comentou que talvez a gente precisasse de outro lugar pra morar no próximo mês, pois não era bom abusar da generosidade do Marcelo e da Suzy. Nessa hora senti que no fundo meu pai estava se incomodando por causa do barulho, então tentei deixar ele mais calmo: __ah pai, por mim aqui tá bom, dona Suzy parece ser bem legal... Com isso entramos no segundo mês e no terceiro a gente já tinha se acostumado com as indecências de Suzy e Marcelo. Inexplicavelmente, eu e meu pai naturalizamos a coisa errada, a gente ria e debochava do casal, da falta de vergonha na cara de fazerem essas coisas com a gente em casa. Mas, eu me sentia muito mal em meu procedimento: Suzy nos tratava super bem enquanto a gente difamava ela pelas costas. Isso me fazia pensar que talvez ela tivesse razão ao dizer que “as piores mulheres do mundo são as amigas”. Além disso, eu também me sentia mal por meu pai, pois Suzy também era super gentil com ele, enquanto ele dizia horrores dela. Mas, principalmente, eu me sentia mal porque a gente debochava dessas coisas como se elas fossem normais? Não sei explicar direito, mas eu sentia isso afetando o respeito entre pai e filha. Meu pai era tão equilibrado e não falava um único palavrão, mas de repente ficou desbocado. Era cada palavrão absurdo que me fazia rir em gargalhadas. Isso criou cumplicidade entre a gente, pois a gente ria de Suzy e do Marcelo na frente deles, sem que eles sonhassem. Eu entendia isso como uma evolução, pois era uma forma de intimidade que a gente não tinha antes; por outro lado parecia ser decadência. De certa forma eu sentia as coisas saindo do controle, se bem que elas estavam descontroladas há anos. Meu pai tinha vindo pros Estados Unidos sozinho. Dois anos depois veio a traição da minha mãe. Ela colocou a culpa no abandono dele; meus tios e muita gente da igreja, inclusive o pastor, apoiou minha mãe e responsabilizaram meu pai pelo acontecido – nenhum marido deixa a esposa sozinha por dois anos cuidando dos filhos sozinha... um ano depois da separação meu pai foi ao Brasil pra se divorciar, pois minha mãe queria se casar com o Claudio. Foi então que decidi vir morar com meu pai, afinal, tinha acabado de completar 18 anos e vinha tendo problemas com minha mãe. Acontece que nesse processo todo meu pai ficou endividado e o valor que o Marcelo pediu pelo quarto foi muito conveniente. Por um lado, eu até entendia meu pai, pois tinha que ouvir aquele barulho todo dia sendo que estava a três anos e meio sem mulher, então era natural que em algum momento ele fosse se desbocar: __essa Suzy é viciada na vara. Era desse tipo de comentário que eu ria. Meu pai falava as coisas de um jeito engraçado, eu só não entendia porque ele culpava a Suzy, mas nunca o Marcelo. Eu nunca ouvia o barulho de Suzy, eu ouvia a cama rangendo, batendo na parede; ouvia tapas que sempre achei que fosse o Marcelo batendo nela, e às vezes dava pra ouvir um urrado dele. Mas no fundo eu até concordava com ele, pois como a própria Suzy dizia: __abre bem seu olho, menina, homem nenhum, nesse mundo, presta. Todo homem é safado, safado, safado. A gente tem que ficar esperta. Um olho fechado e dois abertos. Se a mulher não controlar o macho dela, o macho que não vai se controlar mesmo. Ou seja, então era Suzy que estava no controle disso tudo.
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