Meu Delegado - Capítulo 1



Três anos se passaram e agora me vejo aqui desempregada com minha mãe sem poder
trabalhar e o meu filho, que agora tem dois anos de idade.
Sim, eu realmente tive o bebê, e não me arrependo nem um pouco da escolha que fiz.O
Gustavo é a criança mais linda do mundo. Infelizmente ele se parece um pouco com o
desgraçado do DG, os olhos, por exemplo, são os mesmos. Mas o meu amor que eu sinto por
ele é tão grande que eu não consigo sentir raiva por ele de alguma forma me lembrar àquele
desgraçado, muito pelo contrario, eu o amo muito e não me vejo sem ele.
Minha relação com a minha mãe não é a mesma desde o dia em que eu contei que estava
grávida, ela não me expulsou de casa, como eu pensei que faria, mas também não temos a
mesma relação de antes. Sempre quando temos alguma discussão ela não perde a chance de
jogar na minha cara o fato de eu não saber quem é o pai do meu filho.
Eu acabei perdendo realmente a confiança da minha mãe.
Eu consegui entender o lado dela de agir assim, eu realmente não tinha motivos nenhum
para “Fazer o que fiz”. Ela não sabe o que realmente aconteceu então eu tento não sentir
raiva dela por isso.
É claro que me dói ver a minha mãe distante de mim. Mas eu não tiro sua razão por me tratar
assim.
Ela não aceita até hoje o fato de eu não saber quem é o pai do Gustavo.
Por conta disso eu virei motivos de fofoca em toda a Rocinha.
“A santinha que de um dia pro outro engravidou e não sabe quem é o pai do bebê.“
“A nova puta da favela.”
E por ai vai.
Eu tento não me importar com os rótulos que me deram depois disso, mas é difícil, ainda
mais para minha mãe. Ela sempre teve orgulho de mim, por eu ter conseguido entrar em uma
das melhores escolas do Rio naquela época e por eu ser uma ótima filha.
Ai de repente acontece tudo isso e minha vida vira de cabeça pra baixo.
Como eu engravidei no ultimo ano escolar, eu consegui terminar os meus estudos. Claro, sofri
também muito na escola por conta do preconceito por eu estar grávida aos 17 anos. Mas eu
sempre tinha a Camila do meu lado pra me defender de todos. Mas infelizmente não deu pra
eu fazer minha tão sonhada faculdade de Medicina.
Um tempo depois de eu ter terminado os estudos e do Gustavo ter nascido eu até tentei
fazer um cursinho de técnico de enfermagem. Não era a medicina que eu queria, mas pelo
menos estaria trabalhando na área da saúde que é meu sonho. Mas não deu, na época o
Gustavo estava com sete meses e eu não tinha como pagar alguém pra ficar com ele, então
acabei desistindo.
Quando meu filho completou um ano, eu consegui emprego em uma pizzaria aqui mesmo na
comunidade. Não era muito o que eu ganhava, mas dava pra ajudar minha mãe com algumas
coisas dentro de casa, e comprar leite para o meu filho, que pra mim era o essencial. Eu
poderia passar fome, mas ele não.
Como minha mãe trabalhava em casa de família ela chegava em casa cedo e eu só pegava no
trabalho na parte da noite, então ela podia ficar com o Gustavo para eu trabalhar. Ele é a
alegria da casa, parece que quando minha mãe está com ele esquece todos os problemas,
esquece que eu sou o seu desgosto, esquece tudo. Ela diz que pelo menos eu fiz algo bom
nessa vida.Pra falar a verdade de uns tempos pra cá ela vem me tratando um pouquinho
melhor, ainda não temos a mesma relação de antigamente, mas pelo menos ela me dirige a
palavra com mais frequência e de uma forma mais amena. Eu sinto que aos pouquinhos eu
vou conseguir a confiança da minha mãe de volta.
Fiquei bastante tempo nesse trabalho, não era lá grandes coisas, porém era uma grande
ajuda. Mas infelizmente, há dois meses eu fui mandada embora, na verdade a pizzaria
fechou.
Desde então eu venho procurando emprego novamente. Agora mais do que nunca.
