Me Chifre! 3/3

III — COLHEITA
Acordei no nosso porão abafado e mal-iluminado, pulsos firmemente atados para trás de uma cadeira com encosto fedido a mofo. Quem quer que tivesse me amarrado ali, apertara com tanta força que era incrível não ter me machucado. Deus. A pressão era tão grande que eu não sentia minhas mãos.
A porta se abriu e vi descerem as escadas, recortadas contra a luz fria do corredor, as silhuetas de Beta e de um homem alto com costas largas e braços de estivador. Quando ele parou sob o spot do porão, reconheci a fisionomia do cara que cortara minha piadinha de mau gosto no bar. Isso explicava o deslocamento dos meus 78kg da sala até ali. Na mão direita ele trazia a cartucheira que até a véspera não passava de um adorno na parede do fundo da sala, e na esquerda empunhava nosso chicote de equitação, uma fina e comprida peça inteiriça de plástico, com ponta de couro em forma de espátula e empunhadura do mesmo material. O resto dos nossos acessórios, até onde eu sabia, continuava empilhado no fundo do armário do quarto, onde os tínhamos encostado depois daquela minha hedionda prova de descontrole. Com um arrepio de terror, percebi que eu mesmo trouxera tudo aquilo para dentro de casa. As algemas, a mordaça, o chicote, era tudo de verdade, não era? Eu queria sentir a entrega, não queria?
"Você quis poder, mas não soube usar", o homem disse. "Foi um mestrezinho de merda. Agora vai virar escravo."
Ignorando minhas tentativas desesperadas de afrouxar os nós, tirou uma folha de papel dobrada do bolso de trás dos jeans justos e deu para Beta, que a princípio olhou indecisa mas depois concordou em ler: "O treinamento do dominador deve incluir uma fase de submissão. Para desempenhar bem seu papel, é preciso entender e respeitar os limites do submisso".
"Pelo que Roberta me contou, vocês pularam essa fase."
Pisquei os olhos duas vezes. Eu estava sonhando? Se gritasse, acordaria?
"Alguém me ajuda! Estou preso no porão! Tem alguém aí? Socorro!"
"Pode gritar." Ele sorriu. "Não vai aparecer ninguém aqui num raio de 3 quilômetros, por pelo menos uma semana."
Uma semana daquela loucura. Uma semana para alguém dar pela minha falta e sair à nossa procura. Mas quem? Eu acabara de tirar férias, e ela, é claro, não tinha permissão minha para pensar, muito menos trabalhar fora. Além disso, eu sempre fora um cara isolado, de poucas palavras e amizades, conhecido pelo péssimo hábito de só procurar as pessoas quando precisava delas.
"Me solta, Beta! Essa brincadeira já foi longe demais!"
"Pra você é Roberta", ela respondeu pausadamente, sobrancelhas arqueadas.
Me olhando com igual desprezo, o homem largou a mordaça e o chicote na mesa do canto do porão, tirou de lá a cartucheira e encostou o cano frio na minha têmpora. "Quem disse que a gente está brincando?" Levantou a voz, pressionando mais o cano. "Você estava brincando naquele dia na poltrona? E na cozinha?"
"E quando me deu aqueles tapas na sala, e todos os outros? E quando tirou aquelas malditas fotos?" Roberta falou no mesmo tom.
Seus olhos agora estavam bem abertos e cintilavam com um brilho novo. Era prazer. Ela estava gostando de me ver assustado, encolhido sob o cano da cartucheira. E quem poderia culpá-la? O sabor da vingança mais que merecida por si só já seria motivo suficiente, mas naquela nossa história pesavam vários outros fatores que talvez eu devesse ter considerado desde o começo. Talvez eu devesse saber que a submissão disfarçada de amor tende a virar ódio no final. Talvez eu devesse saber que todo masoquista tem um lado sádico — afinal, além de vítima, é também cúmplice de cada agressão a que escolhe se submeter. E, acima de tudo, talvez eu devesse saber que sentir prazer em ser amarrada e chicoteada só pode ser coisa de mulher problemática. Pensando bem, era certo que ela cedo ou tarde resolvesse compensar tudo de uma vez.
Parecendo satisfeito com meu silêncio reflexivo, o homem baixou a cartucheira e a colocou na mesa. Roberta se aproximou para um beijo e os dois foram andando de bocas coladas até a parede perto da escada, ela na ponta dos pés para alcançá-lo e ele apoiando-a pela cintura. Ele abriu-lhe as pernas, descansou a direita num dos degraus, enfiou a mão por dentro dos seus shorts com a palma contra a virilha e cochichou algo no seu ouvido que a fez rir olhando para mim.
