Cilada de uma paixão adolescente



Cilada de uma paixão adolescente
Recebi a notícia com espanto durante o jantar no sábado à noite. Talvez pela maneira como me foi comunicada, mais do que propriamente pela surpresa. A voz do meu pai era serena e não tinha nenhuma emoção.
- Sua mãe e eu vamos nos separar. – disse, antes de colocar uma generosa garfada do filé de badejo na boca, e continuar sua refeição como se estivesse me dizendo que ia trocar de carro ou que iria mandar pintar a casa. – Você pode decidir com quem quer morar. Só vamos efetivar as coisas dentro de seis semanas. – acrescentou, olhando de relance para minha mãe, como que pedindo para que ela se manifestasse.
- Sim querido. Deixamos essa decisão por sua conta, afinal você já está grandinho para fazer suas escolhas. – sentenciou minha mãe, com a mesma frieza que usaria para me dizer que estava mudando a decoração da sala.
- É claro que você terá seu quarto conforme seu gosto na casa de cada um de nós, e ela também será toda sua como é agora. – elucidou meu pai, como se isso me deixasse mais à vontade.
Eles tinham essa capacidade de serem práticos. Acho que desenvolveram esse talento durante a formação de suas carreiras bem sucedidas. Ele como alto executivo de uma multinacional para a América Latina e, ela como sócia executiva de um escritório de advocacia internacional. A casa, e talvez até eu, éramos um apêndice de suas carreiras e, seguramente, não tínhamos um papel primordial.
Não houve brigas ou desavenças. Não houve discussões acaloradas, isso era coisa de gente medíocre e passional. Houve um acordo tácito, de senso comum, tal como uma transação ou uma fusão a que estavam habituados no seu cotidiano atarefado. Daí essa aparente tranquilidade toda. Na cabeça deles, definitivamente, esse não era um assunto para se perder tempo ou dispender energias desnecessárias.
Apesar de a Dalva ter se esmerado no preparo do meu prato favorito, e dado seu toque certeiro ao badejo a provençal, meu apetite se perdeu no meio do turbilhão de pensamentos que passou a ocupar minha mente, depois dessa revelação. Eu não sabia dizer como estava me sentindo. Não fora uma surpresa, afinal o fato do meu pai não ter compartilhado as últimas férias conosco na viagem à Turquia e Grécia, já era um prenúncio do que estavam me contando agora. Pois até então, nossas viagens de férias sempre foram uma distração benvinda e reconfortante no meio daqueles assuntos áridos de suas profissões. Depois foram aqueles silêncios prolongados e torturantes que marcavam os momentos em que precisavam compartilhar algum encontro familiar ou uma atividade na qual precisavam demonstrar que faziam um casal a ser invejado.
Tratei de encarar o assunto com a mesma serenidade que eles, embora estivesse me remoendo por dentro. Inseguro quanto ao futuro. Arrasado, pelo fim da relação deles e, por conseguinte, do que eu entendia ser o meu lar. Puto, por estar sendo tratado como parte dos bens que eles agora estavam dividindo numa harmonia desconcertante.
As obras de arte da sala de jantar ficam comigo, eu esperei por aquele leilão em Londres por meses. O Jaguar Roadster E type fica obviamente comigo, você nem saberia usufruir desse clássico. Aquela cômoda francesa do século XVII do hall foi presente da minha irmã e eu adoraria ficar com ela. Seguramente, mas a prataria e as louças alemãs não são algo que um homem saiba apreciar com a mesma eloquência que uma mulher. E, bem, o Luke, deixemos que ele escolha com quem quer morar. Merda! Era isso que eu era, um mero bem da partilha. Um sentimento de raiva se apoderou de mim.
Eu sempre fui um bom filho. Era bom aluno na escola, um dos melhores. Nunca fui motivo de dissabores para os meus pais. Amava-os incondicionalmente, mesmo que tivessem pouco tempo para ficar comigo, por isso aproveitava cada segundo que compartilhavam comigo. Procurava atender às expectativas deles em tudo o que se referia à minha educação e comportamento. Minha cabeça fervia, um gosto de bile crescia em minha boca, e eu tentava digerir aquilo tudo, mesmo com aquela saliva amarga me inundando as vísceras. Shutzy, meu buldogue me encarou, pulou sobre a minha cama e veio se aninhar entre as minhas pernas. As primeiras lágrimas daquele infortúnio começaram a rolar pelo meu rosto, e quando tentei enxuga-las com o dorso da mão, um soluço incontrolável sacudiu meu peito, e eu enfiei a cabeça no travesseiro num choro doído e solitário.
- Oi vovô! Como você está, e a vovó? – falei baixinho, quando meu avô atendeu ao telefone.
- Olá Luke! Estamos bem e com muitas saudades. – reverberou a voz calorosa dele, que eu sabia estar acompanhada de um sorriso. – Está tudo bem com você, meu filho? É madrugada aí, o que faz acordado há esta hora? – repentinamente sua voz adquiriu um tom apreensivo.
- Está. – digo, sem convicção. – Não consegui pegar no sono. – emendei antes de ele poder voltar a me questionar.
- Sua voz está triste, o que houve? – perguntou. Ele tinha esse dom de quase ler os meus pensamentos. Sempre fora assim, desde que me conheço por gente.
- Posso ir morar com vocês por um tempo? – perguntei, tentando não preocupa-lo.
- Claro que sim! Sua avó e eu vamos ficar muito felizes com você aqui. – respondeu imediatamente. – Mas e sua escola, você ainda não terminou o semestre? – questionou, lembrando-se que o calendário escolar do Brasil não coincidia com o dos Estados Unidos.
- Eu vejo isso quando estiver aí. – retruquei, antevendo que ele não se convenceria com essa explicação simplista.
- Diga-me o que está acontecendo. – ordenou, sua voz ficara mais grave e séria.
- O papai e a mamãe estão se separando e eu não queria ir morar com nenhum deles. Quero ficar com vocês. – respondi, com a voz começando a embargar.
- O fato de eles terem uma briga não significa que vão se separar. Você não deve se preocupar com isso. – procurou amenizar.
- Não vovô, você não entendeu. Eles já me participaram o fato. Dentro de seis semanas não vamos mais continuar morando aqui. – esclareci.
- Como assim? Isso não é possível, seu pai não me disse nada! – agora era a voz dele que começava a titubear, perdida e desapontada.
- Mas é isso que vai acontecer. E eu não quero ficar com nenhum deles. – disse, reiterando meu pedido.
- Deixe-me falar com seu pai. – falou firme.
- Eles já estão dormindo, é madrugada aqui. – lembrei-o
- Vou falar com ele amanhã, mas você pode vir quando quiser. Eles já estão sabendo da sua decisão? – perguntou.
- Não. Não pedi e nem vou pedir autorização para eles. Estou decidido, e eles vão ter que entender isso. – sentenciei com firmeza.
Meu pai entrou no meu quarto pouco antes do meio dia. Eu só conseguira conciliar o sono quando a madrugada já estava findando. Ele me sacudiu com força e eu acordei meio perdido, tentando me localizar, pois ainda estava sonolento.
- Que ideia é essa de pedir para morar com seus avós nos Estados Unidos? E quem te autorizou a contar a eles que sua mãe e eu estamos nos separando? – As perguntas vinham numa enxurrada raivosa. – Escute aqui rapazinho, eu ia dar a notícia a eles quando fosse oportuno. Isso não é assunto seu. – acrescentou colérico.
- Eu só pedi para ir morar com eles, por isso tive que contar o motivo. Não vou morar com nenhum de vocês dois, isso é certo. – devolvi ríspido. Eu detestava quando ele me chama de rapazinho, como se eu tivesse sete anos de idade, e não dezessete.
- Não é bem assim que as coisas funcionam. Nós te demos uma oportunidade para decidir com quem quer morar, mas isso não significa que não podemos determinar onde você vai morar. – afirmou autoritário.
- Claro! Vocês estão decidindo que parte da mobília e dos bens fica com quem, não seria diferente comigo. Aliás, isso é um mero detalhe. – revidei, a voz começando a ficar embolada.
- Não seja infantil! – exclamou áspero. – Se não quiser ser tratado como uma criança, não se comporte como uma. – vociferou, saindo do quarto e dando por encerrada a questão, e não me dando a chance de expressar minha indignação.
Nos dias que se seguiram as coisas mudaram um pouco. Meus pais foram absorvendo a ideia da minha mudança, e aquela reticência foi perdendo força. Não tenho dúvida que outro telefonema do meu avô para o meu pai tenha colaborado bastante para isso. E, diante da minha determinação, as tratativas para minha ida aos Estados Unidos começou a ser implementada. Era certo que meu ano letivo estava perdido. Muito embora eu frequentasse um colégio de primeira linha, e boa parte do currículo estivesse alinhado com o de outras escolas internacionais, as diferenças no calendário estudantil não conseguiriam ser vencidas. Uma separação não passa incólume na vida dos filhos, e dessa realidade eu não escaparia.
Meus avós moravam numa ampla casa em estilo Tudor, não distante do centro de Boulder, uma cidadezinha com cerca de cem mil habitantes no estado do Colorado, a noroeste da capital Denver. A proximidade com parques florestais estaduais e montanhas que fazem parte da cadeia das Rochosas, dá a cidade uma excepcional qualidade de vida, e fornece inúmeras oportunidades de se estar em contato com a natureza. Por diversas vezes na minha infância havia passado parte das férias nesse lugar que agora passaria a ser meu lar.
Cheguei ao aeroporto de Denver depois de mais de dezenove horas, saindo de São Paulo, com escalas em Orlando e Houston, numa tarde quente de agosto. O rosto risonho do meu avô me esperava por trás do corredor envidraçado de desembarque, ele acenou assim que me viu apontando no portão de saída e, por uns instantes, uma umidade quente e embaraçosa que aflorara nos meus olhos tirou sua imagem do foco. Foi nesse momento que eu percebi o quão importante ele era na minha vida. Não consegui mais reter as lágrimas quando ele me abraçou com força, e eu me senti seguro.
- Ora, ora. Vai ficar tudo bem. Estou aqui e nada vai te faltar. – disse, enquanto me apertava em seus braços. Havia algo de promessa em sua voz, e eu me tranquilizei.
Demoramos pouco mais de quarenta minutos para cobrir os cerca de quarenta e oito quilômetros entre o aeroporto e a casa dos meus avós, no Audi SUV Q7 que eu ainda não conhecia. Minha avó nos esperava ansiosa no acesso à garagem, num vestido florido longo, típico de seu gosto apurado e elegante, e um chapéu de abas largas que protegia seu rosto pálido do sol de verão. Ela me beijou, apertou, e me examinou, como se procurasse se certificar de que eu estava inteiro. Não consegui deixar de rir da situação. Mas me senti bem com seu carinho.
