Sentada sonolenta na varanda superior do resort percebeu que falavam dela...
Quem a conhece bem pode imaginar o risco que corriam... Ela era uma figura meio desligadona, sem ser relapsa, ela trabalhava direitinho, fazia tudo aquilo que a gente tinha que fazer, diligentemente mas sem apego. Entende?
Ela parecia flutuar acima dos fatos, numa nuvem particular, só dela.
O mundo lá fora podia estar se desmantelando em mil pedaços: tiroteios, perseguições, pancadarias, homicídios, estupros, latrocínios, chacinas, furtos, assaltos, sequestros, greves, incêndios, eleições gerais, comoções, que ela não estava nem aí. Fazia o que tinha que fazer, nem mais, nem menos. Sem emoção.
"Desligadona e boazuda"... ouviu afirmarem em meio a suspiros obscenos.
É, tinha esse detalhe, estavam dizendo. Ela era, além de desligadona, "uma loirinha daquelas de fechar o comércio. Mediana, classuda/tesuda, ela ainda por cima usava umas roupas justinhas, que lhe realçavam as curvas e acentuavam as lombadas".
- "Um mulherão!"
A homarada daquela convenção se entreolhava, sequiosa e vexada, um entendendo o desespero do outro. Porque não adiantava nada cantar a nutricionista, e todo mundo já sabia disso.
Ela em questão sou eu.
Eu não diria não, nem sim. Só olharia para o lado, rindo uma risadinha macia e enigmática e desconversaria.
Calculadamente puxava outro assunto, retomava de propósito um diálogo qualquer cortado durante o evento , como se, ao invés de horas, só houvessem decorrido alguns minutos, e como se o interlocutor também fosse lembrar do que estavam conversando. Não iria escancarar sua atividade escondida, tão bem dissimulada desde que quisera aquela atividade tão antiga quanto o mundo.
- Então...
E o atrevidinho enfiaria a viola no saco, desistindo de lhe fazer a corte. Sequer imaginaria o leque de opções que lhe seria oferecida se insistisse um tantinho mais...
Um mulherão
gostosa demais
Gostei.Votei
Palavras que se encaixam em cenários que tentei realizar, mas a única coisa que consegui mesmo foi...