Fim de ano inesquecível


O divórcio recente conferira-me a liberdade de viajar sem destino nem tempo definidos e tinha resolvido fazer a Passagem de Ano longe de muita gente e do frenesim típico da época. Saí no dia de Natal enquanto as famílias se reuniam ao almoço desloquei-me para norte pela A1 e fui pernoitando em pequenos hotéis mais ou menos ao acaso. Numa dessas paragens, li um folheto sobre um albergue de montanha no Geoparque de Arouca e decidi que seria um bom sítio para virar o ano. No dia seguinte, 31 de dezembro, meti-me a caminho com pouco combustível no depósito, convencido que encontraria uma bomba algures no trajeto. Já em plena serra, no meio de um denso nevoeiro, a estrada que pretendia apanhar estava encerrada por uma patrulha da GNR, por causa de um nevão. Então, segui a rota alternativa que me indicaram, mas com o “credo na boca” porque há vários quilómetros que andava com a luz da reserva acesa. E o impensável aconteceu: o motor apagou-se, felizmente a umas centenas de metros de uma aldeia que se adivinhava por umas luzes trémulas, tão isolada que nem a rede de telemóvel colaborou para me tirar daquela aflição.
Eram seis da tarde e chovia intensamente, mas não tive outro remédio senão sair e dirigir-me à primeira das casas para pedir ajuda. Ensopado, bati à porta. Uma mulher mais nova que eu, mas mal-encarada, com um ar rude, entreabriu o postigo e eu expliquei-lhe o que me tinha acontecido. Informou-me que a bomba de gasolina mais próxima ficava a dez quilómetros e que a essa hora já estaria fechada pois era o último dia do ano!... Deve ter-se compadecido com o meu ar desolado e, no final de um longo silêncio, disse-me para entrar e me abrigar da chuva. Acrescentou que tinha um quarto disponível e que não fazia sentido eu passar aquela noite no carro… se eu quisesse. É claro que me fingi relutante, pois não queria incomodar a família, mas ela disse-me que a família era apenas ela... Quando me abriu a porta, fiquei estático de surpresa – aquela mulher só tinha uma perna e em substituição da outra, uma muleta de madeira.
Com o semblante de mau humor ainda mais carregado, perguntou-me se queria entrar ou não. Respondi, meio atordoado, e entrei. Tirei o casaco, ela indicou-me um cabide para o pendurar e disse-me para tirar os sapatos molhados e para me aquecer à lareira enquanto ela ia tomar um duche e mudar de roupa. Afastou-se com desenvoltura, pelo que devia ser uma amputada experiente, e reparei como estava grosseiramente vestida, com umas camisolas grossas, umas calças enlameadas com a perna vazia dobrada para trás e presa à cintura e um botim de borracha igualmente enlameado - provavelmente teria estado a fazer qualquer tarefa no exterior. Sentou-se num banco, descalçou a bota e limpou a ponta da muleta com um pano antes de ir para dentro. O bater alternado da muleta e do pé descalço sobre o soalho de madeira soaram como uma campainha na minha cabeça.
Sentei-me numa das duas cadeiras de braços que estavam em frente à lareira. A casa era humilde, escura e sem grandes comodidades. Aquela divisão era simultaneamente o ‘hall’ de entrada, a cozinha e sala de estar, se assim se pode dizer, mas o crepitar do lume, o odor da madeira a arder e de algo que ainda fumegava na panela, eram reconfortantes.
Rita, o nome da mulher sem perna, como vim a saber mais tarde, demorou bastante para quem ia apenas tomar um duche - o tempo suficiente para queimar uma acha bem grande que eu tinha posto no lume. Regressou ao fim de uns bons vinte minutos, vestida com um roupão, uma calça do tipo fato de treino, uma meia grossa no pé, uma toalha enrolada na cabeça e a mesma cara de pau que já lhe conhecia. Continuava a não ser uma visão propriamente sexy, mas algo naquela mulher, e não me refiro apenas ao facto de lhe faltar uma perna, me fascinou.
Pedi-lhe para ir à casa de banho e reparei que havia uma ‘Gillette’ feminina sobre o lavatório, ainda molhada, e vestígios de pelos na banheira. Rita tinha estado a depilar-se! Estaria recetiva para o sexo?!
Quando regressei disse-me que o que tinha para a ceia era a sopa que estava sobre o fogão e eu respondi que a avaliar pelo cheiro deveria estar ótima e o mais importante era a companhia já que, por pouco, não ia passar o ano sozinho e enregelado. Sem dar continuidade ao diálogo e sempre de semblante carregado foi ao armário buscar dois pratos fundos, copos e talheres que colocou em cima da mesa; do mesmo armário retirou a metade de um pão caseiro, uma garrafa de vinho, um prato com um bocado de salpicão e outro com uns diospiros enormes; finalmente, dirigiu-se ao fogão, sentiu a temperatura do metal, mexeu a sopa e trouxe a panela para a mesa. Tudo isto com a muleta segura na axila uma vez que as mãos estavam ocupadas.
