Havia, porém, uma alternativa na cabeça de Bianca. Exílio. Desesperada, ela pega o telefone e liga para vários consulados, que naturalmente se negam a ajudar. Ela não tinha mais esperanças. Dentro de um ou dois dias estaria presa e passaria sua vida na cadeia. O que diria ao seu filho? Como diria tudo isso a ele?
Depois de ligar para mais de dez consulados, ela desiste. Começa a chorar, e então, depois de meia hora seu telefone toca. Ela atende.
- Sra. Bianca?
- Sim.
- Eu posso te ajudar. Você disse que já ligou para vários consulados e eu pude confirmar isso - o sotaque era forte, mas era difícil saber de onde.
- Desculpe, quem está falando?
- Infelizmente não posso dizer. Mas represento um desses consulados que você ligou.
- Como o Sr. pode me ajudar?
- Veja bem... Há um lugar. Uma ilha... Não posso sequer mencionar onde fica, se no Pacífico, se no Atlântico, ou em qualquer outro, porque é uma ilha não-catalogada, para manter-se longe dos radares. Há uma população lá. Muito desenvolvida, por sinal. Não são indígenas, nem nada disso. São como nós... Casas, ruas, escolas... Claro que não é uma metrópole, mas... E eles falam inglês, você fala inglês, certo?
- S... Sim. Mas... Como eu faço pra chegar lá?
- Você não tem mais tempo. Precisa ir imediatamente ao endereço que vou lhe passar, de onde sairá um jatinho.
- Mas eu preciso me arrumar, fazer minhas malas e...
- Bianca, eu não tenho tempo para lhe explicar as peculiaridades da ilha, mas... Pelo menos isso tenho que dizer: eles têm costumes muito diferentes do que você está acostumada. Mas ao mesmo tempo são os melhores seres humanos que já vi. Você não tem tempo para mais nada, Bianca, o jatinho já está carregando e eu não posso me arriscar mais do que já estou. É agora ou nunca.
- Certo... Ok! Eu preciso só pegar meu filho, ele está na escola e...
- Então pega ele agora e já vai para a rua xxxxxxxxx, número xx, SP. Está claro??? Eu preciso desligar.
- Só mais uma coisa, por que está fazendo isso por mim?
- ... Bom, eu sei ser grato. O fato é que as informações que você compartilhou me renderam uma centena de milhões de reais. Não é justo que a corda tenha estourado só em você, mas infelizmente não há nada que eu possa fazer.
- ... Entendo.
Bianca "voa" em direção a escola, o coração saindo pela boca. Ela tinha uma ordem judicial de não sair de casa. Pega o filho na escola e "voa" para o local indicado. Ele não tinha pisado tanto no acelerador.
- Mãe, o que tá havendo???
- Filho, pelo menos uma vez na vida, confia na sua mãe!
- Mas que história é essa, eu sempre confiei na senhoooooooraaa, cuidado, mãe!!! - diz Ed colocando o cinto assustado.
Eles chegam numa suntuosa mansão no Alphaville. São esperados no portão pelo que parecia ser o piloto, que olha o relógio no pulso.
- Estamos atrasados, entrem.
Eles adentram a propriedade e vão logo em direção ao jatinho.
- Mãe, mas o que tá...
- Filho, pelo menos uma vez... Por favor! Lá dentro te conto tudo!
Eles entram e se acomodam no jatinho, onde havia somente o piloto na cabine dele. O jatinho decola. Bianca se sente uma criminosa escapando da polícia.
No voo Bianca explica tudo ao filho, que mal podia acreditar em tudo aquilo. Jamais pensaria que a mãe fosse se envolver em coisas assim. E agora, justo no dia em que teve coragem de chegar na Cris, a garota que mexia com seu coração, E ELA TINHA ACEITADO!, justo nesse dia, toda essa merda acontece.
- Me desculpe, filho.
Ed nada responde.
Mais tarde, o piloto deixa o avião no automático e vai conversar com eles.
- Eu sou piloto minha vida toda, e nunca vi um lugar tão esquisito pra chegar... Que rota mais estranha!
Bianca então percebe que o piloto não tinha a menor ideia sobre o local para onde estavam indo.
Depois de várias horas, eles pousam. O piloto não teve autorização sequer para sair do avião. Funcionários o abasteciam pelo lado de fora enquanto desceram apenas Bianca e seu filho Ed. Eles olham tudo em redor, um lugar exuberante, algo parecido com o que se vê numa Ilha de Caras, ou nas Bahamas, embora não houvesse clima de festa, mas de normalidade.
- Caralho, que lugar foda! - diz Ed, impressionado.
Bia respirava aliviada. No avião chegou a imaginar que estava sendo mandada para um campo de trabalho forçado, ou para a fazenda de algum louco tarado. Tudo lhe passou na mente. Mas ver aquela ilha linda e a reação de aprovação do filho era um grande alívio.
Um casal na faixa dos quarenta e cinco anos, os dois muito bonitos, espera ali próximo e dá com a mão. Bianca e Ed vão até eles.
- Sejam bem-vindos! - diz o rapaz com um belo sorriso, estendendo a mão - Me chamo Adriano e essa é minha esposa Laís - ela sorri -, somos brasileiros como vocês. E também éramos até hoje os últimos que chegaram à ilha, embora isso já tenha uns vinte anos. Não é muito comum chegar gente nova aqui…
- Certo… E eu sou a Bianca e esse é meu filho, Ed - eles todos se cumprimentam.
Bianca nota que a tal Laís estava com os olhos fixos em seu filho, de uma forma até desconcertante. A roupa era a mesma nos dois, camisa social branca e bermuda de escoteiro até o joelho, embora a tal Laís trouxesse abertos quase todos os botões da camisa. Outra coisa estranha é que aquelas roupas pareciam envelhecidas e, especialmente as da Laís, não lhe caíam bem, como se nem dela fossem. Parecia algo bem improvisado…
Acho incrível, com vários contos se juntam estou vendo este aqui, só para ler outros kkkkkk.
Amo esses contos
Muito interessante!!