Roucos gemidos em ouvidos moucos quando as carnes se tocam e tremem para esboçar o desejo mútuo. De quando os lábios se roçam e os olhos negros reviram-se brancos em busca de abrigo. De quando os braços se abraçam e dentro deles cabem tudo quanto for imensurável; a violência do querer imediato, a carícia da dor inevitável. Pêlos, que digam em seu ouriço quando não for possível dizer em palavras; músculos que rígidos abatem-se no calor do corpo alheio em espasmos burros, ávidos. O suor, lágrimas do prazer que coroam os contornos todos, que derramam-se pelas costas e escapulas, pelas covas e coxas, que afagam as têmporas e escorrem pelo rosto; o gosto salgado, sujo e humano quando degustado na ponta da língua. O cheiro do pescoço, nuca, da clavícula nua. Corpos, que esmagam-se contra as paredes amareladas, contra os carpetes sujos de vinho tinto, dos lençóis revirados. Quadris que expandem-se, unhas cravam as costas em carmim, o som oco do combate da carne se traduz em uníssono por dentro e por fora. De quando o traçar desse mapa é tão intenso e devastador, que no fim sobram apenas o som da respiração ofegante de dois corpos exauridos, machucados, absortos em seu próprio ato, tal qual não resta outra alternativa a não ser deitar-se no afago, rompendo com qualquer orgulho inútil. Uma morte de si dentro do outro, de novo, e de novo, e de novo.
Saboreie. Deguste a carne. Deixe as mãos morderem, e massageie com os dentes.