BDSM Sessions I - A Sedução



Eu a esperei no quarto. Ontem, logo depois que me instalei, mandei um SMS a ela, dizendo que subisse direto ao quarto de hotel aonde estava hospedado. Exigi que entrasse descalça no quarto (sim, admito que acho lindo um pezinho tocando o chão), mãos atrás da cintura.

Na meia luz, ela entrou no quarto. Mãos postas como havia dito - moça obediente, bom! - e descalça. Olhou em volta, entre pensativa e curiosa. Conheci bem esse olhar, combina bem com ela. Altiva.

Eu a conheci em um vernissage, uma primeira exibição de um artista gostava - talvez demais - da obra de Sade e Masoch. A noite não ia bem, tediosa, vinho ruim (e quente), pessoas desinteressantes. E, admitamos, os quadros não eram nenhuma maravilha: tinham força e entusiasmo, mas careciam de um certo senso estético.

A Bela estava parada a meia distância do quadro, concentrada a ponto de não sentir a minha presença. Dedos no queixo, um dedo enfiado no canto da boca. O quadro retratava uma sala de aula vazia, apenas uma aluna com as mãos postas na mesa do professor, saia erguida e calcinhas pelos joelhos. A bunda em carne viva, o rosto da aluna em desespero, lágrimas correndo até quase o pescoço.

- Com quem você se identifica, o professor ou a aluna?

Bela teve um sobressalto com minha voz quase em seu cangote, mas teve o sangue-frio de me olhar nos olhos antes de responder.

- Professor? Não pode ser uma professora?

O professor, ou professora, não aparecia na tela. Apenas a menina, em uma sala vazia. Touché: esse ponto foi dela. Não que eu fosse admitir, claro.

- As mulheres são mais delicadas. Veja o estado da bunda da menina. Não, não, acho que uma mulher seria incapaz disso.

Ela pensou um instante, soltou-se um pouco mais.

- Não, até acho que uma mulher seria capaz de ser até bem mais cruel. E olhe a menina. Acha mesmo que ela está sofrendo?

Olhando mais de perto, de fato os lábios da modelo pareciam esboçar um sorriso mal escondido. E olhando bem, a Bela também parecia sorrir. Me avaliando?

Droga. Eu devia ter previsto isso: o artista gosta de Sade e Masoch, afinal. Tentei juntar os cacos da minha dignidade sem ficar (muito) vermelho. Certo. Adianto que isso se passou no tempo em que "cinqüenta tons de cinza" tinha mais a ver com o crepúsculo do que com com um livro. Ela é uma leitora. Hora de parar com brincadeiras e começar a respeitar a moça.

- Interessante que o artista parece querer colocar uma mensagem subliminar brigando com a explicação óbvia. Sim, ela parece estar sofrendo. Mas só percebes o sorriso da modelo se prestares atenção.

Ela pareceu interessada pela primeira vez. Olhou o quadro mais de perto. A bunda não estava apenas vermelha, tinha também grandes vergalhões de um vermelho vivo, sanguíneo. As pernas pareciam um pouco trêmulas. Mas o rosto, olhando bem, não estava encurvado, e sim com queixo erguido, orgulhosa. Sim, chorava lágrimas (amargas?). Mas a bunda estava empinada, as mãos estavam postas voluntariamente na mesa.

Bela sorriu ironicamente pela primeira vez. Sucesso! Hora de continuar.

- Bem, uma possibilidade é que ela não pode sair porque é impedida de fugir. Mas eu acho que ela quer estar ali. Ela provocou essa situação,ela está aproveitando o resultado. Chora porque é isso que se espera. Mas ela gosta.

Ela ainda estava investida da sagrada indignação. Mal disfarçada. Falava comigo, e voltava a colocar o dedo no canto da boca. Na verdade ela não sabia era se podia confiar em mim - mas isso só descobri depois, bem depois.

- Interessante esse teu ponto de vista. Não sei se concordo, mas é interessante.

Um pouco de risco? Bem, quis tentar.

- Na verdade acho que a moça domina a cena. Ela enganou alguém para estar nessa situação. Percebe? Repare como o pescoço dela está erguido. Ou isso ou ela quis seduzir. Se coloca como presa, mas na verdade é predadora.

Bela me olha de um jeito estranho.

