A história de Astra parecia bem convincente. Segundo ela, Claudia havia perdido a lucidez com a morte trágica de seu marido, e eu seria um paciente que, ouvindo a história dela, acreditava ser esse homem. Ela, em seu desespero, teria criado a ilusão de que eu poderia mesmo ser o seu esposo.
Só que algumas coisas não “batiam”. Que tipo de terapeuta era esse, que fazia sexo com uma paciente? E Nguvu, se ele era mesmo apaixonado por ela e ela atraída por ele, por que a tratava daquele jeito?
Deduzi que Astra estava usando uma estratégia conhecida, muito usada por charlatães, políticos e pilantras: misturar um tanto de verdade com várias mentiras, criando uma ilusão verossímil em vez da realidade. Mas decidi fingir que acreditava, para ver o que aconteceria na sequência dos acontecimentos. Só que não podia ser tão fácil para ela, ou ficaria evidente que eu estava apenas tentando enganá-la.
- Astra, tudo isso que você me contou pode ser verdade mesmo. Mas vou ter que pensar a respeito. Eu gostaria de ficar sozinho para refletir bem.
- Mas e o seu tratamento?
- Eu estou bem, de verdade. Aquelas drogas certamente estavam me fazendo ter alucinações, ver coisas que não existiam. Em um estado de lucidez, posso pensar melhor. Tanto que não estou, neste momento, a fim de encontrar com ninguém.
- Mas e o encontro com Nguvu e Claudia?
- Como eu já disse, não estou a fim. Vou pensar bem, refletir...talvez seja melhor eu apenas ficar sozinho, trabalhando, sem me prender nem preocupar com ninguém.
- E os sonhos?
- Você disse que “sabia que eu sonhava com ela”. Não é verdade. Já tive sonhos eróticos, claro, mas daí a dizer que foi exatamente com aquela moça...não, e acho que nossa conversa deve acabar por aqui.
Ela chegou perto e tentou me abraçar.
- E o sexo? A gente se dá bem, não é mesmo?
- Eu já falei antes, não dá mais. Nem com você, e com aquela moça, nem pensar.
Ela ainda estava desconfiada, mas se afastou e foi até a porta.
- Quando você tiver pensado bem, me ligue. Vamos sair de novo com eles. Talvez ela esteja melhor.
- Quem sabe?
Ela saiu, e voltei a pensar, repassando tudo o que havia acontecido nos últimos dias. Peguei um bloco de anotações e fui escrevendo tudo o que eu lembrava, inclusive aquela parte onde Claudia me falava sobre encenação, fumaça e espelhos, teatro... sim, houve alguma coisa referente a teatro... uma peça? Mas sobre o que era?
Olhei pela janela do meu apartamento, que dava para uma avenida movimentada. Os carros passavam rapidamente, as pessoas sempre apressadas para ir para algum lugar. Trabalhar, levar os filhos para a escola, almoçar, trabalhar mais, buscar os filhos na escola, ir para lá e para cá. Como em um carrossel interminável, como se tudo tivesse que acontecer em alta velocidade... Espere. Alta velocidade. Havia alguma coisa sobre isso... um filme passando em alta velocidade. E isso tinha a ver com energia. Sim, aquela energia dourada.
Mas a energia dourada vinha de Claudia, então realmente havia algo entre nós.
Sem as drogas que Astra ficava me dando secretamente, eu estava lembrando de outras coisas. Por isso ela ficou apavorada. Eu não poderia me lembrar de alguma coisa, senão...senão, o que aconteceria?
Voltei ao que Claudia havia me dito quando fiz a projeção astral, que nem esta realidade, nem aquela onde o astral dela estava, eram a verdadeira; nossa vida real estaria em um outro plano, ou lugar. Mas o que teria ocorrido, então?
Liguei meu computador e pesquisei sobre realidade alternativa, ou paralela, acabei acessando páginas que falavam em universos paralelos e teoria das cordas. Mas não era bem isso o que eu queria. Mudei a pesquisa para “alterar a realidade”, e cheguei a um nome curioso “Magia do Caos”. Fui lendo e anotando o que poderia ser importante, até que cheguei em um trecho que dizia: “Na magia sexual, o orgasmo deve ser adiado até que sua energia seja tanta que possa, segundo a visão dos praticantes, alterar a realidade ou a percepção da realidade através de estados alterados de consciência”. Energia. A energia sexual seria capaz de alterar a realidade.
Então, estava claro que a Energia Dourada tinha a ver com o sexo, e que a proximidade entre mim e Claudia de alguma maneira amplificava essa Energia. Ainda, Nguvu provavelmente ( com a ajuda de Meister/Mistère e Astra) teriam usado nossa própria energia para alterar a realidade, mas de uma maneira imperfeita, por isso precisaram usar drogas psicoativas para nos controlar.
Uma coisa, no entanto, não me parecia encaixar nesse esquema. Nguvu não teria todo esse trabalho de alterar a realidade apenas para trepar com Claudia. Tinha que haver mais alguma coisa. Deduzi que eles queriam descobrir uma maneira de absorver a energia dela, para fazer algo mais.
Lembrei de Astra e de toda a sua preocupação em me fazer encontrar de novo com Nguvu e Claudia. Talvez...apenas talvez, a energia dela estivesse baixa e eles precisassem de mim para que ela se energizasse novamente eles usassem sua energia.
Eu tinha que tentar me aprofundar nisso, e descobrir uma maneira de desfazer o que eles haviam feito. Eu teria que, afinal, aceitar o encontro com o Negão.
