O sabor da transgressão

Meu querido macho alfa, numa plácida manhã de uma madrugada tórrida dizia-me num abraço prosaicamente conjugal que se maravilhava de encontrar em mim ” mulher honesta” os prazeres sensuais geralmente encontrados apenas com libertinos ou prostitutas   Entre lisonjeada e chocada assaltou-me um turbilhão de conceitos sobre o triunfo da Virtude sobre o vício, a recompensa do Bem e a punição do Mal são as bases frequentes para o desenvolvimento de opiniões desse gênero. Já não deveríamos estar fartos deste esquema? Mas apresentar o Vício sempre triunfante e a Virtude vítima de seus próprios sacrifícios... Em uma palavra, arriscar descrever as cenas mais ousadas e as situações mais extraordinárias, expondo as reivindicações mais aterrorizantes e dando as pinceladas mais contundentes ele está seguro que eu “mulher honesta” não o trairia jamais.
Permitam-me um pitaco.
   No adultério feminino, todas as definições falam de uma natureza ancestral onde a fêmea procura o macho mais poderoso e bem dotado para acasalar. Os amantes são chamados de garanhões enquanto o marido traído é o corno , o nome em inglês designa uma espécie de ave que geralmente cria filhos que não são seus em. As definições não são nada técnicas: elas nos atingem diretamente no animal primitivo e nos remetem ao antigo medo do macho humano de ser enganado pela fêmea que encontra prazer sexual em um competidor.
   Em contraposição o adultério do homem é consentido por uma esposa sufocada pelo machismo das narrativas do Antigo Testamento . Sua escassa relevância mostra que a raiz do jogo do adultério está em um tabu que induz as esposas consentirem com a existência das amantes de seus maridos há séculos comodamente garantindo aos seus maridos que as crianças que dão à luz são deles realmente.
Paradoxalmente, o homem corno é caracterizado pela atitude submissa em relação aos desejos da mulher antes, durante e após o ato sexual adúltero. Cuckolding não é poliamor, swing ou relação aberta, todas as formas de sexo não monogâmico onde os parceiros coordenam suas vidas sexuais em pé de igualdade. Há um componente de humilhação no corno: deve haver um caráter submisso por parte da mulher casada. Essa humilhação não costuma ser assim na realidade; É uma sensação vista de fora porque todos os (poucos) maridos traídos que conheci (sarcasmos à parte) conformam-se de sua condição. Ousaria afirmar que amam suas tigresas.
   Pessoalmente, gosto de ver outra mulher com meu parceiro e vice-versa, mas apenas em particular. Nas minhas prioridades ele deve cumprir um papel prático de zelador da nossa filha e da nossa relação, porque para isso preciso dele. Nem estou interessada em colocá-lo em castidade porque ele nunca me privaria do sexo amoroso que ele me dá. O único ritual que exijo depois de uma relação de swing é uma longa sessão de sexo oral para que ele possa sentir com as narinas e a língua o cheiro da camisinha que o outro usou.
   Estas são minhas definições do que o adultério feminino é e não é. Não são definições escritas do ponto de vista moral, no estilo dos clássicos decálogos do gênero. Após anos de relacionamentos baseados em experiências desde os 13 nos de idade, entendo que o parceiro sexual deve preservar em sua consciência o tabu milenar e sua essência machista que como um fantasma o assombra com a figura do garanhão sexualmente mais atraente, tanto pelo físico quanto pelo tamanho do pênis.
Por fim, abandone essa estúpida ideia pequeno-burguesa, inútil em você, de que é errado trair seu parceiro e ter outros amantes quando você tem esse desejo.