1. Sou um desastre na cozinha e passo lá o mínimo tempo possível. Mas tenho de me alimentar e, por isso, elegi um pequeno restaurante, que frequento quase diariamente, como “sala de jantar”. Tal como eu, há mais uns quantos ‘habitués’ que devem pertencer ao mesmo clube e, entre eles, uma senhora já com sessenta e muitas primaveras, que há muito cativou a minha atenção. É uma mulher vistosa, alta e bem constituída, sem ser gorda, que veste muito classicamente; quase sempre ‘tailleur’ ou um vestido e um casaco comprido, sapatos de salto, meias de nylon transparentes, bem penteada e com adornos de metais e pedras preciosas. Mas o que despertou verdadeiramente a minha curiosidade é que os óculos não ocultam a órbita vazia sob uma pálpebra permanentemente cerrada. É cega de um olho, ou melhor, falta-lhe o olho esquerdo. Essa deficiência parece não a afetar minimamente porque é muito sociável, quer com os funcionários do restaurante quer com outros clientes, eu inclusive, pois já há tempo me cumprimenta com uma certa familiaridade, uma vez que nos encontramos frequentemente. Aquele olho azul, fascinou-me desde o primeiro dia!
2. Uma noite entrei no restaurante para jantar mas não havia mesas disponíveis e a Drª Amélia Cabral, como toda a gente a trata, convidou-me a fazer-lhe companhia. Por delicadeza fiz-me rogado, mas perante a sua insistência aceitei e ao longo da refeição soube que é uma jurista reformada da atividade, mas dona do escritório de advogados que há naquela rua, precisamente no edifício onde habita. Partilhámos um vinho do Douro, “Quinta da Pacheca”, que acompanhou o repasto e a longa conversa que me permitiu analisar com pormenor aquela ‘sexy’ órbita vazia, coberta por uma pálpebra fechada que apenas faz pequenos movimentos quando Amélia pisca o único olho e que, de vez em quando, apresenta umas ruguinhas de expressão de acordo com os movimentos dos músculos faciais. Ela deve ter-me apanhado a mirar o olho em falta porque, do nada, referiu que há muito que tinha cegado em consequência de um glaucoma e que há dois anos o olho tinha sido removido na sequência de vários problemas; que não se adaptou à prótese e que, aliás, vive bem com a sua aparência. Eu confirmei que era uma mulher bonita, muito elegante e que só ter um olho lhe conferia uma aura de mistério e sensualidade, o que visivelmente lhe agradou, mas disse-o sinceramente e não apenas para ser simpático. Amélia estava muito descontraída e a conversa prolongou-se a ponto de pedirmos outra garrafa de “Quinta da Pacheca”. A certa altura, ela cruzou as pernas e o seu pé direito ficou literalmente encostado à minha canela, sem que ela se tenha desviado. Ato contínuo, o meu pénis levantou-se numa ereção que, claro, não consegui evitar. É que o meu fetiche de pés femininos, sobretudo se estiverem adornados de joanetes (como me parecia ser o caso) e meias de nylon, é muito antigo e compulsivo. Ao fim de algum tempo deu a entender que estava na hora de sair e eu apressei-me a pedir a conta, mas ela insistiu que eu era seu convidado e indicou ao empregado de mesa que a despesa seria da sua responsabilidade. Pediu-me para esperar um pouco e pegou no telemóvel para fazer uma chamada. Procurou um número, com uma certa dificuldade pois colocou o aparelho a uma curta distância do seu olho, e ouvi-a dizer a um tal Manuel que podia vir buscá-la. Explicou-me depois que era o motorista. Levantei-me, afastei a sua cadeira e saímos para o exterior. Alice tinha evidentes dificuldades visuais e dei-lhe a mão para a ajudar a descer os três ou quatro degraus à entrada do restaurante. Quando me preparava para me despedir, perguntou-me se não gostaria de tomar um digestivo em sua casa. Fiquei meio sem palavras e ela aproveitou o meu vacilar para dizer que estava decidido. O automóvel chegou e o motorista saiu para abrir a porta mas eu adiantei-me e fi-lo em seu lugar, dando a primazia a Alice. A viagem não durou mais do que uns cinco ou seis minutos, o motorista parou e abriu a porta a Alice que agradeceu e se despediu até ao dia seguinte.