Aquela refeição singela era tudo quanto ela tinha para oferecer e, por isso, considerei-a um verdadeiro banquete. Além do mais, a sopa de hortaliça estava de facto divinal. Enquanto comíamos, tentei várias vezes encetar conversação, mas ela respondia sempre em monossílabos e não mostrou o mínimo interesse em saber como e porquê eu tinha ido parar ali. Eu estava cheio de curiosidade acerca da sua perna amputada, mas não tive coragem de tocar no assunto.
Após a sobremesa - diospiros, por sinal, maravilhosos - insisti para lavar a loiça, alegando que era o mínimo que podia fazer. Enquanto isso ela arrumou e limpou a mesa, encostou-se a um armário e ficou a observar-me em silêncio. Sorri-lhe, mas ela virou o olhar.
Quando acabei a tarefa disse-me para me sentar de novo à lareira, quase em jeito de comando militar, e foi buscar uma garrafa de Porto e dois cálices. Enquanto eu servia os copos Rita encostou a muleta à parede e com pequenos pulos aproximou-se da sua cadeira. A TV estava avariada, mas eu disse-lhe que não me fazia falta nenhuma, que preferia uma boa conversa.
Em cima de um aparador havia várias fotos, mas uma, em que estava a Rita acompanhada de um idoso, chamou-me a atenção. Quando lhe perguntei se era o pai, vi-lhe pela primeira vez um sorriso, mas irónico. Fiquei a saber que era o homem com quem tinha vivido, não por amor, mas porque ele lhe deu guarida quando mais ninguém queria saber dela. Rita tinha uma espécie de dívida de gratidão que pagou até ao dia em que ele morreu, faz dois anos, queimado pelo álcool e pelo tabaco. Depois disso passou a sobreviver da prestação de serviços domésticos e do cultivo de uma pequena horta para complementar os baixos rendimentos. Aos poucos foi-se abrindo e foi ela que falou do acidente no dia em que, de regresso a casa depois da escola, um condutor embriagado a atropelou. Percebi que a vida não lhe era fácil, daí toda aquela amargura.
As horas passaram mais depressa do que esperava, a garrafa estava no fim e restava-nos apenas um cálice para brindar ao novo ano, mas ainda faltava uma hora para a meia-noite e ela disse que estava cansada e se ia deitar. Peguei-lhe nas mãos, levantei-a sobre a sua única perna e dei-lhe um longo beijo na face, com votos antecipados de bom ano. Rita permaneceu estática a olhar o chão durante uns segundos que me pareceram séculos e me fizeram temer ter ultrapassado uma linha vermelha. Mas não, agradeceu-me com um sorriso e desta vez não era irónico. Quando lhe perguntei onde era o meu quarto pediu-me para a seguir. Havia de facto um quarto vago, mas levou-me para dentro de seu e apenas disse uma frase “Já há muito tempo que não tenho um pau dentro…”
Encostou a muleta à parede, tirou a toalha que tinha enrolada à cabeça e soltou o cabelo longo, encaracolado e negro com as mãos. Parecia outra! Depois despiu o roupão e por baixo da ‘t-shirt’ adivinharam-se os seios grandes, mas firmes com os mamilos muito espetados. Posicionei-me por trás, enfiei as mãos por baixo da ‘t-shirt’ e agarrei-a pelos seios; macios, quentes e com os mamilos grandes e muito duros. Belisquei-os suavemente e ouvi-a arfar com os olhos fechados e a cabeça reclinada para o meu peito. Beijei-lhe o pescoço e enquanto uma mão lhe acariciava o seio, a outra desceu, enfiou-se sob o elástico das calças e da cueca e encontrou um clítoris inchado e já muito húmido. Brinquei com ele durante uns segundos, o dedo médio sondou a vagina e confirmou que já lhe corria um rio entre as pernas… entre a perna e o coto! Rita, amparada a mim, levou as mãos ao meu baixo-ventre e verificou a ereção. Pulou até à borda da cama, sentou-se e despiu a ‘t-shirt’; os seios, adornados com mamilos e auréolas rosa eram esculturalmente belos. Empurrei-a gentilmente para trás e comecei a puxar-lhe as calças pela cintura. Ela prendeu-me as mãos a tremer, dizendo que era feio… referia-se ao coto. Ignorando-a despi-lhe as calças, intencionalmente sem olhar, tirei-lhe a meia e, devagar, explorei-lhe o pé com todos os sentidos. É largo e carnudo, com calosidades na sola, ao nível do metatarso e no dedo pequeno, consequência do sobre esforço nem sempre com o calçado ideal e tinha um odor misto de sabonete e cheiro natural muito excitante. Os meus lábios viajaram depois perna acima até ao monte de vénus e começaram a mordiscar-lhe os lábios vaginais e a chupar-lhe o clítoris. Rita agarrou-se aos ferros da cabeceira da cama e continuou de olhos fechados a saborear-me até que o orgasmo chegou.
Mantivemo-nos em silêncio, mas fui-lhe acariciando o ventre aos beijos com ela a afagar-me o cabelo. Lentamente as minhas mãos deslocaram-se das ancas para a coxas e pude finalmente explorar o coto. Curto, cerca de um palmo, cheio de cicatrizes profundas, uma das quais se prolonga pela nádega, fruto certamente de uma amputação traumática com muita destruição dos tecidos musculares. O fémur foi serrado muito próximo da articulação da anca porque quando Rita levanta o coto há uma grande porção de massa muscular e adiposa que pende inerte.
