Meu Delegado - Capítulo 24



Rodrigo
Dois meses depois...
Dois meses haviam se passado e nada de ela voltar, estava tudo do mesmo jeito, ela não
reagia quando conversávamos com ela, ela ficava apenas imóvel naquela cama. E eu já não
aguentava mais, a cada dia que passava e eu a via daquele jeito eu me sentia pior ainda. Eu
não via a hora de ela levantar daquela cama e a gente sair daquele hospital, juntos.
Quando nós vimos que já tinha se passado uma semana e nem sinal de ela acordar, a dona
Marta concordou comigo que era a hora da gente levar o Gustavo até ela. Até porque nós
não sabíamos até quando ela iria ficar naquele hospital, nós desejávamos que fosse pouco
tempo, mas já se passaram dois meses e nada.
A reação do Gustavo foi diferente da que eu pensei que seria. Ele não chorou como eu pensei
que fosse fazer ao ver a mãe naquele estado. Ele ficou triste, mas assim como nós sempre
fazemos quando vamos visitá-la, ele apenas conversou com ele, da maneira dele é claro, mas
conversou.
Eu passo todos os dias no hospital para visita-la e assim que saio de lá vou para o meu
apartamento onde a dona Marta continua morando com o Gustavo, pois eu gosto sempre de
coloca-lo pra dormir, e depois volto para a casa... Mas uma coisa que me incomoda todas as
vezes que eu vou visitar a Sophia é aquela mulher lá, a Isabela, irmã do DG. Ela me olha como
quem soubesse de tudo o que eu fiz e estivesse me julgando em pensamentos...
Olhar pra ela quase todos os dias me remete lembranças que eu queria esquecer. Não por
arrependimento, mas sim porque eu não gosto de me lembrar o quão sangue frio eu pude ter
sido, a ponto de matá-lo daquela maneira. Mas é como dizem: A dor nos muda. E ela
realmente me mudou... e mudou pra pior.
Naqueles dias eu estava louco, completamente maluco, um verdadeiro sádico. Eu não
pensava, apenas agia, agia na raiva, com a dor de ver a minha mulher todos os dias nesse
hospital. Com a dor de ter perdido um filho que eu nem tive a chance de conhecer. Eu juntei
tudo isso, todas essas dores e a raiva e agi feito um monstro, eu queria que ele pagasse por
tudo que fez, não só a Sophia, como também as outras pessoas inocentes. Eu queria que ele
sofresse muito, antes de morrer, queria que ele implorasse pela morte. E isso tudo realmente
aconteceu. Mas por que agora, tanto tempo depois, eu não me sinto mais tão satisfeito igual
eu me sentia há dois meses?
Como eu disse, não chega a ser arrependimento. Eu acho.
Pelo menos não de ter matado ele. Mas sim da forma como tudo aconteceu até chegar a
morta-lo de fato, eu nunca pensei que seria capaz de fazer aquelas coisas. Mas eu não
pensava, apenas agia. Agia e eu realmente não conseguia me reconhecer. Eu não era daquele
jeito... Eu não sou daquele jeito, mas a minha ira me transformou de uma forma assustadora.
Eu em toda a minha vida repugnei tanto os policiais corruptos que eu acabei agindo feito
eles. Acabei forjando, de certa forma, uma morte. Eu planejei tudo friamente e fiz dando a
entender que fossem bandidos de outras facções, ou até mesmo a própria facção, matando
ele.
E eu de fato consegui isso.
No dia seguinte as noticias de que um corpo carbonizado foi encontrado em pneus, na
Rocinha, começou a rodar as TV’s e não demorou muito para que os exames comprovassem
que era o DG. E o caso foi deixado de lado, não só pelo fato dele ser um bandido e a policia
não dá a mínima para a morte de um, como também a forma como aconteceu isso, deu a
entender que foi rixas de bandidos.
Às vezes eu tenho sonhos com aquele dia e acordo assustado. Mesmo matando aquele
infeliz ele continua infernizando a minha vida. Será que esse é o preço que se paga por matar
uma pessoa daquela forma? Ser infernizado?!
Eu sei que meu lugar no inferno já está bem guardado por conta disso. Tanto que eu enojava
