O Mochileiro #Parte 11 - Ultrapassamos Os Limites



Já era noite quando voltamos para casa. Chile carregava sua mochila pesada e Juca tratou de acomodá-lo. Dormiria na sala. Eu não poderia impedir Juca de recepcioná-lo daquela forma. Ele mesmo já tinha feito isso meses atrás comigo. Tratei de inventar um mal-estar para evitar qualquer diálogo direto com Chile e me guardei no quarto. As horas se passaram rápido e Juca logo se recolheu. Deitou com o mesmo cuidado de sempre. Me viu quieto e apenas deu um beijo em meus ombros ao agarrar meu corpo. Em minutos estava completamente entregue ao sono.
Me desvencilhei de seu corpo e caminhei com ainda mais cuidadoso até a cozinha. Fingir o mal-estar evitaria conversas, mas não a fome.
Ao passar pela sala avistei o corpo de Chile caído sobre o sofá. Um lençol fino cobria seu corpo somente até a altura da cintura. Seu peitoral estava livre e iluminado pelo brilho lunar que atravessava a janela. As linhas bem definidas de sua barriga faziam o caminho perfeito e delicioso até sua virilha que eu já tinha provado o sabor. E que sabor! Tentei controlar os pensamentos mas não conseguia impedir as lembranças daquele encontro na cachoeira (conto “Dois Mochileiro e uma Barraca”) e de como o seu corpo se movia sob o brilho do sol. Eu me perdi em alguns segundos ali, apenas admirando aquela bela e grandiosa criação da natureza.
Na cozinha me servi um suco e um pão com qualquer coisa como recheio. Mastigava o lanche encostado na pia, de costas para a sala e avistando o mar pela grande janela que clareava a cozinha.