3. Alice digitou o código da porta do edifício, novamente com uma certa dificuldade, e subimos pelo elevador até ao último andar. Tocou à campainha e abriu-nos a porta uma senhora mais nova que vim a saber, posteriormente, ser a empregada doméstica e esposa do motorista. Ignorando a minha presença, ajudou Amélia a despir o sobretudo e o ‘tailleur’ e a descalçar os sapatos, substituindo-os por uns sapatos de quarto abertos que me permitiram ver pela primeira vez aqueles deliciosos pés, adornados pelos joanetes e pelas unhas pintadas de vermelho vivo. Alice agradeceu e disse a Maria que não precisava de mais nada. Ela, pareceu-me que em jeito de aviso à minha pessoa, despediu-se e disse que, se fosse necessário estariam, ela e o marido, no andar de baixo. Alice convidou-me a sentar numa ponta do sofá enquanto preparava dois ‘whiskys’ sem gelo e, depois, sentou-se na outra extremidade, descalçando os sapatos e dobrando as pernas sobre o assento. Começou com a mão livre a massajar um dos pés dizendo que os saltos a estavam a matar e eu, não sei se do álcool, se da adrenalina, ganhei coragem para sugerir fazer-lhe uma massagem. Na verdade, ela não se mostrou surpreendida, mas perguntou-me (pergunta retórica…) se tinha a certeza, pois certamente estava transpirada. Em vez de responder peguei-lhe no pé direito, ela recostou-se no sofá, esticou as pernas sobre o meu colo, pousou os óculos numa mesa e fechou o olho com um sorriso nos lábios, à espera das minhas mãos. Enquanto lhe massajava um dos pés memorizei o retrato do seu rosto. Um olho, temporariamente fechado, com o volume normal, e o outro encovado pela falta de volume e com a pálpebra cerrada para sempre. E excitante! Depois dediquei-me a explorar aqueles pés sensuais com todos os meus sentidos. Muito bem cuidados, decorados com uma cor de verniz fogosa e, como é normal numa mulher da sua idade, com uns joanetes muito pronunciados que obrigavam os dedos “indicadores” a sobreporem-se aos “polegares”. Estavam realmente húmidos de transpiração, mas o odor natural somado ao odor do couro dos sapatos com pouco uso, resultam numa mescla altamente afrodisíaca. Massajei longamente e delicadamente os joanetes doridos e apliquei maior pressão nos arcos plantares. Depois dediquei a atenção a cada um dos dedos, à vez. Alice, através da sua atitude corporal, demonstrava prazer e uma absoluta descontração. O sorriso plasmado no rosto com o olho funcional intencionalmente fechado, os braços abandonados à força da gravidade e apenas as pernas tinham vida, movendo-se dengosamente com o pé direito a adaptar-se às minhas mãos e o outro a procurar o meu pénis intumescido. Encorajado, desabotoei as calças para facilitar o trabalho ao pé esquerdo enquanto lhe beijava sofregamente o direito. Foi aí que ela abriu aquele brilhante e solitário olho para observar, com gula indisfarçada, a minha masculinidade exuberante. E começou a trabalhar o meu pénis com os pés. A textura do ‘nylon’, o calor das solas e o odor, quase me levaram à loucura e ela percebeu que tinha que parar, para prolongar “o meu sofrimento”. Pediu-me, então para lhe tirar as meias pois estava com calor. As minhas mãos subiram pelas suas pernas e descobriram que ela não usava collants, mas sim meias de liga. Retirei uma, depois a outra e pude reparar que, apesar da idade, as suas pernas tinham um bom tónus muscular, a pele bem hidratada e os pés com uma pedicure recente em que as calosidades provocadas pela deformação natural dos dedos, não passavam de vestígios. Cada vez mais entusiasmado beijei-lhe de novo as solas, agora desnudadas, e chupei-lhe os dedos e os joanetes, enquanto lhe acariciava a vulva, primeiro por cima da ´’culotte’, que estava muito humedecida, depois afastando-a para alcançar os lábios e o