Minha mãe acabou tendo um problema no joelho e não pôde mais trabalhar, agora por
enquanto nós vivemos da aposentadoria que ela está recebendo, o que é muito pouco pra
dois adultos e uma criança de dois anos que gasta muito.
Eu já não sei mais o que fazer, onde procurar, a quem recorrer. Já coloquei currículos em
todas as lojas possíveis e nada.
Agora mesmo acabo de chegar em casa depois de passar o dia inteiro entregando currículos
praticamente no Rio de Janeiro inteiro.
Abro a porta e vejo aquela bolota branca de olhos incrivelmente azuis correndo em minha
direção.
- Mãmã... mãmã. – vem ele de braços abertos.
- Oi meu amor. – digo o pegando no colo e o apertando nos meus braços.
Ele pega o meu rosto em suas mãos e me dá um beijo bem molhado.
- Que saudade que eu estava de você, meu amor.
- Dade..dade – diz eufórico.
Ele agora está começando a falar as coisas, está naquela fase de repetir o que os adultos
falam.
- Como foi hoje, Sophia? Conseguiu alguma coisa? – diz minha mãe na cozinha, lavando a
louça.
- Nada mãe. – Digo me sentando no sofá com o Gustavo no meu colo – Entreguei currículo em
todas as lojas possíveis. Todas diziam o mesmo. Que se eu fosse escolhida entrariam em
contato.
- Tem que ter fé... Você vai consegui algum emprego, eu sei.
- Deus te ouça, mãe. – digo e desço para o chão me sentando ali mesmo no tapete. Coloco o
Gus sentado na minha frente e começo a brincar com ele.
Não demorou muito e o celular começou a tocar. O pego dentro da minha bolsa e dou uma
pequena olhada antes de atender vendo que é a Camila.
- Oi Mila, como está de viagem? – ela tinha ido para Nova Iorque passar as férias.
- Acabei de chegar em casa, Soph. E estou morrendo de saudade de vocês.
- Nós também. Né Gus – digo brincando com o Gustavo. Ele faz um “ É ‘’ e eu começo a rir.
- Que coisa mais fofa da dinda... – diz e pelo o que eu a conheço,está apertando a própria
bochecha. – Traz ele aqui amanhã, vai ter um almoço aqui em casa. E eu quero matar a
saudade de vocês dois.
- Tá bom Mila, vamos sim. – aceito de imediato, eu estava com saudades da minha amiga um
mês que eu não á vejo. E para nós duas, um mês sem nos ver é muita coisa.
- Me fala. Como você está?!
- Eu estou bem... cansada, mas bem. Andei hoje o dia inteiro atrás de um emprego e nada.
- Ainda tá nessa amiga? Pensei que já tinha arrumado alguma coisa.
Ela até tentou me colocar na empresa do pai dela, mas não tinha como. Todos os cargos
estavam ocupados. E de jeito nenhum eu ia tirar o emprego de uma pessoa pra eu entrar,
jamais. Eles precisam tanto quanto eu.
- Quem me dera, acho que seria mais fácil eu ter um caso com o Caio Castro do que arrumar
um emprego no Rio de Janeiro em meio essa crise toda. – digo e ela começa a rir do outro
lado. Não aguento e começo a rir também.
- Só você mesmo, Soph.
- Estou falando sério, está muito difícil arrumar emprego hoje em dia.
- É realmente...
- Realmente o que Camila? Você é rica, não precisa trabalhar.
- Ai que você se engana viu mocinha... Meu pai está enchendo o meu saco pra eu ir junto com
ele pra empresa.
- E não vai por quê?
- Ai lá é muito chato, você sabe que o que eu gosto mesmo e de adrenalina, né. Eu estava
falando com o meu primo Delegado da PF, e ele disse que vai começar as inscrições para a
prova da Civil. – diz animada.
- E você vai fazer?
- Estou querendo... Lógico que se eu fizer vai ser escondido né, se meu pai souber ele corta
minhas asinhas antes mesmo do voo...
- Vem com a vovó, vamos comer. – diz minha mãe pegando o Gus do meu colo.
Volto minha atenção a minha conversa com a Camila.
- Eu não sei por que você não abre logo o jogo pra ele e diz que não quer assumir a empresa.
Você já ficou três anos fazendouma faculdade que não gostava. Agora vai ficar também a vida
trabalhando com o que não gosta?