- Venha ver o seu quarto. Acabei de redecora-lo, espero que goste. – falou com entusiasmo, enquanto me levava para dentro de casa.
Nos dois anos que não nos víamos, ela dera outra cara a casa. Embora nunca tivesse exercido a profissão economicamente, seu talento como arquiteta era impressionante. Tudo na casa havia sido redecorado nesse período, e o quarto que me fora destinado no primeiro andar, em nada se parecia com aquele no qual eu passara os festejos de final de ano, há dois anos. Era uma suíte ampla com predomínio das cores azul, em diversas nuances e cinza, composta por uma saleta onde um sofá clássico permitia assistir à televisão embutida numa estante pintada de branco que ocupava toda a parede, um closet com armários em formato de U, um banheiro bem masculino onde predominava uma luminosidade acolhedora e uma sacada com deque de madeira que dava uma vista deslumbrante das montanhas cobertas de abetos.
- O que achou? Gostou? Se você quiser mudar alguma coisa, vamos fazer exatamente como você se sinta bem. – disse. Seus olhos brilhavam e ela voltou a me abraçar.
- É lindo! Obrigado, muito obrigado pelo que estão fazendo por mim. Eu os amo muito! – balbuciei quando meu avô deixava as últimas malas no chão ao lado da cama, e eu os unia num abraço, sentindo aquele nó se formando na minha garganta novamente.
- Queremos que você se sinta feliz aqui, pois é assim que estamos nos sentindo com a sua vinda. Também te amamos, querido. – completou minha avó.
O final de semana foi dedicado a passeios pela cidade e arredores, almoços e jantares em restaurantes que dispunham de áreas abertas e acolhiam os frequentadores ávidos pelos belos dias de sol da estação. Minha avó achou que eu tinha trazido pouca roupa e por isso teimou em me comprar tudo o que via pela frente. Eu só a conseguia impedir de me atulhar de coisas dizendo que não havia gostado disso ou daquilo, única maneira de fazê-la desistir da compra. No domingo à noite meu avô entrou no quarto quando eu já me preparava para ir dormir, sugerindo que no dia seguinte fossemos até o colégio, tratar da minha matrícula. Embora as aulas só começassem dali a três ou quatro semanas, em setembro, todos os trâmites para minha transferência podiam exigir mais do que esse tempo, e achei prudente a sugestão dele.
O feriado do dia do trabalho acabou, com ele se iniciavam algumas mudanças, o fim das férias de verão, o início do outono e o começo das aulas. Elas começaram num mar de novidades para mim, e numa continuidade previsível para os demais alunos daquela classe do segundo período do ensino secundário. Para eles a única novidade era eu, o que me deixava numa posição tremendamente desconfortável para meu espírito introvertido. Todos os olhares pairavam curiosos sobre mim, e aquele friozinho na barriga estava me consumindo. Só ficou pior quando o primeiro professor a entrar na sala de aula naquela manhã, anunciou meu nome e me fez ir até a frente da classe contar a minha história. Entre um silêncio sepulcral e tendo todos os olhares fixos em mim, mal consegui fazer um resumidíssimo histórico da minha vida pregressa, num tom de voz tão baixo que acho que os alunos que estavam nas últimas fileiras da sala não conseguiram captar nenhuma das minhas frases. Meu rosto estava em brasa quando voltei para minha cadeira junto as grandes vidraças que davam para o pátio. Um pequeno burburinho se formou depois da minha explanação. Algumas garotas cochichavam e risinhos eram dirigidos em minha direção. Alguns carinhas ficaram indiferentes ou, ao contrário, se interessaram pelo fato de eu vir de um país estrangeiro. E alguns, bem, não ficou claro o que se passava na mente deles, mas eu senti algo como um interesse hostil. Isso partiu de um grupinho no fundo da sala composto por uns carinhas estranhamente desenvolvidos fisicamente para estarem no meio de um grupo de adolescentes.
Precisei usar o intervalo entre as aulas para resolver umas questões pendentes na secretaria do colégio e, quando finalmente me vi livre desta tarefa vaguei perdido entre os canteiros, bancos e mesas do pátio. Duas garotas que haviam cochichado durante quase todo o tempo em que estive na berlinda em frente à turma, vieram conversar comigo. Coloraram-se a minha disposição para o que eu precisasse para me enturmar. Suas pretensões eram obvias, estavam a fim de mim, e parece que uma espécie de competição se instalou entre elas para ver quem levava a melhor. Outras garotas, não tão afoitas, lançavam cumprimentos e risinhos velados com a mesma intenção, mas a falta de coragem para um enfrentamento mais direto as manteve um pouco mais distantes. Taylor, um garoto parrudo que estava na fileira ao lado da minha foi o mais objetivo e amistoso. Perguntou interessadamente sobre onde e com quem eu estava morando, quais eram meus esportes preferidos e se eu topava estudar junto com ele e seu grupinho. Fiquei um pouco mais relaxado depois de conhecer seus amigos e termos uma conversa prazerosa. No entanto, nem tudo foi tão tranquilo. Três carinhas daquele fundão de classe me abordaram na saída. Um deles, a bordo de uma picape, me ofereceu carona sem nem mesmo saber para onde eu estava indo e, diante da minha recusa educada, amarrou a cara.
Eu não era um exímio jogador de vôlei, no entanto, durante a aula de educação física não fiz feio e logo fui convidado para o time da escola. O convite partiu do treinador, depois que alguns alunos o procuraram para falar das minhas habilidades. Um jogo recreativo entre os com camiseta e os sem camiseta deu ampla vitória a este último time, do qual eu fazia parte e fora o responsável pela maioria dos pontos. As garotas da plateia se entusiasmaram mais pelo meu físico do que pelo meu desempenho. Afinal aquele garoto meio tímido, com os músculos bem definidos, cabelos castanhos meio desgrenhados, uma bundona gostosa enfiada naquele short deliciosamente ancorado nos quadris e, aquela pele lisinha e bronzeada pelo sol tropical constituía um apetitoso exemplar a ser admirado. Do time oposto faziam parte os três grandalhões do fundo da classe. Surpreendidos por uma derrota, também tinham que conviver com alguém que estava roubando a atenção das garotas. E, como tudo o que tinham eram aqueles corpos malhados, uma disputa muito mais acirrada estava prestes a começar. E eu nem desconfiava disso, muito menos da vultuosidade que ela atingiria.
O mais contrariado com a derrota foi o que me ofereceu a carona no primeiro dia de aula. Chama-se Jeff, e ficou me encarando sob o chuveiro depois da partida. Não pude deixar de notar o tamanho cavalar da pica que pendia entre suas coxas grossas, a maior dentre todas que balançavam soltas no vestiário, enquanto seus donos caminhavam pelados de um lado para o outro. Seu olhar era maldoso e concupiscente. A marca deixada pela sunga na minha bundona ainda bronzeada pelo tórrido sol brasileiro se transformou na atração do vestiário. Era única, era sensual, era provocadora. Eu detestava ser uma atração, por isso me encolhi, baixei o olhar, e lá estava o tímido Luke nu diante de um bando de marmanjos com os hormônios borbulhando nas veias. Homens são audazes quando estimulados pela testosterona, da cobiça à predação não precisam mais do que alguns minutos. Repentinamente senti que estava em perigo, e me apressei para sair dali. Deixar o ar carregado de vapores dos chuveiros e do cheiro denso de machos nus e, respirar a brisa que descia das montanhas foi um alívio. Meu celular vibrou no bolso da jaqueta quando eu cheguei perto da entrada do colégio. Era meu avô se desculpando por não poder vir me pegar, e dando as instruções para que eu pegasse um ônibus até em casa. Antes de chegar à parada de ônibus, uma sequência de três toques de buzina desviou minha atenção. Era o Jeff ao volante de um Audi A3 cabriolé branco.
- Quer uma carona? – disse, num sorriso forçado, estacionando o carro ao lado da calçada.
- Não quero tirá-lo do seu caminho. – respondi, mesmo não sabendo para que lados estava indo.
- Entre aí, vamos. – sua voz soou autoritária.
- Estou indo para North Boulder e você? – perguntei, enquanto algo dentro de mim dizia para eu não entrar naquele carro.
- Eu o deixo lá. Agora entre, não vamos ficar aqui o dia todo. – sentenciou zangado.
Os pneus chiaram no asfalto quando ele arrancou me fazendo grudar no encosto do banco. Ele apertou um botão no volante e pelos alto-falantes começou a tocar Mozart, mais precisamente a sinfonia número quarenta, que eu reconheci de imediato, pois é uma das favoritas da minha mãe. Algo estranho para um jovem como aquele, pensei. Ele dobrava por ruas que eu desconhecia. Não era o mesmo percurso que meu avô fazia quando ia me buscar. Uma inquietação começou a se apoderar de mim, minhas mãos estavam úmidas.
- Para onde está me levando? – perguntei, quebrando o silêncio.
- Quero te mostrar uma coisa! – exclamou, sem me encarar.
- Lamento, mas hoje não posso. Estacione, pois tenho que estar em casa dentro de pouco tempo. – disse, sentindo que minha voz tinha um tom aflito.
- Não vai demorar, é só um instante e depois te deixo em casa. Ou vai me dizer que você vai virar abóbora se não chegar em determinado horário? – seu tom de voz era rude outra vez, e aquilo me assustava um pouco. Aliás, ele me assustava, não sei bem por que. Embora sentisse um fluxo de energia entre nós toda vez que ficávamos a poucos passos um do outro.
- Você é sempre assim autoritário? – perguntei, num ato de ousadia.
- Quando quero alguma coisa, sim. – respondeu, e dessa vez ele me encarou.
- E o que você quer? – a pergunta saiu antes que eu pudesse refreá-la.
- Te mostrar uma coisa, ou você não entendeu da primeira vez? – as palavras saíram de sua boca tão agudas quanto os espinhos de um cacto.
Eu me preparava para contra argumentar quando ele parou o carro diante de uma porteira na beira da Coal Greek Road. O telhado de um celeiro podia ser visto emergindo entre os pinheiros algumas centenas de metros adiante.
- Desça e abra para que eu consiga passar. – ordenou. Eu me perguntando quem lhe dera toda essa confiança, mas fiz o que ele mandou.
Estávamos dentro de uma propriedade rural, um haras, ao que me pareceu, pois escutei o relinchar de cavalos nas imediações. Ele estacionou diante de uma bela casa com paredes de madeira e grandes painéis de vidro. Era uma versão moderna de um chalé, embora a suntuosidade da construção desmentisse essa ideia. A alguns metros dela estava um celeiro, cujo telhado eu avistara da porteira.