"Há quanto tempo?" não resisti ao impulso de perguntar, ainda que em voz baixa.
"Bem menos tempo que você com sua coleção de amiguinhas”, Roberta rebateu de imediato.
Então ela sempre soubera. Ao longo do nosso primeiro ano de namoro, eu enchera minha agenda com nomes de mulheres, algumas das quais ainda via regularmente — os pais de Roberta podiam tratar sua filha como uma mercadoria a ser entregue com o lacre inviolado, mas eu, sendo do sexo masculino, dei a mim mesmo o direito de manter minha vida sexual ativa. Agora eu entendia por que ela ignorava minhas desculpas esfarrapadas e passava cada vez mais tempo no sítio, sem se dar ao trabalho de tentar descobrir o que eu fazia ou deixava de fazer na cidade. E aquele era seu confidente, o cara com quem desabafava sobre minhas traições, mentiras, insultos, chantagens e crimes.
Ele roçou preguiçosamente os lábios pelo seu queixo, rosto e boca enquanto desabotoava-lhe a blusa com igual demora. Quando a peça enfim caiu para o chão, subiu as mãos pelas suas costas e a boca pelo seu pescoço, da base até atrás da orelha. No toque do seu ponto fraco, Roberta jogou a cabeça para trás, cabelos cascateando pelas costas, peitinhos empinados para ele, que circulou os bicos com a ponta da língua e sugou um de cada vez. Estavam rijos e pontudos quando ela veio até mim, se abaixou na minha frente e pôs meu pau para fora. O homem espiou por cima do seu ombro e deu risada do que viu. "Ele gosta."
"Gosto é o caralho!"
“Não? Então o que é isso?", ela disse apontando para minha virilha.
Era meu pau quase encostado no umbigo. Ainda tentei argumentar, virar o rosto para o outro lado, mas o homem me mandou olhar e nem a cena mais broxante que eu pudesse imaginar seria capaz de baixar meu pau um milímetro sequer. Não tinha como negar. Aquilo me excitava. Me excitava muito mais que eu gostaria de admitir.
Depois de terminar de tirar as próprias roupas, depois as minhas, depois as dele, Roberta se preparou para o show. Ajoelhada meio de frente, meio de lado, lambeu os lábios com gosto, apontou o pau para a boca, rodeou com a língua a cabeçorra vermelha e começou um boquete lento e profundo. Daquele ângulo eu podia ver seus olhos me fixando o tempo inteiro com um brilho novo e excitante, enquanto sua boca ia e vinha com um rastro reluzente por quase toda a extensão do caralho. A sede era tamanha que a mamada só parou quando o homem se agachou para tirar-lhe os shorts e a calcinha. Carregou-a para o sofá, sentou-a na beira, abriu-lhe as pernas e começou a passar a língua pelos grandes lábios, um de cada vez, alternando com breves lambidas no grelo. Nada muito intenso ainda, só uma leve provocação por fora até ela não aguentar mais de tesão e implorar para ele cair de boca. Quando isso aconteceu, ele arregaçou o grelo e chupou de um jeito que a fez se contorcer toda, dedos dos pés curvados como poucas vezes eu vira.
"Tão molhadinha. Isso tudo é pra mim?"
“Cada gota. Só você consegue me deixar molhada desse jeito. Que boca! Hmmm! Me come agora! Me come aqui, na frente desse corno!” As palavras doces eram para ele, mas os olhares de raiva justificada eram todos para mim. “Me come, Paulo!”
Paulo.
Foi uma trepada digna de filme pornô. Na verdade, melhor: além de ser ao vivo, Roberta estava mais fogosa e bonita que nunca, e admito que Paulo também era bonitão, com um corpo firme e proporcional e uma ferramenta avantajada, maior que a minha em pelo menos três centímetros. Comeu minha esposa na minha cara, fez ela gozar de tudo que é jeito, e o corno aqui só assistindo a cena com as mãos amarradas para trás, sem sequer poder tocar uma. Eu suava e tremia ao mesmo tempo.
"Viu como ele me faz gozar gostoso? Isso que é homem. Sabe satisfazer. Não é que nem você, seu corno", ela declarou depois de quase uma hora de sexo ininterrupto e três sonoros orgasmos.
Com um sorriso de quem já ouviu aquilo pelo menos uma dúzia de vezes, ele deixou o gozo vir rápido e fundo, empurrando todo o corpo de Roberta para cima com o vigor das estocadas. Os dois estavam suados e a respiração dela demorou mais de um minuto para normalizar.
"O que faço agora?" Plantou as mãos na beira do sofá, corpo projetado para a frente, pronta para cumprir nova ordem.