Quando ela me recordou que tinha avisado que o coto era muito feio, massajei-o afetuosamente com as duas mãos e beijei todas as suas cicatrizes. Creio que isso a descansou a ponto de apreciar as carícias que prolonguei demoradamente. Não era apenas Rita que apreciava, porque o toque naquele coto informe mas extremamente macio e prostrado, estimulou-me libido ao limite e enquanto as nossas línguas se imiscuíam uma na outra, Rita abriu a perna e o coto o mais que pode para que a penetrasse em profundidade. Sentir o pé dela apoiado na minha perna esquerda e nada na outra ainda provocou mais tesão. A excitação e o ritmo aumentaram até que Rita me pediu para não me vir dentro dela porque não podia engravidar. Então, quando o orgasmo estava iminente, saí da sua vagina e comecei a foder-lhe o coto. Não demorou muito para que ficasse repleto de esperma que Rita se encarregou de espalhar na extremidade da coxa decepada como se fosse uma loção. Resisti à ação da prolactina, a hormona responsável pela sensação de relaxamento e sonolência, e continuei a lamber a vagina e a estimular o clítoris de Rita até ela ter um segundo orgasmo, precisamente quando ao longe se ouvia o fogo de artifício a anunciar o novo ano. Então sim, os nossos lábios e línguas voltaram a unir-se e trocámos votos de um bom Ano Novo na altura certa.
Rita estava de costas com a perna fletida e as mãos por baixo da cabeça a olhar o vácuo e eu deitado ao lado dela com a minha perna sobre o coto e a mão a fazer-lhe festas num seio, quando lhe vi correr uma lágrima pela face. Preocupado, perguntei se tinha feito algo errado e depois de um longo silêncio ela fixou o olhar no meu e disse-me que nunca tinha sido amada assim… que nunca tinha sido amada, acrescentou. Cobria-a de beijos e carícias.
De manhã, primeiro de janeiro, fui a Arouca à bomba de gasolina, aproveitando a boleia de um vizinho. Consegui pôr o meu carro a trabalhar e convidei Rita a ir comigo novamente à cidade para tomar o pequeno-almoço. Ela começou por recusar, mas insisti tanto que não teve outro remédio. Vestiu um casaco/saia e calçou um sapato com um pequeno salto e uma meia de nylon que tornava a pele da perna sedosa. Por cima um casaco comprido com uma pele. Estava muito elegante e, mais uma vez, parecia outra; havia várias Ritas, não apenas uma!
Estava nervosa, quando entrámos na pastelaria, mas agarrei-lhe a mão livre e indiquei-lhe o caminho até uma mesa, indiferente aos olhares indiscretos. Depois do café pedi-lhe para esperar um pouco pois tinha umas coisas a tratar. Quando regressei ela perguntou-me o que trazia nos sacos, mas apenas lhe disse que eram coisas que me faziam falta. Ainda nos passeámos um pouco junto ao convento e no jardim, aproveitando uma nesga de sol que, entretanto, despontara. Quando voltámos à aldeia, “ordenei” a Rita que não mudasse de roupa e se sentasse que eu trataria do almoço.
Ela observava-me com um sorriso enquanto preparei sobre a mesa o que tinha conseguido adquirir na pastelaria para o nosso almoço de Ano Novo: um pedaço de leitão assado, batatas fritas, umas rodelas de laranja, duas garrafas de espumante bruto e um bolo-rei.
A comida sobrou, mas esgotámos o espumante e decidimos digerir tudo recostados na cama a ouvir o lume a crepitar e a chuva a cair. Fizemos amor como se o mundo estivesse para acabar e, já a noite ia avançada, disse a Rita que queria que viesse comigo. Fez-se um silêncio de morte e ao fim de muito tempo, ela olhou-me friamente e apenas disse que o meu mundo não era o dela e o dela não era o meu. A tristeza apoderou-se de mim e deixei-me vencer pelo sono.
Quando acordei, Rita já não estava na cama. Já não estava em casa! Deixou um bilhete sobre a mesa com uma nota escrita: “Fui trabalhar. Gostei muito de te conhecer mas não temos futuro. Obrigada!”
Esperei algum tempo para que ela aparecesse, mas, já ao início da tarde, percebi que os nossos caminhos eram de facto divergentes. No mesmo papel escrevi “Obrigado eu, pelos inesquecíveis fim e início de ano. És uma mulher extraordinária! O dinheiro que deixo aqui não é para pagar nada, é para mandares consertar a TV. Um beijo do tamanho do mundo.”
Fechei a porta, pus o carro em marcha e fiquei com os olhos em lágrimas.


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Ficha do conto

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Nome do conto:
Fim de ano inesquecível

Codigo do conto:
221187

Categoria:
Fetiches

Data da Publicação:
15/10/2024

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