e sentia raiva do meu pai com as coisas que ele fazia, eu consegui ser ainda pior que ele e
isso me envergonha. Eu não sei como vou ter coragem de olhar para a Sophia depois de tudo
isso. Eu a conheço e sei que ela não concordaria com o que eu fiz. Apesar de ele ter feito
muito mal a ela eu tenho certeza que não era desse jeito que ela queria que ele terminasse,
pelo menos não pelas minhas mãos... não que eu fosse o causador dessa morte cruel.
Eu não vou ter coragem de contar pra ela, mas pelo o que eu a conheço ela vai querer saber o
que houve com ele...
Hoje, a parte de mim que sempre me dizia naquele dia para eu parar, agora sofre por algo
chamado remorso. Mas a outra parte que me dizia para continuar, que aquilo era o certo a se
fazer, me diz pra esquecer, pois ele mereceu cada castigo sofrido, que ele mereceu passar por
tudo que passou.
E eu dividido nessa, realmente não sei o que pensar, não sei o que fazer e muito menos o
que dizer.
[...]
Sete meses depois...
Estava na delegacia e como sempre contava os minutos no relógio para eu sair dali e ir ver a
Sophia.
Eu estava começando a perder as esperanças de que ela fosse realmente acordar algum dia.
Mas mesmo assim eu nunca saía do lado dela, nunca deixava de ir visitá-la. Eu estava sempre
ali.
Faltava pouco mais de uma hora para o meu turno acabar e eu estar finalmente livre para
visitá-la.
Estava lendo algum dos casos em que eu estava de frente quando a Clara entra na sala.
- Com licença, Rodrigo.
- Fala Clara! – digo soltando os papéis de minhas mãos e deixando sobre a mesa, levando a
minha atenção para ela, parada a minha frente.
- É que, depois do horário a gente vai dar uma esticadinha naquele barzinho que a gente
sempre ia, lembra? – aceno pra ela, já sabendo o que ela quer. – Ai como hoje é sexta e tudo
mais, eu queria saber se você não quer ir com a gente.
Ela fala e faz aquela cara de puta encubada dela, que somente eu consigo ver.
Eu sei o que ela está tentando fazer, fazer o mesmo da vez em que transamos, armando uma
situação pra ir pra cama comigo novamente.
Ela faz a mesma coisa toda à semana, quando não é me convidar pra ir ao barzinho é me
pedindo carona com a velha desculpa do carro na oficina. A carona eu até dou, mas só isso.
Sempre deixei claro pra ela que sou comprometido e que nunca trairia a Sophia.
- Você sabe muito bem que eu não vou mais a esses lugares, não sei por que ainda perde o
seu tempo me chamando.
- Aah é que eu sempre tenho a esperança que você aceite sair com a gente. Se divertir um
pouco, sabe?
A gente... sei.
- E outra, eu te vejo tão pra baixo desde quando aquelazi... é... a Sophia, entrou em coma.
- Se eu quisesse realmente me divertir eu faria isso, e pode ter certeza que eu não precisaria
da sua companhia pra tal coisa.
- Nossa Rodrigo, não precisa falar assim, também... – o seu rosto estava vermelho e posso
sentir sua voz um pouco tremula.
- Eu só quero o seu bem, achei que te fazer esquecer que a Sophia está numa cama de
hospital, por um minuto, fosse te fazer melhor.
- Mas quem colocou na sua cabeça a ideia de que eu quero me esquecer dela? – a paciência já estava acabando.
- Qual é Rodrigo. Ela já está a sete meses naquela cama, inconsciente. Você realmente tem
alguma esperança que ela volte?
- Isso não é da sua conta. Eu só quero que você saia dessa sala agora mesmo, antes que eu
perca o resto da paciência que ainda me sobra.
- Tudo bem, me desculpe por me importar com você, Rodrigo e querer o seu bem... E o seu
bem não é sofrer por uma pessoa acamada que você nem sabe se um dia voltará mesmo ou
não. Você não merece isso, você merece uma pessoa feito você, uma pessoa que vai estar
sempre aqui e....
- E eu já encontrei essa pessoa, e não ela não é você e nunca será. Essa pessoa é Sophia, a
qual eu vou ficar esperando por quanto tempo for preciso. – me levanto da cadeira