- Venha! – disse, ao descer e abrir a porta do meu lado, pois até então eu estava distraído observando o lugar.
Caminhamos até o celeiro. Ele abriu a pesada porta de madeira fazendo-a deslizar para o lado. Um cheiro de feno e estrebaria invadiu minhas narinas. Vinte baias se enfileiravam ao longo do corredor central, dez de cada lado. Eu não estava entendendo nada, e o relincho de um cavalo chegou a me assustar. Subitamente outro relincho ecoou pelo celeiro e quatro cavalos enfiaram suas cabeças para fora das baias por cima das portinholas que os cercavam. Olharam curiosos para os intrusos que se aproximavam.
- Gosta de cavalos? – perguntou Jeff.
- Gosto de animais, especialmente de cachorros. Nunca tive muito contato com cavalos. Mas acho que sim, gosto. – respondi, afagando a cabeça do cavalo acinzentado que me farejava curioso.
- Cavalos são fortes e determinados. É preciso perspicácia e paciência para domá-los! – disse, observando atentamente como eu acariciava o animal e ele se mostrava dócil ao meu toque. – Pare de passar a mão nele. – a voz adquirindo um tom áspero.
- O que eu fiz de errado? Me pareceu que ele estava gostando das minhas carícias. – falei, espantado com aquela reprimenda infundada.
- Ele não está acostumado com você, pode se tornar agressivo. – disse, tentando justificar sua ordem.
- Aposto que ele estava gostando. – retruquei, desafiando-o.
- Você não conhece esses animais. Ora são dóceis e amistosos, e ora se transformam em feras. – comentou, tentando me assustar.
- Duvido! Até as verdadeiras feras se tornam dóceis quando recebem carinho e se sentem queridas. Basta que se acostumem desde pequenas. – revidei, ignorando seu comentário e voltando a acariciar a cabeça do cavalo que insistia em procurar minha mão para um novo toque.
- Você não sabe obedecer, não é? – seu olhar me fuzilava.
- Não sei aonde você quer chegar com essa conversa toda. Mas como eu disse tenho que estar em casa logo. Vamos voltar! – respondi, sentindo um arrepio percorrer meu corpo. Esse cara está querendo me intimidar, pensei. E, se minha simpatia por ele já não era lá essas coisas, agora eu começava a não gostar dele.
- Quero que você veja mais uma coisa. – falou, a frase era mais uma ordem do que um mero comentário.
Ele me indicou uma escada de madeira, estreita e íngreme, entre duas baias, que eu nem havia notado. Subimos até um tablado que se estendia por quase metade do celeiro, cujas paredes eram revestidas com painéis de madeira repletos de fotografias emolduradas. Em quase todas o Jeff aparecia em trajes de montaria, desde a época em que era um garotinho de cabelos muito loiros, até umas mais atuais, onde seu corpo atlético se destacava sob a roupa justa. Toda aquela área formava uma saleta com dois sofás Chesterfield em couro, separados por um tapete de pele de boi, e uma estante que ocupava boa parte da parede em frente àquela que tinha duas janelas se abrindo para uma vista parcial do haras. A estante estava repleta de medalhas presas a fitas coloridas e troféus de diversos tamanhos ganhos em competições de polo. Não consegui evitar que um pensamento me passasse pela mente. Ele está querendo se vangloriar.
- São todos seus? – perguntei, sem muito interesse, pois a ideia de que ele estava querendo me impressionar não me abandonava.
- Sim. – respondeu, sem emoção.
- Meus parabéns! Você deve estar orgulhoso de si próprio. – comentei, enquanto me detinha em frente de um ou outro troféu mais chamativo.
- Gosto do que faço! – exclamou, tentando parecer menos esnobe.
Duas portas na estante fechavam um vão, e eu impensadamente quis abri-las, imaginando que estavam cheias de troféus. Mas seu conteúdo me pareceu destoante do contexto.
- Não mexa nisso! Quem te disse que você estava autorizado a bisbilhotar? – vociferou contrariado.
- Me desculpe! Pensei que ali estivessem os troféus que lhe eram mais importantes. – balbuciei, envergonhado por ter mexido nelas.
Subitamente ele soltou uma gargalhada e, embora não fosse mais do que um resmungo, parece que identifiquei as palavras ‘talvez os que me deram mais prazer’ entremeadas naquele riso espalhafatoso.
- Para que serve isso? – perguntei perplexo, diante do conteúdo daqueles vãos.
- São objetos que servem para domar! – exclamou, controlando seu riso.
- Algemas? Chicotes? Tiras de couro? Cordas? Que estranho! – disse, tentando fazer uma analogia entre aqueles instrumentos e a doma de cavalos.
- Deixe isso para lá, você não entenderia mesmo. – respondeu, tornando a fechar as portas abruptamente, e me indicando a escada.
Enquanto meus pensamentos divagavam tentando entender o que eu estava fazendo ali, na outra extremidade do corredor do celeiro, onde também havia uma porta que dava para um piquete cercado, entrou um homem sem camisa, trajando apenas um jeans e botas de couro. À medida que ele se aproximava de nós eu percebi que se tratava de um tratador ou algo assim. Suas feições pareciam as de um mexicano, cabelo preto reluzente, um pouco espetado, a pele morena e um rosto levemente quadrado. Era alto e devia ter uns trinta anos. O torso nu foi se revelando bastante musculoso e definido quando sua silhueta se tornou mais visível com a aproximação. Um homem bonito.
- Senhor Richmond! – exclamou, abrindo um sorriso que também foi dirigido a mim com um aceno de cabeça. – Estou soltando os cavalos agora que o sol não está mais tão quente. – emendou, numa explicação que justificava sua presença ali.
- Ótimo, Rodriguez! Eles não gostam de ficar presos. – disse Jeff.
Rodriguez abriu a porta da baia do cavalo que eu estava acariciando, e ele se aproximou espontaneamente de mim a procura de mais carinho, assim que se viu livre. Era um belo animal e eu perguntei ao Jeff qual era a raça dele.
- É um puro sangue árabe, como quase todos aqui. – respondeu secamente, quando viu que voltava a acariciar o pescoço do animal e ele se mostrava recompensado por isso. – Pelo visto ele gostou de você. – acrescentou, num tom um pouco frustrado.
- Eu não disse que eles gostam de saber que são estimados. – falei, mais para contrariá-lo do que propriamente por conhecer a índole dos cavalos.
Caminhamos na mesma direção em que Rodrigues conduzia o cavalo. Assim que se viu livre do cabresto, saiu correndo e saltitando pelo piquete, onde mais quatro éguas também usufruíam daqueles momentos de liberdade. Ele não perdeu tempo e, enquanto começava a perseguir determinadamente uma das éguas, seu cacete se enrijecia descomunalmente. A égua se mostrou receptiva e logo estancou junto à cerca, recendo aquela vara com um relincho prolongado e doloroso. Enquanto o cavalo montava a égua eu não conseguia tirar os olhos do tronco musculoso do Rodriguez, e senti meu rosto enrubescendo com esse pensamento libidinoso. Uma onda de calor abrasou meu corpo, e minhas vísceras se inquietaram, enquanto minha pele experimentava um arrepio deliciosamente quente.
- Vamos sair daqui. – disse o Jeff, apertando meu braço com força, e quase me arrastando para dentro do corredor do celeiro.
Tornamos a subir a escada, e estranhamente minha boca estava repentinamente seca. Eu massageei o braço pelo qual o Jeff havia me guiado para dentro, pois o sentia ligeiramente adormecido pela falta de circulação. Ele abriu a porta de uma pequena geladeira disfarçadamente instalada entre a estante e se virou para mim.
- Quer uma cerveja? – perguntou, prestes a me lançar a latinha que estava em suas mãos.
- Não, obrigado! Se você tiver uma Coca ou uma água, estou com a garganta seca. – retruquei, apanhando no ar a latinha de Coca que vinha em minha direção.
- Você é virgem, não é? – indagou, me encarando.
Eu quase me engasguei com o primeiro gole gelado que entrava na minha boca. Ele riu e se deixou cair sobre o sofá ao meu lado.
- Que pergunta descabida é essa? – retorqui, depois de tossir uma meia dúzia de vezes até conseguir deglutir o líquido e o gás do refrigerante.
- Tome sua Coca com cuidado. A pergunta você já respondeu! – exclamou com sarcasmo.
- Isso por acaso é da sua conta? – minha voz saiu carregada num desafio.
- Nem um beijo rolou com alguma garota ou um carinha? – continuou provocativo.
- Não vou te responder nada. Cuide da sua vida e me deixe em paz! – respondi, me levantando para tentar sair dali.
- Foi o que imaginei, completamente virgem! – o risinho maldoso foi sendo substituído por uma expressão séria quando ele tornou a me segurar, impedindo que eu me afastasse.
- Deixe de frescura e senta aí. Estamos apenas conversando! – determinou, com aquele tom autoritário que começava a me irritar.
- Eu não quero ter esse tipo de conversa, especialmente com você. – devolvi, antes de ser puxado de volta para o sofá.
- Qual o problema de ter essa conversa comigo? – inquiriu, o rosto voltando a ter uma expressão mais amistosa.
- Por alguma razão que eu desconheço você está tentando me intimidar. – respondi, fazendo-o soltar o meu braço.
- E eu te intimido? – perguntou
- Não foi o que eu disse. Eu disse que você está tentando, não que me intimida. – devolvi, mas senti o rosto corando, como um garotinho sendo pego numa mentira.
Ele esboçou um sorriso vitorioso e deslizou na minha direção. Minhas costas já estavam encurraladas num canto do sofá. Droga, eu sentia um calor vindo do corpo dele, e pior, acompanhado daquela eletricidade que parecia pairar no ar quando ficávamos muito próximos. O que será que era isso?
- Aposto que você também a está sentindo! – disse convicto
- Sentindo o que? – perguntei retórico, pois àquela altura só faltam saltar as faíscas.
- Essa eletricidade que explode quando chegamos perto um do outro! – devolveu sincero.
- Não sei do que você está falando. Qual eletricidade? – disse, as palavras titubeando.