"O que você quer fazer?"
"Põe ele deitado no colchão de barriga pra cima."
Pedido atendido, ela andou por cima do colchão, se posicionou sobre mim, abriu as pernas e desceu sobre meu rosto. Deve ter contraído as paredes da buceta nesse ponto, porque a porra escorreu toda para minha boca fechada, um filete se infiltrando entre meus lábios e gotejando na ponta da minha língua com um choque de sabor que encheu minha boca de saliva e instintivamente me levou a limpar quase tudo em questão de segundos.
"Não disse que ele gostava?" Paulo riu.
Ela recolheu com os dedos as últimas gotas, as que tinham escapado para meu queixo, mas acabou esfregando-as nos meus dentes, porque minha boca já estava fechada de novo.
"Porra nenhuma! Sou macho!"
As sobrancelhas dele se arquearam e os cantos da boca se curvaram para baixo. "Quem é macho ou fêmea é bicho. Se ele acha que é bicho, então vamos tratar ele feito bicho."
Dito isso, subiu as escadas e voltou com uma tigela de água e outra com sobras de comida, além de um pequeno balde de metal por penico. Foi Roberta quem colocou tudo ao pé do colchão, hesitante e sem chegar perto demais, como se tratasse mesmo com um bicho raivoso. Só agora eu percebia como estava linda com o rosto corado do sexo, a boca rosada dos beijos e os cabelos naturalmente ondulados, úmidos de suor. Tive vontade de abraçá-la, chamá-la de meu amor, pedir perdão por todos os abusos.
Em vez disso eu disse: "Sua vaca".
Paulo deu dois passos na direção da mesa e tive certeza de que minha boca grande tinha me fodido pela última vez. Mas, em vez da cartucheira, ele pegou o chicote. Sem dizer nada, entregou-o a Roberta, que imediatamente o ergueu bem para trás, tomando impulso para descer com tudo. Rolei no colchão em posição fetal, certo de levar uma chicotada de deixar marca, mas o golpe acertou o sofá ao lado. Era só um teste. Minha cara de susto a fez soltar uma gargalhada maliciosa, meio sádica... terrivelmente sexy.
Apesar da posição lateral, a primeira chicotada para valer pegou minha bunda em cheio. Do outro lado do porão, encostado na parede de braços cruzados, Paulo assistia à cena com um sorriso divertido. Me mandou ficar de bruços com as mãos acima da cabeça e obedeci. Quanto mais me contorcia dos golpes, mais roçava a glande na superfície macia, e mais vontade tinha de gozar, mesmo diante dos meus dois algozes e testemunhas do prazer que me dava aquela situação humilhante. Roberta deve ter percebido, porque logo trocou as chicotadas por beliscões na pele ardida das minhas costas e bunda, me arrancando um gemido que nem eu mesmo sabia se de dor ou prazer. Eu já fodia o colchão num frenesi desatinado, implorando em pensamento por uma mão, boca, buceta, cu, o que fosse, quando Roberta enfim pareceu se compadecer do meu sofrimento. Num ato de misericórdia que eu não merecia, deslizou a palma da mão por baixo do meu pau e alisou bem de leve o ponto sensível na curva inferior da glande. Um gemido alto escapou da minha boca e meu quadril instintivamente subiu para facilitar o acesso. Tentei bombar no túnel do seu punho fechado, mas ela tirou a mão, amarrou meus pés juntos e apertou minhas bolas doloridas de tão inchadas.
"Cheinho de leite, é? Vai dar litros hoje", provocou e baixei a cabeça, subitamente consciente da minha condição: nu em pêlo, de quatro, cascos amarrados para não dar patada, ordenhado como uma vaca. Só me faltava mesmo um balde entre as pernas. Mas o pior de tudo era a espera. Em vez daquela punheta caprichosa e incansável que no começo do namoro me fazia esporrar até no forro do teto do carro, a mão agora se agitava por cinco bombadas e parava. Cinco bombadas e parava. Aquilo ainda ia acabar me enlouquecendo. Gemi entrecortado, coração disparado, cada fibra do corpo seca por alívio.
"Que castigo..." Paulo ironizou. "Ele está quase gozando! Você não vai deixar, vai?"
Ela riu e continuou por alguns segundos, me dando um lampejo de esperança, mas só para tirar a mão nos instantes finais. Baixei a cabeça e mordi os lábios.
"Oh, o que foi? Você não gozou?" Sorriu da minha frustração e minha resposta saiu na forma de um gemido aflito. "Isso é pra você deixar de ser um animal. Vai me xingar de novo?"
"Não", respondi arquejando.