borbulhando de raiva e abro a porta da sala. – Agora saia daqui e só dirija a palavra a mim
quando for algo relacionado a delegacia. Eu não admito você e nem ninguém se metendo na
minha vida. Entendeu?
- Tudo bem Rodrigo, mas era pro seu...
- Agora sai. – digo apertando com força a porta, pois a minha vontade era bater nela por ter
falado desse jeito, mas eu nunca faria algo assim, então pra extravasar a minha raiva eu
estou praticamente arrancando a porta com a mão.
Ela me olha e posso ver lágrimas em seus olhos antes de ela se retirar.
Fecho a porta, me sento novamente na cadeira e tento me concentrar no meu trabalho.
[...]
Chego ao hospital e faço o mesmo processo de sempre. Passo na recepção, pego o meu
cartãozinho de visitante, vou em direção ao quarto da Sophia e antes de entrar higienizo as
minhas mãos.
Já consigo vê-la no estado que está e não chorar, mas não significa que o meu coração não
doa vendo-a nesse estado.
Sento-me ao seu lado como sempre fazia e pego em sua mão.
- É meu amor, mais um dia... Mais um dia sem poder ouvir sua voz, sem poder te beijar...
Você não sabe o quanto é difícil te ver desse jeito, ou até saiba de tanto que eu me lamento
disso aqui com você. – solto uma risada fraca. – Mas eu só queria te dizer o quanto preciso de
você de volta, eu já não aguento mais, não aguento mais, Sophia te ver desse jeito, não
aguento mais vir aqui pra esse hospital te ver ao invés de chegar em casa e te encontrar na
cozinha fazendo o nosso jantar. Ainda me dói muito todas as vezes que eu me lembro do nosso bebê. É difícil quando eu tenho que explicar ao Gustavo que eu não sei quando a
mamãe dele vai acordar, pois isso só depende de você reagir, os médicos estão fazendo tudo
o que deve fazer, Sophia, mas você também tem que lutar, você não pode se entregar a isso.
Por favor, não desista, não desista de você, não desista da gente. Não desista de viver.
Passo minha mão pelo seu rosto e logo em seguida abaixo minha cabeça sobre nossas mãos.
Deixo um beijo ali e as lágrimas descem.
- Eu te amo... Preciso tanto de você, Sophia, tanto.
Por um momento eu podia jurar que ela tinha apertado a minha mão, mas eu não sabia se
era mesmo aquilo ou coisa da minha cabeça.
Levanto o meu rosto e eu não posso acreditar no que estou vendo.
Quanto tempo eu esperei por isso!
Os seus olhos estavam abertos, levemente abertos por conta da claridade, eu acredito, e logo
em seguida ela os fecha apertando-os com força, parecendo realmente que a claridade a
incomodava.
Eu não consegui ter nenhuma outra reação a não ser chorar, chorar e mais nada.
- Meu Deus, eu não acredito. – me levanto e me debruço de leve sobre ela. – Você acordou,
Sophia, você acordou... você voltou pra mim, eu sabia que você ia voltar... Eu sabia, eu sabia.
Eu distribuía beijos sobre seu rosto, a minha vontade era de arrancar aquele tubo e beijar a
sua boca, mas eu não sabia o que isso causaria então eu me contentei em apenas beijar o seu
rosto.
Ela abre os olhos novamente, agora aguentando mantê-los abertos por um pouco mais de
tempo.
- Meu Deus, eu não estou acreditando, você não sabe quanto tempo eu sonhei e esperei por
esse momento. – digo passando as minhas mãos pelo seu rosto e cabelo.
Quanto tempo eu esperei por esse momento.
Lembro-me de que tenho que chamar o médico, e aperto o botãozinho ao lado da cama. Não
demorou muito e o medico junto com dois enfermeiros entram no quarto correndo.
- E-ela acordou, doutor, ela acordou.
- Eu vou precisar que você se retire para fazermos uns exames. – ele sabendo que eu iria
recusar, continua. – Por favor, Rodrigo. Depois desses exames você vai poder ficar com ela
quanto tempo quiser.
- Tu-tudo bem. – deixo um ultimo beijo em sua testa e antes que eu saia do quarto, consigo
ver o seu olhar de desespero direcionado a mim e o meu coração se parte. Um enfermeiro me