- Ah sei lá, eu queria ser igual ao meu irmão sabe, meio que foda-se pra vida, mas eu tenho
medo de decepcionar o meu pai.
- Pior que decepcionar o seu pai é passar a vida fazendo o que não gosta.
- É... Você tem razão.
Olho para a cozinha e vejo minha mãe e o Gustavo em uma guerra com a comida. É sempre
assim minha mãe nunca consegue dar comida na boca dele. Quando consegue, ela já está
cansada de tanto brigar.
- Mila, vou desligar aqui, o Gus não quer deixar minha mãe dá comida pra ele, e eu vou dar
uma mãozinha aqui, ela já deve estar cansada, coitada, de correr atrás dele o dia todo.
- Gustavo sendo Gustavo. – diz rindo. – Tudo bem amiga, vai lá... E ó, te espero aqui amanhã
em.
- Pode deixar, estaremos ai.
- Beijos.
Desligo e logo me levanto indo em socorro a minha mãe.
- Come meu filho, está gostoso. – diz minha mãe tentando enfiar a colherzinha com a comida,
dentro de sua boca. Só que ele, turrão como sempre, não abria. Balançava a sua cabeça de
um lado para o outro dizendo que não.
Tive que rir com essa cena.
- Mãe, deixa que eu dou, pode ir descansar que eu cuido dele agora. – digo e lhe dou um
sorriso, fico feliz quando ela me retribui e sai em direção ao seu quarto.
Sento-me na cadeira e puxo sua cadeirinha para mais perto de mim. Pego o prato na mão e
encho a colher de comida.
- Olha meu filho, aviãozinho. – começo a fazer a colher de aviãozinho o que o faz rir e eu sem
perder tempo nenhum, coloco a colher dentro de sua boca. – Olha que gostoso, filho.
Ele a principio faz uma carinha de choro, depois parece gostar e engole a comida, depois
abrindo a boquinha pra eu colocar mais.
Minutos depois ele já estava alimentado, já era oito horas da noite, e eu vi que ele já estava
com seus olhinhos acanhados. Pego e levo ao banheiro lhe dando um banho, coloco sua
fralda, a roupinha de dormir e me deito com ele na minha cama. Ele coloca sua mãozinha no
meu rosto e dou leves palmadas em sua bunda. Ele sempre dormia rapidamente quando
fazia isso. E hoje não foi diferente, ele rapidamente pegou no sono.
Levanto-me, o pego no colo e o coloco dentro do berço ao lado da minha cama.
Pego uma muda de roupa velha no guarda roupa e vou direto para o banheiro.
Deixo a água quente cair sobre minha cabeça me fazendo relaxar do dia cansativo que eu tive
hoje, e ao mesmo tempo sem nenhuma esperança de que conseguiria algo.
Depois de um tempo debaixo do chuveiro, decido sair, visto minha roupa. Vou para a cozinha
e esquento a comida no micro-ondas.
Como e quando termino lavo a pequena louça que sujei.
Volto para o quarto vou até o berço do Gus e lhe dou um beijo. Como estava muito cansada,
me deito deixando que o sono me leve, com a esperança que amanhã será um novo dia, com
novas oportunidades.
E realmente, algo dentro de mim me dizia que amanhã seria um ótimo dia pra mim.
[...]
Rodrigo
Que porra, eu não aguento mais, tanta coisa na minha cabeça, tantos problemas pra resolver.
São os pepinos na Delegacia, os problemas na minha casa.
Agora minha empregada resolveu que vai se aposentar. Vê se pode?
Eu sou delegado federal, moro e trabalho aqui mesmo no Rio de Janeiro, foi onde eu nasci e
cresci. Não tive uma infância muito boa de recordar. Mas também não vem ao caso agora. O
problema agora é que eu tenho que arrumar uma porra de uma empregada logo.
Eu não posso ficar sem empregada dentro de casa, eu não sei fazer porra nenhuma e odeio
ficar tento que comer fora. Nada se compara a uma boa comida caseira.
A Zeiva, minha empregada atual, disse que ficaria comigo só por mais duas semanas e que
depois eu teria que me virar, pois ela não poderia mais ficar. Eu não sei mais o que fazer,
minha cabeça está cheia, eu estou estressado...
Resolvo ligar para a minha mãe, do que jeito que é, vai ficar feliz em poder me ajudar com