clítoris. Alice rasgou literalmente o camiseiro e abriu o ‘soutien’, cujo fecho era frontal, para acariciar os seus próprios seios. Estimulei-lhe um mamilo com uma mão e o clítoris com a outra, até sentir as convulsões do orgasmo. E após o êxtase, quando ela estava em tempo de recuperação, dei comigo a pensar que a sua sexualidade estava tudo menos decadente. Alice apontou-me o braço para a ajudar a endireitar-se, bebeu de um trago o resto do ‘whisky’, sentou-se ao meu lado e os seus lábios juntaram-se aos meus enquanto a mão me agarrava os testículos. Jocosamente, disse que estavam cheios e seria melhor descarregá-los. Massajava-me o pénis e os testículos e beijava-me deixando a cavidade vazia, que em tempos acomodara um olho, a centímetros da minha cara. Adorei ver aquela pálpebra com pequenos movimentos incontrolados, mas ela reparou na minha fixação e perguntou-me, apreensiva, se me causava impressão o olho cego. Em vez de responder com palavras, beijei-lhe ternamente aquela cavidade e tateei-a com a língua… a sua reação ficou expressa num longo murmúrio de agrado. Então, começou a desembaraçar-se das roupas que ainda tinha e eu segui-lhe o exemplo. Depois pegou-me na mão e levou-me através de um corredor para o seu quarto que era dominado por uma cama “king size”. Empurrou-me e fiquei de costas em cima da cama. Certificou-se que a minha ereção perdurava e gatinhou sobre mim até emparelhar os nossos sexos. Pegou-me no pénis, começou a passar a glande pelos lábios e pelo clítoris e, lentamente, introduziu-o na vagina, sempre a olhar para mim com aquele lindo olho azul. Aumentou a cadência e o orgasmo simultâneo não demorou. Deitou-se de costas, como eu, disse apenas que estava a precisar daquilo, e ficámos em silêncio a gozar o momento. A órbita vazia ficou virada para o meu lado e durante longos minutos fiquei a apreciar os pequenos saltinhos da pálpebra, que ocorriam cada vez que piscava o olho. Riu-se quando de repente virou a cabeça e reparou que eu estava a observá-la. Então perguntou se, já que estava tão intrigado, queria ver o lugar do olho que já não tinha e sem esperar pela resposta, abriu a pálpebra com o indicador e o polegar e expôs a cavidade. Na verdade, não era propriamente um buraco, pois no interior viam-se uns tecidos rosados que se movimentavam em consonância com os movimentos do olho funcional. Assim que retirou os dedos, a pálpebra voltou a fechar-se libertando uma pequena lágrima que lambi. Agradeci a Alice a inesquecível noite que estava a ter. Ela sorriu e fez um esgar de quem não acredita, recostou-se no meu ombro e disse-me para ter juízo, porque era um jovem cheio de vitalidade e ela uma quase septuagenária sem um olho e prestes a cegar completamente. Mas o agradecimento foi sincero.
4. Ainda voltamos a ter sexo umas quantas vezes até que, por motivos profissionais, fui viver para outra cidade. Entretanto, passaram dois anos e iniciei uma relação com a minha atual companheira que conheci na nova função. Há algumas semanas ela foi de viagem para um congresso e, podendo gerir o tempo à minha vontade, voltei ao restaurante onde conheci Alice. Quando já ia a meio da refeição, Alice entrou guiada pela sua fiel empregada doméstica que, ou não me reconheceu ou fingiu não me ter reconhecido e, portanto, nada disse a Alice. Ela estava completamente cega e aquele olho azul, outrora vivo, agora olhava inerte para o vácuo. Continuava a usar os mesmos óculos, mas certamente apenas para disfarçar o olho em falta. Assaltou-me uma enorme nostalgia das noites de sexo com aquela mulher, que apesar de idosa e só com um olho, era extremamente elegante, interessante e libidinosa. Nunca mais a voltei a ver, mas guardo-a secretamente na minha memória.
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