acompanhou até a recepção e disse. Acho melhor o senhor avisar a família enquanto isso, eles vão adorar saber que ela acordou.
Ele sai, eu pego o meu celular e ligo para a Camila.
- Oi Rodrigo.
- Mila ela acordou. – a minha felicidade era tão grande, eu esperei tanto tempo pra poder
dizer isso.
- Meu Deus, Rodrigo, graças a Deus... Como? Quando foi isso?
- Agora, Camila, e-eu estava com ela. Eu estava falando com ela como sempre falo e ela
apertou minha mão, depois eu vi os seus olhos abertos, Camila ela voltou, depois de tanto
tempo ela voltou.
- Meu Deus, Rodrigo, e-eu não estou acreditando, eu estou indo para ai. – ela assim como eu,
chorava.
- Tá, avisa a todo mundo ai, liga pra dona Marta pra mim, por favor.
- E-eu não estou em casa, ma-mas eu aviso, pode deixar que eu aviso.
Desligo o telefone e me sento naquela cadeira tão conhecida por mim nesses últimos sete
meses
Meia hora depois a Camila chega ao hospital com o... Douglas?
Mas como? Eu perdi alguma coisa aqui?
- Como ela está? – ela me abraça e me olha esperançosa.
- Não sei ainda, o médico me mandou sair do quarto pra fazer os exames nela. – digo ainda
olhando para o Douglas, não acreditando no que estava acontecendo.
- Cara... Eu perdi alguma coisa aqui? – digo apontando para os dois
- O quê? Eu e o Douglas?
Aceno parecendo meio obvio.
- Aah a gente está se conhecendo. – ela diz como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- Conhecendo? – digo olhando para ele. – E eu posso saber a quanto tempo vocês estão se
conhecendo?
- Aaah! – ele coça a cabeça sem graça e me olha. – Uns quatro meses, eu acho.
- Porra. E quando vocês iriam me contar que “estavam se conhecendo”? – faço aspas com os
dedos.
- Ah Rodrigo, sei lá é a gente não queria contar nada pra ninguém, agora, nem mesmo a
minha mãe sabe... – ela para e pensa. – Bom... Ela não sabe quem é exatamente, mas sabe que tem alguém... coisa de mãe metida a saber de tudo.
- Mas nem pra mim, cara? Você é meu amigo, Douglas e você Camila é como se fosse a minha
irmã. Eu acho que deveria saber.
- Ah, mas é que estava tão bom do jeito que estava que eu nem me lembrei de avisar nada. –
ela olha pra ele ri de um jeito safado e morde de leve o canto da boca.
PORRA QUE NOJO, CARA.
- Da pra parar?
- Aãn?!
- Essa safadeza ai, Camila, nós estamos em um hospital. E eu não sou obrigado a ter
imaginações sobre o que vocês estavam fazendo de tão bom que você chegou a se esquecer
de me avisar.
- Aah ai o problema já é seu e da sua imaginação fértil. Eu não disse nada.
- É não disse, mas deixou pouca coisa pra minha mente começar a formar coisas. Porra que
nojo.
- Ai o problema já não é meu. – ela vai até o Douglas e o abraça de lado.
Só isso que me faltava.
Resolvo deixar esses dois de lado, pelo menos por agora, e volto a me sentar na cadeira a
espera de mais noticias. Não demorou muito e a minha mãe, a tia Patrícia e a dona Marta,
junto com o Gustavo, entram na recepção.
Assim que a tia Patrícia vê a Camila e o Douglas abraçados ela solta um sorrisinho e um olhar
cheio de perguntas para a Camila.
Vou até a dona Marta a cumprimento e pego o Gustavo no colo.
- Papai, eu vou vera mamãe?
- Sim meu filho, você vai ver a sua mãe. Mas hoje é diferente, ela está acordada, vai poder
falar com você.
- Sério papai? – diz eufórico e pula nos meus braços.
- Sim, meu filho.
Vejo o sorriso mais lindo brotando em seu rosto o que me faz ficar ainda mais feliz com isso
tudo. Graças a Deus ela acordou e nós vamos finalmente conseguir seguir com as nossas
vidas, sem que nada possa nos atrapalhar.

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Ficha do conto

Foto Perfil erodev
erodev

Nome do conto:
Meu Delegado - Capítulo 24

Codigo do conto:
111052

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
31/12/2017

Quant.de Votos:
2

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