Certa noite, Ricardo decidiu que não voltaria para casa diretamente. Resolveu testar algo novo. Ligou para Helena e disse que teria que trabalhar até tarde. Do outro lado da linha, o silêncio durou um segundo a mais do que o esperado, antes que ela respondesse:
— Tudo bem, amor. Não se preocupe, eu entendo. Descanse quando puder.
O tom de voz dela, doce como sempre, o incomodou mais do que confortou. Havia algo ali, algo que ele não conseguia decifrar. Então, desligou o telefone, mas não foi trabalhar. Ao invés disso, ficou na rua, observando de longe a casa, como um detetive à espreita de um segredo.
As luzes da casa se acenderam, e ele observou Helena andando de um lado para o outro. Nenhum movimento suspeito, apenas a tranquilidade habitual. Ele esperou, por horas, até que uma sombra finalmente apareceu na janela. Era um homem? Não, era apenas um reflexo... ou será que não?
Ricardo decidiu entrar em casa em silêncio, abrindo a porta devagar, como naquela primeira noite em que sentira o desconforto. Os passos ecoavam em sua cabeça, mas a casa estava em paz. Chegando ao quarto, mais uma vez, Helena estava sentada na cama, lendo um livro.
— Oi, amor — ela disse sem levantar os olhos do livro. — Achei que voltaria tarde hoje.
Havia algo estranho na tranquilidade dela, como se estivesse esperando por ele.
— Terminei o trabalho mais cedo... Queria te ver — respondeu Ricardo, tentando disfarçar o desconforto.
Ele sentou-se ao lado dela na cama, e por um momento o silêncio se instalou, denso. Então, sem conseguir mais se conter, ele finalmente perguntou:
— Helena, você está escondendo alguma coisa de mim?
Ela levantou os olhos do livro, sem surpresa, como se já soubesse que a pergunta viria, mas manteve a calma. Seus olhos o observavam como um predador analisando uma presa, embora ela ainda mantivesse o sorriso suave nos lábios.
— O que faria você pensar nisso? — sua voz era quase um sussurro, como se estivesse jogando com as palavras, desafiando-o a descobrir por si mesmo.
O coração de Ricardo acelerou. Ele sentia que estava à beira de descobrir algo, mas Helena não entregaria nada tão facilmente. Tudo estava nas entrelinhas, nos olhares furtivos, nas noites em que a ausência de palavras falava mais alto.
Ele se deitou ao lado dela, tentando afastar os pensamentos que o consumiam, mas sabia que, até que descobrisse a verdade, não haveria paz. E talvez, apenas talvez, Helena estivesse gostando de jogar esse jogo com ele.
E assim, a noite seguiu em silêncio, mas o mistério continuava. Ricardo sabia que estava preso em um labirinto emocional, e que a saída desse jogo não seria simples. O próximo movimento? Ele teria que ser cuidadoso.
O mistério ainda está no ar ..m