No outro quarto, as irmãs crescidas continuavam deitadinhas e peladas, conversando em meio às carícias mútuas
- Você lembra, Cinthia? Você sempre cuidava das bonecas melhor do que eu, né? - fazendo um cafuné
- Uhum, e você era uma relaxada, perdia todas as suas bonecas, panelinhas… Eu, por outro lado, tenho algumas até hoje.
- Sério? rsrs O que você faz com essas bonecas? Ainda brinca de dar mamá? hahaha
- Ih, bestona, eu guardo porque tenho consideração!
- Cínthia…?
- Oi.
- Sabe o que me passou na cabeça agora? rsrs
- Hum?
- Que a gente podia brincar de boneca rs
- Como assim?
- Tipo… O que você acha de dar mamá pra mim?
- Tá doida, Kátia? kkk - vermelhinha
- Vai ser legal rs… - também vermelhinha - A gente já tá pelada mesmo, ué. É só uma brincadeira, vai rsrs
- … Hum… Mas você vai ter que levar à sério, tipo, vai ter que ficar quietinha, tomando tetê até nanar
- Uhum…
Cinthia olha para a irmã primeiro, para ver se havia mesmo seriedade nela. E, além de seriedade, encontra em seus olhos também uma certa ternura cativante, que a fez tremer por dentro.
- …Tá, vamos tentar! rsrs
……………………………………………
Enquanto isso, lá no pé da montanha…
O velho se assentava à frente deles novamente:
- Dentro de mais dez ou vinte minutos, sabem o que vai acontecer. Suas consciências vão esmagar vocês… Vocês ficarão com tanto ódio de mim que vão me espancar até a morte. Preciso me sentir seguro.
- Façamos assim: você começa a falar. Quando a gente sentir que o efeito da névoa está passando, escolhemos continuar a ouvir ou parar. Se quisermos continuar, a gente põe as algemas - mente Leandro.
Finn pensa um pouco antes de responder:
- Certo, mas em dez minutos vocês têm que respirar aquilo - ele aponta para um cilindro de ar, provavelmente cheio do ar lá de cima.
- Nós trouxemos nossa própria provisão - diz Henrique, se lembrando que havia dois saquinhos de ar no carro.
Finn olha para o chão. Ele sabia que devia isso àquela família.
- Ok, combinado
Os dois olhavam fixamente para ele
- Como eu disse, meu nome é Finn. O que eu vou contar pra vocês vai ser… um absurdo. Completamente absurdo. Mas escutem até o final. Podem me chamar de louco, eu não dou a mínima…
Os dois continuavam em silêncio e o velho prosseguia:
- Há um lugar… Uma ilha… se no Pacífico, ou no Atlântico ou em qualquer outro oceano, eu não posso dizer. É de lá que eu venho… E lá as coisas são… muito diferentes…
- Uma ilha??? Diferentes em que sentido? - pergunta Henrique
- Bem… Antes disso, preciso dar um exemplo. Vocês sabem que a História do Brasil é cheia de lendas, certo? Mesmo a História Oficial é cheia de episódios que, hoje em dia, sabemos que não foram bem assim. Por exemplo, o nome do estado do Amazonas. Segundo a História, é porque os bandeirantes viram lá um grupo índias guerreiras. Mas hoje se sabe que isso é lenda, nunca houve um grupo de índias guerreiras do Brasil. Esse foi apenas um exemplo. O que vou contar é mais ou menos assim, tem a ver com fatos reais que eu mesmo vivi, mas cuja História da fundação tem lá seus mitos. E ninguém sabe dizer com precisão que parte é mito e que parte é fato.
- Isso é comum na História de qualquer povo, prossiga - Henrique se mostra interessado.
- Muito tempo atrás, lá na época dos homens das cavernas, não haviam tabus. E mesmo no início do hommo-sapiens, ainda não havia tabus.
- Ô, cara, do que é que você tá falando? Eu não quero saber de homens das cavernas, quero saber o que diabos acontece naquela cabana!!! - Leandro se mostra impaciente
Mas Finn continua em seu próprio ritmo:
- …Assim como os outros animais, não havia tabus entre os homens. O sexo acontecia livre. A verdade é que não sabemos ao certo quando o tabu começou a existir, mas foi em um passado muito primordial. E em pouco tempo todos já estavam acometidos dessa ideia. E essa ideia se solidificou se tornando algo inquestionável até os dias de hoje.
- Tá, eu podia fazer vários questionamentos, mas continue - Henrique se mostrava ainda mais interessado
Leandro bebia agora o café já frio, vendo que nenhum mal havia acontecido com o Henrique. Finn continuava sua história:
- O lugar de onde vim não passou por essa mudança. É um lugar tão isolado, tão fora da curva e tão sem contato com o resto do mundo que permaneceu como no estado original. Além disso, os ilhéus rapidamente perceberam que deveriam se organizar para que nunca fossem encontrados, a fim de preservarem seu estilo de vida. Por sorte, a ilha se encontra em uma região muito estranha e enigmática do oceano, o que a torna "invisível" a radares, satélites e coisas do tipo. Mas fora isso, também há uma "agência" que eles mantêm em algumas partes do mundo, cuidando para que a ilha nunca seja descoberta.
Para Leandro estava claro, só haviam duas possibilidades: ou o velho era louco ou um mentiroso. A possibilidade de aquilo tudo ser verdade nem se apresentava. Mesmo assim, preferiu não interromper. Mas Henrique estava curioso:
- Mas o que tem na ilha, que fez com que as mudanças não ocorressem lá? Existem outras ilhas no mundo. E muitas delas são isoladas também. Por que só sua Ilha ficou "preservada"? - Henrique pergunta, bebendo o último gole do café.
- Bem… Ilhas isoladas existem até os dias de hoje, mas te garanto que nenhuma é tão isolada quanto esta. Não chegam nem perto. Mas além disso… existe uma coisa lá. E essa coisa é a chave de tudo.
- Que coisa? - Leandro agora se mostrava interessado, mesmo não acreditando em absolutamente nada do que Finn dizia.
- Uma fruta. Uma frutinha.
- Gogóia!? - Henrique se lembrava da plaquinha da estufa no meio da floresta
- Uhum. Vejo que vocês encontraram a estufa. Espero que não tenham comido nada. Vocês não comeram, né??? - Finn estava nitidamente preocupado
Leandro e Henrique engolem seco.
Eu imaginava que as mães estaria inventando alguma coisa, mas não esperava as duas brincando de mamãe e filinha rs. Conhecendo o conto da família gogoia, acho que as frutinhas com certeza não deve ter o mesmo efeito que as da ilha tem.
Maravilhoso
Casa vez que leio acho mais surpreendente