Ele não respondeu, apenas saltou sobre mim e prendeu minha cabeça contra o encosto do sofá grudando seus lábios nos meus. Eu fechei a boca, mas ele continuou a esfregar a dele na minha até que eu timidamente abri a minha, deixando sua língua me invadir. Eu precisava respirar, e foi o ar morno de sua boca que foi me dando fôlego e fazendo meu corpo tremer numa agitação sensual e febril. Eu ainda empurrava aquele corpão pelos ombros, mas o esforço de tirá-lo de cima de mim era inútil, e aos poucos, enquanto o sabor de sua saliva com gosto de cerveja ia aumentando na minha boca, essa necessidade foi se diluindo. Minhas mãos deslizaram em direção aos bíceps dele, e quando a consistência deles se materializava entre meus dedos, afastá-lo de mim começou a me parecer inapropriado. Os braços dele, que de início estavam empenhados em me conter naquela posição, passaram a envolver meu tronco e minha cintura, uma vez que apenas o peso de seu corpo se mostrou suficiente para me manter ali. Uma mão sorrateira e curiosa entrou por baixo da minha camiseta, e tateava avidamente a minha pele afogueada. Dali ela partiu para dentro do cós do meu jeans, mergulhando até a maciez aveludada das minhas nádegas. Um gemido trêmulo assomou minha boca, sinalizando que ele havia chegado a um território inexplorado e sensível. Comecei a me sentir inseguro, mas o perigo ao invés de me assustar estava me excitando. Ele desabotoou minhas calças numa avidez impressionante, e diante da minha perplexidade, viu meu olhar ganhando um brilho de êxtase, à medida que a calça descia pelas minhas coxas roliças e lisas. Elas estavam ali, musculosas e bronzeadas, e estavam ao seu dispor, nuas e quentes. As mãos dele subiram deslizando ao longo delas, e agarraram meus glúteos com força e um tesão voluptuoso. Ele se apoderou daquela bundona que se retesava e se movia provocadora e deliciosamente sob o short de fendas generosas que tanto o distraiam durante as aulas de educação física, ou quando disputávamos partidas de vôlei. Agora aquela abundância de carnes preenchia suas mãos sedentas, e o toque suave e lisinho daquela pele morna o estava levando ao delírio. O caralhão não parava de crescer dentro das calças, que o apertavam desconfortavelmente. Uma urgência imperativa de liberá-lo daquele claustro não podia mais ser adiada. Tão rápido quanto havia desabotoado a minha, ele o fez com seu jeans, abrindo o zíper e empurrando-o para baixo junto com a cueca. O cacetão eclodiu intempestivo e viril, enquanto ele me apertava contra seu corpo de uma maneira quase bruta. Eu sentia ele esfregando aquela jeba nas minhas coxas, e um deleite permissivo foi se apoderando das minhas vontades. Já não era mais a parte racional que comandava meus desejos, mas uma sensação nova e inconsequente, que me fez compreender o real significado da palavra tesão, pela primeira vez. Minha respiração curta e rápida deixava escapar um gemido ou outro, toda vez que as mãos dele se moviam e me apertavam com mais força e desejo. Num movimento abrupto ele se colocou em pé, me puxou pela camiseta e pelo jeans que estava embolado na altura dos meus joelhos e me colocou de bruços sobre o braço largo do sofá. Cada uma das minhas pernas pendia de um lado e minha bunda desprotegida fazia ferver o sangue que corria em suas veias. A pica estava tão dura que mal se movia com seus movimentos para colocar a camisinha, e ele a fez deslizar dentro do meu reguinho. Ele forçou o pauzão contra meu cuzinho e me invadiu de um só golpe. Enquanto um relincho vinha lá debaixo das cocheiras, eu liberava um grito pungente de dor e satisfação. Em estocadas cadenciadas ele foi me preenchendo com aquele caralhão quente e pulsátil, distendendo minhas preguinhas e enchendo minhas vísceras, que se comprimiam, junto com meus esfíncteres anais, ao redor daquele invasor tarado. Eu gania sob o efeito daquelas bombadas rítmicas que iam esfolando minhas entranhas, e sentia o Jeff arfando na minha nuca, enquanto a cadência do vaivém da sua jeba ia aumentando.
- Tesão de bunda do caralho! Puta cuzinho apertado da porra! Vou te foder todinho, moleque tesudo! – balbuciou, com a respiração ofegante.
Em seguida ele sacou a pica do meu cu, me fazendo soltar um urro, me deitou de costas sobre o acento do sofá abrindo minhas pernas. Tornou a meter a rola entre as preguinhas úmidas retomando as estocadas potentes que eram amparadas por minhas entranhas receptivas. Seu olhar, que pairava centímetros acima do meu rosto, tinha um brilho selvagem e primitivo. Aquela submissão dócil dava ganas ao seu tesão, e a expressão da sua face suada resplandecia de felicidade, como se ele tivesse encontrado algo que esteve procurando há muito tempo. O cacete dele roçava minha mucosa mais brandamente agora e, aos poucos, parecia estar ficando mais calibroso, um som grave emergiu da garganta dele, e meu cuzinho foi sendo estocado profundamente, antes de ele cessar os movimentos e se deixar cair pesadamente sobre mim. Espasmos faziam meu corpo se agitar e, constrangido, eu percebi que havia gozado, lambuzando minhas coxas.
Meus braços envolviam aquele torso suado que parecia não querer se mover dali. O pauzão ia amolecendo dentro de mim e deixando de me machucar. Senti uma necessidade enorme de beijá-lo, mas ele afastou o rosto e se levantou quando tentei colocar meus lábios junto dos dele.
- Vista-se! Você não disse que tinha hora para chegar em casa? – sua voz estava tão irritantemente autoritária como sempre.
Desci as escadas com dificuldade, havia um grande vazio entre minhas coxas, e meus passos não eram firmes. O Rodriguez se aproximou, com dois baldes cheios de água, da baia rente a escada. Seu tórax nu reluzia com o suor que cobria sua pele morena, e eu tive a certeza de que ele sabia exatamente o que havia se passado lá em cima, mas sua expressão não deixava transparecer nenhuma surpresa ou qualquer outro sentimento com aquilo. Lancei-lhe um sorriso tímido e percebi que enrubesci. Ele devolveu o cumprimento apenas acenando a cabeça.
Entramos no carro e o Jeff dirigia numa velocidade pouco prudente para aquela estrada sinuosa e estreita. O vento espalhava meu cabelo, e agora estávamos ouvindo ‘Come Undone’ do Duran Duran saindo dos alto-falantes, e se misturando com o sopro do vento. A musculatura do rosto do Jeff estava contraída numa expressão concentrada, e os primeiros quilômetros ele dirigiu em silêncio. Depois olhou para mim e tentou construir algo parecido com um sorriso naquele rosto enigmático.
- O que achou? – perguntou depois de uns instantes.
- Do que? Dos cavalos ou da sua exibição de troféus? – devolvi carrancudo.
Ele riu e acelerou. Um sol avermelhado descia por trás das montanhas, deixando o céu tingido de opala, tons de laranja e azul-marinho. O vento que agitava meus cabelos estava mais fresco, e eu tentava entender que tarde fora aquela. Ele estacionou na rampa da garagem da casa dos meus avós com a expressão de um garoto que tinha conseguido realizar uma proeza. Me despedi dele com um simples ‘até amanhã’, sem olhar para trás. Repentinamente me lembrei que não havia lhe dado meu endereço, e mesmo assim ele chegara até aqui nem nenhuma dificuldade. Quem é este estranho Jeff Richmond? Por que eu estava sentindo aquela coisa estranha por ele? Estas perguntas me acompanharam até a hora em que coloquei a cabeça no travesseiro e adormeci cansado.
No dia seguinte ele mal me cumprimentou com um aceno discreto de cabeça quando passei por ele, e sua gangue, no corredor do colégio. A curiosidade me induziu a perguntar aos colegas com os quais minha interação estava sendo maior, quem era esse sujeito.
- Os Richmonds são ou eram, a família mais rica e influente da cidade. São os donos da construtora Richmond com sede em Denver, e mais alguns outros negócios. Além de uma fazenda em Nebraska, eles têm um haras nos arredores da cidade. – disse um deles, enquanto fazíamos um lanche durante o intervalo.
- Ele me levou a esse haras ontem depois das aulas. – comentei.
- Você foi ao haras dos Richmond? – perguntou surpresa, uma das garotas da rodinha.
- Sim, o Jeff me deu uma carona e antes me levou até o haras. Acho que para se vangloriar dos troféus que ganhou jogando polo. – esclareci
- Ele nunca leva ninguém lá. Nem tão pouco para a casa dele. – disse outro colega. – Mesmo aqueles parrudos que andam com ele, nunca foram convidados. – emendou.
- Eu também estranhei, tanto a carona quanto a ida até o haras. Não tenho intimidade alguma com ele. – acrescentei.
- Sei que ele teve uns problemas depois que a mãe morreu, deixou de frequentar a escola antes do final do semestre. Meu irmão estava na mesma classe naquela época. – comentou a garota.
- Meu irmão também estudou na mesma classe que ele, um ano depois do seu. Acho que ele teve outros problemas, pois meu irmão já está no segundo ano da faculdade. – continuou meu colega.
- Afinal, quantos anos ele têm? Vocês sabem? – perguntei curioso.
- Não sei bem, mas acho que vinte e um ou vinte e dois. – respondeu a garota. – Toda aquela gangue do fundão é mais velha do que nós. – sentenciou.
Minha curiosidade estava aguçada demais para eu me contentar com estas informações, por isso resolvi abordar meus avós naquela noite durante o jantar. Meu avô, que é engenheiro aposentado, disse que foi colega de faculdade do avô do Jeff. Ele fundara a construtora, e quando o negócio já havia crescido, convidou meu avô para chefiar a equipe de engenheiros. Quando se aposentou e iniciou seu próprio negócio, uma marcenaria especializada em móveis de design, meu avô perdera contato, e só soube do acidente que vitimou o ex-patrão pela mídia. A morte do fundador também se refletiu nos negócios, deixando de ser a maior fortuna do estado, mas ainda restara um patrimônio significativo.
- Vocês se tornaram amigos? – perguntou minha avó.
- Sim, acho que sim. – respondi. De repente me sentindo culpado por ter julgado o Jeff com tão pouca informação sobre ele.
- Se ele tiver o caráter do avô, seguramente é um bom sujeito! – disse meu avô, com uma ponta de nostalgia na voz.
No final daquela semana, quando caminhava em direção ao ponto de ônibus, pois decidira que não dependeria mais do meu avô para vir me buscar no colégio, um Porsche 911 prateado acompanhava lentamente os meus passos, ao volante a cara risonha do Jeff.
- Entre! – a voz dele sempre ordenava como se fosse incapaz de pedir.
Obedeci, como se entrar num debate com ele fosse exaurir as minhas últimas forças. Sua expressão ganhou um ar de contentamento. Eu não conseguia entender aquela indiferença toda no colégio e, logo depois, essa amabilidade descabida. O caminho que ele estava fazendo não era o da casa dos meus avós.
- Para onde está me levando? – perguntei, apreensivo com aquela atitude, e sentindo meu cuzinho se contorcendo, como que temendo uma repetição daquela tarde no haras.. – Não tenho tempo para ir até o haras hoje. – acrescentei.
- Não estamos indo para lá. É rápido, eu garanto. Depois te deixo em casa. – suas palavras se misturavam ao refrão de ‘Apologize’ do One Republic, que ele também acompanhava tamborilando os dedos no volante.
- Continua querendo me impressionar? – disparei.