- Eu o vi tremer.
A voz rouca atravessou a meia luz do ambiente e dançou sobre minhas orelhas. Eu tremi novamente e continuei calado.
- Eu jurava que você estava prestes a desmaiar.
Eu prendi o ar. Ouvir a voz de Chile tão intimamente outra vez me deixava bambeando sobre meus calcanhares. O ouvi levantar do sofá e posso jurar que escutei cada arrastar de seus pés pelo chão da sala. Fechei meus olhos. Não queria nenhum contato visual com ele nesse momento. Ele me surpreendeu: envolveu minha cintura com suas mãos e seu nariz encostou em meus ombros nus, claramente aspirando o cheiro da minha pele. Ele falava tão suavemente que sua voz poderia entrar pelos meus poroso.
- Eu não o procurei. O destino brincou com a gente novamente, Caio. Eu estava lá, na rua, quando o vi passar. Não havia alguém que não olhasse para você e o rapaz que parecia dançar ao seu redor. Eu quis ir ao seu encontro. Eu não estava disposto a deixar você ir embora, mas se o destino estava mesmo brincando com a gente um hora ele nos juntaria novamente.
Eu escutava em silêncio. Só conseguia suar e implorar, mentalmente, que seu corpo estivesse cada vez mais perto do meu. Ele pareceu ler meu pensamento e assim o fez.
- Hoje mais cedo... mesmo sabendo que ele era meu possível namorado, por que você parou para conversar com ele? – Enfim consegui falar.
- Foi a segunda vez que o destino brincou. Eu estava lá e avistei você chegar. Eu só queria encurtar a distância entre a gente e ter olhar por mais alguns instantes.
Eu tive que sorrir. Ele usava as palavras corretas. Até o som delas ditas juntas era gostoso de ouvir.
- E mesmo tremendo eu não consegui te evitar. Eu tive que ir lá. – Eu falei ainda sem olhar seu rosto.
- Não foi por... Medo?
- Por que seria?
- Um caso seu antigo conversando com o novo... Isso poderia causar confusão.
- Não! Foram dois encontros distintos. Você lá no interior do Brasil, ele no litoral... São duas pessoas completamente diferentes. Sentimentos diferentes.
Senti seus lábios tocarem minha pele ao terminar de falar. Eram beijos suaves e rápidos que seguiam uma linha até minha nuca.
- Algo sobrou daquele encontro? – Ele falou entre os beijos
- Sobrou. Estavam dormindo e agora você fez questão de acordá-los.
Eu estava completamente arrepiado e ele sentia isso enquanto alisava minha cintura e roçava seus lábios em minha nuca. Não preciso dizer que eu estava mole e entregue a ele.
- Eu poderia te atacar aqui mesmo na cozinha. Mas seu namorado... Ele é bom demais pra isso. Seria injusto.
Ao ouvir isso fui obrigado a girar meu corpo e ficar de frente pra Chile. Fiz questão que suas mãos ainda me tocassem.
- Não há traição nisso. O que sinto por ele não é comprometido pelo que sentimos um pelo outro. Nosso encontro não é do nível ser humano.
- Você quer dizer que... Somos alienígenas? – Ele perguntou claramente curioso.
Eu tive que rir. Ele riu igualmente baixo.
- Talvez. Não duvido disso.
Ele esperou terminar de falar para encostar seus lábios nos meus também suavemente. Foi um beijo curto, mas não foi um beijo qualquer. Havia muito mais naquele encostar de lábios que em todos os beijos que eu já recebera.
- E o que fazemos agora? – Seus olhos penetravam o meu esperando pela resposta.
- Não me coloque contra o muro... ou contra a pia. Eu não sei.
- Você precisa contar a ele. – Chile sussurrava como se fosse possível que Juca escutasse o que ele dizia.
- Eu... é... quase contei um dia. Mostrei uma parte minúscula do meu diário onde... é... eu falo da sua bunda.
- Como é que é? – Ele estava de olhos arregalados – Você tem um diário e ainda fala de mim nele?
- Falo. Falo da sua bunda, sua pele, seu sexo... – eu sorri quase que vergonhosamente arrastando as pontas dos meus dedos em seus ombros enquanto desviava o olhar do dele.
- Que invasão! Eu quero ler isso! – Ele fingiu um tom sério.
- Que invasão? Invasão é você entrar aqui e impedir que eu me mova com seu corpo contra o meu. Você consegue imaginar que eu poderia ficar assim por séculos?
- Desculpa... é mais forte que eu.
- É mais forte que qualquer um. – Eu sorri e encontrei os lábios dele com os meus. Eu o beijei vagarosamente e delicadamente, sentindo o sabor de seus lábios que tanto me fizeram falta. Ele me deu o que eu queria: me entregou toda sua saliva e sua língua incrivelmente macia. Eram tudo meu. Tudo. Não demorei a segurar seu corpo com mais força, fazendo-o colar em mim completamente. Nossos peitorais roçavam durante o beijo. Suas coxas forçavam as minhas e as entrelaçavam, fazendo meu volume encostar em sua perna. Uma de minhas mãos estavam enfiados em seus dreads da sua nuca e a outra ancorada sobre a volta de sua coluna, quase em sua bunda.
- Chega... Chega! – Falei sussurrando em seus lábios parando o beijo. – Chega. Estamos ultrapassando os limites. Me deixe ser claro com Juca. Eu preciso disso. E então vemos no que vai dar.
- Juca é um homem lindo, atraente, e gostoso pra caralho – ele sorria provocativamente enquanto falava – mas eu estou vendo que terei que sequestrar você.
- Primeiro: nada de extremismos. Agradecido!
Ele riu e eu acompanhei seu riso.
- Anda, sofá! E não me faça pedir novamente. – O empurrei suavemente, liberando meu corpo do dele.
- Dorme comigo, eu nunca te pedi nada. – Ele fingia implorar.
Eu novamente tive que rir e me aproximei para um beijo rápido.
- Eu tô falando sério, garoto! Me deixa!
Me desvencilhei novamente do seu corpo e dei uma volta na mesa, deixando-o para trás. Ele me obedeceu e sorrindo foi para o sofá.

Corri para o quarto e fechei a porta atrás de mim. Colei meu rosto na porta para respirar antes de ir pra cama. Um sorriso morava no canto dos meus lábios. Posso apostar que meu rosto estava corado e minhas ainda tremiam.
Ao me virar pude sentir todas as minhas forças se esvaírem do meu corpo, deixando-me totalmente fraco. A porta praticamente me segurava.
Juca estava sentado na cama com as costas encostadas na cabeceira. Ele me olhava paralisado. Sua expressão era indecifrável.
Eu poderia morrer bem ali. Eu tenho certeza que morreria bem ali.


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Comentários


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haroldolemos Comentou em 29/04/2016

Esse tal Chile não tinha o direito de fazer isso! Já passei por situação semelhante! É foda isso!

foto perfil usuario rodrigopaiva

rodrigopaiva Comentou em 28/04/2016

Acho que juca gosta dele... Bem,no caso se fosse eu não aceitaria,a não ser q o q tivéssemos fosse algo por conveniência,só coisa de momento, pq amando a pessoa eu acho q não conseguiria divid-lo. Sou egoísta rsrs




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Ficha do conto

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omochileiro

Nome do conto:
O Mochileiro #Parte 11 - Ultrapassamos Os Limites

Codigo do conto:
82529

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
28/04/2016

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