Terça-feira, 16/03/2021
Ainda dentro do ônibus já imaginava como seria o meu segundo dia, e se eu viria novamente aquele rapaz que já fazia parte dos meus sonhos mais loucos.
E ele ali estava, e o pior, sentado próximo a mim em uma reunião. Ele me olhou, sorriu e me cumprimentou. Mas meu jeito pacato e a timidez me fizeram ser até um pouco rude com ele. Morri de vergonha e durante o resto da reunião não tive coragem de olhar para o lado em que ele estava.
Quarta-feira, 17/03/2021
Estava ali sentada em minha mesa, esperando para ver o meu príncipe. Quem sabe hoje ele não chegue em um cavalo branco.... ele passou por mim somente ao final da tarde, mas nem olhou para o meu lado, senti-me desvalorizada, triste, achei que talvez fosse porque eu não era tão atraente como as outras mulheres. Decidida, iniciei um regime, iria ficar 5 dias sem comer para emagrecer rápido e fazer ele me notar.
Quinta-feira, 18/03/2021
Estava morta de fome, mas fiel ao meu compromisso, já vestia roupas mais... digamos, provocantes. Estava transformada, louca para ser notada e para realizar mil loucuras com o meu amado. Fiquei trabalhando até mais tarde, já que vi o príncipe ainda por ali. Quem sabe ele não viria falar comigo? Dessa vez seria diferente daquela reunião, já que eu passei a noite ensaiando em frente ao espelho esse “novo encontro”. Mas ele atendeu o telefone, sorriu e levantou-se para ir embora. Fui atrás dele, disfarçando os passos e o vi beijando uma linda moça na boca e entrando ao seu lado no carro.
Meu mundo acabou, meus sonhos foram destruídos, fui a pé chorando para o meu apartamento. Cheguei, vesti um pijama grosso, meias e sentei em frente a TV para assistir comédias românticas. Ainda estava sem comer e morta de fome, abri a geladeira e comi tudo que ali tinha, de raiva, de ódio, de remorso, de pena de mim. Foi iogurte, pepino azedo, um porquinho que minha mãe tinha me mandado, sucrilhos com leite. Aquela mistura maravilhosa.
Sexta-feira, 19/03/2021
Acordei com o estômago embrulhado, acho que exagerei na noite anterior. E um pouco atrasada, resolvi pegar um taxi para adiantar a ida ao trabalho. Cheguei ao prédio e entrei no elevador que fechava a porta. Sorte que a única pessoa que estava dentro a segurou para mim. Quando a porta fechou, qual a minha surpresa, o meu príncipe ali ao meu lado. Todo aquele ensaio não funcionou para nada. Me perdi nas palavras e no olhar, não sabia o que responder. Ele sorriu, aquele sorriso de quem já está acostumado a intimidar as mulheres e a escolher as que ele deseja ficar. O safado percebeu, sorriu e teve a pachorra de dizer que adorava bem esse tipo de menininha, tímida, mas linda. Meu estômago que já não estava legal, desandou de vez. E para ajudar, o elevador estragou e parou. E os minutos infinitos começaram a ser contados em minha mente. Percebi que para ele estava perfeito, que o beijo logo se aproximava e não seria evitado, já que o instinto me obrigaria a permitir e provavelmente a buscar ainda mais, mais do que eu já tinha feito com meus primos nos estábulos da fazenda do papai. Mas junto com tudo isso, meu estômago estragou de vez, e veio uma vontade muito forte de soltar um pum. Eu comecei a suar frio, ele percebeu e deve ter imaginado que era o tesão que me deixava assim, mas eu nos meus pensamentos somente rezava e pedia para a porta abrir e eu correr para o banheiro. Mas a porta não abria, a minha força de pensamento não estava tendo efeito e foi inevitável, não consegui mais segurar... veio o pum... e foi forte, aquela mistura de pepino com leite transformou-se em uma bomba atômica. E o príncipe era um verdadeiro príncipe, com os belos seus olhos que ficaram vermelhos pelo ar do ambiente, fingiu que nada sentiu e ficou ali ao meu lado, imóvel, acho que rezando que a porta abrisse também. O desespero tomou conta de mim e veio a segunda onda de pavor, e pior que que a primeira! Vi os lábios do meu amado ficando roxos e os olhos amarelados. O misto de vergonha com raiva de perceber que estava sendo julgada me fez tomar uma atitude. Soltei mais um, dois, três puns. O príncipe a essa hora já tinha caído do cavalo, e estava deitado no chão com o rosto enfiado em um buraco tentando sugar o ar que vinha de fora. Acabei soltando mais um, e o príncipe respondeu: pare por favor, eu imploro, pare. A porta se abriu, ele saiu correndo e eu fiquei ali, parada, imóvel. Já não adiantava mais ir ao banheiro...
Lemos este conto e votamos, mas algumas coisas não entendemos, por exemplo: "... imaginar tudo que eu iria viver de novo por ali...", mas você dizia que nunca tinha estado em uma cidade grande... então... viver "de novo" ficou estranho... No entanto, o texto é bom, como um diário. Lemos e votamos sim.