- Talvez! Estou conseguindo? – falou, sarcástico.
- É esse o seu joguinho? – revidei
- O que te faz pensar isso? – indagou, virando-se na minha direção com curiosidade.
- Carros, cavalos, troféus. O que mais devo esperar? – devolvi intrigado.
- É só isso que te impressiona? – inquiriu.
- Eu não disse que isso me impressiona. – respondi.
- Mas é tudo do que se lembra dos nossos encontros. – sugeriu contrafeito.
- Impressão sua. Não sou alguém que se deixa impressionar facilmente. – argumentei.
- Ótimo! – exclamou com um sorriso.
Um portão de ferro, de desenho rebuscado, começou a se abrir assim que ele embicou o carro, numa reentrância do murro de pedras, que se estendia por quase todo o quarteirão de uma rua repleta de plátanos, cujas folhas já começavam a amarelar. Seguimos por um caminho calçado, por entre um jardim gramado, até a lateral de uma casa suntuosa de três andares. Nas portas abertas da garagem estavam estacionados pelo menos oito carros, entre eles a picape e o Audi A3 cabriolé, que dariam para satisfazer a conta bancária de muita gente.
Caminhamos até a porta de entrada principal, que se abriu antes que ele tocasse a maçaneta. Uma senhora baixinha e troncuda, impecável num conjunto preto de saia e blazer sobre uma blusa branca, abriu a porta com um sorriso discreto.
- Senhor Richmond. – disse, sem olhar para o Jeff. – Boa tarde! – emendou, dirigindo seu olhar amistoso para mim.
- Boa tarde Tereza! Alguém em casa? – devolveu, sem interromper os passos. – Este é meu amigo Luke, Tereza. – acrescentou. – Venha comigo! – emendou, mal me dando tempo de cumprimentar a governanta.
- Boa tarde Tereza! – exclamei tímido.
- O Sr. Albert está no escritório e a senhora está lá em cima. – respondeu em seguida.
- Quer beber alguma coisa? Um refrigerante, um suco, vinho? – perguntou, virando-se para mim com ar de brincadeira.
- Não, obrigado! Tenho pouco tempo, espero que você não tenha se esquecido disso? – agradeci.
Segui-o pelo hall de mármore até os pés da escada, quando uma porta dupla se abriu, e um homem alto e esguio, vestindo uma calça cinza e uma camisa azul clara com as mangas enroladas até o cotovelo, passou por ela. Ele abriu um sorriso econômico e caminhou ao nosso encontro, estendendo-me a mão.
- Boa tarde! – cumprimentou, apertando a minha mão entre a mão massuda dele.
- Boa tarde Senhor Richmond! – devolvi acanhado.
- Não sou o senhor Richmond. Sou Albert Olsen, pode me chamar de Albert. – disse, enquanto continuava a chacoalhar minha mão.
- Desculpe, eu não sabia. – falei corando. Fuzilei o Jeff com o olhar. Como ele pode me deixar cometer essa gafe? Ele estava me encarando e se divertia com o meu embaraço.
Quase ao mesmo tempo uma mulher muito bem vestida, com o cabelo preso num coque, apontou no topo da escada e também veio ao nosso encontro. Eu sentia as mãos suadas e começava a me angustiar diante da iminência de ter que cumprimenta-la com as mãos molhadas e frias. Detestei o Jeff por isso.
- Esta é Corine, minha madastra! Este é Luke, um amigo do colégio. – apressou-se a dizer, ante minha insegurança, que a estas alturas já devia estar estampada na minha cara. Então éramos amigos, e eu nem sabia disso!
- Boa tarde! – cumprimentei num sussurro, minha voz havia desaparecido.
- Seja benvindo Luke, fique a vontade. Sei que vocês devem ter muito para conversar. – sorriu, afastando rapidamente a mão da minha.
Subi as escadas atrás do Jeff e esperei o tempo suficiente para nos afastarmos para censurá-lo por me colocar naquela situação. Ele me ignorou até chegarmos a um dos quartos, e ele fechar a porta atrás de si.
- Você é sempre tão tímido? – o escárnio entremeava suas palavras.
- Qual é a sua em me colocar nessa situação? – indaguei furioso.
- Você é muito formal, relaxa! – disse, divertindo-se com minha apreensão.
- Estou farto desses seus mistérios. Dessa sua mania de me mandar entrar no seu carro e não me dizer para onde estamos indo. Desse prazer que sente em me deixar nesse suspense. – derramei, aliviando o sufoco que tornara minha respiração ofegante.
- Acalme-se! Eu não quis constrangê-lo. Corine terminou de me criar depois que meu pai morreu e, há uns quatro anos casou-se com Albert, por isso ele não é um Richmond. – esclareceu, tentando aplacar minha ira.
- E você não podia ter me dito que estava me levando para sua casa, e contar isso antes que eu fizesse papel de idiota? – perguntei, as palavras saindo cada vez mais brandas à medida que eu me conscientizava do infortúnio daquele jovem.
- Não deu tempo! – respondeu, dando de ombros.
- Quer dizer que agora sou seu amigo? – brinquei, quebrando aquele ar pesado.
- Não é? – devolveu irônico. – Pensei que você já se considerasse meu amigo. – falou provocativo.
- Amigos não se ignoram quando passam um pelo outro nos corredores do colégio. Amigos não expõem o outro ao ridículo. E, amigos não sequestram o outro sem explicações. – revidei.
- Lá vem você com esse seu jeito de certinho! Quer que eu me ajoelhe a seus pés e lhe peça para ser meu amigo, como se fosse um pedido de casamento? – disse, dando um sorriso tímido que não combinava com sua determinação.
- Não seja teatral! Você entendeu muito bem o que eu quis dizer. – censurei. – Por que quer ser meu amigo? – perguntei de supetão.
- Porque te acho interessante! – a resposta demorou um pouco, eu conseguira deixa-lo ligeiramente inseguro por uns instantes.
- Interessante é bastante vago. Por que me acha interessante? – eu tentava arrancar alguma coisa dele.
- Não queira ler meus pensamentos. – disse ele. Seus olhos estavam parados sobre mim de um jeito esquisito. Meu corpo começou a ficar irrequieto e quente.
- Para que me trouxe aqui? Impressionar? – provoquei, tentando tirar aquele olhar sedutor de cima de mim.
- Quero que você venha à minha festa de aniversário no sábado que vem! – exclamou, numa nova ordem.
- Ah! Quantos anos está fazendo? – aproveitei a deixa para perguntar.
- Vinte e três. – murmurou, disfarçando o olhar. Algo nessa revelação o incomodava. Talvez o fato que ainda estar no colégio quando já deveria estar na faculdade.
- Ok, obrigado! Talvez eu venha. A que horas? – disse com displicência.
- Quero você aqui as nove. Se não tiver como vir eu mando alguém te buscar. – aquele tom autoritário parecia não dar brecha a discussões.
- Ok. – murmurei.
- Ok, o que? Você vem sozinho ou precisa que eu mande te buscar? – questionou, franzindo a testa.
- Não sei, ainda temos alguns dias pela frente. Eu te aviso. – respondi. Eu ainda não estava certo se viria a essa festa. Por algum motivo obscuro também não lhe contei que faria dezoito anos no mesmo dia.
A semana transcorreu com ele se comportando como sempre. Aquela indiferença e rabugice na escola, e aquela bajulação durante as caronas na volta para casa. Elas se tornaram um hábito depois que ele determinou que eu o encontrasse no estacionamento após as aulas. Algo nele me inquietava, meu corpo ficava tenso quando eu estava perto dele. E, embora ele não fosse um rosto atrativo, seu corpo atlético me seduzia de um modo avassalador. Na primeira vez em que acidentalmente nossos braços se tocaram, eu senti um choque percorrendo meu corpo, como se ambos estivéssemos carregados com energia estática e o simples contato provocasse faíscas. No dia em que isso aconteceu, eu pude perceber que ele experimentara a mesma reação. E desde aquela tarde no haras eu sentia tesão cada vez que via seus músculos e seu desejo pairando sobre mim.
O final de semana chegou mais rápido do que eu esperava. No sábado de manhã eu me espreguiçava debaixo do edredom de patchwork, um chuvisco carregado pelo vento agitava as folhas avermelhadas da copa do bordo em frente a minha janela, e o céu estava carregado de tons cinza. Eu pensei, belo dia para comemorar dezoito anos. Foi a primeira vez, desde a separação dos meus pais, que eu experimentei a solidão. Seriam estas as boas-vindas à idade adulta? E eu que guardava afoito o dia em que isso aconteceria, era irônico. Shutzy me encarava desolado, pulou sobre a cama e veio me lamber. Feliz aniversário Luke!
Quando desci o aroma de café despertou meus sentidos. No meu lugar à mesa havia um pequeno vaso com flores do jardim, um mimo da vovó. Me esforcei para engolir aquele nó que se formava na minha garganta. Não seja emotivo Luke, você agora é adulto. Meus avós vieram ao meu encontro antes de eu alcançar a mesa. Me cumprimentaram efusivamente e, por uns instantes, eu cheguei a achar que eles estavam mais contentes com a minha chegada a idade adulta do que eu próprio. Quando afastei a cadeira para me sentar, um pacotinho dourado envolto numa fita de veludo preto estava sobre o assento. Ao lado, um cartão da minha mãe.
- Chegou esses dias pelo FedEx, enquanto você estava no colégio! – exclamou minha avó. – Abra! – sua curiosidade era maior que a minha.
Uma luxuosa caixinha retangular com o emblema da Patek Philipe continha um discreto e sofisticado relógio esportivo.
- Legal! – murmurei desanimado. – Pelo menos ela se lembrou. – meu olhar vagava sobre o presente.
- Não fique assim. Todos nos lembramos de você, é o que temos de mais precioso. – disse meu avô. – O nosso presente você vai buscar assim que terminar o seu café! – exclamou contente.
Comecei a ficar eufórico quando ele estacionou seu carro em frente a uma concessionária. Meu avô se virou para mim e me encarou com um sorriso paternal.
- Não acredito que vocês fizeram isso! – exclamei, descendo do carro.
- Não é justo você depender das nossas caronas. Afinal, você agora é um homenzinho. – completou meu avô.
O vendedor saiu de trás de sua mesa e veio cumprimentar meu avô como se já o conhecesse.
- É este o felizardo? – indagou ao apertar minha mão. – Então vamos ver se ele vai gostar do presente. – disse ao nos conduzir até outro salão da concessionária.
- Parabéns! – ele parou diante de um reluzente VW Golf prateado e me estendeu o dispositivo com a chave.
- É lindo! – exclamei, abraçando meu avô. – Obrigado! – consegui balbuciar.