"Vai me desafi..."
"Nunca, com gesto nem palavra nenhuma."
Sua mão pousou no meu queixo e levantou meu rosto com firmeza. Era minha permissão para olhar de volta. "Não me interrompe quando eu estiver falando. Entendeu?" Me encarou e fiz que sim. "Vai me desafiar de novo?"
"Nunca, com gesto nem palavra nenhuma."
"Muito bem." Desamarrou meus pés. "Mais alguma coisa pra me dizer?"
"Eu te amo."
"Estou vendo. Esses três anos me ensinaram bastante sobre você."
"Mas é verdade", resmunguei com um muxoxo de criança birrenta.
Ela já se livrara das amarras e agora evoluía em gestos espaçosos e seguros em direção à saída. Guiou Paulo para as escadas e do degrau superior me disse por cima do ombro: "Vou apagar a luz. Vê se aproveita pra pensar no que você fez".
Pensei, tanto naquela tarde como nos últimos meses. Eu não publicara aquela foto à toa, publicara? Não. Eu gosto. A maioria dos homens gosta. Lady Bovary, Lady Chatterley, Anna Karenina, Capitu, Dona Flor, Engraçadinha e mais uma lista interminável de adúlteras famosas não nos deixam mentir, por mais que a gente tente. E como tenta.
Eu continuava mais excitado que nunca e agora precisava mijar no porão escuro. Imagine como não foi tentar acertar aquele baldinho com a luz apagada, os pulsos amarrados e o pinto teimando em apontar para cima. Fui dormir nesse estado deplorável e três ou quatro horas depois acordei todo gozado de um sonho em que os dois trepavam na minha frente de novo. À tarde — não faço ideia da hora, mas devia ser tarde —, Roberta baixou no porão toda de branco, num vestido longo, liso e esvoaçante, sublime como uma deusa descendo do Olimpo para ter com um reles e indigno mortal. Não se vestia em nada como uma Domme de filme pornô e eu era grato por isso; seria incômodo vê-la impor sua vontade dentro de todos aqueles instrumentos de tortura e aborrecimento criados pelos homens que são as calcinhas enfiadas na bunda, os sutiãs apertados, os saltos altos, as meias que desfiam ao menor descuido. Longe disso, ela agora usava calcinhas boxer, andava de seios livres e calçava sapatilhas, chinelos ou tênis. E a determinação com que me punia também parecia bastante real. Agora chegava para mais uma foda humilha-corno, sempre com Paulo, um cara do dobro do meu tamanho em todos os sentidos. Um novo homem para uma nova mulher.
Depois de um banho frio no alpendre, Paulo segurando a mangueira e eu tentando desviar a cara dos jatos, os dois me devolveram à minha cama no chão. Hora do show. Como se planejado, Paulo se despiu e se refestelou no centro do sofá de três lugares, e Roberta, de pé na sua frente, começou um strip para ele tocar a bronha com que eu só podia sonhar. Da minha 'cama', eu via a cabeça protuberante do caralho desaparecendo e aparecendo na sua mão, desaparecendo e aparecendo, até ela descer lentamente a calcinha pelas pernas esticadas e atirá-la em cheio na minha cara. Foi a deixa para ele tirar as almofadas do encosto, deitá-la de comprido no sofá, enterrar o rosto entre suas coxas num 69 e por um mínimo de quinze minutos lhe dar um prazer que eu não seria capaz em quinze horas. As preliminares foram ainda mais intensas que as do dia anterior e achei que fosse mesmo enlouquecer se não pudesse gozar dessa vez, mas eles já nem pareciam se lembrar de mim. Só quando Roberta cavalgava Paulo num rebolado frenético foi que ele resolveu virar o rosto na minha direção. "O corninho está adorando", disse olhando minha vareta babada e pulsante.
Sussurrou algo no ouvido de Roberta e subiu as mãos pelas suas costas para deitá-la de frango. Flexionava bem suas pernas com as duas mãos firmemente plantadas nos joelhos e metia em ritmo acelerado, o som dos choques entre os corpos cada vez mais alto e frequente até se misturar aos gemidos curtos do gozo simultâneo. Nós nunca tínhamos gozado ao mesmo tempo daquele jeito. Eu estava ofegante só de olhar.
"Gostou, corno? Agora vai limpar tudo", Roberta disse se levantando. Montou no meu rosto e de novo fez escorrer toda a porra para minha boca. Depois de se certificar de que eu engolira tudo, começou a punheta, vagarosa e torturante como da primeira vez.
"Mais rápido..." pedi entre gemidos, quase gozando.
"Como é que se diz?" A entonação era de uma mãe ensinando um moleque mimado.