Continuei pesquisando. Não sei por que, fiquei atraído por um assunto relacionado, “Tecnomagia”. Seria uma fusão entre as técnicas de magia e a tecnologia. Embora um grande escritor, Arthur Clarke, tenha escrito que “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”. Então, teria sua lógica, pois os limites entre as duas seriam imprecisos.
Assim que pude, fiz novamente a técnica da Projeção Astral e fui me encontrar com Claudia. Falei a ela sobre as conclusões a que tinha chegado, e ela concordou. Teríamos que tentar restaurar a nossa Realidade original. Para isso, teríamos que nos encontrar novamente no plano físico, aceitando o que Astra havia proposto. E, já que era a energia de minha esposa que havia permitido que tudo ocorresse, deveríamos evitar fazer sexo. Para isso, ele teria que estar consciente, totalmente dentro do seu corpo físico. Ela ficou meio contrariada, mas aceitou. Se tudo desse certo, voltaríamos a ter nossa vida normal.
Depois de retornar, liguei para Astra. Ela pareceu aliviada. Eu disse:
- Olha, eu topo encontrar novamente com eles, mas apenas para conversar. Então, não pode ser em um clube de Swing.
- Tem certeza?
- Tenho. Apenas para esclarecer essa história de terapia alternativa, se ela estiver lúcida o suficiente. E depois, cada um leva sua vida normalmente.
Ela me olhou de uma maneira suspeita, o que confirmou minha teoria de que ela havia inventado toda aquela história. Ela pensou um pouco, e então falou:
- Está bem. Vou conversar com eles. Ligo de volta em seguida.
Demorou cerca de meia hora, e ela me ligou, marcando o dia, hora e o local onde nos encontraríamos. Era a mansão onde Nguvu, que era um advogado renomado, morava.
No dia marcado, no final da tarde, fui até lá. Era uma mansão grande, estilosa. Um segurança abriu o portão, e estacionei meu carro na garagem externa.
Fui recebido por um mordomo, que me fez entrar na sala de estar, onde aguardei alguns minutos. Ele me ofereceu água e bebidas, que recusei por motivos óbvios.
Mais um pouco, e chega Nguvu, vestido de maneira elegante, como se fosse uma ocasião especial.
- Claudia já vem, está terminando de se arrumar. Sabe como são as mulheres.
- Tudo bem.
- Eu soube que Astra contou a você sobre o que aconteceu. E sobre como vocês se conheceram , durante a terapia dela.
- Uma história inusitada, para dizer o mínimo.
- Mas há partes dessa história que ela não contou, e que explicam bem os sentimentos de vocês.
- Não concordo com essa parte de “sentimentos”, já que estou solteiro e muito bem, mas gostaria de ouvir.
- Astra falou a você de um “delírio conjunto”, onde vocês fantasiaram uma realidade que não existiu.
- Foi exatamente o que ela disse. ( ver conto anterior)
- Pois nesse período, vocês tiveram relações sexuais várias vezes, de todas as maneiras, foi um relacionamento intenso. Até que o Sr. Meister entendeu que isso estava prejudicando a recuperação dela. E a sua, pois era um mundo de fantasia. Foi aí que houve a necessidade de um tratamento mais intenso, com drogas psicoativas.
Eu sabia que ele estava fazendo isso para tentar explicar alguns dos “furos” da história contada por Astra, então fiz de conta que poderia ser verdade.
- Pode ser, mas não lembro nada disso.
- Mas ela lembrou de algumas coisas. Então, se você quer apenas conversar, evite tocar nesse assunto.
- Não tem problema.
Nisso, chega Claudia. Deslumbrante, em um vestido longo prateado, com um decote generoso na frente e nas costas. Cabelo arrumado, maquiagem leve. Estava belíssima, mas ela sempre era linda, independente de estar vestida ou nua.
- Boa noite. Espero que esteja tudo bem. Ela estendeu a mão, e eu, fazendo uma reverência, a beijei.
Claro que, no plano Astral, já havíamos combinado como nos portar. Eu respondi:
- Obrigado, está tudo correndo bem. Sua casa é muito bonita. Bem diferente do lugar onde nos encontramos antes.
Ela ficou ruborizada e disse:
- Realmente. Eu estava completamente nua, no meio de um ménage. Mas você se comportou como um cavalheiro.
Nguvu interferiu:
- Vamos mudar de assunto. Eu estava dando a ele alguns detalhes da sua terapia.
- Temos mesmo que falar sobre isso?
- Nosso amigo está curioso, ele disse que não se lembra de nada do que aconteceu entre vocês.
Ela me olhou e sorriu.
- Você não lembra de nada mesmo?
- Não. Mas fiquei sabendo há poucos dias que era por causa do efeito de várias drogas que Astra estava me dando, sem eu saber.
- Não foi bem assim - disse Nguvu – você esqueceu, mas concordou em se tratar com o Sr. Meister, naquela ocasião.
- Se você diz assim... mas eu não me recordo de ter consentido.
Claudia me olhou novamente, como que sugerindo que eu não confrontasse o Negão, pelo menos ainda.
Nguvu continuou:
- Você não conseguia controlar seus instintos. E ela, em seu delírio, aceitava suas investidas sexuais. Tanto é verdade que, agora que você está sem seus medicamentos, pode não conseguir se controlar.
- Isso não é verdade.
- Vamos fazer um teste. Claudia, minha gostosa, tire toda a roupa.
Ela me olhou fixamente. Lembrei que ela ainda estava sob o efeito da droga que anulava a vontade.
Devagar ela, sempre olhando para mim, foi soltando as alças do vestido, que caiu aos seus pés. Depois, lentamente, tirou as sandálias. A seguir, o soutien e, finalmente, a minúscula calcinha.
Ela estava completamente nua na minha frente.
- Agora, quero que você chupe o cacete dele.
CONTINUA