Meus avós ficaram visivelmente emocionados. E, com a ajuda do vendedor, meu avô foi me mostrando todos os equipamentos e facilidades do carro. Saímos de lá pouco depois, enquanto minha avó dirigia o carro deles, eu ia curtindo cada detalhe do meu presente, e presenciando a alegria que meu avô estava sentindo com meu entusiasmo. Meu avô também já se encarregara de me matricular no curso para motorista, uma vez que eu ainda não tinha habilitação para dirigir. Apenas deixamos meu carro na garagem e fomos passar o final de semana entre as montanhas, onde meus avós tinham uma propriedade de 250 acres e uma cabana rústica encravada ao lado de um riacho por onde as águas desciam murmurantes entre as pedras. Eu estivera lá apenas duas vezes, e era muito garoto, por isso não me lembrava de muita coisa daquele lugar. Mas o achei fantástico, embora um pouco ermo, algo que combinava com meu atual estado de espírito. De qualquer forma foi um final de semana prazeroso e tranquilo. No domingo à noite, antes de me deitar, vi que meu celular registrara cinco ligações do Jeff, dois correios de voz me convocando ameaçadoramente para seu aniversário e, por fim, uma mensagem de texto – NÃO ME DESAFIE – que não me deixou ter uma noite tranquila.
O corredor dos escaninhos estava lotado como sempre, e a algazarra agitada dos estudantes conversando sobre o final de semana quase impedia que se tivesse uma conversa sem ter de gritar, naquela segunda-feira de garoa fina e vento frio. Eu retirava os livros para a primeira aula da minha mochila, e a guardava no armário, quando uma mão pesada puxou meu braço e me fez rodopiar fazendo minhas costas baterem ruidosamente contra os escaninhos. Em seguida o braço do Jeff pressionou meu peito me imobilizando. Sua expressão me assustou. Ele tinha um olhar perpassante e colérico.
- Você está brincando comigo? Por que não respondeu minhas ligações e minhas mensagens? Está tentando me desafiar? – grunhiu, quase colando seu rosto no meu.
- Eu.... – tentei falar, procurando inspirar o ar que aquele braço comprimido contra meu peito impedia de entrar nos pulmões.
- Oi Luke! Parabéns....já soube que ganhou um presentão de aniversário! – exclamou uma colega de classe que naquele instante passava pelo corredor e me flagrara naquela atitude incompreensível. – Sua avó conversou com minha mãe esta manhã antes de eu sair para a escola. – acrescentou ela, justificando o fato de saber da natureza do meu presente.
- Parabéns? ... Presente? ... Do que ela está falando? – indagou o Jeff, afrouxando seu braço e desconcertado com as palavras dela.
- Ela falava do meu aniversário e do presente que meus avós me deram. – consegui dizer, depois de inspirar profundamente.
- Seu aniversário? Você não me disse nada! – sua voz começava a ficar irritada.
- Sim, eu também fiz aniversário este final de semana. – respondi calmamente.
Por que você não me disse nada? Eu fico danado com você quando não me diz o que está se passando com você. – rosnou colérico. – Você definitivamente está me desafiando! – exclamou.
- Quem não está entendendo o motivo de tanta fúria e de todas estas cobranças sou eu. Dá para explicar? – retorqui, sustentando o olhar no dele.
- Ah! O que eu faço com você Luke? – disse, momentaneamente perdido em sua atitude. – Você me deve uma explicação! – emendou rapidamente, tentando não perder o controle da situação.
- Desde quando eu te devo explicações? E muito menos dos pormenores da minha vida! – retruquei
- Pare de me contrariar. Isso pode te custar caro! – exclamou ameaçador.
- Não estou te contrariando, apenas te dando a real dimensão das coisas. – devolvi tranquilo.
- Vou domá-lo Luke! Não pense que você vai continuar tão desafiador. Depois das aulas quero você no estacionamento, sem nenhuma demora ou desculpa, entendeu? – sentenciou, antes de se juntar aos dois marmanjões, da sua galera do fundão, que vinham se aproximando pelo corredor. Diante de tanta grosseria até me esqueci de lhe entregar um livro – THE ART OF RIDING FOR POLO – que encontrei numa livraria na semana que antecedeu nossos aniversários, e que achei ser um presente original.
No final das aulas ele me esperava impaciente encostado à picape. Estava zangado. Decidi abrir um sorriso e tirar da mochila o embrulho de presente contendo o livro, junto com um ‘Feliz aniversário Jeff Richmond’. Ele balançou a cabeça e riu.
- O que é isto? Pensa que vai me dobrar com um presente, e se livrar de me dar explicações? – disparou, tentando fazer cara de bravo.
- Não estou pensando nada! – exclamei, sorrindo timidamente e baixando o olhar, enquanto lhe estendia o pacote.
- Você é danado senhor Luke! – ele tentava conter o sorriso que queria aparecer em seus lábios. – Mas isso não perdoa sua dívida comigo, entendeu mocinho? – emendou.
Ele ficou visivelmente contente com o presente. Talvez mais pela lembrança e pelo gesto do que propriamente pelo livro, pois pelos troféus que adornavam a estante do celeiro, ele dominava aquela arte tanto ou mais do que aquelas páginas coloridas ensinavam.
- Obrigado, gostei do presente! – disse com os olhos brilhando. – Não tenho nada para você, uma vez que fez questão de esconder que também estava fazendo aniversário. – acrescentou, em tom de desculpa.
- Não escondi nada! Fico feliz que tenha gostado, embora ache que você sabe tudo o que está escrito aí. – respondi satisfeito.
- Você leu alguma coisa do que está escrito aqui? – perguntou curioso.
- Não. Só percorri algumas páginas para saber do que se trata. – respondi.
- Pois deveria. Era uma oportunidade de aprender como funciona a relação entre o cavaleiro domador e o cavalo submisso às ordens de seu dono. – sentenciou.
- E por que eu deveria aprender isso, não me vejo montando num cavalo e jogando polo? – retruquei.
- Porque é assim que eu espero que você se comporte comigo. – disse, com uma desfaçatez que me chocou.
- Quer dizer que você quer que eu seja como um dos teus cavalos? – indaguei furioso
- Não! Quero que você deixe de me desafiar e me obedeça! – revidou.
- Era só o que me faltava! Pode ir se acostumando com o meu jeito se quiser que continuemos amigos. – exclamei encarando-o.
- Não quero ser apenas seu amigo. Quero ser o seu dono e vou domá-lo tesudinho, até você me obedecer. – rosnou carrancudo.
Eu ia desistir de entrar na picape depois dessa declaração, mas meus sentimentos por ele continuavam embaralhados e confusos. Além do que, não seria prudente alimentar aquela discussão que poderia deixa-lo verdadeiramente zangado.
- Dominar também é ter atitudes nobres. É saber pedir em vez de apenas mandar, é saber exigir sem intimidar, é saber quando deve castigar e recompensar, é saber reconhecer que o seu submisso não é um ser inferior, mas a metade que nos completa. – proclamou, ciente de seu papel dominante, assim que colocou a picape em movimento.
- Que ideias estapafúrdias! Você é um pervertido! – exclamei, assim que ele se calou. – Mandar, exigir, castigar são esses os verbos que você quer que eu entenda? Você deve estar maluco. – emendei.
- Garanto que vou fazer você entender o significado de cada um deles! – disse, imperturbável.
- Então aqueles objetos na estante do celeiro servem para você dissuadir seus submissos! – exclamei num assombro, quando subitamente consegui compreender o fato de estarem ali.
Ele apenas me encarou e me deixou experimentar a perplexidade da descoberta.
- E por que eu? – perguntei, depois de um silêncio prolongado. Minhas palavras tinham um tom triste.
- Porque gosto de você! Simples assim. – respondeu.
- Ah! Gosta de mim, mas quer me castigar, me fazer obedecê-lo? – revidei, sentindo um nó na garganta.
- Só vou castiga-lo quando me desafiar, coisa que você parece adorar fazer! – exclamou. – Se você seguir as regras direitinho não haverá necessidade de castigo. – acrescentou.
- Sádico...pervertido! – disse. Droga de lágrimas que não dá para segurar. Afinal, por que estou tão emotivo? O que esse brutamontes está fazendo comigo? Que sentimento é esse que está mexendo tanto comigo? Não dava para ele ser apenas um gostosão que eu podia encher de carinho?
- Eu não posso ser o que você quer que eu seja. – espremo as palavras através do nó na garganta.
- Você será o que eu quero que você seja. – diz ele, a voz enfática. Ele está furioso de novo.
- Não Jeff, eu tenho minha própria personalidade! – exclamei, dando o melhor de mim para parecer convincente.
- Eu sei disso, e não é esta a questão que estamos discutindo. Eu apenas quero que você não seja tão respondão, que não fique discutindo minhas ordens e, principalmente, que não me deixe ao largo daquilo que acontece com você. – seu tom é seco.
- E, quantas questões ainda temos a serem discutidas? – sorrio para ele com doçura.
- Questões a serem discutidas. – ele repete. – Vai depender o seu comportamento! – seu olhar se suaviza e se enche de humor. Sua boca se contrai e, quase a contragosto, seus lábios se curvam, e sei que está tentando conter um sorriso. É quando ele faz essa carinha que aquele sentimento estranho abala as batidas do meu coração, de uma maneira gostosa, muito gostosa.
- Para onde estamos indo? Leve-me para casa! Tenho aula de direção, esqueceu? – disse, ao perceber que ele não estava fazendo o caminho para minha casa.
- Sua aula só começa as 16:00 horas, você vai almoçar comigo lá em casa! – determina ele, sempre tão mandão, tão Jeff Richmond. Será que algum dia vou conseguir mudar isso? Por um momento percebo que eu espero que não. Estranhamente gosto dele assim, autoritário, desde que eu possa enfrenta-lo sem medo de ser punido. Que comportamento bizarro, pensei comigo mesmo. Eu estou gostando que este mastodonte mande em mim.
Esta vez foi Corine que veio nos receber à porta. Como da outra vez, estava vestida elegantemente, e abriu um sorriso ao me receber com um abraço efusivo. Eu estava um pouco mais relaxado do que da primeira vez, e minhas frases não saíram tão gaguejadas. O almoço foi servido num terraço com vista para o jardim e a piscina. Embora tivesse comido moderadamente, os pratos estavam uma delícia. Eu gostei daquela sensação de estar sentado à mesa com uma família. Albert me perguntou sobre as aulas de direção e se eu já havia me acostumado à vida no país, com um interesse sincero. Isso chamou minha atenção para o fato do Jeff ter conversado com eles a meu respeito. Mesmo este almoço, que fora certamente combinado entre eles com antecedência, parecia ir contra aquilo que meus colegas disseram a respeito do Jeff não levar pessoas para sua casa. Encarei-o por sobre a mesa, enquanto ele devorava generosas porções, o que garantia aquela abundância de músculos, e sorri timidamente para ele. Ele retribuiu com um brilho malicioso no olhar.
