Coisas sérias

A bordo de um avião de Singapura para Paris e com pouco mais de 13 horas de viagem apetece-me escrever sobre coisas sérias.
O que se segue são reflexões minhas depois de centenas de conversas com centenas de conversas e confidências com clientes enquanto acompanhante de luxo e filtradas e analisadas pela minha deformação profissional como psicóloga.
Afinal o que é um casamento? Sexo ou amor? Sexo e amor? Só amor? Só sexo? Só sei fazer perguntas. Não tenho respostas. Alguém as tem?
As primeiras imagens sobre paixão, amor e casamento vêem-nos através do cinema. Amor sem barreiras, sem fronteiras. Ricos que se apaixonam por pobres, pobres que se apaixonam por ricos. Ambos pobres, mas felizes. Amor e uma cabana. Uns que estão dispostos a dar a vida para salvar o outro. Alguns que dão órgãos vitais para a sobrevivência do outro. E normalmente um fim feliz. Casaram, tiveram filhos e foram muito felizes para sempre.
Muito bonito mas a realidade é outra. Contudo, a realidade vivida com inteligência pode ser igualou melhor do que se vê nos filmes. Os filmes prometem-nos a felicidade eterna ou a dor esmagadora, mas a maior parte das vezes o amor não é nenhuma das duas. Talvez seja apenas duas pessoas que se toleram uma à outra.
Vamos começar pelos princípios básicos e pelas grandes linhas de orientação.
Qualquer ligação saudável entre duas pessoas tem que ter uma base de verdade absoluta e de confiança mútua e total.
Na minha adolescência havia um jogo em que a principal pergunta era "O que serias capaz de fazer por amor?". "Serias capaz de desistir da tua carreira por amor?", "Serias capaz de comer um escorpião por amor?", "Cortar o polegar?", "Saltar para a frente de um carro?". "Então, serias capaz de morrer por amor?"
Nos filmes, as pessoas estão sempre a fazer coisas dramáticas por amor: abandonar as suas carreiras, doar órgãos ou desistir das suas vidas.
Aprendi tudo sobre o amor nos filmes. O amor era para sempre. O amor envolvia quase sempre chuva, pais obstinados e um sacrifício apaixonado para sempre. Para atingir aquele grande amor eu queria. Imaginava e adorava a ideia de dois grandes amigos que se apaixonam. Ao crescer queria aquele tipo de grande amor. A ideia romântica favorita era a dos melhores amigos que se apaixonam, demorei tempo a perceber que a vida real não é assim quando me apaixonei por um grande amigo e descobrimos que química não existia entre nós.
Dizem-nos que o amor não é amor até o vermos o nosso parceiro a implorar de joelhos e que um desgosto de amor não pode ser considerado como tal enquanto não nos levar à loucura. Todos nós achamos que queremos o amor, mas raramente o vimos porque o amor é o desconhecido sem limites que nenhum estereótipo romântico é capaz de capturar.
Hoje, observando as pessoas que me rodeiam, penso que maior parte das vezes o amor talvez seja apenas duas pessoas que se toleram uma à outra. É uma triste constatação.
Amor e sexo nem sempre andam ligados. Há cada vez mais casais que vivem com o sentimento, mas sem o desejo
Ao fim de alguns anos de casamento muitos homens, quando saiem do trabalho têm uma enorme vontade de ir directos para casa. Sabem que as mulheres os esperam e gostam da companhia delas. Todos acham que elas são grande parceiras. Um grande número de maridos continuam a admirara beleza das suas mulheres. Acham-nas muito bonitas e amam-nas. Afirmam ser felizes. Todos os prazeres que têm na vida são partilhados com as mulheres: os filmes, os passeios de fim de semana, as viagens, as jantaradas com amigos. Para quem os rodeia são casais com grande cumplicidade, a amizade, a boa disposição.. Parecem ser casais realizados, de bem com a vida.
Mas muitas vezes há muitos anos que não existe sexo entre eles. A intimidade do quarto serve apenas para dormirem. Muitas delas nunca estiveram muito viradas para o sexo mas com o passar dos anos a situação agrava-se até que deixam de estar disponíveis para praticar sexo. Mesmo de inicio algumas mulheres entregavam-se, mas sem beijos, nem abraços. Muito menos toques, isso deixava-as ainda mais tensas.

O sexo era aceite após muito esforço e insistência da parte dos homens. Para eles era satisfatório, mas elas achavam que viviam bem sem aquilo. Nunca conversaram a fundo sobre o assunto. Ambos evitam o tema. É incómodo e, na verdade, nenhum deles parece saber por onde começar para o resolver.
Algumas mulheres chegam a dizer aos maridos "Tenho pena de ti, qualquer dia tens que ir lá fora, satisfazer-te com as meninas."
E há homens que apesar de tudo isto se mantêm fiéis às suas mulheres.
Há casais em que nenhum dos elementos sente vontade de ter sexo e estão de bem com isso. De acordo com os especialistas, se nenhum dos elementos se queixa ou apresenta desconforto não há patologia ou problema a tratar.
Na última década, o número de casos de homens a referirem pouco desejo tem aumentado. As causas poderão estar ligadas ao stresse, ao trabalho, ao desemprego e à mudança de papéis de género.
Há casos em que o casal a dado momento perde o desejo sexual um pelo outro, embora não por outras pessoas. A escolha de viverem relações abertas, de ficarem pela fantasia ou traírem o parceiro depende de cada um.
Para finalizar, uma palavra de esperança.
Querendo e sendo a vontade dos dois, todos os problemas se resolvem. Só precisam de falar, falar e procurar soluções. Se não encontrarem soluções procurem ajuda. Mas…nunca desistam!