A Noite em Silêncio (Parte 5)

O mundo de Ricardo pareceu congelar no instante em que as palavras de Helena reverberaram no ar: "Ele nunca foi apenas do passado, Ricardo. Ele sempre esteve presente. Na minha vida... e na nossa."

A presença daquele homem no corredor, o sorriso enigmático e a serenidade de Helena, transformaram toda a realidade de Ricardo. Seu peito se apertou, não apenas pela traição aparente, mas por algo mais profundo, algo que ele lutava para entender dentro de si. O desconforto que o havia consumido nas últimas semanas agora tomava uma nova forma.

O homem deu mais um passo para dentro do quarto, e, de alguma forma, a tensão que enchia o ambiente não era de ameaça, mas de expectativa. Ricardo sentia que estava à beira de algo inexplorado, uma sensação que o assustava, mas que ao mesmo tempo, mexia com ele de uma maneira inesperada. Havia um fogo dentro dele, misturado com vergonha e curiosidade, e ele se odiava por isso.

Helena se aproximou de Ricardo, seus olhos fixos nos dele, como se estivesse lendo cada pensamento que passava por sua mente. Ela não disse nada, mas o sorriso leve em seus lábios sugeria que ela sabia exatamente o que ele estava sentindo. Sabia, talvez, há muito mais tempo do que ele mesmo.

— Ricardo, não precisa ter medo — disse ela suavemente. — Há mais entre nós do que você consegue imaginar agora, mas você não precisa fugir disso.

O homem no corredor entrou completamente no quarto agora, sua presença dominando o espaço. Ele fechou a porta devagar, como se cada movimento fosse meticulosamente planejado. Ricardo sentiu o olhar dele sobre si, o peso daquele silêncio o pressionando ainda mais.

— Há algo dentro de você que vem lutando para sair — disse o homem, sua voz baixa e firme. — Não precisa mais esconder.

As palavras ecoaram na mente de Ricardo, gerando uma confusão intensa. Ele se sentia vulnerável, exposto de uma maneira que nunca havia experimentado antes. Sua mente gritava para fugir, para escapar daquela situação, mas seu corpo não obedecia. Havia algo que o atraía, algo inexplicável e irracional.

Helena se colocou ao lado dele, sua mão pousando suavemente em seu ombro. O toque dela, que antes o confortava, agora o deixava ainda mais alerta. Ricardo sabia que algo estava mudando dentro de si, mas não sabia como processar aquilo. A vergonha que sentia o sufocava, mas, ao mesmo tempo, um desejo estranho e novo começava a emergir.

O homem se aproximou lentamente, sem pressa, até estar ao lado de Helena, os dois olhando para Ricardo com uma mistura de paciência e compreensão. O olhar do estranho era intenso, mas não ameaçador. Pelo contrário, era quase como se ele estivesse esperando que Ricardo desse o próximo passo, como se tudo dependesse de sua decisão.

— Isso não precisa ser um conflito, Ricardo — disse Helena, sua voz cheia de suavidade. — Não é sobre traição, não é sobre perder. É sobre entender o que você realmente quer... o que você precisa.

Ricardo sentia o rosto queimar, o sangue pulsando em suas veias. As palavras dela o atingiam em cheio. Ele se via à beira de algo que não conseguia explicar, uma parte de si que sempre ignorara, ou talvez negasse. Seu corpo, no entanto, respondia de outra forma, como se estivesse revelando o que sua mente se recusava a admitir.

O silêncio no quarto era pesado, e Ricardo podia sentir o olhar do homem queimando em sua pele. Algo havia mudado dentro dele, uma compreensão silenciosa do que estava acontecendo, mas ainda assim, a vergonha lutava contra cada instinto que surgia. Ele se odiava por sentir qualquer atração, qualquer curiosidade em relação àquela dinâmica.

E então, sem pensar, Ricardo deu um passo para trás, tentando se afastar do olhar penetrante dos dois. Mas não havia fuga naquele momento. Ele estava preso, não pelas pessoas ao seu redor, mas por si mesmo, pelas emoções conflitantes que explodiam dentro dele.

Helena deu mais um passo em sua direção, seus dedos suaves alcançando seu rosto, tocando-o com uma ternura que ele não esperava. Ela olhou profundamente em seus olhos e sussurrou:

— Você não está sozinho, Ricardo.

As palavras dela, tão simples, carregavam um peso profundo. Ele sabia, naquele momento, que não havia mais volta. O que quer que estivesse acontecendo ali, dentro de si mesmo e entre eles, era algo que ele teria que enfrentar. E, estranhamente, uma parte dele queria se render.