Acordar cedo, sair de casa trôpego de sono, tomar uma média na padaria, pegar condução, subir no andaime, limpar vidraças. Descer do andaime, almoçar sozinho no restaurante a quilo da esquina, subir no andaime, limpar vidraças. Todo dia a mesma coisa. Todo dia menos hoje. Foi por volta das dez e meia, na terceira das minhas pausas habituais pra fumar um cigarrinho. Eu estava sentado no andaime, tragando e olhando a manhã ensolarada, quando vi essa gata num dos apartamentos do outro lado da rua. Porra, como era gostosa. Loira, coxas grossas, cintura fina e uns peitos desse tamanho. Devia ter uns vinte e poucos anos. Pra minha alegria, estava só de blusa de alcinha e short de ficar em casa, tipo baby-doll, assistindo TV de pernas abertas no sofá, toda à vontade; e pra minha decepção, logo me flagrou olhando com cara de bobo. Resultado: fechou a cara e a cortina. Só sobrou uma fresta no meio, grande demais pra impedir o intrometido aqui de continuar vigiando de rabo de olho enquanto tocava o serviço. Passados uns dez minutos, foi à cozinha, encheu um copo d’água no dispenser, apoiou os cotovelos na bancada e ficou bebendo assim, debruçada na pia, bunda empinada no ar, balançando pra lá e pra cá. Já devia ter esquecido de mim, mas foi só olhar na minha direção que veio pisando duro e fechou a janela da área com tanta força que foi incrível não ter trincado o vidro. Tudo bem. Deve ser mesmo um saco pras gostosas serem olhadas na rua feito peças de açougue, ouvirem xavecos ridículos de barangos sem noção e no final não terem sossego nem na própria casa, porque se alguma se recusa a correr imediatamente, nós hipócritas logo pensamos: “Está afim de putaria. Vagabunda”. Com a janela fechada, meu cigarro no fim e as persianas do edifício comercial em que eu trabalhava sempre baixadas, não me sobrava alternativa senão me concentrar no trabalho. De vez em quando via ela passar rápido pela sala, da cozinha pro quarto, do quarto pra cozinha, da cozinha pro banheiro, sempre “filmando” a gata, que não demorou a me pegar no flagra de novo. Parou no meio da sala e ficou me encarando pensativa, mãos na cintura, numa pose que pouco a pouco passou de defensiva a provocante: sem quebrar o contato visual, foi relaxando mais, soltando as mãos, ajeitando o cabelo pra trás das orelhas, até abrir a cortina de novo e sentar no sofá. Já fiquei todo animadinho. Sabia que minha insistência ia me levar a algum lugar. Só não sabia que ia ser literalmente. Como quem não quer nada, ela pôs um pé na mesa de centro, largou a mão pertinho da virilha e começou a mexer os dedos por ali, pernas entreabertas, sorriso safado. Devagar, subiu a mão pela barriga sarada, enganchou os dedos na barra da blusa e puxou até quase a metade dos peitos. Eu só torcia pra ela mostrar logo a metade de cima, embora soubesse que ainda ia aguentar muita provocação antes disso. A garota estava mesmo afim de uma boa putaria. Vagabunda. Nisso a mão ia passeando pelo corpo, pra baixo, pra cima, pros lados, pra baixo de novo, até o elástico do short. Desceu com pressão, como se fosse entrar na calcinha, mas no último segundo relaxou e passou direto. Quando a outra mão começou a apalpar um peito por baixo da blusa, quase gritei pra ela levantar tudo de uma vez. Meu desespero deve ter ficado óbvio, porque dessa vez ela puxou a peça toda pra me dar uma visão perfeita daqueles peitos ainda mais lindos do que eu tinha imaginado, com marca de sol e biquinhos pequenos e rosados. Levou os dedos da coxa à boca, traçou o contorno dos lábios e começou a chupar o dedo médio de um jeito pra lá de sugestivo. O dedo molhado era pra outra coisa gostosa, mas aí minha mente suja já estava viajando naquela boca carnuda. Só quando ela tirou a mão e apontou pra minha virilha com olhar desafiador foi que percebi meus dedos apertando o volume na calça de tactel. Olhei pros lados com cara de “Mas aqui?” e ela deu de ombros, insinuando que eu já estava quase fazendo. O show inusitado tinha me deixado maluco e se eu quisesse ver até o fim era melhor dar um jeito de fazer o que ela pedia sem chamar muita atenção. Tentei dar uma enganada apertando de leve, às vezes tirando a mão pra disfarçar. Toda vez que parava, ela parava também e ficava esperando. Então essas eram as regras do jogo. Beleza, não é todo dia que uma gata desse porte me dá mole. Admito que ando meio relaxado, acima do peso e mal vestido, mas como diz meu tio feio, “Homem não tem que ser bonito, homem tem que ser inteligente”. Além disso, fazia uma semana que eu não passava por uma boa ordenha e estava cheio de leite pra dar. Aí botei pra fora e... Bom, o resto o senhor já sabe. Enquanto isso a gata fazia igual, às vezes puxando o fundo do baby-doll meio pro lado, quase mostrando tudo. Foi quando veio a parte estranha. Do nada ela se levantou, rebolou até o fundo da sala naquele shortinho minúsculo que deixava toda a polpa da bunda de fora, pegou o celular e voltou pro sofá. Na hora fiquei perdido, mas depois concluí que o visual era pouco pra ela. A garota estava afim de putaria por telefone, ou quem sabe até pessoalmente. Vagabunda. Ela prestou atenção enquanto eu indicava com os dedos o número do meu celular, mas depois apertou só três teclas. Tinha ligado pra outra pessoa, com quem falou por no máximo meio minuto enquanto eu esperava sem entender porra nenhuma. Depois, como se nada tivesse acontecido, desligou e voltou a brincar de mostrar e esconder. A garota queria porque queria me fazer perder a linha e tinha tudo pra conseguir. Eu já parecia um tarado, prestes a terminar ali mesmo, quando ela levantou e dramaticamente fechou a cortina na minha cara. No mesmo instante eu soube que não ia voltar mais. A garota não estava afim de putaria porra nenhuma. Vagabunda. Acontece que nessa altura é difícil parar, né? Já que tinha começado, fui até o fim. Mal tinha saído daquela pasmaceira pós-gozo, ainda de cara pra poça branca no andaime, quando ouvi uma sirene de polícia. De tão aéreo, nem sei dizer o que pensei. Só entendi quando os policiais gritaram pra eu descer, me enfiaram na viatura e me trouxeram aqui pra delegacia da esquina. Ato obsceno. Detenção de três meses a um ano, ou multa. Agora eu aprendi. Então foi isso, seu doutor delegado...
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