Depois do almoço fomos até o quarto dele. Ele apertou uma tecla no equipamento de som e os primeiros acordes de ‘In my place’ do Coldplay ecoaram pelo quarto. Eu havia me sentado na peseira da cama e ele se esparramou sobre ela, colocando um braço sob a cabeça, como apoio. A camiseta dele subiu e deixou à mostra os pelos da barriga. Que tentação. Meus dedos passeavam inquietos sobre a colcha, querendo na verdade estar deslizando por aquela barriga musculosa. Meu desejo era quase óbvio.
- Que maus pensamentos estão passando por essa cabecinha? – perguntou, de repente, quebrando o encanto.
- Nenhum. – senti meu rosto corando, e desviei o olhar.
- Pois eu estou cheio deles! – sua voz era sensual e áspera. – Ainda não comi a sobremesa. – disse, passando a mão sobre a pica. – E estou querendo comer você! – suas palavras são decididas.
Nos encaramos, deliciando-nos com a visão do outro, a música toca cada vez mais distante, a atmosfera ao nosso redor só falta estalar de tão carregada daquela eletricidade. O desejo que sinto por esse homem maravilhoso se apodera de mim à força, algo quente parece escorrer por todo meu corpo e se concentra no meu cuzinho, que se contorce num tesão alucinado. Ele me agarra pelo quadril e me puxa para junto de si. Nossos lábios se unem de maneira selvagem, e a língua dele entra na minha boca, enquanto eu solto um gemido dentro da sua. Os olhos castanhos dele estão em chamas, os lábios entreabertos, e a respiração ofegante. O tesão o domina. Com os polegares enfiados dentro do cós, ele desce meu jeans junto com a cueca, e quando minha bunda clarinha e lisa fica a descoberto, ele termina de arrancar a calça pelos pés, levando com ela os tênis. Ele se debruça sobre mim e levanta minha camiseta até expor os mamilos, e sorri com malícia. Fecho os olhos, mortificado, mas, ao mesmo tempo, muito excitado. A boca dele mordisca um dos mamilos, ele o beija e brinca com a língua ao redor dele, essa língua experiente que inspira prazer. Solto um gemido e enfio as mãos em seu cabelo.
- Ah, Jeff, por favor! – balbucio em êxtase.
- Por favor, o quê? – sussurra ele, sem largar meu mamilo.
- Quero sentir você dentro de mim. – gemo ofegante.
- Só isso? – retruca, enquanto continua com sua tortura deliciosa.
- Como assim, só isso? – pergunto incrédulo, tomado de um desejo frenético.
- Você só quer sexo baunilha? – devolve, agora lambendo meu ventre com voracidade.
- Sexo baunilha? O que é isso? – gemo, ardendo de tesão.
- Ah, meu menininho virgem! Nem você conhece a capacidade desse cuzinho tesudo sentir prazer. – murmura, tomado de um instinto predador.
Ele abre uma gaveta do móvel próximo à cama, e tira algumas esferas metálicas brilhantes unidas por um cordão. Sem me dar tempo para identificar aquilo detalhadamente, ele me vira de bruços e enfia o polegar no meu cuzinho. Gemo ao mesmo tempo em que a musculatura anal se fecha ao redor daquele dedo intrometido. Assim que ele saca o dedo do meu cuzinho, começa a enfiar uma daquelas bolas entre as minhas pregas. A distensão delas me faz sentir dor, e um gemido gutural escapa dos meus lábios. Ele tapa a minha boca com uma das mãos, enquanto a outra começa a enfiar mais uma esfera no meu cu. Ela entra gelada e dolorida. Toda minha pelve se contrai, eu sinto as esferas dentro de mim, e uma excitação medrosa começa a se apoderar de mim. A terceira bola acaba de entrar no meu cuzinho, estou ofegando. Começo a me debater tentando sair daquela posição submissa, mas ele me prende com seu corpo, e a quarta esfera acaba de ser engolida pelo meu cu. Ele me obriga a ficar de pé. Estou com o corpo todo tremendo, e sinto o peso daquelas esferas geladas preenchendo minhas entranhas. Me seguro em seus braços e solto um gemido pungente. Ele volta a me deitar sobre a cama, mas desta vez de costas. Abre minhas pernas e começa e puxar lentamente o cordão que ficou pendurado entre as minhas coxas. As bolas saem uma por uma, distendendo meu cuzinho e me deixando quase louco. O olhar dele está fixo em mim, acompanhando cada expressão do meu rosto agoniado, e há um prazer mórbido naqueles olhos aguçados. Quando a última esfera sai do meu cu eu solto um gemido de alívio, e tento fechar as coxas, mas ele me impede interpondo seu corpo entre elas. Enquanto meu cuzinho ainda está se fechando com movimentos espasmódicos, ele coloca a camisinha no cacete e me invade, aproveitando as contrações do meu cuzinho para enfiar lentamente o caralhão todo dentro de mim. Sinto o sacão dele roçando meu rego espraiado.
- Era isso que você queria? Pois agora estou dentro de você! – sussurrou excitado.
Fechei os olhos, saboreando a plenitude e a sensação voluptuosa de sua posse. Enquanto eu elevava minha pelve para encontra-lo, para me juntar mais a ele, seus movimentos ganham uma cadência mais acelerada. Ele está entrando e saindo de mim de forma alucinada, me olha vitorioso e me estoca com força, quando sinto que vou explodir, ele solta um urro que brota do fundo do seu peito, e pronuncia meu nome.
- Ah, Luke! – O ar sai quente de sua boca, e ele cai em cima de mim, enterrando a cabeça no meu pescoço.
Meu cu está ardendo, e eu levo as pontas dos meus dedos até sua nuca tentando acaricia-lo, mas ele se levanta e caminha até o banheiro. Pela porta entreaberta eu o vejo tirando a camisinha, ela está incrivelmente cheia de porra. Não me lembro de um dia ter gozado tanta porra, enquanto me punhetava. Tudo nele era demasiado.
Lembro-me de que em meia hora tenho que estar na autoescola. Droga! Estou todo dolorido e, quando ele me pegou no celeiro, eu constatei que minha cueca estava suja de sangue quando cheguei em casa. Caminhei com dificuldade até o banheiro. Ele esboçou um riso debochado quando me viu andando com as coxas travadas, como se eu temesse que algo caísse do meu cu. Eu tinha a impressão de que ele estava todo aberto.
- Você pode me dar uns instantes de privacidade? Estou atrasado para minha aula. – resmunguei, enquanto ele lavava o cacetão na pia.
- Era você quem deveria estar fazendo isso! – exclamou, olhando para a própria pica.
- Sádico, torturador! Como posso ter uma aula nestas condições? – minha voz tinha um queixume complacente.
Ele pegou a toalha que estava no gabinete da pia, molhou-a debaixo da torneira, e torceu-a tirando o excesso de água. Aproximou-se pelas minhas costas e a deslizou suavemente para dentro do meu rego. Aquela agitação que já estava esmorecendo dentro de mim voltou a ganhar força.
- Está com o cuzinho dolorido? – perguntou irônico.
- Claro! Ou você acha que eu estou acostumado a esse entra e sai de coisas enormes que você está infligindo a ele. – murmurei envergonhado.
- Eu sei que não! Por isso estou pegando leve. – sentenciou, sua mão massageava as preguinhas com a toalha gelada. E, como eu temia, havia sangue nela.
Ele me levou a autoescola e ficou esperando até que minha aula terminasse. Foi hora e meia de martírio, eu não conseguia prestar atenção às instruções do monitor com aquela dor irradiando entre as coxas. Quando voltei à picape, onde o Jeff me esperava com um sorriso de satisfação, parecia que minhas entranhas estavam todas deslocadas.
- Você vai ter aulas de volante comigo também. Assim ficará apto mais depressa! – disse, no momento em que me ajeitei no banco.
- Por favor, Jeff. Me leve para casa. – balbuciei, ignorando sua decisão.
- O que há? Ainda está sentindo dor? – indagou, o tom de sua voz ficara sério quando me encarou.
- Sim. Quero me deitar. – respondi.
- O que você está sentindo? Vou leva-lo a um médico! – declarou preocupado.
- Não! Quero ir para casa. – já não era mais um pedido, era uma determinação.
- Mas você não pode ficar assim. Um médico precisa te examinar. Me diga, o que está sentindo? – suplicou
- Seria hilário! O que vou dizer? Que acabo de ter meu cu arrombado por sei lá o que, seguido por uma jeba cavalar? – questionei contrariado.
- Bolas tailandesas! – disse, com um risinho de escárnio.
- O que? – não sabia do que ele estava falando.
- Chamam-se bolas tailandesas! As esferas que enfiei no seu cuzinho, chamam-se bolas tailandesas. Elas estimulam a contração e o relaxamento dos músculos do períneo e do ânus, desenvolvendo a habilidade de chupitar, estrangular, ordenhar, sugar e travar um cacete que seja enfiado no seu cuzinho na sequência. – sentenciou em tom professoral.
- Pervertido! – exclamei zangado. – Você me deixou machucado e exaurido, isso sim. – acrescentei magoado.
Ele me deixou em casa a contragosto. Vendo que não conseguia me convencer a ir a um médico, insistiu para ficar comigo. Fiquei feliz por não ter que dar explicações para o meu andar desengonçado e ao fato de ir me deitar tão cedo, pois meus avós haviam ido a Denver naquela tarde e só voltariam amanhã. Tomei uma ducha e ao massagear meu ventre, sentia a musculatura enrijecida. Instintivamente removi a ponta da duchinha da mangueira e a enfiei no meu cuzinho, acionei a alavanca do desviador na parede e a água tépida começou a invadir minhas entranhas. Uma sensação confortável e excitante se espalhou dentro de mim. Nunca havia sentido tantas sensações naquela região. Descobria meu corpo e a capacidade dele reagir a tantos estímulos. Depois de expelir toda aquela água, experimentei um relaxamento profundo, e só fui acordar tarde da noite, envolto, completamente nu, debaixo do edredom, com o toque insistente do meu celular.
- Porra! Onde foi que você se meteu? Estou te ligando há horas. – vociferou o Jeff, assim que coloquei o fone no ouvido.
- Fui deitar cedo e peguei no sono. – murmurei sonolento.
- Onde estão seus avós? Ninguém atendeu o telefone! – exclamou exasperado.
- Eles foram a Denver esta tarde, mas amanhã já estarão de volta. – retruquei.
- Quer dizer que você está sozinho? Estou indo aí. – notei certa euforia em sua voz.
- Não... eu já estou na cama. – disse, enquanto um clique indicava a interrupção da ligação. – Jeff? .... Alô, Jeff! Ele já havia desligado. Merda! Maluco como é, logo vai estar em frente à porta.
Mal se passaram vinte minutos e o ronco da camionete estacionando no acesso da garagem chegou aos meus ouvidos. Antes que eu pudesse cobrir minha nudez com um robe, e descer as escadas, a campainha tocou com insistência.
- Maluco! Você sabe que horas são? – esbravejei
Ele não respondeu. Apenas me enlaçou pela cintura e me puxou contra seu peito. Antes que eu conseguisse articular a frase seguinte, ele me beijou com avidez e doçura, deslizando aquela mãozonha desenfreada sobre as minhas nádegas. Impossível não ficar atordoado. Por uns instantes não sabia se o levava até o sofá da sala, ou se subíamos a escada até o meu quarto. Quando meu cérebro conseguiu articular uma solução, já estávamos no andar de cima e eu só precisei entrar na porta do meu quarto.
