Começou a chuva forte e a viagem virou uma aventura. Várias vezes, a caminhonete derrapou, atolou e arrancou novamente. Os homens desciam e empurravam, só eu era a “privilegiada” que ficava na carroceria. Até que, já de tardinha, o transporte caiu na sarjeta e foi impossível continuar. O jeito era passar a noite numa vila de beira de estrada que ficava próxima. Quando me preparava para descer na lama, Joca se aproximou e me ergueu nos braços e assim me conduziu como uma verdadeira dama... eu insisti que poderia caminhar, mas ele argumentou que quanto mais eu parecesse uma “dondoquinha de cidade” melhor seria para o disfarce, assim, fui um longo trecho desse jeito, “suspensa” e “agarrada” ao seu pescoço forte.
Na vilinha, não havia muita opção. Os peões todos, já acostumados, foram armando suas redes debaixo de um galpão. Joca me deixou ali com eles enquanto procurava hospedagem nas poucas casas da vila. Sussurravam e riam... imaginei que sobre mim. Desconfortável, busquei me afastar e então vieram assovios. Ouvi quando um deles, em resposta a outro, disse “que noiva, que nada... essa aí deve ser mulher da vida que o dotorzinho arranjou por aí... olha só o vestidinho que deixa o xibiu de fora...”. Automaticamente, tentei espichar o vestido, sem muito sucesso. Para minha sorte, o Joca voltava... tinha arrumado um lugar... muito longe do ideal... o pessoal por ali quase não usava cama, mas ele conseguiu um quarto com uma para mim.
Tomamos um banho improvisado de bacia. Troquei a calcinha e peguei uma camiseta de Joca emprestada para passar a noite. Deitei na caminha e ele numa rede emprestada. Não demorou meia hora, o punho da rede arrebentou e o coitado estatelou-se no chão. Disse que ia em busca de outra rede, depois, vendo que todo mundo já estava dormindo, decidiu ajeitar-se no chão mesmo.
Fiquei com pena. Falei pra ele vir pra cama... era estreita, mas por uma noite a gente poderia se arranjar. Joca hesitou um pouco, depois acabou concordando. “Se não tem problema pra você...” Bom, preciso dizer que eu não era assim tão ingênuo para não perceber que deitar com um homem numa caminha de solteiro, vestindo apenas calcinha e camiseta, poderia ser problemático. Mas ele já tinha feito tanto por mim, de certa forma, tinha confiado minha vida a ele, que não poderia negar isso ao Joca.
Ele estava só de cueca, seu corpo ocupava o espaço todo e tinha um cheiro forte, não era ruim... era cheiro de homem. Tentei me encolher num ladinho, mas o contato era inevitável. O braço dele passou por baixo do meu travesseiro e me virei de lado, de costas para ele. Sua respiração na minha nuca e o calor do seu corpo nas minhas costas. Não sei se ele avançou ou se eu recuei o quadril, mas senti um volume duro na minha bunda. Me afastei rapidamente e Joca, todo constrangido, pediu desculpas.
Não sabia o que dizer... acho que não havia maldade por parte dele... era até natural aquilo acontecer naquela situação... então respondi: “Tudo bem... eu entendo... só lembra que eu não sou mulher!” Tentamos nos reacomodar e, cansados, acabamos adormecendo. Não sei quanto tempo passou... estava tudo confuso, não sabia bem o que era sonho ou verdade... senti o seu peso... eu meio de bruços, uma perna estendida e a outra curvada, ele dormia me cobrindo parcialmente... a madrugada chuvosa era friazinha e senti-lo assim era até reconfortante, mas contra a minha bunda o seu pau duro pulsava dentro da cueca. Pensei em me levantar, acordá-lo... mas acabei ficando do jeito que estava, sentindo ele sobre mim... nos encaixamos, o seu braço me envolveu... não sei se ele tinha acordado ou não... não falei nada, nem ele... ficamos assim até amanhecer.
No dia seguinte, não conseguia nem olhar pra ele sem ficar “vermelha” como um pimentão. Antes de sair do quarto, troquei o vestido pelo conjunto de saia e ciganinha. Consegui com muito esforço colocar o sutiã. Não ficaria sem ele, pois a blusa deixava meu colo nu e os meus “seios”, assim, ganhavam destaque. Só então percebi que havia deixado todas as minhas roupas masculinas no seringal... como iria encontrar meu pai desse jeito??? Bom... esse era um problema para depois, primeiro precisava chegar lá...
Tomamos café com a família que nos hospedou e foi meio que natural me comportar como uma garota. Acho que havia encontrado a “menina interior” que Aninha falava. No meio da manhã, nosso transporte voltou a ter condições e seguimos até Tarauacá, onde eu pegaria o ônibus para Rio Branco. Na rodoviária, novamente, muitos homens, trabalhadores dos seringais em sua maioria... todos espichando o olho para mim... embora o vestido fosse mais curto, a roupa que vesti no segundo dia era mais sensual... ombros e barriga de fora... a sainha era leve, levantava a todo movimento... acho que estava parecendo mesmo “mulher da vida”... além disso, sem muita prática, acabei carregando na maquiagem, que aumentava a impressão...
Conforme se aproximava a hora do ônibus (e da despedida de Joca), aumentava minha apreensão. Porém, quando todos estavam embarcando e me levantei para agradecê-lo por tudo, meu salvador disse: “Tu achava ruim se eu fosse contigo até Rio Branco?” Quase explodi de alegria... pulei no pescoço dele e tive que me conter pra não lhe dar um beijo.
Votado !
Permanecendo na deliciosa linha de erotismo de qualidade. Muito bom!