Dormi com a cabeça quente por causa do que Laura tinha me contado. Por que Gabriel havia mentido pra mim?
No dia seguinte acordei tão gripado quanto nos dias anteriores. Gabriel passou lá em casa pela parte da tarde. Abri a porta.
- Entra aí. – Falei. Ele passou por mim, entrando na sala. Mesmo gripado, eu consegui sentir o cheiro de seu perfume. Reparei melhor em Gabriel, ele estava lindo.
- Você tá melhor da gripe? – Ele me perguntou.
Mais ou menos. – Respondi. – Vamos lá para o meu quarto, o computador fica lá.
Tínhamos que digitar o trabalho no computador. Fomos para o meu quarto, ligamos o computador, peguei uma cadeira para ele poder sentar perto de mim. Ele na cara de pau puxou a cadeira para mais perto ainda de mim e em seguida se sentou, com o corpo quase colado no meu, chegando a me incomodar, mas não falei nada.
O perfume dele invadia os meus pulmões, ele estava tão perto de mim que eu conseguia sentir o corpo dele irradiando calor. Aquilo estava me distraindo, me tirando a atenção, mas eu me esforçava para me concentrar no trabalho.
Já tínhamos digitado duas páginas do trabalho, quando Gabriel interrompeu o ritmo.
- Você não tá achando tudo meio monótono aqui, não? – Ele perguntou. Eu dei de ombros, o que ele queria? Dançar enquanto a gente fazia o trabalho? – A gente podia por uma música, né.
Eu olhei com cara de tacha pra ele.
- Eu tô sem música no computador. – Eu sequei.
- Ah, não tem problema, eu trouxe um CD. – Ele disse. Ele trouxe um CD? O que?
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele já foi logo enfiando o CD no tocador do computador. Uma singela música começou a tocar, um forró romântico que fazia ficar com vontade de dançar agarradinho e dar risada por ser tão brega também.
Eu voltei a digitar o trabalho, enquanto isso Gabriel balançava timidamente de um lado para o outro, carregado pela música. Eu escutava ele cantar, acompanhando a canção, ele tinha uma voz tão doce.
- Você endoideceu meu coração! Endoideceu! – Ele cantava baixinho. – Agora o que é que eu faço sem o teu amor? Agora o que é que eu faço sem um beijo teu?
Eu continuava fazendo o trabalho e a música continuava ao fundo.
Eu nem pensei... já estava te amando!
Meu corpo derretia de paixão.
Queria estar contigo todo instante
Te abraçando, te beijando.
Te afogando de emoção!
A letra se repetia o tempo todo, de maneira que quando eu me dei conta, eu já estava cantando a música junto com Gabriel.
Ficar na tua vida eu quero muito!
Grudar pra nunca mais eu te perder.
Você é como água de cacimba:
Limpa, doce, saborosa.
Todo mundo quer beber.
- Você endoideceu meu coração! Endoideceu! – Cantávamos nós dois juntos. – Agora o que é que eu faço sem o teu amor?
E aí de repente eu e Gabriel nos entreolhamos.
- Agora o que é que eu faço sem um beijo seu? – Sussurramos um para o outro, apenas repetindo a música.
Fiquei parado olhando para ele, sem saber como agir. Gabriel olhava em meus olhos, a música havia acabado, o quarto estava silencioso. Gabriel aproximou seu rosto do meu, eu vi aqueles lindos lábios irem ficando cada vez mais perto dos meus. Senti aquela boca tocar a minha.
Eu e Gabriel começamos a nos beijar. Um beijo romântico, devagar e gostoso. Ele passava a mão em meu rosto, era estranho, eu estava me sentindo no paraíso.
Era estranho... dei um empurrão nele.
- Eu tô gripado. – Eu falei.
Gabriel me olhou e em seguida se levantou chateado, indo embora. Deitei na cama, pensativo. Minha cabeça estava borbulhando.
A verdade era que eu nunca tinha beijado a boca de outro garoto antes. Já tinha feito de tudo, mas beijado em boca de homem não. Para mim, beijar a boca de outro homem era pecado capital, eu tinha nojo e aversão.
Engraçado era, contudo, que não tinha sentido nojo de sentir a língua de Gabriel explorando a minha boca. Mas aquilo tudo tinha sido um grande impacto. Era uma atitude que eu simplesmente não estava esperando de Gabriel, por mais que agora fizesse sentido e eu percebesse que ele tinha jogado vários sinais, na hora eu tinha ficado assustado.
Eu entendo como é ser o Gabriel