- Predadora? Como assim? Está me dizendo que a vítima é a culpada?

- Não, não: não há vítimas aqui, acho. Creio que os dois concordaram com isso.

- Mas o que você está dizendo é horrível. Ela quer apanhar?

Da boca para fora, ela estava indignada sinceramente. Mas ainda assim, os olhos pareciam dizer que não. Arrisco? Não arrisco? Oras bolas, talvez nunca mais a veja. Resolvi arriscar.

- Claro que ela quer. Nosso amigo D... adora pintar coisas assim, tu não sabias? Quer apostar? Uma amiguinha dele fez pose exatamente assim. A amiguinha quis. O D.. fez só o que ela queria.

Bela fez uma cara de nojo, sincero. E disse que não tinha estômago para continuar a conversa. Se retirou, e conversou com algumas pessoas, apontando às vezes para mim. Paciência. Talvez tivesse ido longe demais, mesmo. Relaxei, e aproveitei a exposição. Meu amigo não pinta tão bem assim, mas ao menos é um literato acabado. Frustrado, eu diria. Passamos o restante da noite discutindo em como o mundo estava despreparado para ele.

Anos depois, cinquenta tons de cinza estourou nas livrarias. Mas isso é outra história. Nessa nossa história, fiquei até o final, e ainda o ajudei a colocar as coisas no carro. Me despedi dele, e, quando voltei ao estacionamento, para a minha enorme surpresa, Bela. Sentada em uma cadeira da recepção, fumando calmamente um cigarro.

Pedi fogo - também sou fumante - e ela me passou isqueiro e cigarros, silenciosa.

- Fiquei te esperando.

- Estou vendo. Mas, por quê? Achei que me odiasse.

- E odeio! Quer dizer, não sei. Acho que odeio.

Entendi o que ela quis dizer. Propus um tomarmos um café ali perto. Ela aceitou prontamente - mas só se pudesse pagar. Me devia desculpas.

- Não deve nada, deixe de besteira.

- Não, não. Devo, sim. Mas me deixe pensar primeiro.

Deixei. Fomos a pé mesmo, em um café que fica perto da galeria. Pedi um moccacino, ela um capuccino. Ficou quieta até que os cafés chegassem E então disparou a falar. Explicou que sentia uma compulsão por aquilo, gostava de ver, gostava de imaginar. Mas tinha a convicção de que aquilo não era normal. O psicólogo e o marido (naquela noite, graciosamente em uma viagem qualquer) concordavam.

E às vezes, só às vezes, encontrava quem concordasse com aquilo. Na maioria das vezes, ela ia com o sujeito para um motel, mas quando ele começava a dar palmadas e ela pedia mais eles se assustavam. Por mais que alguns filmes e livros falassem disso (e ela era uma leitora voraz deles - eu havia acertado), o vulgo sentia-se meio acuado.

Ainda mais em tempos de politicamente correto.

Bem, o que dizer? Eu fiquei maravilhado com ela. Ficamos horas conversando e fumando. Ela me falou das obras favoritas, eu retribuí. Imaginamos algumas cenas que nosso amigo pintor poderia aproveitar. Bem, se tivesse coragem, claro.

Nos despedimos como amigos, combinando um novo café "qualquer hora dessas".

Me conformei em que nunca mais a veria. Curitiba tem mesmo dessas coisas. Então foi com surpresa que vi uma mensagem dela na minha caixa de entrada, no dia seguinte. Sem assunto, só uma frase; "por que não me convidou?". É, admitamos, tinha pensado nisso. Mas achei que.. bem, deixe para lá. Respondi no mesmo tom: "você não está pronta".

E a resposta veio na forma de um email caudaloso. Principalmente indignado. Quem eu pensava ser? Nem respondi direito o email: minha resposta foi um simples "e também ainda não sei se mereces".

Menos de um minuto depois, a resposta dela foi uma rendição. "o que eu preciso fazer?".


Claro que continua.. hehe Gostou? Não deixe de comentar; e se quiser falar diretamente comigo, escreva mesmo, estou te esperando, hein?

                                


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Ficha do conto

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Nome do conto:
BDSM Sessions I - A Sedução

Codigo do conto:
108760

Categoria:
Sadomasoquismo

Data da Publicação:
09/11/2017

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