isso. E ela provavelmente deve conhecer alguma agencia boa para contratar domésticas.
- Oi meu filho como você está? Estou com saudades, faz tempo que não aparece aqui. – diz
tudo rápido sem me dá chances nenhuma de falar.
- Oi mãe, preciso da sua ajuda. – vou direto ao ponto. Não gosto dessa melação toda. Eu
prefiro e gosto de ficar mais na minha, por isso que fui morar fora de casa bem cedo.
- Nossa, filho! Não sei como ainda me surpreendo. Você só me liga quando quer algo, mesmo.
Vai começar a porra do drama.
- Mãe, a senhora vai poder me ajudar ou não?! – pergunto já sem paciência.
- Fala filho, o que você quer?
- Eu preciso de uma empregada nova, e eu não estou com tempo pra arranjar uma.
- E a Zeiva?
- Ela vai se aposentar... Mãe eu preciso de uma empregada pra ontem, a senhora consegue
pra mim?
- O que eu não faço por você né meu filho... Pode deixar que eu arrumo isso pra você.
- Obrigado mãe. – já ia desligar quando ouço sua voz novamente.
- Filho aparece qualquer dia, estou com saudades. – diz com uma voz de choro.
Isso me parte o coração, não é que eu não ame minha mãe, é lógico que eu a amo muito.
Mas eu não consigo expressar meus sentimentos por ninguém, principalmente por ela, que
querendo ou não, foi a responsável por uma das fases, se não a pior, fase da minha vida. Que
me deixou marcas e me fez ser o que sou hoje, um homem fechado, quebrado, com um
coração intocável. Tudo isso por culpa daquele desgraçado que se dizia meu pai...Mas enfim,
isso não vem ao caso agora.
- Pode deixar mãe, quando der eu apareço.
- Amanhã vai ter um almoço na casa da sua tia Patrícia, ela vai fazer um almoço pra
comemorar a volta da Mila, aparece lá.
- Eu vou ver mãe, não prometo nada. – digo me jogando no sofá.
- Tá bom então, estaremos te esperando de qualquer forma... Boa noite meu querido, Te
amo.
- Boa noite mãe.
Finalizo a ligação e olho no visor olhando as horas 20:30hrs.
Eu preciso relaxar, ando com a cabeça muito cheia de tudo, preciso descarregar isso.
Vou até minha agenda do celular e em meio a tantos números escolho a Lívia, a mais
obediente.
No segundo toque ela atende.
- O que devo a honra da sua ligação, Mestre? – diz com uma alegria contida na voz.
- Está livre hoje, Lívia?
- Para o senhor eu estou sempre, Mestre.
- Então se arruma que daqui a uma hora eu passo ai pra te buscar.
- Alguma preferencia, Mestre?!
- O de sempre, vestido preto, cabelos soltos, salto alto e o principal... sem calcinha. – ouço
um leve gemido do outro lado da linha e abro um pequeno sorriso em satisfação.
- Sim, Mestre.
Finalizo a ligação e subo pro quarto pra me arrumar.
Só essa sessão mesmo pra conseguir relaxar, é sempre assim quando estou estressado
escolho uma das minhas submissas e as levo para o clube de dominação no qual eu sou um
dos sócios. Lá eu saio leve e relaxado depois de uma ótima transa com uma submissa muito
gostosa e obediente como a Lívia.
E não, eu não sou um louco, sádico, viciado, não faço nada que machuque as mulheres,
raramente eu procuro o clube, não é como se essa pratica fosse uma necessidade para mim.
Não é como se eu não soubesse viver sem, pois eu sei e consigo. Mas eu gosto de variar de
vez em quando e eu descobri que é bem prazerosa a sensação de estar fortemente no
comando de tudo.

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Comentários


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vocepede Comentou em 30/01/2020

Bela introdução! Gostei e vou acompanhar toda a saga! Parabéns!




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Ficha do conto

Foto Perfil erodev
erodev

Nome do conto:
Meu Delegado - Capítulo 1

Codigo do conto:
110195

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
11/12/2017

Quant.de Votos:
8

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