"Por favor. Mais rápido, por favor. Até o fim, por favor. Me deixa gozar, por favor."
O formigamento do gozo iminente tomou meu corpo inteiro e dessa vez Roberta não deu sinal de parar. O ar sumiu dos meus pulmões, minha visão escureceu e me vi a ponto de literalmente morrer de prazer. No prenúncio do clímax, ela se curvou para roçar os lábios no meu pau. Mal a cabeça mergulhou no calor úmido daquela boca, despejei um jato de porra quente na sua língua; o primeiro e único, porque ela recuou para terminar na mão o que mesmo pela metade já fora o melhor orgasmo da minha vida. Só depois, quando cuspiu a porra na minha cara e esfregou energicamente a glande com o polegar, foi que entendi por que eles tinham combinado de me deixar gozar.
"Que foi?" Fez cara de desentendida. "Está sensível aqui? Está sensível?" Com uma mão agarrou o corpo do caralho e com a outra friccionou mais a glande, enquanto eu grunhia e me contorcia de aflição, saltando de um lado para o outro feito peixe fora d'água.
As risadas dos dois ecoavam pelo porão. Satisfeita, minha Alfa me deixou deitar de bruços e subiu com Paulo, me largando sujo e desolado. Só os vi de novo na manhã seguinte, quando vieram me alimentar.
A próxima semana foi tédio puro. Diariamente, um deles aparecia para trazer água e comida e 'cuidar da limpeza', que consistia em esvaziar o balde, me dar um banho de mangueira no alpendre e me devolver pelado e tremendo ao porão. No resto do tempo, só que eu podia fazer era pensar em todos os descaminhos que me levaram até ali. Vez por outra me pegava olhando a paisagem na parede como se fosse uma janela, isso quando não passava o dia inteiro vendado, amordaçado e amarrado. De alguma forma, as coisas começavam a se compensar: eu surrara e violentara minha própria esposa e agora me via encarcerado por tempo indeterminado dentro da nossa própria casa, refém do gozo alheio.
Ainda se passaram algumas semanas até que eu abrisse mão de toda resistência e aceitasse meu castigo. Ao fim desse período, Roberta reapareceu com Paulo numa manhã de sábado ou domingo, ambos com o mesmo olhar solene e misterioso, aparentemente de acordo sobre alguma novidade que, esperava eu, não envolveria uma nova modalidade de suplício. Ela trazia nas mãos uma sacola branca de plástico, de onde tirou o que parecia uma muda de roupa limpa. Em silêncio, Paulo colocou a pilha de roupas sobre o colchão, desamarrou meus pés e mãos, tirou minha mordaça e esperou que eu me vestisse, tudo com ar relutante e desconfiado, como se aguardasse algum gesto de insubordinação que justificasse a volta das amarras. Tendo concluído a tarefa sem sobressaltos, me olhou bem nos olhos.
"Você vai assinar os papéis do divórcio e vai cuidar da sua própria vida. Se chegar perto da Roberta de novo depois disso, eu te mato, destrincho e dou pros porcos comerem. Tenho meios de te achar e VOU te achar onde você estiver. Ouviu bem?” disse sem elevar o tom na última palavra, mais como uma afirmação que uma pergunta. Concordei com a cabeça. "Agora você vai sair por aquela porta e eu nunca mais quero ouvir seu nome."
Falou com convicção e justiça, como um homem de verdade. E o que um covarde como eu, estuprador e espancador de mulheres indefesas, faz quando um homem de verdade entra na briga?
Corre. Corre até as pernas caírem e o coração saltar pela boca.
Subi os degraus aos pares e corri aos tropeções até a porta da casa. Inspirei fundo, agradecido pelo ar puro, e corri mais, até a beira da estrada, na esperança de conseguir uma carona para algum hotel onde pudesse tomar um banho quente, me barbear, fazer uma refeição decente e descansar um pouco, coisa que para minha sorte não demorou muito a acontecer. De volta à capital, livrei o apartamento de tudo que era meu. Deixei-o limpo e iluminado como devia, pronto para receber Roberta e o homem que ela escolhera para lhe dar a felicidade que eu era incapaz de proporcionar. Levei tudo menos os álbuns e CDs das fotos dos nossos bons momentos, porque já os tinha todos na lembrança — em especial os do começo de namoro, quando tínhamos todo o relacionamento pela frente e nenhuma ideia de que tudo terminaria daquele jeito.

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Ficha do conto

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Nome do conto:
Me Chifre! 3/3

Codigo do conto:
86335

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
15/07/2016

Quant.de Votos:
3

Quant.de Fotos:
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