- Humm ... Belo ninho! – exclamou, quando me soltou e percorreu o quarto com o olhar curioso.
- Minha avó foi mesmo muito caprichosa. – respondi.
- Por que não me disse que estava sozinho em casa? Você não podia ter ficado sozinho naquele estado. Está se sentindo melhor? – sua voz denotava sua zanga.
- Esqueci. – murmurei. – Estou bem melhor. – acrescentei, com um sorriso tímido.
- Está vendo por que eu digo que vou domá-lo, você insiste em testar meus limites. – falou, carrancudo com o olhar impassível.
- Estou contente que esteja aqui! – balbuciei, segurando uma de suas mãos entre as minhas. Aquilo o desarmou. A expressão carrancuda se suavizou.
- Fiquei preocupado com você! Não faça mais isso! – ele precisava demonstrar sua indignação, e camuflar a satisfação que aquela confissão provocou nele.
- Não precisa, estou bem. Juro. – minha voz saindo acanhada. Senti uma necessidade urgente de acaricia-lo. Que estranho, nunca havia sentido isso antes.
Ele não me deixou acariciar seu rosto. Segurou minha mão antes que ela alcançasse aquela tentadora barba por fazer.
- Por que não posso te acariciar, enquanto você se apodera de algo muito mais íntimo meu e eu preciso me resignar? – ousei encarando-o.
- Porque eu sou macho! – sentenciou naturalmente.
- Sim, e daí? – indaguei perplexo
- Machos não são acariciados por outro homem! – havia convicção nessas palavras.
- Então por que me beija, me agarra e faz amor comigo? – perguntei sereno
- É diferente. Eu fodo você! Todo macho fode. – afirmou categórico.
- Quer dizer que você me fode e não sente nada por mim. – desabafei
- Eu não disse que não sinto nada por você! Não tire da minha boca palavras que eu não disse. – revidou, sua expressão começava a ficar séria.
- Se eu não posso demonstrar o que sinto por você, te acariciando, é por que você não sente nada por mim. – comentei.
- Essa é uma conclusão sua! Eu não sou macho para ser acariciado por homens! – retrucou
- Eu nunca sei como agir diante de você. Se digo alguma coisa estou te desafiando. Se não falo nada você me repreende por eu estar omitindo as coisas. Estou sempre pisando em ovos, me sinto intimidado por você. – disse, confuso. – E agora descubro que você não gosta de mim. – acrescentei, meu coração se comprimindo.
- Eu gosto de você! É a primeira vez que isso me acontece. Quero dizer, que gosto de um garoto feito você. – Fico chocado com a declaração dele.
- Um garoto feito eu, como? Um viado, você quer dizer. Mas não se esqueça de que eu só virei um viado depois daquela tarde no celeiro, antes disso nunca me passou pela cabeça levar a vara de um macho no cuzinho. E, pelo que me lembro, eu não tive muita chance de escolha naquele dia. – revidei frustrado.
- Eu não me referi a você nesses termos. Quando disse um garoto como você, estava me referindo ao seu jeito desprotegido e ao seu sorriso gostoso, ao tesão de bunda que você tem, e à beleza singular do seu corpo. É como um puro sangue, perfeito em cada detalhe! – proferiu.
- Quer dizer que agora sou como um de seus cavalos? – precisei segurar o riso.
- Não! Como uma das minhas éguas. É isso que eu quero que você seja para mim. Minha égua de ancas gostosas, obediente e submissa! – o humor desanuviara seu rosto.
- Indecoroso! – sussurrei. Bem obediente! Vou pensar no seu caso. – sorri humilde para ele.
- Por isso vou domá-lo! Prepare-se para a próxima lição. – havia malicia em seu olhar imperturbável.
- Que lição? Chega, você já se aproveitou demais de mim hoje. – retorqui.
- Essa. – sentenciou, tirando a rola pela braguilha. – Coloque na boca e chupe! – ordenou, todo Jeff mandão.
Eu seguro, timidamente, aquela jeba grossa, pela primeira vez, em minha mão. Aperto os dedos ao redor dela, e sinto a consistência daquele calibre avantajado. Ergo o olhar através dos cílios, e ele está olhando para mim com espanto. Deslizo a mão para trás e ele geme, seu corpo se enrijece, a respiração sibila entre os dentes cerrados. Com delicadeza eu o coloco na boca e chupo com força. O gosto é maravilhoso, deliciosamente morno. Ele segura minha cabeça entre as mãos e pressiona aquela tora para dentro da minha garganta. Pressiono meus lábios ao redor dela tão firmemente quanto posso, e sugo com desejo.
- Caralho. – sussurra ele.
Começo a rodopiar a língua ao redor do falo irrequieto dele. Sinto-o se encorpando em minha boca, um gosto salgado se mistura a minha saliva. Apalpo delicadamente aquele sacão ingurgitado que balança diante do meu rosto. Ele aperta mais a minha cabeça. Há um cheiro viril e excitante naquele mar de pentelhos. Continuo sugando com força, ao mesmo tempo em que percorro toda a extensão daquela rola.
- Você já provou que aprendeu a lição. E como aprendeu! – murmurou entre dentes.
Esse som sensual e inspirador me faz repetir os movimentos, e engulo-o o mais fundo que posso. Ele agarra meu cabelo e estoca a pica na minha boca. Ela começa a se encher de porra, tão rápida e abundantemente que só me resta engolir tudo aquilo para não engasgar. Volto a fixar o olhar no dele, vejo seu rosto contraído num delírio de prazer.
Determinado, mas com delicadeza, ele me puxou para junto dele ao se recostar nos travesseiros, numa posição quase sentada e as pernas estendidas sobre a cama. Quando minha avó me mostrou o quarto que havia decorado especialmente para a minha chegada, eu achei a cama dupla exageradamente grande, mas agora ela se mostrava providencial para nos acomodar confortavelmente, aquele Jeff de um metro e noventa e meus cento e oitenta e cinco centímetros. Fora um dia cheio, tenso, agitado e, bem ... dolorido, por isso levei apenas alguns minutos para cair no sono, quando minha cabeça, pousada sobre o peito dele, se movia no embalo de sua respiração cadenciada, e no calor que o corpo dele irradiava. Seus braços me envolviam e ele acariciava meus cabelos com suavidade. Foi a primeira vez que dormimos juntos, e a primeira na qual eu compartilhei a cama com alguém. Quantas sensações eu desconhecia!
O dia estava cinza lá fora, o quarto mergulhado numa penumbra repousante. Algo pesado sobre a minha cintura cerceava meus movimentos, o braço do Jeff. Eu estava nu debaixo do edredom. Onde teria ido parar o robe que eu usava ao cair no sono? Os pelos do peito dele roçavam minhas costas a cada inspiração. Uma de suas pernas estava enroscada entre as minhas. Eu podia sentir a ereção dele comprimida contra as minhas nádegas. Ele também estava nu. Eu precisava me movimentar, mas não queria acordá-lo. Pouco depois, no entanto, acho que meus pensamentos se encarregaram disso, pois ele começou a se espreguiçar. Acredito que ele também acordou surpreso e confuso ao estar entrelaçado comigo, mas não perdeu a oportunidade de comprimir, com mais intensidade, seu membro enrijecido contra aquela maciez acalentadora na qual estava aninhado.
- Dormiu bem? – perguntou ao notar que eu estava acordado.
- Muito! Não sabia que você ia velar o meu sono.
- Não quis deixa-lo sozinho, você estava muito vulnerável ontem à noite. – sua voz soava menos sonolenta que a minha.
- Me sinto seguro junto de você. Quando não está zangado. – murmurei.
- Quero proteger você! – sussurrou, ao enfiar o rosto no meu pescoço. Percebi que ele estava rindo.
- Eu disse algo engraçado? – questionei
- Só fico zangado quando você não se comporta. – ele estava de excelente bom humor.
- Mas eu me comportei direitinho ontem, não foi? – disse, instigado por aquela pica se movendo nos meus glúteos.
- Ahã! Você foi um bom garoto! – sussurrou lascivo.
Ele se sentou com as pernas abertas e esticadas. Puxou meu braço e me virou em sua direção. Tive vontade de beijá-lo e me sentei em seu colo. Ele não me deixou beijá-lo, mas colocou as mãos debaixo dos meus quadris e me ergueu no ar. Tive que me apoiar em seus ombros. Seus olhos despertos brilhavam libidinosamente. Ele procurou desesperadamente seu jeans jogado ao lado da cama e tirou do bolso um pacotinho de papel laminado, rasgou-o com avidez e urgência, encapando a rola com seu conteúdo cheirando a baunilha. Meus joelhos ladeavam seus flancos, e ele começou a me puxar para baixo, me fazendo sentar sobre sua verga distendida. Deixei meu peso cair lentamente e ele entrou em mim. Soltei um gemido incontrolado.
- Isso, bom menino! É assim que eu quero você! – balbuciou, deixando o ar sair estridentemente entre os lábios.
A musculatura da minha pélvis se contraiu com força, e eu senti toda a potência daquele volume que me preenchia. Ele pegou um dos meus mamilos entre os dentes e o mordiscou, depois sem soltar, puxou-o com força. Ai, isso dói Jeff. Eu ergui meu corpo fazendo parte da pica deslizar para fora do meu cuzinho, depois tornei a sentar deixando-a me preencher. Ele chupava e sugava meu mamilo com força, enquanto eu cavalgava ritmicamente aquele mastro que ele fazia questão de empurrar cada vez mais profundamente em mim, ao levantar os quadris toda vez que eu me sentava sobre sua virilha. Gemidos roucos saiam daquela boca que eu tanto queria beijar. Suas coxas se enrijeceram e ele forçou meus quadris para baixo erguendo os dele. A jeba me estocou num ponto sensível e eu dei um gemido áspero quando ambos atingimos o clímax numa comunhão ímpar. Ele me puxou para junto dele e enfiou a língua na minha boca, a rodopiou contra a minha, e eu a chupei com desenvoltura.
- Você é muito gosto Luke! Muito gostoso. – murmurou com os lábios nos meus.
Continua ...

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Comentários


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jacome Comentou em 16/09/2015

Esta sequencia de contos sao otimos,

foto perfil usuario cadu87

cadu87 Comentou em 01/03/2015

Kherr este escritor te uma inspiração sensacional em seus contos!!

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anibal Comentou em 24/02/2015

Muito bom, gosto da maneira que escreve,

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efbrita Comentou em 23/02/2015

muito bom...bem ao estilo 50 tons...

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lordricharlen Comentou em 22/02/2015

Adoro suas histórias

foto perfil usuario goodboy

goodboy Comentou em 22/02/2015

excelente conto!




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Cilada de uma paixão adolescente

Codigo do conto:
61036

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
20/02/2015

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